quarta-feira, 22 de maio de 2019


A FRONTEIRA ENTRE A VIDA E A MORTE SOB O OLHAR DA FILOSOFIA

Um momento ímpar e inusitado da área de filosofia foi vivenciado por um grupo de estudantes da EEBA quando decidiram visitar o principal e mais antigo cemitério da cidade. O que tem de importante essa estranha visita a um lugar “funesto”, “triste e frio” com a disciplina? No imaginário coletivo o cemitério é lugar de fim de uma trajetória, onde tudo acaba até mesmo os sólidos túmulos. Para a filosofia o cemitério é um extraordinário acervo de informações reveladoras da existência humana, lugar para desconstruir mitos e tabus sobre o sentido da vida e da morte.  
Na cultura cristã o rito do sepultamento é um arquétipo repleto de significados, necessários para dar acalento à vida dos ficaram. Quantas e quantas vezes somos invadidos por pensamentos confusos e angustiantes desse inusitado e fatídico momento que chegará para todos, a morte. De imediato desviamos tais pensamentos para não penetrarmos no abismo existencial que nos remete a sentimentos de profunda introspecção. É exatamente esse o papel da filosofia, pensar o quão pequeno e frágil somos, que podemos num piscar de olhas deixar de existir, fincando apenas nossa memória, que também é efêmera, passageira, como a própria vida.  
Esse é, portanto, o fascínio da vida, viver sabendo que partiremos a qualquer momento. Tanto na antiguidade clássica quanto em culturas diversas modernas, vida e morte são celebradas de distintas maneiras. Algumas sepultam seus mortos junto às plantações acreditando na presença dos espíritos na proteção, fertilidade e colheitas fartas. Outros como os hindus, cremam os corpos, já os cristãos enterram os corpos em urnas na expectativa da ressurreição e vida eterna. Em fim são os cemitérios os ambientes repletos de saberemos e arquétipos da nossa existência primordial.  
Claro que nesses espaços somos invadidos por uma atmosfera de melancolia, saudosismo, pois na nossa cultura aprendemos que a morte é um instante terrível, dolorido, mesmo consciente que não poderemos relutar a sua presença. A filosofia ajuda a pensar e a desconstruir conceitos equivocados acerca desse tema, tornar esse momento mais leve, sublime, de autoconhecimento. No entanto, embora tantas justificativas e explicações racionais é impossível se esquivar de reações químicas involuntárias como o choro no momento que perdemos alguém que muito amamos.
O que conforta os corações dos crédulos é acreditar que morrendo se estará diante dos que já partiram. Os incrédulos têm a morte como um processo natural. Não existe nada fora desse mundo, tudo o que fazemos tem o seu fim aqui mesmo.  O que vale é o aqui e agora. Fora isso, o que fica são os nossos legados, os bons exemplos para que outros possam se inspirar a aplicar em suas vidas.
No cemitério, portanto, aprendemos sobre arte, história, política, religião, sociologia, filosofia, geografia, etc. O cemitério é de certo modo um vasto acervo historiográfico a céu aberto. As primeiras famílias, os extratos sociais, a geografia e a arquitetura dos túmulos, a forma das escritas e objetos decorativos, entre outros, podem servir de documento explicativo da nossa sociedade, sua evolução, contradições, ao longo do tempo.
Prof. Jairo Cezar        


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