PARA
ENTENDER O DIA 10 DE DEZEMBRO 2021, DATA DE INSPEÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL AO BALN. MORRO
DOS CONVENTOS
Há
dez anos um grupo de cidadãos/ãs preocupados com o elevado grau de degradação
do frágil ecossistema Morro dos Conventos decidiu criar uma OSCIP (Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público), e que passou a se chamar PRESERV’AÇÃO.
Desde que foi homologada, encontros passaram a ser quinzenal tamanha as
demandas ambientais. Nos dez anos de existência, a OSCIP conviveu com três
administrações públicas. Sempre cumpriu a risca o que estabelecia o estatuto, postura firme, fiscalizando e
denunciando atos infracionários ao meio ambiente praticado por particulares e
pelo próprio poder público.
Conforme
o que está descrito no estatuto de fundação, a PRESERV’AÇÃO tem por princípio
fiscalizar, denunciar e atuar em forma de parceria com o poder público e o
órgão ambiental de ações que visam o desenvolvimento sustentável do Balneário
Morro dos Conventos. O que é um tanto curioso nisso é que jamais foi possível
estabelecer algum laço de aproximação com os dois órgãos municipais. Não por
questões sectárias, mas pelo fato de estarem sempre envolvidos em imbróglios que
considerávamos prejudiciais ao meio ambiente do balneário.
Crimes
de assédio moral, chantagem e ameaças foram práticas delituosas corriqueiras
contra membros da OSCIP, a ponto de vários boletins de ocorrência ter sido
lavrado na Polícia Civil. O Ministério Público Estadual, o MPF e a Policia
Militar Ambiental se transformaram nos guardiões da entidade. Das três
entidades, a que mais contribuiu para a OSCIP se mantivesse ativa seguindo sua
política em defesa frágil ecossistema da faixa costeira de Araranguá foi o
Ministério Público Federal, sessão Criciúma.
Todos/as
os/as procuradores/as que atuaram no MPF de Criciúma fizeram uma ou mais
inspeção no Balneário Morro dos Conventos a convite da entidade ambiental. É
importante esclarecer que constitucionalmente, todo o cidadão é um fiscal do
meio ambiente, podendo denunciar aos órgãos competentes a ocorrência de
irregularidade nessa área. ONGs e OSCIPs são organizações do terceiro setor,
sociedade civil, salvaguardadas pela própria constituição brasileira. São considerados
popularmente os olhos e os ouvidos dos órgãos do judiciário de defesa do meio
ambiente.
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Inspeção MPF e Polícia Ambiental ao Morro dos Conventos em 2013 |
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nspeção MPF e Polícia Ambiental ao Morro dos Conventos em 2013
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Foto - Jairo |
Em
uma década de existência a Oscip Preserv’Ação não sofreu qualquer ação de
censura ou denúncias por ter infringido alguma regra. Talvez, o fato de a OSCIP
ser tão visada pelas administrações, FAMA e certos cidadãos particulares, está
na sua inflexibilidade quando o assunto é legislação ambiental. O jeitinho
brasileiro sempre fez parte da nossa triste história, vício que hoje contamina
quase todas as administrações públicas, nos diferentes níveis. Na área
ambiental esse jeitinho é predominante.
A
primeira visita/inspeção realizada pela procuradora da república acompanhada do
MPE e a FAMA, em 2012, parte baixa do balneário, inúmeras edificações já
concluídas e outras em andamento foram autuadas por algumas irregularidades, licenciamentos
em especial. Em outra oportunidade o MPF embargou projeto de edificação
turística proposto para a FURNA/ABRIGO SOBRE ROCHA e o FAROL por equívocos ou
falhas nos lados emitidos pela FAMA.
A
participação do Projeto Orla entre 2014 a 2017 foi outro importante acontecimento
com presença permanente dos membros da OSCIP no Balneário Morro dos Conventos.
