sábado, 19 de outubro de 2024

 

NÚCLEO SERRAMAR - QUE INTEGRA A REDE DE AGROECOLOGIA ECOVIDA - PROMOVE ENCONTRO DA REDE DE SEMENTES

"Essa foto me emocionou muito eu no meio das alfaces que minha mãe guardou no freezer por 28 anos .E estão comigo" - Maria das Alegrias


Por milênios as sementes sempre foi motivo de preocupação das civilizações que iam se sucedendo uma após outra. Foi a partir da sua domesticação, bem como do aprisionamento de animais, aves, mamíferos, que grupos humanos transitaram da condição de nômades para sujeitos sedentários, isto é, se fixando em um determinado espaço geográfico e construindo relações de convívio mútuo. Muitos dos alimentos consumidos pela humanidade hoje em dia, como o arroz, o milho, tipos de batatas, mandiocas, legumes, tubérculos, entre outras dezenas de variedades, tiveram suas origens na China, Índia, na Mesopotâmia, no Egito antigo e no Continente Americano.

Coletar as melhores sementes, armazená-las corretamente para assegurar uma germinação satisfatória, foi no passado, função quase que exclusiva das mulheres, denominadas de guardiãs de sementes. Ainda hoje comunidades tradicionais da América Latina, mantém a tradição de produzir e replicar sementes crioulas, variedades que mantém intactas suas genéticas de milhares de anos. De fato as guardiãs, bem como os guardiões, ambos se caracterizam como verdadeiros heróis da resistência, pelo fato da enorme pressão que sofrem das grandes corporações do segmento de sementes e insumos que buscam monopolizar esse setor.

As inovações no campo da ciência agrária e da genética provocaram uma verdadeira revolução no segmento das sementes. Melhorá-las geneticamente, tornando-as mais produtivas, resistentes às pragas e a inserção de agrotóxicos, foi, de fato, o acontecimento mais relevante e ameaçado do final do século XX. Pela primeira vez o ser humano consegue mexer nos seus cromossomos, alterando o seu sequencial genético, a ponto de criar variedades estéreis, incapazes de se fecundarem após a colheita. Isso, de fato, garante o controle das corporações no comércio global dessas sementes.

A agroecologia e a produção orgânica a cada dia vêm se vislumbrando como uma das alternativas ao salvamento da espécie humana e do planeta. As mudanças climáticas em curso se devem em grande parte ao modo como a agricultura vem sendo adotada no planeta, se concentrando em algumas culturas, soja, milho, algodão, cana de açúcar, altamente mecanizadas e vinculadas ao mercado de commodities. Hoje em dia parte dos alimentos que chegam à mesa da população brasileira, muitos cereais, legumes, verduras, frutas, etc, ambas são provenientes da agricultura familiar. Em menor proporção estão às famílias que cultivam variedades orgânicas, dotando ou não praticas agroecológicas. É, portanto, esse segmento o que mais sofre as agruras de políticas públicas, com maior favorecimento ao setor do agronegócio em termos de financiamentos.

Nos últimos anos, de forma tímida, inúmeras foram às legislações criadas para dar estímulo ao segmento agroecológico. Dentre elas está o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO). De fato esse plano é um grande avanço, pois garantirá maior seguridade ao cultivo e ao comércio de orgânicos às famílias que adotam praticas alternativas de insumo e no manejo na produção. Dessa vez o Planapo define 197 iniciativas, divididas em 7 eixos. Tem a participação de 14 ministérios e 9 bilhões de reais em ações. O plano prevê “iniciativas voltadas à pesquisa e inovação, incentivos às compras e inclusão de mulheres, jovens, indígenas, quilombolas na agricultura familiar”.

Junto ao Planapo está o Pronara, que é o programa de redução de agrotóxicos de alta periculosidade. Nesse item, o segmento da agroecologia lança críticas ao programa, pois a expectativa era a inclusão da redução de todo o tipo de agrotóxicos, independente da sua toxidade. Não houve avanço no quesito agrotóxico devido ao forte da resistência do agronegócio, que é chancelado pelo ministro da agricultura, um dos principais representantes do setor.

Foto-Jairo

Outra conquista foi o Plano Nacional de Abastecimento Alimentar (Alimento no Prato), o PRONAAB, que inclui 29 iniciativas e 92 estratégias. A proposta é assegurar alimentos saudáveis e frescos, com foco nas populações mais vulneráveis. O plano integra políticas públicas, envolvendo diversos setores, como o da saúde, educação, agricultura e desenvolvimento social. Propõe também o fortalecimento das redes territoriais de abastecimento, bem como promover práticas que preservem a biodiversidade e os saberes tradicionais.  

