terça-feira, 29 de agosto de 2023

 

BOLSONARO A UM PASSO DA PAPUDA? O QUE MUDARIA NO CENÁRIO POLÍTICO E ECONÔMICO BRASILEIRO?

Depois de quatro anos envolvido em escândalos e irregularidades de todos os tipos, tudo indica que o episódio que realmente conduzirá Bolsonaro à prisão será o esquema das jóias presenteadas por autoridades sauditas. São cenas tão bizarras, tão patéticas, tão repugnantes mostradas, envolvendo um batalhão de pessoas ligadas ao ex-presidente nesse caso, que deixa explícito o quão nefasto foi esse governo para parcela expressiva da população brasileira.

Na realidade as elites representadas no congresso nacional; a banda podre das forças armadas; os sanguessugas dos mercados financeiros; os gafanhotos insaciáveis do agronegócio, entre outros,  são cúmplices direto e indiretamente  de todo esse desarranjo estrutural que foram os últimos quatro anos. Sendo assim, ambos não poderiam ficar impunes, na hipótese de seu representante fantoche Jair Bolsonaro ir preso. O que espanta é que desde o fim da ditadura militar, muitos generais e outras figuras de patentes inferiores do exército permaneceram impunes diante das atrocidades cometidas durante os vinte anos de regime militar. No país vizinho, a Argentina, os desdobramentos pós-ditadura militar foi bem diferente. Inúmeros integrantes dos altos escalões do exército, acusados por torturas, mortes e de desaparecimentos de civis, foram presos, julgados e condenados.  

No Brasil, nenhuma ação nesse sentido foi aplicada, a ponto de o ex-presidente, quando ainda deputado federal, durante a sessão de cassação da ex-presidente Dilma Rousseff, ter louvado o torturador Coronel Carlos Brilhante Ustra, afirmando que tem o seu livro na cabeceira de sua cama como obra inspiradora. Nos seus quatro anos de desgovernos no qual colocou o Brasil em uma condição de Pária frente aos demais, parece que novamente a elite, como o faz quando percebe que algo ou alguém não lhe favorece mais, procura descartá-lo e transformá-lo em cúmplice, bode expiatório por todas as barbaridades ocorridas ao país.

O atraso na aquisição das vacinas; a falta de respiradores em Manaus, a abertura da porteira para os crimes ambientais no bioma amazônico, além de tantos outros atos irresponsáveis cometidos por membros dos seus ministérios, por exemplo, o MEC, que teve quatro ministros em quatro anos, sendo todos acusados de crimes de responsabilidades, tudo isso estão sendo ocultados ou deixados de fora no processo que envolve o ex-presidente. A existência de deputados e senadores que integram o CENTRÃO, uma estrutura fisiológica de poder paralelo dentro do congresso, no qual são beneficiados por meio de negociatas espúrias, trocando votos por polpudas emendas parlamentares, também não deverá sofrer qualquer fratura significativa.

O “Centrão” considerado um instrumento nefasto para a democracia brasileira foi gerado durante a constituinte de 1988, no governo de Jose Sarney. Nas eleições passadas embora a elite brasileira não tenha tido sucesso na reeleição de seu fantoche miliciano, conseguiu emplacar no congresso nacional e no legislativo de muitos estados, uma legião de parlamentares que seguem a risca os preceitos do seu mito ultradireitista. É só observar as pautas de campanha dessas figuras que garantiram suas vitórias eleitorais, todas ou quase todas centradas em demandas moralistas, armamentistas, neoliberais, etc.

É obvio que do modo como o Estado brasileiro está constituído, por meio de um intricado e complexo mecanismo superestrutural que garante a prevalência sem qualquer arranhão das elites dominantes, o presidente Lula se posta constrangido em não aplicar no governo políticas de real interesse das classes populares. A concessão de ministérios importantes a partidos vinculados ao Centrão, muitos dos quais tendo sido base de sustentação ao governo anterior, revela que quem realmente comanda o Brasil é essa estrutura podre do mercado financeiro e setores do grande latifúndio, esse último muitos foram forjados a partir de 1850 por meio da lei de terras.

A eleição de Lula não provocou nenhuma ruptura significativa nessa estrutura de poder que sempre foi beneficiada por pesados subsídios e outras tantas vantagens por parte do Estado brasileiro. Quem acompanhou o conturbado processo eleitoral em 2022 e golpista pós-eleição deve ter percebido as inúmeras tentativas de sabotagem patrocinadas pelas forças reacionárias bolsonaristas, cujo objetivo era evitar a todo custo a vitória e posse do candidato e eleito Lula da Silva. Há poucos dias o já presidente Lula esteve na China acompanhado por uma comitiva de empresários do agronegócio no qual costuraram acordos comerciais bilionários favorecendo esse e outros setores ligados a exportação de commodities.

Não ficou só nisso. O “Plano Safra” também revelou que o atual presidente não ficou com qualquer ressentimento desse setor que fez de tudo para mantê-lo atrás das grades e evitar que fosse eleito. Foram quase quatrocentos bilhões de reais disponibilizados para o financiamento da safra 2023/2024. Para a agricultura familiar, no entanto, que participa com mais de 80% da produção para alimentar a população brasileira, teve um aporte irrisório de pouco mais de sessenta bilhões de reais. Afinal até que ponto vale a pena empoderar indivíduos para atuar frente a um sistema de poder, que muitas vezes tem o próprio Estado como “guarda chuva” protetor?

Prof. Jairo Cesa                   

Nenhum comentário:

Postar um comentário