segunda-feira, 25 de julho de 2016

CALAMIDADE OLÍMPICA: OS JOGOS DA EXCLUSÃO




Paradoxalmente, os Brasileiros nos últimos anos experimentaram ou vão experimentar sensações que geralmente são reservadas aos países com certo grau de estabilidade econômica, política e responsabilidade ética, que é  o orgulho de sediar grandes eventos esportivos como foram o pan-americano, a copa do mundo e agora os jogos olímpicos que é interpretados por muitos como jogos da exclusão. Não há dúvida que os legados deixados ou que ainda deixarão, agora com o fechamento do ciclo, com os jogos olímpicos no Rio de Janeiro, serão as obras faraônicas, caras e ociosas, o vertiginoso enriquecimento de empreiteiras, muitas das quais investigadas pela lava jato, o endividamento dos estados e o que é mais terrível, a remoção/expulsão descomunal da população pobre para áreas distantes dos centros urbanos. Somente no Rio de Janeiro, na atual administração do prefeito Eduardo Paes, o montante de pessoas removidas é de aproximadamente cem mil.

     

São cidadãos que ocupavam áreas até então desvalorizadas, que com as olimpíadas foram desapropriados para dar lugar aos projetos urbanísticos como a ampliação de corredores rodoviários, reformas de aeroportos, despoluição da baia da Guanabara, expansão das linhas de metrô, etc. Somente o projeto do metrô, que dificilmente será concluído até o início dos jogos, teve seu custo orçado em 5,5 bilhões de reais. Com os juros e outras amortizações, o custo final chegará 17 bilhões de reais. Uma obra, que segundo os especialistas além de muito dispendiosa será de pouco valia para população pelo fato não favorecer os bairros. Já a baia da Guanabara onde será realizada quase todas competições aquáticas como remo, iatismo, etc., poderá se configurar como um dos maiores vexames dos jogos devido a enorme poluição da água.


Quando o rio foi escolhido para sediar os jogos, o acordo firmado com o comitê internacional era de que 80% da lagoa fosse despoluída até o início dos jogos. O resultado é que esse percentual não foi atingindo, cuja justificativa do poder público municipal é de que o lixo e o esgoto presentes nas águas da lagoa são provenientes de 15 municípios do entorno. Para minimizar os impactos, evitando até que sacos plásticos, garrafas e outros objetos que boiam na lagoa, atrapalhem o desempenho das embarcações, a administração, como medida paliativa espalhou pela lagoa 15 ecoborreiras para conter os dejetos.




