quinta-feira, 13 de agosto de 2020

 

O DESCASO DO PODER PÚBLICO DE ARARANGUÁ COM AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO MORRO DOS CONVENTOS E ILHAS

Foto - Jairo

Em dezembro de 2016, uma grata noticia encheu de satisfação e esperança os integrantes do movimento ambiental OSCIP do Morro dos Conventos, o prefeito na época havia assinado decretos criando três unidades de conservação. Tais unidades foram resultados de anos de lutas de ambientalistas que acompanhavam, com tristeza, o definhamento de uns dos ecossistemas mais relevantes e frágeis do estado de Santa Catarina. É impossível quem não se encante e se emocione vendo de cima do Morro as maravilhas de um cenário único e dinâmico.

Como tudo no Brasil, leis e decretos não são suficientes para conter as irregularidades. A posse de um novo prefeito em 2017 gerou apreensão quanto a aplicabilidade dos decretos e o futuro das unidades de conservação. As reuniões do comitê do Projeto Orla, criado por decreto público em 2017, começou a dar sinais de esvaziamento. A nova administração municipal mostrava pouco interesse  no cumprimento do Plano de Gestão Integrada (PGI), bem como dos decretos das Unidades de Conservação. 

A revelia dos membros do comitê gestor do projeto orla, a câmara municipal promoveu alterações no plano diretor relativo ao zoneamento no Morro dos Conventos. Não bastasse  a mudança no zoneamento para privilegiar terceiros, os ataques contra o frágil ecossistema do balneário não cessaram. Em reunião no Conselho Ambiental de Araranguá (COAMA), foi suprimido artigo do decreto sobre a vegetação de restinga na APA, também com claro interesse de favorecer o segmento imobiliário.

Em 2017 o presidente do comitê do projeto Orla pede exoneração do cargo de secretário do planejamento da prefeitura. Desde então, as reuniões deixaram de ocorrer, pondo em risco a existência do próprio comitê e das demandas do Plano de Gestão Integral (PGI) com prazos pré-definidos para sua execução. Dentre as demandas importantes no PGI está a escolha dos chefes das unidades de conservação, função que coordenará as tramitações dos planos de gestão das mesmas.

O que é realidade hoje sobre  as Unidades de Conservação é o seu total abandono pelo poder municipal, que desde o inicio do governo procurou negligenciar, como se não existisse. Essa completa negação do decreto da APA, em especial, contribui para a aceleração das ocupações imobiliárias, desconsiderando as prerrogativas contidas tanto no PGI quanto no decreto. A efetivação das três unidades de conservação é a única esperança para conter o contínuo processo de degradação de todo o ecossistema local. [1]

Os pescadores artesanais da Foz do rio Araranguá foram contemplados com a criação de uma Resex, também por meio de decreto. Com essa unidade, ficou definido que qualquer atividade extrativista ou outra que utilize do rio para fins comerciais, parcela dos rendimentos obtidos  deve ser repassada a Resex como compensação ambiental. A balsa que faz travessia no Morro dos Conventos é um exemplo de empreendimento que não está em conformidade  com o decreto.

O próprio projeto de construção da futura ponte ligando o Morro dos Conventos e o distrito de Hercílio Luz, o trecho onde será edificada, faz parte da Resex. O decreto recomenda que o poder público consulte o comitê e a população informando todas as prerrogativas do projeto. Embora não exista de fato o chefe dessa unidade, de direito o poder publico teria o compromisso de ouvir a comunidade por se tratar de reserva extrativista.

O decreto da Resex estabelece no seu artigo 4, inciso III que fica proibida atividades potencialmente poluidoras que impliquem em danos ao meio ambiente e afetam os meios de subsistência da população tradicional.[2]  Outro item inserido no decreto é o desenvolvimento de estratégias com intuito de atrair novamente os  botos junto a foz, animais marinhos que sempre foram uma atração a parte na comunidade,  além de fazer parceria com os pescadores artesanais na captura dos pescados.

