quarta-feira, 13 de setembro de 2017

OS GIGANTESCOS FLUXOS DE REFUGIADOS DO AQUECIMENTO GLOBAL



Quem  acompanhou os últimos noticiários da imprensa nacional e internacional acerca de dois furações que atingiram algumas ilhas do caribe e a costa sul dos Estados Unidos, mais intensamente as cidade de Houston no estado do Texas, e Miami na Flórida, deve ter percebido que o número de mortes causadas pelos ventos foi mínimo, comparadas as 2000 vítimas fatais contabilizadas provocadas pelo furação Katarina que arrasou New Orleans há dez anos. O Katrina provocou transtornos e prejuízos de proporções gigantescas, foram cerca de 130 mil desalojados e  prejuízos superiores a um bilhão de dólares
A pergunta que certamente muitos gostariam de fazer é por que não foram realizados em New Orleans os mesmos procedimentos de evacuação, cuidados e atenção semelhantes ao ocorrido em Miami? Seria pelo fato de expressiva parcela da população do território atingindo ser negra e pobre? Miami, especialmente Miami Beach é o reduto dos afortunados norte americanos que têm suas mansões milionárias edificadas nos locais mais valorizados do balneário. Se o furacão Irma, que desde a sua formação no oceano atlântico, o mundo inteiro o acompanhava em tempo real pela internet o seu deslocamento, a velocidade dos ventos e o momento exato que iria atingir os locais povoados, por que não foram feitas a evacuação da população das ilhas do caribe que estavam na rota da tormenta?  Muitas mais vidas não poderiam ser salvas?    
Todos esses episódios extremos do clima que irão resultar na transferência de bilhões de dólares do orçamento público para a recuperação da infraestrutura destruída é uma resposta do planeta terra  às posturas inconseqüentes tomadas por muitos líderes de potências mundiais em querer insistir na manutenção de políticas econômicas depredatórias.  Há cerca de dois meses, um pronunciamento do presidente Trump provocou revolta e apreensão  internacional quando afirmou categoricamente que abandonaria o acordo do clima assinado pelo seu antecessor alegando custos econômicos elevados e, afirmando também, que  o aquecimento global não existe, que é uma invenção dos chineses para destruir a economia do estados unidos.
Afirmar que as mudanças do clima é uma invenção dos chineses é desconsiderar todo um acúmulo de informações acumulados nas últimas décadas sobre o clima que comprovam que o aquecimento global é uma realidade inquestionável e bem presente nas nossas vidas. Muitos céticos do clima de plantão tentam a todo custo se opor às pesquisas, unicamente para preservar o atual modelo predatório de produção e consumo que está comprometendo o suprimento de recursos naturais disponíveis.  O que não podemos mais duvidar é de que o planeta terra está sim dando o troco aos crimes ambientais provocados nas últimas décadas e que sempre foram colocados para de baixo dos tapetes. Um exemplo de irresponsabilidade foi o Brasil, quando em  2012 aprovou o código florestal anistiando milhares de desmatadores.  
Se a metade dos gastos hoje disponibilizados para reparar os efeitos devastadores do clima, como enchentes, tornados, furações, estiagens e toda a logística montada para atender aos milhões de migrantes e refugiados do clima, fossem aplicadas em projetos de energias renováveis e à sensibilização ambiental, os efeitos negativos poderiam ser mínimos.  Não é o que vem se sucedendo. Possivelmente muitos crédulos no mundo inteiro devem estar imaginando que os furacões e outras adversidades do clima sobre o território americano, são respostas vindas do céu à irresponsabilidade do governo Trump e dos seus aliados que insistem continuar poluindo o planeta.
Por outro lado é importante que se Dida que o Brasil não está imune aos efeitos das mudanças climáticas, pois também está contribuindo com a emissão de milhões de toneladas de CO2 oriundo dos desmatamentos de seus principais biomas.  Era comum em um passado recente ouvir pessoas se vangloriando por estarem vivendo num país livre de terremotos, furacões e outras tantas catástrofes climáticas que acreditavam jamais pudesse ocorrer por essas bandas.
