ESCOLA SEM PARTIDO?: quem serão os beneficiados
com a despolitização na escola pública?
Tanto
eu como acredito que outros milhares ou milhões de pessoas ficam bestializados quando
observam o imenso volume de besteira dita por um punhado de mentes desocupadas
que vem propagando nas redes sociais e até em sites exclusivos, opiniões
defendendo propostas absurdas como (escala sem partido??). Acredito que é
possível até contar nos dedos alguns desses que arriscam defender tais absurdos
que já transitaram por uma sala de aula, muito menos conheceu a realidade de
alguma das milhares de escolas públicas espalhadas por todo território
brasileiro.
São
estruturas físicas quase que impraticáveis o exercício da árdua tarefa de
professar ou ensinar. É claro que com tais condições de trabalho é comum que
professores (as) mais inconformados (as), críticos (as), rompam o doentio
silêncio que perpetua pelos corredores e expressam sua indignação criticando governos
e partidos políticos descomprometidos com educação, saúde, segurança, etc, etc,
bem como organizando-(os)(as) estudantes para lutarem e defenderem com bravura
o “sagrado” direito de estudar com dignidade em escola pública paga com o sacrifício
de todos os trabalhadores.
No entanto,
é um direito cada vez ameaçado pelas políticas entreguistas e assassinas dos
governos de plantão, que disponibilizam mais dinheiro para construção de
presídios do que em reformas ou construção de escolas. Se quisermos uma
educação realmente de qualidade precisamos, sim, gritar, mobilizar os
estudantes, a comunidade, informando-os (as) das “maracutaias” promovidas com o
dinheiro dos nossos impostos, onde são desviados para fins escusos,
distribuídas sob a forma de propina ou caixa 2 para financiar campanhas
eleitorais.
O
que dizer também do dinheiro desviado da merenda escolar sem que seus
responsáveis sofressem qualquer punição; de escola pública arrombada mais de
trinta vezes durantes seis meses, cujo próprio governo do estado se omite em
tomar qualquer providência para solucionar.
E não para por aí. Somados aos furtos, a violência contra professores e
o consumo de drogas, temos que conviver também com outros problemas quase que
insolúveis: goteiras por todos os cantos, rachaduras, fossas entupidas, falta
de equipamentos e mantimentos como material de limpeza, papel higiênico,
computadores, internet e quadra esportiva. Em entrevista realizada a um dos
coordenadores da vigilância sanitária da região que congrega a 22 Gered
(Araranguá), o mesmo responde que se fossem considerados todos os itens
recomendados pelas legislações em vigor, talvez uma ou duas escolas das dezenas
existentes permaneceriam funcionando.
O
risco de acidente nessas unidades de ensino ronda às cabeças das crianças e dos
(as) professores (as) todos os dias. Como ficar calado com tal desrespeito?
Acredito que aqueles que vêm se prestando em gastar seu preciso tempo postando
informações fúteis defendendo a proposta de “escola sem partido”, se se prestassem
em visitar uma ou mais escolas públicas, como a que foi citada acima por ato de
arrombamento por mais de trinta vezes, teria vergonha de continuar escrevendo
tantas informações vazias, que só contribui para aguçar a violência e a despolitização
social.
É
ridículo e até certo modo grotesco, a falta de clareza e embasamento teórico
nos argumentos apresentados para criticar conceitos e personalidades
importantes no campo da educação que contribuíram com ideias para tornar a
escola pública e a sociedade um pouco mais democrática e livre. Como podem
afirmar tais redentores da moralidade, que professores vêm pregando apologia à idéias
comunistas ou a partidos ditos de esquerda em suas aulas. Se assim o fosse,
hoje a composição do congresso nacional não estaria constituído
majoritariamente de deputados e senadores ultra-liberais, apoiados ou
financiados certamente por muitos dos quais vem apregoando a “cassa de
professores doutrinadores”.
Afinal
quem elegeu tais “representantes do povo”? Um exemplo do grave equívoco
cometido e do, talvez, desconhecimento do modo como funciona o interior das
unidades de ensino básico públicas, é que raro são as bibliotecas que têm em
seus acervos um único volume da obra o Capital de Karl Marx. Porém, quase todas
devem ter em algum lugar, guardado, tanto o volume I como o II, da principal
obra de Adam Smith, A Riqueza das Nações, considerada a bíblia do pensamento
liberal. Então qual a escola ou professor (a) que estão fazendo alguma apologia
às ideias esquerdistas?
Nessa
direção, o que se vê, contraindo os ditos “apartidários” de plantão, é o
aumento vertiginoso de eleitores votando em candidatos da direita. Basta
observar os números levantados pelo IBGE/2016 relacionados aos percentuais de
filiados nos partidos que constitui os poderes legislativos e executivos nas
três instâncias federal, estaduais e municipais. Do total, 15,6% estão filiados no PMDB; 10%,
PT e 8,9% no PSDB. Agora vamos calcular
quantos vereadores, deputados ou senadores eleitos pelo PCB, PSTU ou PSOL,
considerados ideologicamente partidos originalmente de esquerda. Apenas o Psol,
tem alguns representantes no congresso. Os demais, nenhum. Portanto, onde está
a ideologização da escola apregoada por tais defensores desinformados.
