O/A BRASILEIRO/A ADQUIRIU CONSCIÊNCIA POLÍTICA DE DIREITA E EXTREMA DIREITA.
Podemos
admitir que o começo da década de 1960 a sociedade brasileira viveu intenso
processo de politização de esquerda, claro que influenciado pelas ideias revolucionárias
de cunho marxista que arrancaram do poder regimes autoritários a exemplo de Cuba
de Fungêncio Batista. Lideranças como Che Guevara, entre outros/as,
desempenharam papel de difusão dos ideais humanistas pelo continente americano,
porém, foi assassinado nas florestas da Bolívia a mando das forças repressoras
pró-capitalismo. Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, etc, passavam por processos
de forte ebulição política também nessa década, onde pleitos eleitorais levaram
ao poder governos com demandas populares, como reforma agrária, educação pública, estatização
de empresas de base: eletricidade, comunicação, etc.
Vendo-se
ameaçadas, as forças econômicas conservadoras se articulam com vistas a
desmobilizar todos os focos revolucionários que pipocam por todos os cantos da América
do Sul. A forte influência do imperialismo estadunidense junto aos países da América
Latina teve papel determinante na desarticulação dos movimentos esquerdistas. É
conveniente lembrar que entre a década de 1950 até o ano de 1989, o mundo
estava sob a influência da guerra fria, que de um lado estava os EUA/Capitalista
e do outro a UNIÃO SOVIETICA/Socialista. Como peças de jogo de dominó, de
repente, o exercito sai à rua com seus blindados derrubando governos, um após
outros, prendendo e reprimindo todos/as que subvertessem a nova ordem hegemônica
estabelecida.
Países
como a Argentina e o Chile, as forças repressivas dos governos militares
provocaram milhares de mortes e outras centenas de desaparecidos/as. Muitos outros,
políticos, intelectuais, artistas, para se livrarem das perseguições do regime
autoritários fugiram recebendo asilo político em países da Europa. Embora em
menor proporção em termos de vítimas da ditadura, o Brasil permaneceu por mais
de vinte anos sob a égide dos generais. Alguns mais cedo, outros demoraram um
pouco mais, o fato é que no final da década de 1970 dá-se inicio ao processo de
redemocratização conservadora dessas nações sul americanas, isto é, sem que as
elites econômicas perdessem as rédeas do mandonismo capitalista.
Com
a anistia muitos que fugiram para não serem presos, retornaram e deram inicio à
gradual e contínua articulação das massas de trabalhadoras. Rearticulam os
sindicatos com forte apelo às lutas de classes, bem como de resistência à ordem
econômica repressora. Por todos os
cantos do país, vão surgindo pessoas, jovens que se organizam, muitos dos quais
liderados por religiosos seguidores da teologia da libertação. As próprias
universidades, muitos dos cursos acadêmicos oferecidos, economia, sociologia,
entre outros ligados as licenciaturas, seus currículos passam a ter fortes
cargas de conteúdos de correntes ideológicas de matriz marxista.
Conteúdos
e livros de pensadores como Vigotsky, Gramsci, Piaget, Paulo Freire, Maria
Ferreiro, Moacir Gatotti, até mesmo Karl Marx, ocupavam espaços de destaques
nas prateleiras das bibliotecas das escolas espelhadas por todos os cantos do
país. Os projetos políticos pedagógicos estavam repletos de propostas desses
pensadores, entretanto em nenhum momento havia risco de alguém ser taxado de comunista,
subversivo pelo fato de estar ensinando ou seguindo tais correntes de
pensamento. De fato podemos concluir que
a vitória do PT nas eleições presidenciais de 2001 que também se replicou em
centenas de municípios até 2012 teve o impacto direto e indireto dos movimentos
sociais fortemente politizados.
Com
o golpe de 2016 que tirou Dilma Rousseff do cargo de presidente da república, a
direita e a extrema direita se reorganizam com a perspectiva de um novo
realinhamento social de base conservadora. A vitória de Bolsonaro nas eleições
de 2018, o mesmo assumiu o protagonismo de desconstruir o pouco do que havia
sido conquistado em termos de consciência política progressista. Claro que não
foi tão difícil tal meta, pois se aproveitou da precariedade dos sistemas
educacionais brasileiros que não conseguiram durante os governos petistas alicerçarem
um projeto de educação que promovesse o empoderamento das massas sociais.
O
crescimento das igrejas neopentecostais, apresentando às massas desassistidas possibilidades
palpáveis de “prosperidade”, ambas alcançaram projeções no campo das mídias e
na esfera política. Tanto na primeira quanto na segunda, essas organizações
obtiveram sucesso na difusão de ideias e valores conservadores fundamentados na
moral cristã e na família tradicional. No campo da política construíram um
espaço sólido de tomada de decisões até mesmo com bancadas contendo dezenas de
parlamentares eleitos no congresso, assembleias legislativas e câmaras
municipais. São esses, somados com outras centenas, mais as mídias
conservadoras, que juntos vem promovendo uma hecatombe nas massas desassistidas,
transformando-as, promovendo o que o PT e outras forças de esquerda fizeram no
passado, uma extraordinária onda de politização, porém, de modo oposto, ou
seja, uma politização de direita e extrema direita.
Desde
a eleição de Bolsonaro os pleitos eleitorais começaram a mostrar esse perigoso
cenário, o crescimento assustador de partidos conservadores ocupando os espaços
de poder nas instâncias federais, estaduais e municipais. Criminalizar,
demonizar tudo que se enquadra aos ditames ditos de esquerda, isto é, a defesa
da educação pública, a diversidade de gênero, a igualdade social, o meio
ambiente, o socialismo, o comunismo, tomou pulso e apoio incondicional de todas
as vertentes conservadoras da sociedade.
Isso
é notório, é inquestionável, o brasileiro adquiriu sim, consciência política,
mas consciência de direita. Ser de direita é ser bom, correto, de deus. Ser de
esquerda é ser mau, ser ateu, comunista. Hoje em dia é muito perigoso dizer que
é de esquerda, pode ser vaiado ou até mesmo sofrer algum tipo de violência
física. A realidade é que quem pensa diferente que se opõe ao establishment conservador
está prezo a um labirinto, sem saída.
É
quase certo que durante realização de um culto religioso ou evento político de
partidos conservadores, qualquer um que se manifestar afirmando que é de
direita será certamente aplaudido, ovacionado de pé, não é mesmo? Imaginem
pobre de direita!!! Para essas pessoas é digno passar fome, porém ter posição
política de direita, extrema direita. Esse comportamento de direita, não está
se cristalizando nos bancos das escolas, mas por meio das redes sociais, grupos
de WhatsApp, por exemplo. De repente, todo mundo se sente apto em lançar opiniões
de tudo, recebendo e compartilhando informações sem prestar atenção nas fontes.
Enquanto a esquerda entrega um pãozinho em forma de benefícios sociais, a
direita entrega fantasia do neoliberalismo, entrega circo, igreja – o coach, a
exemplo de Pablo Marçal.
Prof.
Jairo Cesa
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