No entanto cabe frisar que toda essa política de promoção de mega eventos, como os jogos pan-americanos e as olimpíadas, ambos na cidade do Rio de Janeiro, em nenhum momento ocorreu um debate popular sério com intuito de ouvir a população quanto as necessidades ou não dessas grandes competições.  Na verdade quem  realmente discute a cidade, decidindo como ela deve crescer e qual sua direção são as elites dominantes locais e com o aval do poder público encarregado de arregimentar recursos para a sua viabilização.  Portanto, a crise que se instalou no rio de janeiro, que levou até o governador substituto  Francisco Dorneles a decretar estado de calamidade pública, medida questionada pela justiça, tem relação direta com o modelo de desenvolvimento equivocado, adotado pelo Estado e os gestores do município carioca de tentar transformar a capital em “cidade negócio”. 
Para se ter noção do modo como vem sendo aplicado o maior volume dos bilhões de reais, a sede olímpica, onde estão os prédios de apartamentos que abrigarão os atletas fica localizada numa das áreas mais valorizadas do Rio de Janeiro, a Barra da Tijuca. É claro que toda a área do entorno dessa região também se hipervalorizou da noite para o dia, e que seria necessário adotar estratégias de “higienização” da região, removendo a população pobre para  bairros distantes.
Na verdade, a primeira proposta ventilada acerca da construção do parque olímpico, seria na região do fundão onde está sediada a UFRJ, cujos equipamentos, ginásios e outras benfeitorias do evento, depois das competições, passariam a serem administradas pela própria Universidade. Um exemplo de fracasso desportivo foi à construção do parque olímpico que sediou o pan-americano no rio de janeiro em 2008. Um verdadeiro massacre contra os trabalhadores ambulantes que foram removidos e o agravamento da violência nas favelas.
Analisando o histórico dos últimos jogos olímpicos a partir de 2000, em Sidney, ínfimos foram os legados positivos deixados a partir dos bilhões de dólares investidos. Outro exemplo de desperdício de dinheiro foi a construção do Estádio Nacional de Pequin, Ninho de pássaro, que custou 430 milhões de dólares, que atualmente recebe três ou quatros jogos por ano. E quanto à copa do mundo realizada no Brasil, em 2014. As obras bilionárias como os estádios construídos em cidades como Manaus, Cuiabá, Natal, ambos com equipes de futebol cujas torcidas encheriam um estádio do tamanho do Heriberto Hulse, em Criciúma, Santa Catarina. Sem contar os outros tantos bilhões não contabilizados que foram desviados através de esquemas envolvendo empreiteiras, políticos e governos.
Se tais mega eventos são realmente viáveis economicamente por que países como Suécia, Noruega, entre outros com condições econômicas muito mais saudáveis que o Brasil, seus governos se recusam em indicar seus nomes para concorrer à vaga. Um fato curioso é  que nas últimas copas do mundo, os países sede, a exemplo do Brasil, ambos apresentavam certa instabilidade política, devido as denúncias do envolvimento de governos em esquemas de corrupção.  Outro caso estarrecedor foi a decretação do estado de exceção, que assegurou  a FIFA certos poderes, desconsiderando a própria Constituição Federal.  Tudo para garantir o lucro quase que bilionário de uma entidade que se constitui mais poderosa do que os estados que promovem os eventos.  
Retornando ao drama do Rio de Janeiro, as políticas de incentivo a instalação de empresas resultaram em 130 bilhões de renúncia fiscal. É tanto dinheiro não arrecadado pelo Estado que, com certeza, seria suficiente para amenizar os graves problemas que envolvem educação, saúde, segurança pública, saneamento básico, entre outros. Empresas do setor hoteleiro, náutico e automobilístico foram as que mais se beneficiaram com tais políticas. Um exemplo para elucidar tal aberração fiscal foi a instalação da empresa Land Rover, cujo custo orçado em 600 milhões de reais.
O número de trabalhadores contratados pela empresa foi de 400 aproximadamente. No caso das renúncias fiscais e as roubalheiras, o próprio prefeito Sérgio Cabral está também sob investigação por suspeita de ter sido beneficiado recebendo 60 milhões em propina. O que dizer da reforma do maracanã, custo estimado em 1,2 bilhão de reais; a prisão do proprietário da Construtora Delta, que lucrou mais de 10 bilhões em projetos de infraestrutura no Rio de Janeiro. Todas essas denúncias de irregularidades seriam suficientes para que o comitê internacional dos jogos olímpicos cancelassem os jogos como punição por tamanha roubalheira. 
O grau de instabilidade social e política no município do Rio de Janeiro chegaram a um patamar que nem mesmo a principal empresa de comunicação do país, rede globo, que tem exclusividade na transmissão do evento, está com dificuldades de desviar ou maquiar tantas informações negativas oriundas do estado fluminense. Professores da rede pública estadual e universidades em greve; polícias fazendo protestos num dos principais aeroportos contra o não recebimento de salários; o aumento da violência em áreas pacificadas, essa última uma demonstração do fracasso de um plano de pacificação das favelas que vinha sendo concebido pelas autoridades do rio como a “cereja do bolo”.
A pergunta que certamente todos gostariam de ter respostas, depois dos ciclos dos mega eventos esportivos, dos bilhões de reais investidos em infraestruturas, muitos dos quais financiados por bancos estatais, quem pagará a conta? Enquanto que nos  países que sediaram as Olimpíadas, como Atenas, os resultados negativos vieram depois, com a falência do país, no Rio de Janeiro os sintomas já estão sendo sentidos  com a quebradeira do Estado. A tendência é a crise se agravar ainda mais nos próximos anos.
Isso já é um demonstrativo que depois dos encantos e delírios das competições, dos turistas terem indo embora, a população local e do restante do país terão que conviver com uma dura realidade que se prolongará por longos anos. O grosso da dívida, portanto, está ainda por vir e começará a ser paga a partir de 2017, quando vence o prazo do empréstimo de um bilhão de reais contraído do Banco Mundial.
E como irão se virar os trinta mil operários da construção civil que atuam em projetos das olimpíadas, que ficaram desempregados depois dos jogos? Enquanto centenas de atletas representando as delegações estiverem no dia 5 de agosto, data da abertura das olimpíadas, transitando com seus uniformes típicos e bandeiras, no interior do maracanã, aplaudidos e vistos por bilhões de pessoas no mundo inteiro, milhares de trabalhadores, que prepararam todo o cenário das competições, estarão certamente em situação de desespero, pois sabem que são os novos excluídos olímpicos.
Prof. Jairo Cezar    















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