Frente a tudo isso, o segmento agroecológico vem costurando vínculos em forma de redes junto aos seus integrantes, sendo uma delas a Rede Agroecológica ECOVIDA que reúne produtores e consumidores dos três estados do sul. São dezenas de núcleos espalhados, fracionadas em grupos, contendo cinco, seis ou mais famílias, que se reúnem periodicamente para discutir demandas e estratégias para o fortalecimento do setor. Dentre os núcleos da rede está o SARRAMAR, da região sul de Santa Catarina, constituída de famílias dos grupos Terras de Anita, Frutos da Terra, Guardiões e Paleotoca.

Foto - Jairo

Entre as várias demandas assumidas pelo núcleo está o debate acerca das portarias relativas às sementes utilizadas pelos produtores de hortaliças, que deverão, no futuro, ser totalmente orgânicas. Uma delas é a Portaria de n.52, de 15 de março de 2021, que estabelece regulamento técnico para os sistemas orgânicos de produção e as listas de substâncias e práticas para o uso nos Sistemas Orgânicos de Produção. Tal medida gerou forte preocupação dos produtores de hortaliças vinculados a rede ECOVIDA, pelo fato da exigência de que sementes e mudas deverão ser também de variedades orgânicas.

Essa portaria estabeleceu um tempo um tanto exíguo aos produtores para o ajustamento, decisão que resultou em mobilizações do setor junto ao MAPA, para rever a decisão e postergasse o prazo. Em 2024, o MAPA atendeu as reivindicações lançando outra portaria, a de n. 685, de maio de 2024, onde, a partir do §8 no art.103, fica suspenso por 2 (dois) anos, os prazos previstos neste artigo, no qual trata sobre sementes e mudas que deverão ser oriundas de sistemas orgânicos de produção.

Foto - Jairo

Diante das incertezas acerca do futuro dos produtores de hortaliças da rede ECOVIA e principalmente do núcleo SERRAMAR, entre outros, o respectivo núcleo vem promovendo algumas ações com vistas a buscar alternativas que atendam aos interesses desse setor que responde por mais da metade das famílias integrantes da respectiva rede agroecológica. A partir de acordos estabelecidos entre as direções da rede dos três estados, encontros setoriais foram acordados com vistas a discutir o tema, bem como habilitar os horticultores a produzirem suas próprias sementes e mudas orgânicas.

A ETAPA I do IV ENCOTRO da rede de sementes ECOVIDA ocorreu em Chapecó, nos dias 25 e 26 de setembro. A ETAPA II teve como local o município de Jaguaruna/SC, entre os dias 17 e 18 de outubro, com cerca de 100 inscritos, vindos dos três estados do sul do Brasil. Nos dois dias, o público presente teve a oportunidade de conhecer o histórico e a atualidade na produção de sementes; sua origem e a diversidade; sua importância; seu manejo e tratamento; as formas de colheitas; o seu armazenamento e o plano para garantir a manutenção da agrobiodiversidade, suprindo as demandas de sementes da agricultura familiar agroecológica em qualidade.  Durante as falas dos técnicos e pesquisadores, os produtores de hortaliças tiveram a oportunidade de apresentar e compartilhar suas experiências de fracassos e sucessos no manejo dessa atividade.

Foto - Jairo

Foto - Jairo

No segundo dia do evento, o publico foi recepcionado na propriedade de uma família de agricultores agroecológicos no mesmo município. É importante aqui frisar que a proprietária do sítio, conhecida como Maria das Alegrias Garcia, além de agricultora também é uma guardiã de sementes crioulas. Por cerca de duas horas, o público envolvido no evento sobre sementes, teve a incrível oportunidade de conhecer um verdadeiro berçário de variedades de hortaliças em diferentes estágios de desenvolvimento. Acredito que quem prestou atenção nas falas repletas de conhecimento e emoção da Dona Maria das Alegrias, deve ter compreendido que ser agroecológico vai muito além do resultado econômico em si, é um processo sinérgico, onde solo, ar, água, plantas, animais, trocam energias, se realimentando ininterruptamente.

Prof. Jairo Cesa  

          

   https://anttlegis.antt.gov.br/action/ActionDatalegis.php?acao=detalharAto&tipo=POR&numeroAto=00000052&seqAto=000&valorAno=2021&orgao=MAPA&nomeTitulo=codigos&desItem=&desItemFim=&cod_modulo=420&cod_menu=7145

https://anttlegis.antt.gov.br/action/ActionDatalegis.php?acao=abrirTextoAto&tipo=POR&numeroAto=00000685&seqAto=000&valorAno=2024&orgao=MAPA&nomeTitulo=codigos&desItem=&desItemFim=&cod_modulo=420&cod_menu=7145

https://portaldbo.com.br/governo-anuncia-3a-edicao-do-plano-nacional-de-agroecologia-e-producao-organica/

https://www.gov.br/mda/pt-br/noticias/2024/10/plano-nacional-de-abastecimento-alimentar-201calimento-no-prato201d-garante-seguranca-alimentar-e-sustentabilidade

 

 















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