segunda-feira, 14 de agosto de 2023

 

CONTINENTE AFRICANO E SUAS CONTRADIÇÕES MOTIVADAS POR LONGA TRAJETÓRIA COLONIALISTA E NEOCOLONIALISTA. 

https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=HrvAYTIk1eE&themeRefresh=1


Muitos devem ter observado que  toda vez que noticias ou reportagens são divulgadas pela imprensa ocidental  sobre o continente africano geralmente são expostas imagens de crianças negras desnutridas, doenças endêmicas ou golpes militares, não é mesmo? O oposto também é verdadeiro, reportagens ou imagens vindas do ocidente, Europa e Estados Únicos, por exemplo, sempre aparecem locais turísticos famosos como a Torre Eiffel, em Paris; o Coliseu e a Praça de São Pedro, Roma e  a agitada e colorida Nova York nos Estados Unidos.

Experimentem perguntar a uma criança ou adulto sobre suas impressões sobre esses opostos. Isso chamamos de estereótipos, formas destorcidas ou visões desfocadas  sobre uma realidade que passam a ser verdadeiras. A prevalência desses estereótipos ao continente africano   impossibilita vê-lo como um território extenso, complexo, constituído por  mais de cinquenta países, com suas peculiaridades geográficas, históricas, culturais, sociais, entre outras. 

Do mesmo modo como ocorreu nas Américas a partir do século XV, com a ocupação colonial europeia que devastou culturas autóctones milenares, a África passou por experiências similares um pouco mais tarde,  final do século XIX e a primeira metade do século XX. França, Bélgica, Alemanha,  Itália, Holanda, entre outras nações, interessados nas abundantes reservas minerais: petróleo, gás, carvão, urânio, ouro, diamante, para suprirem suas industrias em expansão, decidiram entre ambos traçar linhas divisórias do mapa africano seguindo critérios imperialistas.  

Foram décadas de dominação e espoliação cujos reflexos são sentidos até o momento diante das dificuldades de se autogovernarem. Embora tenham obtido suas independências há cinquenta ou sessenta anos, muitos dos seus líderes  permaneceram fantoches das grandes potencias imperialistas, sobretudo a França  que possui domínio político e econômico sobre inúmeras ex-colônias. A África do Sul é outro exemplo de colonialismo, foi uma nação estraçalhada por insistentes invasões de potencias europeias, Holanda, Alemanha e Inglaterra, que revezaram por séculos o controle político, econômico em um território rico em reservas minerais e por estar localizada em área estratégica, ligação entre o oceano atlântico e o Indico. Um perverso Apartaid foi instituído a partir de 1948,  segregando por décadas populações locais, submetendo-as as condições mais brutais de trabalho  e servidão  vividas por uma população no planeta.  

Vai e volta temos notícias de novos golpes de Estados, os mais recentes ocorreram  no Mali, Guiné Bissau e Burquina Faso, todos ex-colônias francesas. Na realidade esses episódios vêm mudando radicalmente o cenário de forças estabelecidas nesses territórios por décadas, que mesmos independentes politicamente, permaneceram subjugadas por suas ex-metrópoles.  Os golpes, no entanto, não se limitaram somente a essas três nações africanas. Há duas semanas o Níger, país situado na região do Sahel, área de transição entre o Saara e as Savanas, foi a bola da vez. Quando se diz que esses atos "golpistas" mudam radicalmente cenários de forças na região e na geopolítica global, queremos reafirmar que esses episódios são vistos  como um corte definitivo do "cordão umbilical" político ligando ex-metrópoles imperialistas  europeias e nações africanas.

O caso da França, uma das principais colonizadoras das “nações golpistas”, a mesma atuou, com o ocidente, influenciando direta e indiretamente os processos eleitorais desses territórios, com eleições questionáveis cujos governos eleitos atuam até hoje como vassalos das majestades imperialistas. As influencias sempre foram motivadas por fortes  interesses pelos vastos recursos minerais dessas nações. O Urânio, o fosfato, por exemplo, são produtos essenciais  que os franceses mais almejam, o primeiro, para movimentar suas usinas nucleares, e o segundo para a fertilização do solo. 

O Níger, contudo, é um dos países “privilegiados” em riquezas minerais, principalmente em Urânio. Entretanto, esses e outras commodities são extraídas por companhias que exportam, ficando a população local somente com as migalhas do lucro bilionário transferido às grandes metrópoles. Esse país, embora tendo o privilégio de possuir grandes reservas minerais, está entre as nações mais pobres o planeta, sendo a antepenúltima Na lista de países no planeta com um dos piores IDH (Índices de Desenvolvimento Humano). 

Para poder entender melhor o atual cenário africano é importante transitar pelo  território Europeu e discorrer sobre o conflito envolvendo Rússia e Ucrânia. Também é imprescindível entender os desdobramentos dos conflitos envolvendo extremismos islâmicos que atuam no norte e no centro do continente africano. Há alguns anos eram comuns noticias narrando atos terroristas entre facções islâmicas na Síria, Israel, Palestina, Iraque, Líbano, Paquistão, Afeganistão, etc. Agora, como se observa, o palco dessas ações se deslocou também para a África, principalmente os mais afetados por crises econômicas e ditaduras sanguinárias. O Níger  é um pais majoritariamente islâmico, onde forças jihadistas de grupos ligados ao Estado Islâmico e Al Qaeda  atuam no território   

   A Rússia, vista como vilão no conflito envolvendo a Ucrânia, vem sofrendo uma série de sansões econômicas por parte das potencias que integram a OTAN e demais  envolvidas nesse intrincado laço de dependência. O isolamento imposto a Moscou forçou o Kremlin a  atar relações comerciais com outros governos, como a Índia, China, Iran, etc. Esses vínculos permitiu que a produção de petróleo e gás fluíssem sem grandes reveses.

Depois da revolta da Praça Celestial em 1989 a China direcionou sua bússola econômica para outras regiões do planeta, destacando a África e a América latina. Na África o governo Chinês vem injetando gigantescas somas de recursos para o financiamento de projetos infraestruturais e de extensos parques industriais, refazendo assim o antigo Caminho da Seda. Os golpes políticos no Mali, Guiné Bissau, Burkina Faso, Sudão, entre outros, vem  demarcando uma nova fronteira  geoeconômica no continente africano, tendo agora como protagonistas  a Rússia e a China.

No final do mês de julho último o presidente Vladimir Putin, da Rússia, se reuniu com vários presidentes e chefes políticos africanos na cidade russa  de São Petersburgo. No encontro o governo de Moscou se comprometeu em ajudá-los com o envio de grãos e armas, tudo de graça. Também se comprometeu em perdoar dívidas contraídas com o seu país. Tudo isso faz parte de um robusto e ousado plano de fortalecimento das relações comerciais bilaterais, uma maneira de minimizar perdas diante das sansões impostas pela Europa e Estados Unidos.

O grupo mercenário Wagner, o mesmo que se rebelou e tentou invadir o Kremlin há pouco tempo, vem prestando apoio militar aos governos ditos golpistas africanos aliados da Rússia. O pagamento pelos serviços prestados pelos militares geralmente se dá por meio da concessão de áreas ricas em minérios. De fato esse grupo de mercenários teve participação nas ações que derrubaram os governos do Mali, Guiné Bissau, Burquina Faso, ambos aliados do ocidente.

Prof. Jairo Cesa                          

 

https://www.youtube.com/watch?v=Zy7zM1g-36Y

 

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