BREVE
RADIOGRAFIA DOS PLEITOS ELEITORAIS MUNICIPAIS DO DIA 06 DE OUTUBRO DE 2024: O QUE
ESPERAR PARA 2026?
Como
um estudioso da história social de Araranguá, nas investigações que venho
realizando há mais de vinte anos acerca dos desdobramentos eleitorais não
identifiquei um pleito eleitoral, pós redemocratização, em que um candidato ao
executivo tenha tido mais de 83% dos votos válidos nas urnas. Esse foi o
percentual alcançado pelo candidato do MDB, em Araranguá, no dia 06 de outubro
de 2024, que costurou uma aliança com o PSD, REPUBLICANOS, UNIÃO BRASIL, PSDB,
PDT, CIDADANIA. O resultado acachapante para o executivo refletiu diretamente
aos eleitos para o legislativo, sendo que das quinze cadeiras disponíveis na
câmara, treze delas serão ocupadas por vereadores que integram essa aliança.
É
claro que o MDB tem um longo histórico de participação e gestão administrativa
em Araranguá. Durante o regime militar assumiu uma aparente posição de força de
resistência ao regime autoritário. Embora tenha participado de vários pleitos
ao executivo e ao legislativo durante os vinte anos de ditadura, nesse intervalo
de tempo, as únicas vitórias obtidas foram para o legislativo elegendo um ou
dois vereadores e nada mais. Foi, portanto, em 1982, com a redemocratização, o
maior triunfo do MDB quando conquistou, pelo voto, o posto máximo do executivo
municipal. A segunda e última conquista, até a chegada de Cesar Cesa ao poder,
foi em 1996.
Porém,
tanto na eleição de 1982, quanto na de 1996, ambas as disputas sempre foram
acirradas, pois nesses pleitos o PDS, que depois virou PPB e atualmente é o PP
era o partido que rivalizava ao MDB. Com o passar do tempo os partidos
tradicionais foram se dissolvendo, dando lugar a outras nominatas, porém, muitas
das agremiações surgidas pouco ou nada se diferenciavam das suas matrizes partidárias
de ideologias conservadores. O PT, no
entanto, nascido no ceio das classes trabalhadoras no final do regime militar
se caracterizou como uma força alternativa ao mandonismo autoritário das elites
burguesas.
No
município de Araranguá sua existência data do início da década de 1980 a partir
de lideranças advindas dos movimentos sociais, associações de bairros, sindicados
e da igreja católica. Em 2012 o partido obteve a proeza de eleger o seu
prefeito, também por meio de uma aliança com partidos de centro e centro
esquerda: PRB, PDT, PTB, DEM, PHS E PSB. No legislativo a primeira eleição vitoriosa do
PT ocorreu em 1996 conquistando duas cadeiras. Na eleição de 2012, Sandro
Maciel, do PT, conquistou o posto de prefeito vencendo o candidato do MDB,
Cesar Cesa, por 13.565 votos, contra 12.935.
A boa soma de votos também garantiu ao PT três cadeiras no legislativo, Banha,
Eduardo Merêncio e Professor Jordão. Desde então, o partido vinha ocupando uma
das cadeiras da câmara a cada pleito, cuja rotina cessou em 06 de outubro de
2024 quando não elegeu nenhum vereador.
O
que se questiona é o motivo pelo qual o partido dos trabalhadores tem se desidratado
tanto nos últimos tempos, mesmo tendo no assento do executivo federal um
governo petista que concedeu tantos benefícios sociais às populações carentes?
Claro que tais políticas assistenciais não estão sendo suficientes para retirar
o país de um cenário de desigualdade social extrema. É sabido que tal patologia
social não deve ser creditado somente no executivo, o legislativo federal tem
enorme responsabilidade nos malefícios que assolam a vida de milhões de
brasileiros.
