AMÉRICA
DO SUL EM CONVULSÃO
Quando
se pensa que não há mais solução às nações submetidas a regimes autoritários
que espalham a barbárie, a violência desmedida contra milhões de cidadãos, a
exemplo da Palestina, Colômbia, Chile, de repente, pequenos levantes acontecem,
se multiplicam exigindo um basta às atrocidades desses regimes entreguistas. O
caso da Colômbia é um exemplo emblemático. Há algumas semanas o país está
vivenciando momentos de tensões atribuídas ao governo que busca cumprir a risca
a cartilha neoliberal. Milhares de pessoas, mesmo sob a pandemia do COVID 19
saíram às ruas pressionando o legislativo e o executivo para voltem atrás
acerca da aprovação da lei de Reforma Tributária que penaliza parcela
significativa da população trabalhadora do país.
Na
realidade a lei aprovada foi a justificativa para o desencadeamento dos
protestos que rapidamente se espalharam pelo país inteiro, cujo governo vem
atuando com brutalidade contra os manifestantes que já contabilizaram inúmeras
mortes. Isso não é exclusividade apenas na Colômbia. Muitos países da América
Latina, a pressão do capital por reformas estruturantes na economia vem
contribuindo para o agravamento da pobreza e da violência. A redução do tamanho
do Estado com a entrega do seu aparato às grandes corporações, água, energia,
terras, educação e outros serviços, estão mantendo reféns milhões de pessoas as
novas regras selvagens desse sistema econômico global sanguinário.
A
violência brutal contra indígenas na Colômbia e no Brasil é uma estratégia
genocida do capital para promover uma limpeza ética. Entretanto esse genocídio
institucionalizado vem se processando ao longo de cinco séculos, tanto na
América hispânica, quanto no Brasil. Governos autoritários pressionados pelo
agronegócio e grandes corporações, incentivam a ocupação e a grilagem em terras
indígenas. Fazer a população sair às ruas para protestarem, arriscar a própria
enfrentando a polícia e o vírus do COVID, é uma prova cabal que a situação
social do país está realmente caótica.
O
fato é que levantes como o da Colômbia podem contagiar outros países a exemplo
do Brasil, que vive um cenário muito parecido. Tendo atingido 450 mil mortos, o
Brasil é hoje visto pelo mundo inteiro como um pária, ou seja, uma nação cujo
governo desrespeita todas as recomendações impostas pela OMS no combate ao
COVID. Motivos não faltariam para que levantes
parecidos ao da Colômbia acorressem aqui também. O que está corroborando,
portanto, para essa aparente “paralisia social” se deve a alguns fatores, o
COVID e a debilidade das forças políticas de esquerdas e dos movimentos
sociais, na tomada de decisões ou reações mais efetivas contra tamanho desmando
político.
As
nações com melhores níveis educacionais são evidenciadas fortes rejeições e
reprovações populares contra governos com programas autoritários. O Chile é um grande
exemplo para a América Latina e para o Mundo inteiro. Embora tenha vivenciado
longa trajetória ditatorial, que contabilizou milhares de mortos e
desaparecidos, o país está dando mostras importantes de que é possível
vislumbrar outra utopia social. Nas últimas eleições para prefeito, vereadores,
governadores e o legislativo federal, parcela expressiva dos eleitos eram integrantes
de siglas partidárias não tradicionais, ou sequer filiados a algum partido. O
Partido Comunista Chileno teve um extraordinário desempenho nas urnas, a ponto
de conseguir eleger uma mulher para o cargo de prefeita da capital, Santiago.
Os
partidos tradicionais de longa trajetória política foram violentamente
reprovados nas urnas, comprometendo qualquer possibilidade de negociações com a
esquerda majoritária. Essa forte rejeição se deveu as políticas reformistas
ocorridas nos últimos anos que motivaram fortes manifestações populares. A
reforma previdenciária, bem como outras ações que levaram a perdas de direitos,
pode ter sido os fatores desencadeadores da derrota política do governo de
Sebastián Piñera nas urnas. O impacto dessa eleição poderá repercutir nas
eleições presidenciais marcada para 21 de novembro de 2021, com possibilidades
de a esquerda conquistar o principal posto de decisão nacional.
É
possível que o fato ocorrido no Chile ajude a impulsionar todas as forças
políticas e sociais da América Latina contrárias ao modo arbitrário como quase
todas as nações vem sendo gestadas. O Brasil é um bom exemplo. Em Três anos de
um governo neofascista foi suficiente para promover um dos maiores retrocessos
sociais e culturais jamais presenciados nas últimas décadas. Esperamos que os
ares revolucionários da Colômbia e do Chile contaminem as mentes e os corações
inquietes do povo brasileiro, e que essa indignação seja demonstrada na eleição
do próximo ano, extirpando para sempre do convívio político figuras sádicas,
genocidas, que tanto mal provocaram a sociedade.
Prof.
Jairo Cesa
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