Foram mais de 70 reuniões e dezenas de entidades da sociedade civil e governos
que ajudaram a construir um robusto PLANO/PGI com mais de 80 demandas elencadas
para o desenvolvimento sustentável do balneário. A criação por decreto de três
unidades de conservação, APA; MONA-UC e RESEX foram um dos principais pontos
altos do projeto. Assegurar as três unidades de conservação e lutar para sua
efetividade virou quase obsessão dos membros da Oscip.
Entretanto,
no segundo semestre de 2017, a nova administração conseguiu desarticular o
grupo gestor do projeto orla criado para acompanhar as discussões e execuções
das demandas do PGI. Três anos se passaram sem que uma única reunião do grupo
gestor ocorresse. Tudo ficou estagnado, menos as manobras no legislativo em
querer mudar dispositivos do plano diretor do balneário morro dos conventos
para beneficiar grupos de interesses. Embora a OSCIP tenha realizado denúncias
a respeito das supressões ou substituições de itens aprovados no projeto orla, em
sessão extraordinária da câmara municipal, a pressão e denúncias da organização
ambiental não foram suficientes para que o ato irresponsável acontecesse.
Final
de 2020, novas eleições municipais se sucederam e o partido vitorioso foi o
MDB. Durante a campanha eleitoral, inúmeras vezes integrantes da OSCIP
alertavam o perigo para o meio ambiente na hipótese do candidato do MDB viesse a
ser prefeito. As justificativas dos riscos eram inúmeras, dentre elas a não
inclusão no plano de governo a reativação do projeto orla com suas mais de 80
demandas em forma de PGI.
No
final do primeiro ano de governo do MDB, mais uma inspeção do MPF aconteceu no
Morro dos Conventos, a quarta em 10 anos de OSCIP. A visita, no entanto, era
para ter acontecido em 2019 ou 2020, porém em decorrência da pandemia do COVID
19 foi cancelada. A decisão tomada para o dia 10 de dezembro, data da inspeção,
se deve a reunião virtual realizada entre integrantes da OSCIP e o atual
Procurador da República. Um dos motivos do encontro foram os insistentes atos
de vandalismo na foz do rio Araranguá, área transformada em APA e RESEX em
2016.

Cerca
de 20 entidades estiveram representadas no encontro com o procurador da
república, o poder executivo municipal; a FAMA; a Policia Militar Ambiental; o
IMA, entre outras. O grupo se concentrou na Plataforma de Parapente, de lá
foram inspecionar o farol; a Rua Soledade; a praça central/parte baixa do
balneário e o balneário Ilhas. Todos/as os integrantes das entidades presentes explanaram
suas opiniões sobre o meio ambiente e com destaque especial o Balneário Morro
dos Conventos. Coincidência o não, quando o grupo se dirigiu à praça central/guarda
vida central, um grupo de trabalhadores executavam a construção de um DECK, que
serviria como um atrativo turístico.
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Foto - Jairo |
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Foto - Jairo |
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Foto - Jairo |
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Foto - Jairo |
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Foto - Jairo |
Tanto
o MPF quanto a Polícia Militar Ambiental, solicitaram ao construtor da obra a
apresentação de cópias dos documentos autorizando à edificação. O que se
constatou foi à inexistência de licenciamento ambiental fornecido pela FAMA.
Diante da ausência do documento, as atividades relativas à edificação foram interrompidas
até que fosse regularizada. É importante destacar, no caso das falhas no Deck, que
a mesma não foi uma exceção. Outras obras de infraestrutura, abertura de ruas,
por exemplo, tiveram suas execuções embargadas, também por equívocos cometidos
pela atual administração/FAMA.
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Foto - Jairo |
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Foto - Jairo |
Todos
esses dissabores enfrentados pela prefeitura e o órgão ambiental municipal
poderiam ter sido evitados se fossem consideradas todas as prerrogativas do Projeto Orla, versão preliminar, volume III
- Cenários da Orla, e Volume IV – Estratégias de Gestão. Não esquecer
também que a extensão territorial, do Paiquerê a Barra Velha integram a APA (Área
de Proteção Ambiental), portanto, qualquer empreendimento pretendido,
particular ou público, devem estar compatíveis com o que estabelece os decretos
dessa unidade de conservação.