A
ascensão de forças políticas extremistas que apregoam concepções ideológicas fascistas
vem recebendo forte simpatia de setores da burguesia e de estratos sociais
vinculados ao neopetencostalismo religioso. Um congresso dominado por partidos
que rezam a cartilha do neoliberalismo, do entreguismo e pautas moralistas,
tende a resultar no episódio de 09 de janeiro de 2023, quando hordas de
arruaceiros invadiram a sede dos três poderes em Brasília depredando tudo que
havia pela frente.
A
formalização de um congresso, câmara e senado, ultraconservador nas eleições
presidenciais de 2022 transformou os gabinetes dos parlamentares em Brasília em
uma espécie de puxadinho das câmaras e executivos municipais. São centenas de
vereadores e prefeitos que para se deslocam periodicamente para a sede dos três
poderes na ânsia de abocanhar fatias dos recursos do orçamento, emendas
parlamentares, entre outras modalidades, para financiar obras nos seus municípios.
Sem dúvida o orçamento secreto que abocanhou bilhões de reais de recursos
públicos, deve ter auxiliado a reeleição de milhares de prefeitos, vereadores,
na sua expressiva maioria filiados em partidos que integram o centrão.
Além
dos recursos oriundos das emendas parlamentares que azeitaram as instancias
administrativas locais, a participação das forças econômicas de plantão também
foi decisiva na nova configuração dos parlamentos municipais. Em uma sociedade
altamente despolitizada e economicamente carente onde muitas famílias
sobrevivem dos parcos recursos do bolsa família, a presença de um político
oferecendo um, dois, três mil reais por um par de votos tende a ser uma
proposta extremamente tentadora, não é mesmo?
Há
indícios revelando que em municípios da Amesc, grupos empresariais gastaram
milhares de reais no último pleito eleitoral. São praticas viciadas ainda
arraigadas na cultura dos municípios que historicamente foram dominados por
oligarquias. É o toma lá dá cá. A fragilização das estruturas públicas como da
educação tende a servir para arregimentar exércitos de cidadãos à marginalidade.
Situação que faz desacreditar da escola como um importante campo de ascensão
social. São indivíduos, adolescentes e jovens, marginalizados, que se
transformam em presas fáceis das máfias do
crime e de lideres religiosos espertalhões que apregoam prosperidade em troca
do dízimo.
Diante
do atual cenário social, tem-se a sensação de que quem ousar pensar ou agir “fora
da caixinha”, atribuição entendida como de um anormal, de um não alinhado à
ordem da maioria, tende a ser criminalizado, taxado de subversivo, até mesmo de
comunista, como se comunista fosse uma doença, uma perversão. Os regimes
nazistas, fascistas ascenderam a partir dessas premissas consensuais, de acreditar
em figuras míticas, da rejeição aos diferentes, da supressão dos obstáculos ao
progresso sem limites. O cenário pós eleição nos municípios da AMESC e AMREC
demonstrou que estamos diante de um regime de consenso político partidário perigoso.
Na
AMREC, que congrega doze municípios, quatro partidos se sagraram vitoriosos na
eleição dos seus prefeitos. Primeiro foi
o PP, com cinco prefeituras; o segundo, o PSD, com quatro; o terceiro, o MDB,
com duas e por último, o PL, com uma prefeitura. Já os municípios da AMESC, a radiografia
eleitoral foi muito parecida a da AMREC. O PP, também foi o partido hegemônico,
com seis prefeituras; vindo em seguida, o MDB, com quatro; o PSDB, com 2; o PL,
com duas e o PSD, com uma prefeitura apenas. O que se notou nessas duas regiões
do sul do estado é aquilo que já foi observado em outros pleitos,
principalmente para presidente da república, a espantosa ascensão do
conservadorismo, cada vez mais se enraizando no tecido social.
Se
tivéssemos uma sociedade com a mínima compreensão de toda a arquitetura político
partidária do país seria muito difícil muitas agremiações políticas galgarem
algum sucesso eleitoral. A resposta ao insucesso se deve ao papel que exerceram
e exercem nos debates e votações de projetos de interesse dos trabalhadores.