O Furacão Catarina, em 2004, que devastou cidades do extremo sul de Santa Catarina, os constantes tornados, as frequentes cheias e estiagens históricas, sem registro estatístico comparável, vem se acentuando e acendendo a luz amarela. Todos esses acontecimentos do clima devem ser vistos com atenção. Não podemos mais continuar achando que tudo isso é normal, que sempre foi assim, etc, etc. É necessário, portanto, repensar o modo como cada um vem se comportando dentro do seu microcosmo, sobre hábitos de consumo, utilização do lixo, da água, energia, etc.  
A recente decisão do presidente Michel Temer de suprimir a Unidade de Conservação da Reserva do Cobre; de flexibilizar as legislações que tratam sobre licenciamento ambientais e do recente relatório apresentado pelo instituto SOS Mata Atlântica, que mostra o aumento do desmatamento da floresta atlântica nos últimos dez anos, são alguns dos acontecimentos preocupantes que requer maior atenção da população para que não sofram num futuro muito próximo situações semelhantes às da região do caribe e costa sul dos estados unidos, devastadas por furações.
Nas décadas de 60, 70, milhares de pessoas afetadas pela estiagem do nordeste brasileiro migraram para as grandes cidades dos sudeste, se transformando em um dos primeiros e grandes êxodos de refugiados do clima ocorridos no Brasil. Tudo indica que esse processo tende a continuar e se intensificar nas próximas décadas, não exclusivamente por nordestinos, mas por levas de pequenos e médios agricultores do interior de estados importantes que estão sendo afetados por estiagens e que se deslocarão para as grandes cidades em busca de trabalho.
Nos últimos 13 anos, entre 2003 a 2015, houve um crescimento dos decretos de  emergência e calamidade em decorrência da estiagem em mais de 400% em todo o país. No mesmo intervalo de tempo houve o aumento de 199% o número de municípios que decretaram estado de emergência ou calamidade em decorrência da estiagem.  Agora se somarmos com outros episódios extremos como inundações, deslizamentos de encostas, entre outros, um quarto dos municípios brasileiros, totalizando 1.296, encaminharam pedido de socorro para os órgãos governamentais.  São 71% de pedidos em decorrência da seca no nordeste e norte de Minas Gerais, e 29%, resultante das enxurradas e temporais no Sul, Sudeste e Norte do Brasil.   
A transposição do rio São Francisco, que já custou aos cofres públicos quase 10 bilhões de reais é vista com otimismo por milhares de nordestinos acreditando sê-lo a solução para décadas de falta d’água.  Na realidade, depois de anos e já quase concluída, a obra vem sendo concebida como pesadelo para milhares ribeirinhos do São Francisco que acompanham atônitos a progressiva redução do volume  de água do rio dia após dia, especialmente depois que as bombas de sucção foram acionadas. Se as chuvas nas cabeceiras do rio São Francisco continuar caindo em volumes abaixo do normal, a tendência é o comprometimento do abastecimento dos estados e das cidades atendidas pela transposição.
Para evitar um possível êxodo das populações que sofrem os efeitos de longas estiagens, não somente as que vivem no semi-árido do nordeste, mas Brasília e Fortaleza, essa última com 900 mil pessoas que sofrem com a falta d’água, é necessário fazer o que muitos países com problemas parecidos vêm fazendo.  A estratégia é o desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao uso eficiente dos recursos hídricos; a construção de cisternas; a universalização dos sistemas de tratamento dos esgotos e os programas de sensibilização ambiental.
Se programas como os Planos Municipais de Saneamento Básico e o uso eficiente dos recursos hídricos conduzidos pelos comitês gestores das bacias hidrográficas, não forem bem executados pelos gestores públicos, a tendência é o agravamento das doenças e dos fluxos migratórios de pequenas e médias cidades agrícolas em todas as regiões brasileiras.  Ainda há tempo de evitar aquilo que está se prevendo há décadas no Brasil,  e que já se torna realidade em muitos países africanos e asiáticos, o progressivo aumento dos refugiados do aquecimento global.

Prof. Jairo Cezar                                       

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