quinta-feira, 15 de junho de 2023

 

PROBLEMAS INSOLUCIONAVEIS ENVOLVENDO O RIO ARARANGUÁ E OS COMPLEXOS LAGUNARES  - LAGOA DO CAVERÁ E SOMBRIO

Um jornal regional de tiragem diária trouxe na página 13, no dia 15/06, a seguinte manchete: “situação do rio Araranguá e da Lagoa do Caverá preocupa”. Na realidade não é a primeira vez que se publica uma manchete e reportagem discorrendo sobre esses dois mananciais extremamente depredados e desconsiderados pelas autoridades há décadas. O rio Araranguá ou bacia do rio Araranguá sofre os impactos por ser depositário de tudo o que é descartado pelo ser humano, passando pelos resíduos de carvão, esgotos domésticos e industriais, supressões das matas ciliares e lançamentos absurdos de resíduos de agrotóxicos.

Tudo isso somado, garante a respectiva bacia o triste título de ser a quinta mais degrada do estado de Santa Catarina. Frente a essa complexa realidade em 2001 foi criado por decreto estadual o Comitê da Bacia do rio Araranguá, comitê esse que seria encarregado de debater com a sociedade os problemas da bacia e possíveis soluções de curto, médio e longo prazo. A partir de 2010 passei a integrar o comitê levando para os encontros minhas experiências de professor, de sindicalista e educador ambiental.

Mesmo com todas as dificuldades dos gestores e representantes da sociedade civil no comitê, em 2014 foi aprovado o Plano de Gestão Hídrica da bacia, podendo ser comparada a um plano diretor municipal. Nesse período de participação no comitê uns dos temas que sempre me predispus a levar para os debates foram os problemas  envolvendo o complexo lagunar do município de Araranguá, com mais especificidade a Lagoa do Caverá, considerado no passado um dos maiores  mananciais de água doce do estado de Santa Catarina. Afinal, por que da preocupação com esse manancial?

Por ser um grande reservatório de água doce e de excelente qualidade o mesmo vinha e vem sofrendo os efeitos antrópicos que poderia e pode levar ao seu desaparecimento muito breve. Por décadas havia uma conexão hidroviária entre os municípios de Araranguá, sombrio e torres. Com a edificação da rodovia federal, BR.101, esse sistema de transporte por água perdeu sua eficácia. Entretanto, a partir da década de 1970, em diante, com a revolução verde no campo e outras práticas econômicas insustentáveis, esse importante complexo lagunar começou a sofrer os efeitos da “modernidade”.

Por estar conectada com a lagoa do Sombrio por um riacho, a Lagoa do Caverá também sofre os reflexos negativos da má gestão daquele manancial. A retificação do canal entre as respectivas lagoas e a instalação de empresas de exploração de turfeiras nas proximidades da Lagoa do Caverá vem contribuindo pelo assoreamento e redução progressiva da lâmina d’água. Na tentativa de resolver esse problema quase crônico, em 2016 ou 2017, foi elaborado projeto com custo aproximado de um milhão de reais cuja intenção era desenvolver estudos visando a construção de vertedouro.

Essa barreira possibilitaria a reposição da lâmina d’água nos níveis originais, totalizando aproximadamente dois metros de profundidade. Entre idas e vindas, reuniões, audiências públicas, debates, seminários e outros tantos encontros, o problema da Lagoa do Caverá e do Sombrio se mantém inalterada. Com a integração dos afluentes da bacia do Mampituba, lado catarinense, ao comitê da bacia do rio Araranguá, as demandas desse complexo lagunar passou a ser de responsabilidade dessa bacia. Como cidadão de Araranguá e conhecedor da realidade desse e outros mananciais como o Lago Dourado e Lagoa da Serra, em reunião no comitê, no CETRAR/EPAGRI, foi decidido a instalação de uma comissão para gerir de perto o problema da Lagoa do Caverá, sendo eu escolhido como coordenador da comissão.

Nessa comissão participaram cidadãos/ãs residentes no entorno da lagoa, já desiludidos com tantas promessas feitas por deputados, vereadores e outras autoridades, porém jamais concretizadas. Por estar integrando o comitê principal e atuando na comissão pró revitalização da Lagoa do Caverá, passei a escrever artigos discorrendo o que se sucediam acerca do complexo lagunar e outros temas afins. Foi escrito e postado no meu blog, criado em 2011, dezesseis textos tratando sobre o assunto. Depois de um longo silêncio a cerca do tema Lagoa do Caverá, de repente noticias passam a serem ventiladas na imprensa afirmando que o poder público de Araranguá, junto com a autorquia SAMAE pretende instalar uma adutora naquele manancial para captação da água para o abastecimento público.

Como instalar uma adutora para captação de água sem ter resolvido demandas ambientais importantes como a construção de um vertedouro? Atualmente o nível da água do manancial pouco ultrapassa um metro de profundidade.  Além do mais o manancial serve para desova e criadouro de pescados, que poderão deixar de ocorrer se medidas não forem tomadas pra o salvamento do manancial.  No mesmo jornal que circulou no dia 15 de junho trazendo o tema rio Araranguá e Lagoa do Caverá, nessa página, há uma submanchete com o seguinte título: “assoreamento e situação de emergência no extremo sul”. Assim está escrita a reportagem: “outro ponto em diálogo no encontro foi a atual situação de emergência da Lagoa do Caverá, que vem sofrendo com a diminuição de seu espelho d’água e assoreamento. Uma problemática que exige um diagnóstico ambiental e batimetria, além de ampliação do debate com a sociedade e usuários”.

