O
QUARTO MINISTRO DA EDUCAÇÃO E O CENÁRIO DE INCERTEZA PARA O FUTURO DA EDUCAÇÃO
PÚBLICA
Em
pouco mais de um ano e meio de governo Bolsonaro, transitaram pelas
dependências do MEC três ministros, cada um deles demonstrando total
alinhamento às políticas de desmonte da educação pública. É importante destacar
que o governo Bolsonaro não é o protagonista desse ataque ao sistema público de
educação, é preciso compartilhar a responsabilidade com o ex-presidente
golpista Michel Temer, que lançou os fundamentos desse projeto sórdido através
da Emenda Constitucional 95, onde estabelece um teto de gastos para o serviço
público.
Achar
que Temer e Bolsonaro são os únicos autores desse desmanche na educação é querer
virar as costas para história brasileira. Desde a chegada dos jesuítas em
terras além mar há mais de quinhentos anos, a educação brasileira jamais foi
concebida como um direito assegurado a toda a sociedade, muito pelo contrário,
privilegiou no início os filhos dos cidadãos lusitanos, grandes comerciantes e
profissionais liberais, e se mantém hoje com os descendentes dessa elite
tradicional, que controlam as instâncias de poder e do saber.
Em
nenhum momento da nossa história tivermos governo ou governos que ao menos
tivesse lançado algum ensaio sobre uma possível ruptura desse modelo educacional
vigente, com princípios políticos e filosóficos ainda tradicionais. Os quase
quinze anos de governo petista, foi a oportunidade de ter havido esse ensaio,
que infelizmente não se concretizou.
A
posse de um governo de extrema direita, depois de experimentarmos um longo
período de regime militar, coloca em cheque conquistas mínimas na educação,
como o “sagrado” direito a educação pública e gratuita. A nova BNCC sancionada
em 2016 abriu o caminho para um novo projeto educacional cujo foco é o mercado,
ou seja, uma formação tecnicista, simplificada, com o mínimo de embasamento
teórico, científico e cultura geral.
Quem
acompanhou a atuação dos três últimos ocupantes ao pasto de ministro da
educação pude constatar qual o projeto de educação arquitetado pelo atual
governo. Não há projeto algum, essa é a constatação. O que houve foram ataques
a tudo e a todos que adotaram uma postura de resistência firme aos discursos fundamentalistas,
negacionistas, articulados por grupos religiosos, entre outros.
A
falta de qualificação dos nomes que ocuparam a cadeira do MEC é o retrato do
próprio governo, sem o mínimo de preparo e habilidades requeridas ao posto de
presidente da república. O que está acontecendo de pior no governo Bolsonaro, a
exemplo na educação, não é surpresa para aqueles que atuaram de forma
incansável durante a campanha presidencial, alertando a população acerca do
erro que se estava cometendo, elegendo-o. Infelizmente, temos que amargar esse
terrível Carma político que se abateu sobre nossas cabeças por mais dois anos,
a menos que o congresso e setores da justiça brasileira o impeçam de continuar
desgovernando, e motivos não faltam.
A
substituição do ex-ministro da educação Abraham Weintraub por outro, agora um
pastor presbiteriano, nos dá certeza que não haverá qualquer mudança no plano
de desmantelamento da educação brasileira. No instante que o atual ministro
obteve o aceite de correntes “olavistas e militares” no executivo, foi como receber
uma “bênção” para dar prosseguimento ao ousado plano que favorecerá as
corporações do ensino, escolas e universidades privadas e uma grande legião ONGs
educacionais, sedentas por abocanhar os bilhões do orçamento público anual
destinado à educação pública.
A
crise que se abate sobre a educação brasileira põe em risco o futuro do FUNDEB,
cujo prazo de validade termina em 31 de dezembro de 2020. O que tramita nos
bastidores do debate político é que o novo FUNDEB terá mudanças na sua linha de
financiamento. O apelo à meritocracia e uma delas. Os estados e municípios, por
exemplo, terão maior aporte de recursos do fundo conforme os resultados dos
exames e processos avaliativos obtidos.
Outro
aspecto a considerar é que o FUNDEB não excluirá do financiamento o setor
privado. Quem entrará nesse rol de beneficiados com recursos públicos são as
ONGs educacionais, como a fundação Todos Pela Educação, Fundação Ayrton Sena,
Fundação Robertinho Marinho, e outras dezenas que tem suas políticas
educacionais alinhadas na lógica do mercado.
No
discurso de posse o atual ministro destacou que embora sendo um religioso irá
prezar pelos princípios da laicidade, ou seja, educação sem influência de
qualquer credo religioso. Os fatos comprovam que houve forte influência de
setores fundamentalistas e religiosos durante a costura dos vários planos para
a educação, através de um superdimencionamento de saberes em detrimento de
outros.
Afirmou
que não compactua com o pensamento, divulgado pelas redes sociais, no qual
defendera no passado, como o emprego de práticas ditas tradicionais na condução
do ensino. Disse que será um defensor ferrenho da educação pública, isso porque
além de ser filho de professora, que se aposentou em escola pública, também
estudou em escola pública. O futuro nos dirá quem está com a razão, o ministro,
que debulhou um discurso romântico, reverenciando a escola pública, ou os
críticos, que afirmam que o verdadeiro propósito do ministro e do governo, num
todo, é, sim, dar fim a escola pública. Quem viver verá.
Prof.
Jairo Cezar
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