terça-feira, 27 de junho de 2023

 

VALE-ALIMENTAÇÃO DOS/AS PROFESSORES/AS: NÃO VALE NADA, NEM UM PASTEL COM SUCO




Lembro-me que lá pelos indos de 1980 quando iniciei as atividades de professor ACT na rede pública estadual de ensino, era rotina ficar o dia inteiro ou a semana correndo de uma escola para outra para complementar a carga horária.  Geralmente a única refeição possível era o almoço, claro que bem rapidinho, porque às 13 horas teria que estar outra vez em sala de uma das escolas do itinerário. Nessa época os profissionais do magistério ainda não tinham direito ao vale alimentação, somente a partir do ano 2000.

Nessa fase, bem como depois da concessão do vale-alimentação, raros eram os professores que não levavam marmitas com almoço para as escolas, das quais eram aquecidas aproveitando o fogão da cozinha da escola.   Podemos afirmar sem o mínimo de dúvidas que o professor da rede estadual estava enquadrado no rol dos boias frias. Passado quase quarenta anos, hoje já aposentado, visitando uma das escolas da rede estadual constatei que professores continuam trazendo marmita para escola e aquecendo no fogão da cozinha.

Meu Deus nada mudou!!! O professor continua recebendo baixos salários, trabalhando em varias escolas semanalmente e levando marmita para a escola, ou seja, permanece sendo um bóia fria. Parece piada, mas não é, é real!! Ninguém acredita quando um professor fala que no final do mês, vem no seu contra cheque um pouco mais que 260 reais em forma de vale-alimentação. Cabe esclarecer que esse valor é referente à carga horária de 40 horas semanais. Sabendo que expressiva parcela dos professores fica o dia inteiro e muitas vezes até às 22 horas na/s escola/s, os 260 reais que recebem teriam que cobrir o café da manhã, almoço, lanche da tarde e muitas vezes a janta. 

Quem vai ou já foi em uma padaria ou lanchonete sabe quanto custa um café com pão quente, com queijo e manteiga, bem superior os 12 reais recebidos diariamente.  Hoje em dia é quase impensável fazer uma boa refeição ao meio dia pagando menos de 25 reais.  Ainda tem o lanche da tarde. Meu Deus os duzentos e sessenta reais dá para no máximo uma semana!!!   Em contato com alguns colegas do magistério, ambos me informaram que o vale-alimentação recebido pelos servidores da justiça é de 3.000 reais; os funcionários da ALESC recebem 2.000 reais mensais. Agora eu pergunto, o que tem de diferente nesses servidores que o fazem receber valores oito, nove, até dez vezes superiores a dos/as professores/as. É, sim, um verdadeiro esculacho a uma categoria que se dedica parte expressiva de sua vida instruindo milhões de catarinenses.

O que é mais repugnante, asqueroso, é de os/as professor/as terem de ouvir de um governador e de seu secretário falas tratando do pagamento da primeira parcela do décimo terceiro salário. Meu deus, salários sem reajustes, vale alimentação ridículo e sem reajuste há dez anos, o recebimento de parcela do 13º serve unicamente para quitar dívidas contraídas por esses servidores para poder sobreviver. É possível contar nos dedos professores/as que não tenham contraído empréstimos consignados, cujos proventos recebidos, 50% ou mais ficam retidos no banco todos os meses. Muitos/as possuem dívidas tão longas que serão herdadas pelos filhos e netos dos servidores.  

Não posso deixar aqui de discorrer alguns trechos da fala do governador e de seu secretário da fazenda fazendo propaganda política com o dinheiro do servidor público. Todos sabem que há muito tempo os servidores vêm recebendo de forma antecipada parcela do décimo terceiro. Não tenho lembrança de ter ouvido ou assistido, nos meus quase quarenta anos de docência, governador/s usando a TV ou redes sociais para noticiar o dia do pagamento de parcela do 13º. O pior é o modo asqueroso usado pelo governador e seu secretario para justificar a liberação do pagamento.

Começou falando o governador que veio a público dar boa notícia, que o pagamento será no dia 14 de julho, que foi possível graças ao esforço de todos para arrumar as contas do governo, dando oportunidade aos funcionários públicos, que tem nos ajudado. O que é verdadeiro e não dito pelo governador é que todo o esforço se deu porque o servidor terá que passar mais um ano sem qualquer reajuste em seu salário e de tentar administrar 12 reais/dia, do vale-alimentação, para o café da manha, almoço, lanche da tarde e janta. Claro que o Estado tem muito dinheiro em caixa, pois é sabido que tais sobras advêm dos 14% sequestrados dos aposentados na aprovação da Reforma Previdenciária dos servidores estaduais em 2021.

O equilíbrio do caixa do governo, relatado pelo secretário, deveria ter sido dito por ele que é parte do programa de Ajuste Fiscal, redução do tamanho do Estado, que está atingindo em cheio os servidores estaduais. Dizer que o “dinheiro é bem vindo” e que “merecem o nosso reconhecimento” é achar que os servidores são idiotas, que não sabem que o Estado não cumpre com a lei do piso, que não reajustou os salários dos professores e o valor do vale-alimentação, porque a educação pública são é a sua prioridade, como não foi dos governadores que o antecederam.  

Para os servidores estaduais, professores/as em especial, que têm que se virar nos trinta para chegar ao final do mês com alguma sobra de dinheiro, certamente muitos/as devem ter ficado horrorizados/as com a proposta do governo de transferência de recursos públicos para beneficiar universidades comunitárias e particulares.  De onde o governo retirará recursos para viabilizar esse projeto? Por que o governo em vez de alocar recursos públicos para beneficiar tais instituições, não investe na melhoria da UDESC, bem como e abertura de novos campus da instituição em todas as regiões do estado? Aí sim estaria fazendo um grande serviço para a sociedade catarinense.

Prof. Jairo Será          

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