sexta-feira, 21 de maio de 2021

 

A  "MINHA" MÃE E A NOSSA MÃE TERRA: LAÇOS INDIVISÍVEIS

Foto Jairo

Há cerca de duas semanas comecei a acompanhar minha mãe em caminhadas diárias na orla do Morro dos Conventos. No terceiro dia fiquei surpreso quando fui buscá-la em casa. Nas mãos, além de uma garrafa d’água havia um pacotinho contendo algumas sacolas plásticas. Sem demora lhe perguntei por que estava levando aquelas sacolas. Sua resposta foi enfática, estou levando para recolher o lixo que há na orla. Naquele instante fique um tanto introspectivo, minha mãe com quase oitenta anos de idade ter de recolher lixo lançado na praia por pessoas sem o mínimo de noção dos impactos resultantes desses detritos.


Foto Jairo

No primeiro dia não quis interferir na ação dela, porém, notei em seus comentários, grande sabedoria e consciência do que estava fazendo. Pensei até que se encerraria ali aquele ato tão nobre e grandioso de minha mãe. No segundo dia, lá estava ela, com uma garrafa d’água em uma mão e na outra, sacolas plásticas. Caminhadas que poderiam ser exclusivamente para fortalecer as atividades cardiovasculares, respiratórias e psicomotoras se transformaram em ato político, ecológico. Notamos que o lixo encontrado a beira mar, plásticos, por exemplo, vinham do oceano junto com  as redes  recolhidas pelos pescadores.  

Foto Jairo

Em uma curta distância percorrida foi suficiente para enchermos duas sacolas  plásticos com lixo. Isso somente na orla, não está incluído aqui o lixo sobre as dunas frontais. Outro aspecto que chamou a atenção de minha mãe além do lixo trazido pelas redes foi a assustadora quantidade de canudinhos de plásticos espalhados na areia. De imediato minha mãe comentou, aqui está um dos problemas graves que acometem muitas espécies marinhas, especialmente tartarugas. Ela relatou que havia assistido vídeo, onde profissionais extraíram canudinhos presos nas narinas de uma tartaruga.  

Foto Jairo

Vendo a minha mãe agindo daquela forma, dedicando um pouquinho do seu tempo em defesa do planeta, me fez refletir sobre o quanto a nossa casa mãe terra poderia ser melhor se cada cidadão/ã atuasse  como ela.  Claro que muitos poderiam justificar a existência de lixo na orla a falta ou a precariedade das lixeiras. Nesse aspecto e consensual, pois as únicas lixeiras contendo sacos para acondicionar resíduos estavam na orla do Paiquerê. Na orla do Morro dos Conventos, todos os tubos/lixeiras não dispunham de sacos coletores, portanto, não havia recolhimento por parte do poder público.   

Foto Jairo

Há previsões de que até 2030 haverá mais lixos plásticos nos oceanos do que peixes. Não há dúvida que a baixa quantidade de peixes capturados a cada ano nas praias catarinenses, principalmente de tainhas, tem relação com as práticas de pescas predatórias e a poluição dos oceanos. Canudinho e tampinhas de garrafas, bitucas de cigarros, latas, garrafas pet e de vidro, entre outros tantos resíduos descartados foram um coquetel mortífero à fauna marinha.   A certeza que temos é de que ainda há tempo, embora cada vez mais reduzido, para revertermos e salvarmos nosso planeta de uma hecatombe.

Foto Jairo

O fato é que  as atitudes das pessoas e dos governantes mundiais dão mostras um tanto pessimistas desse cenário. As metas estabelecidas nas várias reuniões das COPs, a exemplo do encontro de Paris em 2015, discutir metas conjuntos para combater o aquecimento global, há pouca esperança de que sejam cumpridas a tempo de salvarmos a civilização. Vendo minha mãe catando fragmentos plásticos na praia e mostrando-se otimista acerca da humanidade, aquele ato  me fez refletir sobre a minha presença e de outras bilhões de pessoas nesse  planeta. Afinal qual a missão de cada um de nós aqui? Claro que, eticamente, seria usufruirmos racionalmente os recursos naturais disponíveis, água, solo e ar,  tendo a sensibilidade de deixá-los intactos ou em condições de uso aos que virão depois.  

A realidade mostra outro cenário futurista. O modo predatório como o ser humano vem agindo consigo e com o seu semelhante, está refletindo diretamente no ambiente onde habita. Poluir os recursos hídricos, desmatar e queimar florestas, entre outras práticas degradantes são provas da existência de uma intensa alienação entre humano e ambiente. Reconstruir esse vínculo sistêmico é a única certeza de sairmos vivo dessa nave mãe Terra.  

Prof. Jairo Cesa  



















  

 

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