segunda-feira, 14 de outubro de 2024

 

O/A BRASILEIRO/A ADQUIRIU CONSCIÊNCIA POLÍTICA DE DIREITA E EXTREMA DIREITA.

Podemos admitir que o começo da década de 1960 a sociedade brasileira viveu intenso processo de politização de esquerda, claro que influenciado pelas ideias revolucionárias de cunho marxista que arrancaram do poder regimes autoritários a exemplo de Cuba de Fungêncio Batista. Lideranças como Che Guevara, entre outros/as, desempenharam papel de difusão dos ideais humanistas pelo continente americano, porém, foi assassinado nas florestas da Bolívia a mando das forças repressoras pró-capitalismo. Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, etc, passavam por processos de forte ebulição política também nessa década, onde pleitos eleitorais levaram ao poder governos com demandas populares, como  reforma agrária, educação pública, estatização de empresas de base: eletricidade, comunicação, etc.

Vendo-se ameaçadas, as forças econômicas conservadoras se articulam com vistas a desmobilizar todos os focos revolucionários que pipocam por todos os cantos da América do Sul. A forte influência do imperialismo estadunidense junto aos países da América Latina teve papel determinante na desarticulação dos movimentos esquerdistas. É conveniente lembrar que entre a década de 1950 até o ano de 1989, o mundo estava sob a influência da guerra fria, que de um lado estava os EUA/Capitalista e do outro a UNIÃO SOVIETICA/Socialista. Como peças de jogo de dominó, de repente, o exercito sai à rua com seus blindados derrubando governos, um após outros, prendendo e reprimindo todos/as que subvertessem a nova ordem hegemônica estabelecida.

Países como a Argentina e o Chile, as forças repressivas dos governos militares provocaram milhares de mortes e outras centenas de desaparecidos/as. Muitos outros, políticos, intelectuais, artistas, para se livrarem das perseguições do regime autoritários fugiram recebendo asilo político em países da Europa. Embora em menor proporção em termos de vítimas da ditadura, o Brasil permaneceu por mais de vinte anos sob a égide dos generais. Alguns mais cedo, outros demoraram um pouco mais, o fato é que no final da década de 1970 dá-se inicio ao processo de redemocratização conservadora dessas nações sul americanas, isto é, sem que as elites econômicas perdessem as rédeas do mandonismo capitalista.

Com a anistia muitos que fugiram para não serem presos, retornaram e deram inicio à gradual e contínua articulação das massas de trabalhadoras. Rearticulam os sindicatos com forte apelo às lutas de classes, bem como de resistência à ordem econômica repressora.  Por todos os cantos do país, vão surgindo pessoas, jovens que se organizam, muitos dos quais liderados por religiosos seguidores da teologia da libertação. As próprias universidades, muitos dos cursos acadêmicos oferecidos, economia, sociologia, entre outros ligados as licenciaturas, seus currículos passam a ter fortes cargas de conteúdos de correntes ideológicas de matriz marxista.

Conteúdos e livros de pensadores como Vigotsky, Gramsci, Piaget, Paulo Freire, Maria Ferreiro, Moacir Gatotti, até mesmo Karl Marx, ocupavam espaços de destaques nas prateleiras das bibliotecas das escolas espelhadas por todos os cantos do país. Os projetos políticos pedagógicos estavam repletos de propostas desses pensadores, entretanto em nenhum momento havia risco de alguém ser taxado de comunista, subversivo pelo fato de estar ensinando ou seguindo tais correntes de pensamento.  De fato podemos concluir que a vitória do PT nas eleições presidenciais de 2001 que também se replicou em centenas de municípios até 2012 teve o impacto direto e indireto dos movimentos sociais fortemente politizados.

Com o golpe de 2016 que tirou Dilma Rousseff do cargo de presidente da república, a direita e a extrema direita se reorganizam com a perspectiva de um novo realinhamento social de base conservadora. A vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018, o mesmo assumiu o protagonismo de desconstruir o pouco do que havia sido conquistado em termos de consciência política progressista. Claro que não foi tão difícil tal meta, pois se aproveitou da precariedade dos sistemas educacionais brasileiros que não conseguiram durante os governos petistas alicerçarem um projeto de educação que promovesse o empoderamento das massas sociais.

O crescimento das igrejas neopentecostais, apresentando às massas desassistidas possibilidades palpáveis de “prosperidade”, ambas alcançaram projeções no campo das mídias e na esfera política. Tanto na primeira quanto na segunda, essas organizações obtiveram sucesso na difusão de ideias e valores conservadores fundamentados na moral cristã e na família tradicional. No campo da política construíram um espaço sólido de tomada de decisões até mesmo com bancadas contendo dezenas de parlamentares eleitos no congresso, assembleias legislativas e câmaras municipais. São esses, somados com outras centenas, mais as mídias conservadoras, que juntos vem promovendo uma hecatombe nas massas desassistidas, transformando-as, promovendo o que o PT e outras forças de esquerda fizeram no passado, uma extraordinária onda de politização, porém, de modo oposto, ou seja, uma politização de direita e extrema direita.

Desde a eleição de Bolsonaro os pleitos eleitorais começaram a mostrar esse perigoso cenário, o crescimento assustador de partidos conservadores ocupando os espaços de poder nas instâncias federais, estaduais e municipais. Criminalizar, demonizar tudo que se enquadra aos ditames ditos de esquerda, isto é, a defesa da educação pública, a diversidade de gênero, a igualdade social, o meio ambiente, o socialismo, o comunismo, tomou pulso e apoio incondicional de todas as vertentes conservadoras da sociedade.

Isso é notório, é inquestionável, o brasileiro adquiriu sim, consciência política, mas consciência de direita. Ser de direita é ser bom, correto, de deus. Ser de esquerda é ser mau, ser ateu, comunista. Hoje em dia é muito perigoso dizer que é de esquerda, pode ser vaiado ou até mesmo sofrer algum tipo de violência física. A realidade é que quem pensa diferente que se opõe ao establishment conservador está prezo a um labirinto, sem saída.

É quase certo que durante realização de um culto religioso ou evento político de partidos conservadores, qualquer um que se manifestar afirmando que é de direita será certamente aplaudido, ovacionado de pé, não é mesmo? Imaginem pobre de direita!!! Para essas pessoas é digno passar fome, porém ter posição política de direita, extrema direita. Esse comportamento de direita, não está se cristalizando nos bancos das escolas, mas por meio das redes sociais, grupos de WhatsApp, por exemplo. De repente, todo mundo se sente apto em lançar opiniões de tudo, recebendo e compartilhando informações sem prestar atenção nas fontes. Enquanto a esquerda entrega um pãozinho em forma de benefícios sociais, a direita entrega fantasia do neoliberalismo, entrega circo, igreja – o coach, a exemplo de Pablo Marçal.

Prof. Jairo Cesa   

 

 

                            

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