Quem visita o Balneário Ilhas e a foz do rio Araranguá aos finais de semana fica atônito diante de tantos absurdos lá observados. Acreditar que se poderia ter o teremos dos botos naquele balneário é acreditar no conto da carochinha. São dezenas de Jet ski e lanchas disputando o mesmo espaço com pequenas embarcações de pescadores artesanais. Sem contar o absurdo contingente de veículos tracionados, barulhentos, transitando sobre as duas e a vegetação de restinga na margem esquerda do rio.

O prazo para a regulamentação da Resex, com a criação do Conselho Gestor Deliberativo e o cargo de Chefe, expirou em 2018.  Se a área da Resex já sofre  os impactos resultantes das atividades recreativas e turísticas insustentáveis, o MONA UC Morro dos Conventos, segue o mesmo caminho da irresponsabilidade. O agravante é que toda a área que integra o Unidade de Conservação Morro dos Conventos é habitada por espécies endêmicas da fauna e da flora.[3]

Além do aspecto biótico, a área em questão possui inúmeros sítios arqueológicos datados de quatro a cinco mil anos. Grupos sambaquianos, guaranis, entre outros, habitaram  essa região. Pedaços de cerâmica e cascas de crustáceos são alguns testemunhos deixados. A proteção de sítios arqueológicos independe de decretos ou leis municipais. Existem leis federais que garantem  proteção a esses ambientes. No caso de Araranguá, esse rico acervo documental está a mercê do vandalismo.

Foto - Jairo

Foto - Jairo

A preservação desse importante testemunho histórico poderá auxiliar os pesquisadores na compreensão da geomorfologia, do clima, da fauna e da flora de centenas de anos e suas mudanças ao longo do tempo. Mas parece que nada disso interessa ao segmento político e certos grupos econômicos visivelmente interessados na descaracterização do local. O que mais compromete o frágil mosaico ecossistêmico da faixa costeira do município de Araranguá são os veículos motorizados, motocicletas e cavalos. Aos finais de semana são comuns velos transitando pelas dunas e restingas.


Foto - Jairo

A responsabilidade pela fiscalização e proteção desses ecossistemas é do poder público municipal por meio da fundação do meio ambiente. Os Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal tem ambos jurisdições sobre esses espaços. Na hipótese do não cumprimento do que lhe confere como prerrogativa constitucional, o município é acionado criminalmente podendo sofrer sanções penais. Durante os quase dez anos de existência da OSCIP no Morro dos Conventos, são imensuráveis as denúncias protocoladas  na Polícia Militar Ambiental MPE e MPF, por atos abusivos ao ambiente no Balneário Morro dos Conventos.

Foto - Jairo

Infelizmente ainda hoje a sociedade  possui certo preconceito sobre esses segmentos.  É corriqueiro campanhas de difamação e ameaças contra  membros de organizações ambientais.  Os gestores públicos que atuam de forma ética no quesito ambiental têm os movimentos ambientais como parceiros. Talvez esse seja o fator de a OSCIP jamais ter recebido qualquer apoio ou agradecimento do legislativo e executivo, pelos serviços prestados ao ambiente de Araranguá.

Prof. Jairo Cezar   

https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/decreto/2016/783/7830/decreto-n-7830-2016-dispoe-sobre-a-criacao-da-unidade-de-conservacao-da-natureza-municipal-reserva-extrativista-do-rio-ararangua-e-da-outras-providenciashttps://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/decreto/2016/783/7830/decreto-n-7830-2016-dispoe-sobre-a-criacao-da-unidade-de-conservacao-da-natureza-municipal-reserva-extrativista-do-rio-ararangua-e-da-outras-providencias

https://portalw3.com.br/blog-joao-rosado-a-problematica-das-novas-construcoes-no-morro-dos-conventos/https://portalw3.com.br/blog-joao-rosado-a-problematica-das-novas-construcoes-no-morro-dos-conventos/

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