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"MINHA" MÃE E A NOSSA MÃE TERRA: LAÇOS
INDIVISÍVEIS
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Foto Jairo |
Há
cerca de duas semanas comecei a acompanhar minha mãe em caminhadas diárias na
orla do Morro dos Conventos. No terceiro dia fiquei surpreso quando fui
buscá-la em casa. Nas mãos, além de uma garrafa d’água havia um pacotinho
contendo algumas sacolas plásticas. Sem demora lhe perguntei por que estava
levando aquelas sacolas. Sua resposta foi enfática, estou levando para recolher
o lixo que há na orla. Naquele instante fique um tanto introspectivo, minha mãe
com quase oitenta anos de idade ter de recolher lixo lançado na praia por
pessoas sem o mínimo de noção dos impactos resultantes desses detritos.
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Foto Jairo |
No
primeiro dia não quis interferir na ação dela, porém, notei em seus
comentários, grande sabedoria e consciência do que estava fazendo. Pensei até
que se encerraria ali aquele ato tão nobre e grandioso de minha mãe. No segundo
dia, lá estava ela, com uma garrafa d’água em uma mão e na outra, sacolas plásticas.
Caminhadas que poderiam ser exclusivamente para fortalecer as atividades cardiovasculares,
respiratórias e psicomotoras se transformaram em ato político, ecológico.
Notamos que o lixo encontrado a beira mar, plásticos, por exemplo, vinham do
oceano junto com as redes recolhidas pelos pescadores.
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Foto Jairo |
Em
uma curta distância percorrida foi suficiente para enchermos duas sacolas plásticos com lixo. Isso somente na orla, não
está incluído aqui o lixo sobre as dunas frontais. Outro aspecto que chamou a
atenção de minha mãe além do lixo trazido pelas redes foi a assustadora
quantidade de canudinhos de plásticos espalhados na areia. De imediato minha
mãe comentou, aqui está um dos problemas graves que acometem muitas espécies
marinhas, especialmente tartarugas. Ela relatou que havia assistido vídeo, onde
profissionais extraíram canudinhos presos nas narinas de uma tartaruga.
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Foto Jairo |
Vendo
a minha mãe agindo daquela forma, dedicando um pouquinho do seu tempo em defesa
do planeta, me fez refletir sobre o quanto a nossa casa mãe terra poderia ser
melhor se cada cidadão/ã atuasse como
ela. Claro que muitos poderiam justificar
a existência de lixo na orla a falta ou a precariedade das lixeiras. Nesse
aspecto e consensual, pois as únicas lixeiras contendo sacos para acondicionar resíduos
estavam na orla do Paiquerê. Na orla do Morro dos Conventos, todos os tubos/lixeiras
não dispunham de sacos coletores, portanto, não havia recolhimento por parte do
poder público.
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Foto Jairo |
Há
previsões de que até 2030 haverá mais lixos plásticos nos oceanos do que
peixes. Não há dúvida que a baixa quantidade de peixes capturados a cada ano
nas praias catarinenses, principalmente de tainhas, tem relação com as práticas
de pescas predatórias e a poluição dos oceanos. Canudinho e tampinhas de
garrafas, bitucas de cigarros, latas, garrafas pet e de vidro, entre outros tantos
resíduos descartados foram um coquetel mortífero à fauna marinha. A
certeza que temos é de que ainda há tempo, embora cada vez mais reduzido, para
revertermos e salvarmos nosso planeta de uma hecatombe.
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Foto Jairo |
O
fato é que as atitudes das pessoas e dos
governantes mundiais dão mostras um tanto pessimistas desse cenário. As metas
estabelecidas nas várias reuniões das COPs, a exemplo do encontro de Paris em
2015, discutir metas conjuntos para combater o aquecimento global, há pouca
esperança de que sejam cumpridas a tempo de salvarmos a civilização. Vendo
minha mãe catando fragmentos plásticos na praia e mostrando-se otimista acerca
da humanidade, aquele ato me fez
refletir sobre a minha presença e de outras bilhões de pessoas nesse planeta. Afinal qual a missão de cada um de
nós aqui? Claro que, eticamente, seria usufruirmos racionalmente os recursos naturais
disponíveis, água, solo e ar, tendo a
sensibilidade de deixá-los intactos ou em condições de uso aos que virão
depois.
A
realidade mostra outro cenário futurista. O modo predatório como o ser humano
vem agindo consigo e com o seu semelhante, está refletindo diretamente no ambiente
onde habita. Poluir os recursos hídricos, desmatar e queimar florestas, entre outras
práticas degradantes são provas da existência de uma intensa alienação entre
humano e ambiente. Reconstruir esse vínculo sistêmico é a única certeza de sairmos
vivo dessa nave mãe Terra.
Prof. Jairo Cesa
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