Junto
ao polêmico Deck o prefeito foi questionado sobre outras obras previstas pela
administração, como a construção da usina de tratamento de esgoto e a abertura
da rua morro dos conventos Paiquerê, que também são demandas do Projeto Orla.
Antes de explanar sobra a questionável rua, o prefeito comentou que havia
adquirido terreno no balneário para a construção do sistema de tratamento de
esgoto, porém não respondeu onde seriam lançados os rejeitos do tratamento.
Voltando ao tema da Rua Paiquere/Morro, afirmou que contratou os serviços de
universidades e biólogos para a realização de estudos de viabilidade.
Porém
o prefeito mostrou-se irritado quando questionado sobre o motivo das
instituições terem demarcado com estacas somente um ponto para estudos de
viabilidade. No PGI do projeto orla acordado com todas as entidades
participantes está assim descrito acerca dessa abertura: “Contratação de estudo técnico para verificação da melhor locação da
via de ligação entre os balneários Paiquerê e Morro dos Conventos parte baixa”.
Já bem alterado emocionalmente, o prefeito confessou que no passado havia uma
estrada, de excelente qualidade, ligando o Morro ao Arroio do Silva, que a
mesma foi desativada a partir da criação do loteamento paiquerê.

Finalizada
a inspeção nas proximidades da barra do rio Araranguá, agora sem a presença do
prefeito e outros membros de executivo, pois alegou terem compromissos
agendados, um intenso debate se sucedeu envolvendo a OSCIP PRESERV’AÇÃO, FAMA,
MPF, POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL e a ONG EDUCA MAR. No dia seguinte a inspeção,
boatos corriam pela comunidade do Morro dos Conventos de que integrantes da OSCIP
PRESERV’AÇÃO estavam travando/dificultando os projetos da administração para aquele
bairro, parte baixa. Um dos absurdos ocorridos e que resultou em um BO (Boletim
de Ocorrência) na polícia civil foi um vídeo publicado nas redes sociais, com real
intenção de incitar a população a boicotar um estabelecimento comercial no
bairro que pertence à família de um dos membros da PRESERV’AÇÃO. A alegação ao
boicote era de ter protagonizado os atos de inspeção no Morro que reuniram cerca
de vinte organizações.
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Foto - Samanta |
Não
bastasse tais atos insanos, na semana seguinte, o prefeito de Araranguá
participou de entrevista em uma rádio do município, onde destilou todo seu ódio
contra a organização ambiental, bem como e qualquer um que exerceu ou exercesse
o papel constitucional de fiscalizar e denunciar agressões ao meio ambiente. Em
nenhum momento o prefeito falou sobre o Projeto Orla, muito menos das Unidades
de Conservação. Cabe reiterar, se ambos tivessem suas etapas finalizadas, o comandante
do executivo teria se livrado de críticas e do comportamento ridículo
protagonizado no dia dez.
Quem
acompanhou a entrevista ou ouviu no podcast da radio deve ter se impressionado
com tamanha baixaria dita pelo prefeito e sempre respaldada pelo entrevistador
habituado em destilar ódio contra ambientalistas. É claro que o prefeito
durante a entrevista se aproveitou das escassas informações da população acerca
do projeto orla e das mais de oitenta demandas elencadas para o balneário em
três anos de trabalho. Seguiu a mesma linha do presidente da república, Jair
Bolsonaro, mentir, mentir e mentir. A primeira delas foi quando afirmou que
ambientalistas tiveram que chamar o procurador para denunciar o Deck na beira
da praia.
Em
nenhum momento a vinda do MPF ao morro foi com esse fim. Acontece que durante a
caminhada pelos pontos importantes do balneário foi constatado que o projeto de
edificação do Deck apresentava inconformidade com as legislações vigentes. Já
sobre o a abertura da Rua Paiquerê/Morro, mentiu outra vez o prefeito quando
afirmou na radio de que os ambientalistas e outras pessoas são contra o acesso.