Como assim, diagnóstico? Já existe um diagnóstico elaborado que custou aos cofres públicos mais de um milhão de reais. É só pegar uma cópia, fazer a leitura e fazer alguns ajustes necessários e encaminhar ao governo do estado para empenhar a execução do projeto de construção do vertedouro. Sobre os debates com a comunidade, todos que ali habitam têm clareza da realidade, pois já houve um turbilhão de reuniões para discutir e rediscutir o assunto.

Incrível que na própria reportagem tem até relato propondo audiência pública! Assim segue: “diante desse cenário, o Comitê também tem articulado a realização de uma Audiência Pública com a Comissão do Meio Ambiente da ALESC para tratar da lagoa”. Estranho essa proposta de audiência pública com a ALESC, pois em 2014 ocorreu no salão paroquial da igreja matriz de Sombrio uma audiência pública com a participação da presidente da Comissão do Meio Ambiente e Turismo da Assembleia Legislativa, a deputada Paula de Lima, do PT.

Além da deputada, estavam lá os Promotores de Justiça de Sombrio e Santa Rosa do Sul; prefeito e vice, de Sombrio; vereadores; representante da AMESC; representante do movimento em defesa da Lagoa do Caverá; representante da comissão de defesa da Lagoa do Caverá que integra o Comitê da Bacia do rio Araranguá, entre outras autoridades e moradores. É importante destacar que nessa audiência estiveram ausentes representantes do legislativo e executivo do município de Araranguá e Balneário Arroio do Silva, bem como integrantes do judiciário local.

No final da audiência foi proposta a realização de uma reunião em Florianópolis com a presença dos sete prefeitos que integram os dois mananciais, mais o MPSC, SDR, FATMA, ONG Aguapé e demais interessados. A reunião seria para tratar da criação de uma Unidade de Conservação envolvendo os três mananciais, Lagoa da Serra, Lagoa do Caverá e Lagoa do Sombrio. Quase dez anos depois da realização da audiência pública no Sombrio, nenhuma ação efetiva foi executava, permanecendo os dois mananciais a espera de um milagre dos céus.

Prof. Jairo Cesa   

OBS. SEGUE ABAIXO A LISTA DE TEXTOS ESCRITOS QUE TRAZ INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE QUESTÕES AMBIENTAIS ENVOLVENDO AS BACIAS HIDROGRAFICAS DO RIO ARARANGUÁ E DO MAMPITUBA, LADO CATARINENSE.        

 

1-    O tema água permanece ausente nos programas de governo dos postulantes aos cargos de gestores públicos municipais

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/8101094201471016388

2-    Crise hídrica e a capacidade de reservação de água na bacia hidrográfica do rio Araranguá e afluentes do Mampituba, lado catarinense

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/7094619770555356066

3-    PSA (programa de serviços ambientais) evitará conflitos por disputa de água na região de Araranguá

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/2188078853390275251

4-    Assembleia Geral aprova Incorporação dos afluentes do Rio Mampituba (lado catarinense) ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/1389238048006293399

5-    Incorporação dos afluentes da Bacia do Rio Mampituba/Santa Catarina ao Comitê Araranguá foi defendido em seminário realizado no Sombrio

 https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/1836605991787702555

 6-    Encontro no sombrio discute  federalização e criação do comitê compartilhado do rio Mampituba

 https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/1935954374011315750

 7-    Encontro debate possível criação de comitê compartilhado da bacia do rio mampituba entre rio grande do sul e santa catarina

 https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/8671865828693681653

 8-    Municípios que integram o Comitê da Bacia do Rio Araranguá sofrem descasos quanto as políticas de monitoramento e prevenção de eventos climáticos extremos.

 https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/4639620908347800314

9-  9-   Conselho Consultivo do Comitê da Bacia do Rio Araranguá discute demandas ambientais em reunião extraordinária

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/7303998025865487112

 10-                      Audiência Pública no Sombrio revela a real fragilidade do Complexo Lagunar do Extremo Sul de Santa Catarina

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/8252649633684925396

 11-                      Relatório da comissão do comitê da bacia do rio Araranguá que discorreu sobre os problemas do manancial Lagoa do Caverá

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/8468956798029178430

 12-                      Mais um capítulo da interminável novela Lagoa do Caverá

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/5389676540058555261

 13-                      Os diferentes discursos e interesses por trás da obra de contenção da água da Lagoa do Caverá

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/7185178348039515012

 14-                      Manancial Lagoa da Serra/Araranguá, ameaçado pela ocupação imobiliária.

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/6949888898182166758

 15-                      Barragem do Rio do Salto/Timbé do Sul: seus impactos e conflitos socioambientais e as incertezas quanto ao futuro da região

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/236822558244269855

 16-                      Ameaça à água em Araranguá não dá para engolir

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/276930916072698300 - 2012

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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