sábado, 23 de setembro de 2017

FÓRUM BRASILEIRO E ENCONTRO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O LONGO CAMINHO ENTRE OS DISCURSOS E A REALIDADE DAS ESCOLAS


É muito triste ter participado de um encontro tão importante como o Fórum Brasileiro e o Catarinense de Educação Ambiental, onde por cerca de quatro dias foram discutidos temas e experiências das mais diversas em âmbito dos governos e das escolas. No dia seguinte ao término do fórum, retornando à escola, no intervalo, cheio de empolgação, quando me preparava para comentar o evento, me deparei com colegas de trabalho angustiados/as, apreensivos/as, diante de mais uma “bomba” encaminhada pela SED (Secretaria Estadual de Educação) e que afetaria a vida profissional dos/as professores/as de todo o estado.
 Naquele instante, quando a colega estava proferindo o repasse do assunto “bomba”, um sentimento de indignação, raiva e impotência tomou conta do meu ser. Agora, como fazer para relatar aos colegas tudo o que foi discutido nos debates, mesas redondas, oficinas, para dinamizar ainda mais a temática ambiental que a escola trabalhando? O que me motivou a participar do fórum foi o fato de a escola onde trabalho, EEBA, estar executando o projeto escola sustentável, integrando as temáticas energia elétrica e água.  
O que foi um tanto quanto indigesto no encontro foi perceber que muitas das mesas redondas montadas para discutir políticas de Educação Ambiental foram coordenadas por integrantes dos governos federal e estaduais, como o MEC (Ministério d Educação e Cultura) MMA (Ministério do Meio Ambiente) SDS (Secretaria do Desenvolvimento Social) e a SED (Secretaria do Estado e da Educação), expondo as políticas ambientais que estão em curso no país, estados, municípios e escolas. Pintaram um quadro colorido, otimista das escolas públicas brasileiras, que descaradamente não reflete a realidade.
Na fala de uma das integrantes na SED, que discorreu sobre políticas ambientais, a mesma ousou em expressar inverdades para um público presente no auditório, na sua maioria, oriundos de outros estados. Durante a narrativa da integrante, o publico expressava seu entusiasmo ao sucesso das ações ambientais no estado catarinense, com aplausos. Como professor da rede pública estadual há 34 anos e outros 30 como ativista ambiental, não poderia ficar indiferente a tantas inverdades ditas.
Era, portanto, necessário, que o publico presente tivesse a oportunidade de conhecer realmente os fatos, que se alguns projetos ou oficinas em educação ambiental estavam sendo aplicados nas escolas estaduais de Santa Catarina era graças unicamente aos esforços desmedidos de professores/as, estudantes e do corpo gestor das escolas, e não por incentivo ou apoio governamental. No final das apresentações, me propus a redigir uma questão discorrendo acerca de todos os entraves estruturais, pedagógicos e políticos que estão dificultando as escolas públicas catarinenses de concretizarem o que determinam as legislações, resoluções em vigor.
A questão foi assim elaborada: “Na realidade, as escolas estaduais de santa Catarina vem sofrendo o descaso do Estado, com estruturas sucateadas e profissionais sobrecarregados e desestimulados. São poucas as unidades que vem desempenhando algum projeto de Educação Ambiental. Isso é claro por iniciativa própria, aproveitando professores readaptados ou outros que estão disponíveis. São pouquíssimos os espaços disponibilizados para o debate pedagógico, menos ainda para o debate ambiental. Não há orçamento, nem para a compra de materiais básicos para a escola. Para promover feiras e projetos, cada professor tem que disponibilizar recurso do seu próprio bolso. Como, portanto, promover a educação ambiental nas escolas que são guiadas pelos sistemas de avaliações nacionais como o IDEB e o ENEM?”
Concluída a leitura, o público reagiu com aplausos, parabenizando pelo o que foi dito. Dois professores relataram que nos seus estados, Rondônia e São Paulo, a realidade das escolas é semelhante a do estado catarinense. Portanto, a aplicação da Educação Ambiental nas unidades públicas de ensino do Brasil inteiro, caminha ainda na contra mão dos caminhos relatados pelos porta vozes dos governos federal e estaduais. Imaginem, desde a primeira conferência mundial sobre o meio ambiente em 1977, e outras dezenas de fóruns, Conferências sobre o clima, resoluções, protocolos, Rio-92, Rio+20, já se passaram quarenta anos.
Nunca se poluiu, contaminou, degradou, devastou, explorou tanto o planeta terra como nessas quatro últimas décadas. Todos/as sabem o deveriam saber que a educação ambiental não é somente um instrumento para sensibilizar as pessoas sobre hábitos saudáveis e sustentáveis. A Educação Ambiental vai muito além desses clichês de sustentabilidade, apropriada pelo capital para esvaziar os debates sobre as causas dos problemas ambientais. O que é fato é que os problemas que ameaçam a existência da vida no planeta são reflexos do atual modelo econômico, que concebe as florestas, as águas, os animais e a própria espécie humana como mercadorias.  
Prof. Jairo Cezar       


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