O que realmente querem ambientalistas e particulares, é que seja cumprido o que
está descrito no PGI, que são estudos
técnicos para verificação da melhor locação da via de acesso.
Disse
também o prefeito que a abertura facilitará o fluxo de pessoas e veículos,
desafogando a estreita passagem nas proximidades do hotel. Deveria ter dito o prefeito que o seu colega
gestor anterior também negligenciou dispositivos do PGI no que tange ao
calçamento com peiver da Rua Caxias, principal acesso à praia. No Plano de
Gestão integrada estava relatado que a
PMA faria a calçada no corte do morro da Rua Casa para o acesso seguro das
pessoas, que de fato não aconteceu. Lembro que durante a execução dos serviços
de pavimentação, integrantes da administração pública e da câmara de vereadores
acompanhavam atentamente. Por que não interferiram na obra fazendo cumprir o
que determinava o PGI?

Alias
são essas e outras tantas demandas/abras cujas responsabilidades na
fiscalização são da Câmara de Vereadores, MPSC e FAMA. Afinal será que é
necessário promover diligências freqüentes ao MPF, MPSC e a Policia Ambiental para
fazer com que os administradores públicos e o órgão ambiental cumpram as
legislações ambientais durante a elaboração dos projetos de infraestrutura?
Parece que sim, segundo os fatos. Tudo indica que a questão da abertura da
estrada com paiquerê/Morro vai demandar nova vinda do MPF à Araranguá, se for
comprida a promessa do prefeito de desconsiderar o que está relatado no PGI do
Projeto Orla.
Repedidas
vezes o prefeito responsabilizou um grupo de cinco ou seis pessoas que estão
por traz das ações que inviabilizam o progresso no Morro. Disse também que quem
quiser ser dono do Morro que compre uma Ilha. Continuou ressaltando que o Morro
precisa de desenvolvimento, que jamais a administração quis atrapalhar o
ecossistema, muito pelo contrário.
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Foto - Jairo |
Nesse
momento citou algumas ações realizadas com a participação da prefeitura na
limpeza do rio Araranguá, onde foram recolhias mais de cinco toneladas de lixo
de suas margens. Tanto o prefeito quanto o apresentador, ambos lançaram
acirradas críticas à ausência de ecologistas na ação de limpeza. Na inspeção à
barra do rio Araranguá foi essa a mesma opinião repetida pelo chefe da FAMA.
Respondeu o membro da OSCIP que se sentiria muito desconfortável estar
participando de uma ação importante sabendo que o seu município é o que mais
degrada o rio Araranguá.
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Foto - Jairo |
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Foto - Jairo |
Informou
que diariamente o município descarta ao rio Araranguá toneladas de esgotos,
mesmo estando em funcionamento a quase cinco anos de duas usinas de tratamento
de resíduos domésticos e industriais. Disse: primeiro limpe a cidade para depois, sim, ter moral para se envolver em
campanhas ambientais. Falou o prefeito que vem cercando o Morro e Ilhas para
evitar o acesso de veículos às dunas, construção de estacionamentos e
colocações de placas educativas.
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Foto - Jairo |
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Omitiu
o prefeito que mesmo com o estacionamento construído, placas fixadas, valas
abertas nas restingas, tubos de concretos instalados, nada isso foi suficiente
para conter os abusos ocorridos repetidamente na Barra do Rio Araranguá.
Somente após insistentes denúncias às autoridades, postagens de vídeos nas
redes sociais e reportagens publicadas em jornais da região é que houve uma
ação mais incisiva no combate das irregularidades naquele frágil ecossistema.
Se tais ações não tivessem acontecido, como o encontro do dia 10 de dezembro,
provavelmente ainda hoje estaríamos convivendo com toda uma série de infrações
ambientais na foz do rio Araranguá e na parte baixa do balneário Morro dos
Conventos. Vida longa as Organizações ambientais e todos os seus membros.
PROF.
JAIRO CESA
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