TORTURADORES,
ESTUPRADORES DURANTE O REGIME MILITAR FORAM ANISTIADOS POR ALEGAR "CRIMES
CONEXOS"
O 11
de setembro não será mais lembrado como data exclusiva aos ataques terroristas
ao World Trad Center nos Estados Unidos, mas também o dia em que, pela primeira
vez, em quase 150 anos de república, integrantes da alta cúpula do militarismo
brasileiro foram para os bancos dos réus, sendo condenados por tentativa de
golpe de Estado, entre outros crimes, em 8 de janeiro de 2023. A leitura da
sentença que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 7 envolvidos na
trama golpista, ocorreu em 11 de setembro de 2025. É possível que mobilizações
possam ocorrer para que essa data se torne no futuro ato comemorativo, para que
a população possa refletir que nossa democracia foi uma conquista árdua e que
devemos protegê-la a todo custo de golpistas.
Vale
aqui destacar que a condenação desse núcleo duro dos militares não muda o
cenário de extremismo de direita que o Brasil está envolvido nesse momento.
Embora numa república existam instituições que exerçam atribuições distintas,
como o parlamento, o judiciário e o executivo, mesmo com a decisão da suprema
corte que é salvaguardar a constituição, o atual parlamente vem, insistentemente,
interferindo no judiciário. Dessa vez é a articulação de grupos pró Bolsonaro que
defendem a apresentação de um projeto de lei para anistiar os militares
condenados e, possivelmente, os civis envolvidos na invasão e depredação da
sede dos três poderes.
É
importante que não confundamos o tipo de anistia hoje pensado e defendido pelo
congresso e milhares de cidadãos simpatizantes do extremismo de direita, do que
foi aprovado no fim do regime militar. Claro que tem algumas semelhanças com o
atual senário, pois a intenção naquele momento era livrar a pele dos militares
de altas patentes de um possível processo de condenação pelos crimes cometidos
durante o regime. No regime militar, de 1964-1982, centenas de civis haviam sido
presos, sendo que outros tantos fugiram do país para se livrar da perseguição,
prisão e tortura.
Muito se
questiona sobre o tipo processo criado na época em que anistiou presos
políticos, bem como torturadores, estupradores, assassinos. Ouvindo uma entrevista
com o jornalista e professor Cid Benjamin, no portal Faixa Livre, sobre o tema
anistia, ele explicou como os militares do regime de 1964 foram absolvidos de julgamento.
Relatou que no final do militarismo, advogados defensores da ditadura,
encontraram um dispositivo legal que permitia anistiar quem havia cometido
crimes políticos e “crimes conexos”.[1]
Segundo
o jornalista: “se eu falsifico um documento pra cometer um crime, a
falsificação do documento é um crime conexo ao crime colocado”. Outro exemplo citado foi: “uma presa política sendo
torturada e estuprada na prisão, o estupro foi considerado pelos militares como
um crime conexo ao crime político cometido pela presa”. Lendo esses dois
exemplos, o que se entende é que por ter sido a mulher presa por ato
subversivo, ou seja, que agiu contra os preceitos do regime, a ação de torturar
e estuprar, é vista como crime menor ao que ela cometeu. É algo inacreditável, que beira a insanidade,
não é mesmo?
Outro absurdo
acerca da anistia dos generais envolvidos nos crimes durante o regime é que até
hoje muitos dos que foram presos, seus corpos jamais foram encontrados e seus
autores identificados. Portanto, tal fato se caracteriza como crime continuado,
porque, enquanto o corpo não for encontrado, identificado e revelado as circunstâncias
do ato, é um crime aberto por não ter sido ainda solucionado.
Não
podemos confundir os civis perseguidos, presos, torturados, bem como os que
fugiram na época, dos que estão presos hoje. No 8 de janeiro, a prisão e a condenação
se deram por tentativa de ato golpista, já durante os militares, 31 de março,
os detidos, torturados e mortos, foram por subversão ao regime, ou seja,
contrariavam o autoritarismo, a censura, a supressão de eleições para
presidente e governadores, entre outros.
O 11 de setembro de 2025 é sim um dia
histórico para a nossa democracia e que deve ser comemorado por todos que
acreditam no direito e na justiça. Vale ressaltar que não chegamos ainda a um
modelo ideal de sociedade, de democracia, como apregoavam os pensadores
clássicos, porém, estamos construindo mesmo diante de tantas contradições de um
país forjado pelo colonialismo, escravismo e diferenças de classes
extremas.
Prof.
Jairo Cesa
[1] https://soundcloud.com/programafaixalivre/fl-16092025_1-cid-benjamin-tema-momento-politico-1?in=programafaixalivre/sets/programa-faixa-livre-16-09-2025
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