quarta-feira, 24 de agosto de 2022

 

O TERRÍVEL IMPACTO DA REDUÇÃO DAS ALIQUOTAS DE ICMS DOS COMBUSTÍVEIS PARA OS ESTADOS E MUNICÍPIOS BRASILEIROS




Quando visitei algumas cidades importantes da Europa como Estocolmo, Oslo, Copenhague, Helsing, Roma, Tel-aviv e Jerusalém, a quantidade de ônibus, metrô e bicicletas circulando pelas vias públicas era imensamente superior a de automóveis. São cidades que há décadas os governos vêm se engajando em políticas públicas para a melhoria dos sistemas de mobilidade urbana. Em vez de o cidadão usar o seu automóvel para ir trabalhar, se tornar muito mais prático, econômico e seguro pegar um transporte coletivo ou a própria bicicleta para fazer o deslocamento.

Claro que existem muitos automóveis transitando pelas estradas e rodovias dessas cidades, porém, em nenhum momento foi possível verificar congestionamentos quilométricos como acontece diariamente nas grandes e médias cidades brasileiras.  Interessante ressaltar que no Brasil o automóvel, conhecido como veículo de passeio, se tornou quase que um recurso obrigatório para ir e voltar do trabalho.  Claro que isso não se deu de forma espontânea, foi a década de 1950 o começo de um grande processo que abriu o país para que empresas automobilísticas aqui se instalassem.

Investimentos bilionários em publicidade e subsídios públicos pomposos tornaram o Brasil um porto seguro às montadoras, muitas das quais vindas de países cujas vendas de suas marcas são de fato insipientes. Junto com as montadoras, outras empresas da cadeia produtiva automobilística ocuparam fatia importante no mercado nacional. O mercado dos combustíveis foi um desses. A Petrobras, empresa petrolífera criada na década de 1930 por Getúlio Vargas, foi e continua sendo uma das mais importantes do mundo na extração e refino de petróleo. Acontece que nas últimas décadas a empresa vem sendo golpeada por governos e políticos inescrupulosos, transformando-a em uma espécie de paraíso terrestre para quem deseja ganhar muito dinheiro rapidamente.

A entrega de parte das ações da companhia ao capital especulativo privado e a criação de uma política de paridade internacional de preços aos combustíveis gerou um problema que atingiu em cheio milhões de brasileiros/as. Dependente quase que exclusivamente do transporte rodoviário, o aumento contínuo dos combustíveis elevou às alturas os preços dos alimentos e por sua vez a inflação. Alheio as pressões sócias para a revogação do plano de paridade criado pelo governo Temer, o atual presidente achou melhor solucionar o problema cortando recursos públicos para os estados e municípios.

De que modo isso se deu? O caminho foi aproveitar o momento favorável vivido pelo presidente da república que tem a disposição um congresso extremamente benevolente que aprova projetos de lei que interesse do capital.   A lei complementar 192/22 foi uma dessas leis que aparentemente aliviaria o bolso dos proprietários de automóveis, com a redução dos preços pagos pelo litro da gasolina, entre outros serviços. A lei determinou que o valor da alíquota do ICMS cobrado pelo litro da gasolina ficasse limitado entre 17% a 18% em todo território nacional. Até a aprovação dessa lei complementar, cada estado ou município definia suas alíquotas cobradas, cujos recursos obtidos eram aplicados para subsidiar serviços de interesse da população.

Durante a tramitação da lei, governadores e prefeitos pressionaram o governo e o congresso para que não fosse aprovada, pois a mesma causaria impactos sem precedentes as contas desses entes federados. O processo se dá da seguinte forma, toda a arrecadação de ICMS vai para o tesouro estadual, para que depois parcela desse montante, 25%, seja distribuída aos municípios, onde são aplicados em educação, saúde, etc.

Cada município brasileiro já tem o seu orçamento anual definido no início de cada ano. Já que essa lei foi aprovada em junho de 2022, metade do ano, até o final de 2022 todos os cinco mil municípios brasileiros sofrerão perdas de receitas que somam 11 bilhões de reais. Nos próximos dois anos, tempo esse que falta para concluir o mandato dos atuais prefeitos, as perdas em repasses de ICMS atingirão 53 bilhões de reais.

Quando se fala em perdas para educação não ocorre somente para escolas municipais, atinge também todas as escolas públicas brasileiras das quais representam 80% do total de estudantes matriculados. São 19,2 bilhões de reais que deixam de ser repassados para o FUNDEB (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação), ou seja, 8% do total obrigatoriamente depositado nas contas dos estados e municípios. Para termos ideia do impacto dessa redução, entre 2019 a 2020, período da pandemia do COVID 19, os municípios tiveram redução de repasse de recurso na ordem de -6%, ou seja, 10,4 bilhões a menos. Já os estados o encolhimento foi de --9%, totalizando 11,4 bilhões a menos. Somando os dois valores, municípios e estados, as perdas chegaram a 21bilhões.

Os impactos da pandemia no aprendizado das crianças e adolescentes entre 2019 a 2021 alcançaram proporções inimagináveis. O percentual de crianças com idade de 6 a 7 anos que não sabiam ler e escrever nesse período pulou de 25,1% para 49,8%. Era previsível que após a pandemia o governo federal tentaria recuperar o tempo perdido disponibilizando mais recursos públicos para o setor. O que vemos foram medidas não para recuperar, mas para piorar ainda mais a situação com a redução bilionária de repasses ao FUNDEB.

Analisando os efeitos dessa lei sobre o ICMS para a região sul de Santa Catarina, que engloba a AMREC e a AMESC, o quadro é bastante temerário para os próximos dois anos. Na região da AMREC constituída por 12 municípios a diferença de repasses de recursos de ICMS em comparação ao mesmo período do ano passado, 15 de agosto de 2021, foi de 21,32% a menos, ou seja, de 23.494.559,63 em 2021 para 18.486.293,79 em 2022. Subtraindo esses valores o resultado foi menos 5.008.265,84 nos cofres dos municípios.




Para a região da AMESC formada por 15 municípios o impacto também foi terrível no caixa das administrações. Seguindo a mesma análise comparativa da região da AMREC, a redução de repasse chegou a -19,53%. Se em 15 de agosto de 2021 o montante de recursos que entraram nos cofres das prefeituras foram 9.417.805,71, um ano depois, 15/08/2022, o repasse foi de 7.578.814,93, ou seja, 1.834.990,78 a menos. Na região da AMESC o município com maior redução de repasses de ICMS foi Sombrio, com 27,49% a menos.




Avaliando os números acima é possível vislumbrar um cenário muito complicado para os gestores públicos nos próximos dois anos, tempo esse que falta para concluir a gestão 2021-2024. Tudo isso se deve ao fato de o governo federal não ter tido coragem de enfrentar o problema na sua raiz, derrubar a resolução criada por Michel Temer no qual estabeleceu a paridade de preços dos combustíveis ao mercado internacional. Para ele e o congresso foi muito mais fácil resolver o problema tirando dinheiro dos estados e municípios aplicados na educação de crianças e adolescentes, nas UPAS, postos de saúde, entre outros serviços que beneficiam milhões de brasileiros/as.   

Prof. Jairo Cesa     

 

https://www.cnnbrasil.com.br/business/perda-de-receita-com-icms-impactara-politicas-publicas-diz-secretario-geral-da-fnp/

https://www.cnnbrasil.com.br/business/com-nova-lei-sobre-icms-fundeb-pode-perder-r-192-bilhoes/

 

             

 

 

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