quinta-feira, 27 de maio de 2021

 

AMÉRICA DO SUL EM CONVULSÃO

Quando se pensa que não há mais solução às nações submetidas a regimes autoritários que espalham a barbárie, a violência desmedida contra milhões de cidadãos, a exemplo da Palestina, Colômbia, Chile, de repente, pequenos levantes acontecem, se multiplicam exigindo um basta às atrocidades desses regimes entreguistas. O caso da Colômbia é um exemplo emblemático. Há algumas semanas o país está vivenciando momentos de tensões atribuídas ao governo que busca cumprir a risca a cartilha neoliberal. Milhares de pessoas, mesmo sob a pandemia do COVID 19 saíram às ruas pressionando o legislativo e o executivo para voltem atrás acerca da aprovação da lei de Reforma Tributária que penaliza parcela significativa da população trabalhadora do país.

Na realidade a lei aprovada foi a justificativa para o desencadeamento dos protestos que rapidamente se espalharam pelo país inteiro, cujo governo vem atuando com brutalidade contra os manifestantes que já contabilizaram inúmeras mortes. Isso não é exclusividade apenas na Colômbia. Muitos países da América Latina, a pressão do capital por reformas estruturantes na economia vem contribuindo para o agravamento da pobreza e da violência. A redução do tamanho do Estado com a entrega do seu aparato às grandes corporações, água, energia, terras, educação e outros serviços, estão mantendo reféns milhões de pessoas as novas regras selvagens desse sistema econômico global sanguinário.

A violência brutal contra indígenas na Colômbia e no Brasil é uma estratégia genocida do capital para promover uma limpeza ética. Entretanto esse genocídio institucionalizado vem se processando ao longo de cinco séculos, tanto na América hispânica, quanto no Brasil. Governos autoritários pressionados pelo agronegócio e grandes corporações, incentivam a ocupação e a grilagem em terras indígenas. Fazer a população sair às ruas para protestarem, arriscar a própria enfrentando a polícia e o vírus do COVID, é uma prova cabal que a situação social do país está realmente caótica.

O fato é que levantes como o da Colômbia podem contagiar outros países a exemplo do Brasil, que vive um cenário muito parecido. Tendo atingido 450 mil mortos, o Brasil é hoje visto pelo mundo inteiro como um pária, ou seja, uma nação cujo governo desrespeita todas as recomendações impostas pela OMS no combate ao COVID.    Motivos não faltariam para que levantes parecidos ao da Colômbia acorressem aqui também. O que está corroborando, portanto, para essa aparente “paralisia social” se deve a alguns fatores, o COVID e a debilidade das forças políticas de esquerdas e dos movimentos sociais, na tomada de decisões ou reações mais efetivas contra tamanho desmando político.

As nações com melhores níveis educacionais são evidenciadas fortes rejeições e reprovações populares contra governos com programas autoritários. O Chile é um grande exemplo para a América Latina e para o Mundo inteiro. Embora tenha vivenciado longa trajetória ditatorial, que contabilizou milhares de mortos e desaparecidos, o país está dando mostras importantes de que é possível vislumbrar outra utopia social. Nas últimas eleições para prefeito, vereadores, governadores e o legislativo federal, parcela expressiva dos eleitos eram integrantes de siglas partidárias não tradicionais, ou sequer filiados a algum partido. O Partido Comunista Chileno teve um extraordinário desempenho nas urnas, a ponto de conseguir eleger uma mulher para o cargo de prefeita da capital, Santiago.  

Os partidos tradicionais de longa trajetória política foram violentamente reprovados nas urnas, comprometendo qualquer possibilidade de negociações com a esquerda majoritária. Essa forte rejeição se deveu as políticas reformistas ocorridas nos últimos anos que motivaram fortes manifestações populares. A reforma previdenciária, bem como outras ações que levaram a perdas de direitos, pode ter sido os fatores desencadeadores da derrota política do governo de Sebastián Piñera nas urnas. O impacto dessa eleição poderá repercutir nas eleições presidenciais marcada para 21 de novembro de 2021, com possibilidades de a esquerda conquistar o principal posto de decisão nacional.

É possível que o fato ocorrido no Chile ajude a impulsionar todas as forças políticas e sociais da América Latina contrárias ao modo arbitrário como quase todas as nações vem sendo gestadas. O Brasil é um bom exemplo. Em Três anos de um governo neofascista foi suficiente para promover um dos maiores retrocessos sociais e culturais jamais presenciados nas últimas décadas. Esperamos que os ares revolucionários da Colômbia e do Chile contaminem as mentes e os corações inquietes do povo brasileiro, e que essa indignação seja demonstrada na eleição do próximo ano, extirpando para sempre do convívio político figuras sádicas, genocidas, que tanto mal provocaram a sociedade.

Prof. Jairo Cesa 

Nenhum comentário:

Postar um comentário