E os
absurdos não param. Quando afirmam que está havendo doutrinação em salas de
aula, seus protagonistas levam em consideração pesquisa divulgada pela Revista Veja
em 2008 onde discorreu ter havido presença de idéias doutrinárias em 33 escolas
pesquisadas. É um número infinitamente irrisório se considerarmos os 43 milhões
de estudantes matriculados em todo
território nacional. Afinal, quantos estudantes aproximadamente comporiam esse
montante de 33 escolas. A própria metodologia aplicada pela revista é
questionada, pois não considera outros fatores que seriam importantes para
assegurar uma maior confiabilidade.
Se o
que é pretendido pelos ditos “apartidários”, defensores da escola sem partido é
combater a ideologização nas salas de aula, o que dizer então da ADI 4439
encaminhada ao STF pela Procuradoria Geral da República com pedido de liminar,
para discutir a inserção ou não do ensino religioso nas escolas públicas
brasileiras. Os argumentos levantados
pela procuradoria tratam o ensino religioso como modalidade exclusiva de
confissões religiosas, bem diferente do que está descrito na Constituição
Federal que define a educação como sendo laica, ou seja, desprovida de qualquer
credo religioso. Como explicar que no
Rio de Janeiro lei aprovada na Câmara de Vereadores em 2012 tornou obrigatório
o ensino religioso nas escolas públicas municipais? Foram 100 professores
contratados, sendo 45 para o ensino católico; 35 para o evangélico; 10 para a
doutrina espírita e mais 10 para afro descendente.
Por
que o mesmo grupo anti-doutrinação política partidária não fez a mesma
manifestação ou página especial na internet para criticar tal proposta de lei
que prega a doutrinação religiosa. Isso também não se caracteriza como
doutrinação? Agora se sabe por que o congresso nacional exige que a proposta da
BNCC passe pelo crivo do legislativo federal, pois inúmeros dispositivos
contidos na proposta, como os que discorrem sobre questões ligadas as
sociedades indígenas e afro descentes, não condiz com os interesses se
seguimentos fundamentalistas presentes na casa.
Dos
19 deputados envolvidos em projetos inspirados no movimento Escola Sem Partido,
11 deles têm alguma ligação com igrejas. Então há algo de estranho nesse confuso e
intrincado movimento. Ao mesmo tempo em que se atribui, olha só, a Paulo Freire,
de proselitista, atribuindo-lhe o papel de “catequizador” ou pregador de certas
verdades ou ideologias extremistas na educação, se recusam a fazer a mesma inferência
às bancadas proselitistas no congresso, como dos seguimentos religiosos, que exercem
papeis até de manipulação para fazer valer proposições ou projetos de leis de
interesse das corporações das quais representam.
São
esses mesmos grupos que pregam, vejam só, a “liberdade de expressão nas escolas”
que vem incentivando a aprovação de qualquer proposta que torne os ambientes
escolares locais de debates mais francos e abertos sobre temas polêmicos como sexualidade
e diversidade de gênero. Alegam que tais atribuições devam ser de
responsabilidade das famílias. Agora imaginemos que cada família irá tratar
desses assuntos segundo critérios e preceitos vinculados ao credo do qual
seguem. Não se constituiria aí também certo proselitismo? Na escola, diferente
do que ocorre no espaço doméstico, esses temas seriam abordados seguindo conceitos
e correntes filosóficas diversificadas.
É com
ênfase nessas posturas conservadoras que vem tornando o Brasil um dos países com
mais relatos de violência contra mulheres e homossexuais no mundo. Impedir que o
tema gênero como outros tantos ligados a grupos sociais minoritários,
indígenas, negros, sejam debatidos nas escolas, atribuindo-lhes apologia
política e sexual, é querer defender ainda mais propagação da violência, do
preconceito e do crescimento de casos de estupros, como ocorreu no rio de
janeiro, que ganhou as manchetes dos jornais do mundo inteiro.
É necessário
combater com todas as forças possíveis a postura hipócrita daqueles que, sem apresentar
qualquer credibilidade moral e ética, procuram desviar a atenção da população
dos reais problemas das escolas, pregando ideias arcaicas que em nada irá
contribuir para tirar o Brasil do secular e quase crônico atraso social e
econômico. Por que não incluir nos currículos todos esses temas polêmicos? Qual
o medo?
Um exemplo
para comprovar o nosso atraso em vários setores, países como Nova Zelândia, Finlândia,
França, entre outros, têm no seu currículo temas relacionados à homossexualidade
e identidade de gênero. Observe o ranking desses países em comparação ao Brasil
especialmente na área da educação. São anos luz de distância. O que deveria
estar sendo discutido e defendido por essas tais “paladinos da liberdade”, no
lugar do slogan Escola em Partido, deveria ser “Educação Pública e de Qualidade
Para Todos”, aí sim estariam fazendo um ato nobre que certamente teria o apoio
de todos.
Prof.
Jairo Cezar
Texto muito lúcido!
ResponderExcluirParabéns amigo. Muito bem exposto. Tenho muito receio das barbáries que estão sendo anunciadas por aí. Ditos "conscientes", mas carregados de ideologias. É uma pena que essas pessoas que se posicionam como "esclarecidas" ainda permanecem na "escuridão". Compartilharemos sua ideia. "Educação pública e de qualidade para todos". Rogério B. Marcelino
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