Reforma trabalhista, previdenciária, educacional, etc, com raras exceções, os
parlamentares dos partidos vitoriosos nos pleitos locais votaram pela retirada
de direitos, tornando a vida das pessoas mais difíceis. A radiografia das
eleições para o legislativo nos municípios dessas duas regiões também foi similar
ao executivo, prevalecendo majoritariamente os partidos acima destacados. As únicas
exceções foram os municípios de Criciúma e Cocal do Sul, que elegeram dois
vereadores fora desse espectro conservador. Giovana Mondardo, filiada ao PCdoB,
que obteve 3.481 votos e Célio Elias, do PT, que conquistou 561 votos.
Fazendo
uma projeção mais geral sobre como foi o processo eleitoral, quais os partidos
campeões em cadeiras nos legislativos dos mais de cinco mil municípios, o que se
comprovou foi a hegemonia de agremiações partidárias tradicionais como o PP e o
MDB, ambos liderando os assentos de milhares de prefeituras, totalizando 14.978
cadeiras. Na sequência, em ordem decrescente: o PSD, com 6.579 assentos; UNIÃO
BRASIL, 5.437; PL, 4.929; REPUBLICANOS, com 4.616; PSB, com 3.557; PT, COM
3.118; PSDB, 2.975; PDT, 2.479; PODEMOS, 2.314; AVANTE, 1.513; PRD, 1.400; SOLIDARIEDADE,
1.244; PV, 487; CIDADANIA, 431; MOBILIZA, 357; PCdoB, 354; AGIR, 292; NOVO,
259; DC, 251; REDE, 171; PMB, 107; PRTB, 96; PSOL, 80.
Claro
que a configuração desses partidos em âmbito local se distingue enormemente em
escala federal. Muitas das agremiações que deram sustentação ao governo de Bolsonaro,
que comungam com as ideias de estado mínimo, estão hoje ocupando espaços no
primeiro escalão do governo lula, como o MDB, o PP, PSD, UNIÃO BRASIL,
REPUBLICANOS. No congresso nacional muitos parlamentares vinculados e esses partidos
votam demandas contrarias ao próprio governo, no entanto estão ocupando
ministérios relevantes com objetivo de assegurar a governabilidade do atual
presidente.
É
importante aqui realçar que o resultado eleitoral dos municípios é possível vislumbrar
um prognóstico para 2026 quando teremos eleições para presidente da república. Embora o PT tenha tido crescimento em número
de prefeituras no país em comparação a eleição de 2020, quase 17%, expressiva
parcela delas são municípios pequenos com pouca expressividade no cenário
político nacional. Das 27 capitais, o partido dos trabalhadores vai disputar o
segundo turno em quatro delas: Cuiabá, Fortaleza, Natal e Porto Alegre, além de
9 cidades com mais de 200 mil habitantes: Anápolis (GO); Camaçari (BA); Caucaia
(CE); Diadema (SP); Mauá (SP); Olinda (PE); Pelotas (RS); Santa Maria (RS) e
Sumaré (SP).
A
ascensão do PL, partido do ex-presidente Bolsonaro, em muitos municípios do
nordeste e norte dos pais, pode criar certo ceticismo da esquerda brasileira, o
PT, por exemplo, à reeleição do presidente Lula. Claro que não se podem fazer
comparações entre pleitos eleitorais municipais e o federal. Muitos dos que
votaram em um candidato do PL, PSD, MDB, etc., para prefeito ou vereador, votariam
no Lula em uma eleição para presidente? Aguardemos os resultados das urnas no
segundo turno, em São Paulo, com Guilherme Boulos, do PSol, que disputará
contra Ricardo Nunes, MDB e outras quatro capitais, cujo PT medirá forças com
seus oponentes. O mapa eleitoral definitivo depois do dia 27 de outubro ajudará
num prognóstico mais assertivo para 2026.
Prof.
Jairo Cesa
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