sábado, 13 de outubro de 2018


O VÍRUS ULTRALIBERAL ROMPE O CASULO E SE ESPALHA COMO UMA EPIDEMIA SEM CONTROLE.

Alguns teóricos respeitados mundialmente como Paulo Freire, Jorge Orwell e José Saramago escreveram excelentes obras literárias futuristas que devem ser revisitadas para entender o atual cenário político e social brasileiro.  Paulo Freire, renegado pela elite acéfala é tido como herói em muitos países por ter contribuído com sua pedagógica na supressão do analfabetismo. Escreveu obras emblemáticas onde afirma que a escola que temos “fabrica” sujeitos oprimidos e maleáveis, sob o controle das elites.
Tanto o currículo formal quanto o informal, ambos são pensados para reproduzir conceitos, idéias e valores de aprovação àqueles/as que nos oprimem. Essa insana natureza existencial repressora insiste em se materializar no inconsciente coletivo, onde o sofrimento passa ser compreendido como um fenômeno naturalizado e, portanto, passivo de ser suportado.
Portanto, pode estar aqui à resposta de um fenômeno social singular nesse século de tantos horrores no território nacional, espetáculo midiático que deve ser compreendido a partir da obra de Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira. O fenômeno é uma figura caricata, que apresenta todos os adjetivos possíveis que o credencia como alguém com perfil político dos mais retrógrados, que mesmo assim abocanhou quase 70% dos votos dos eleitores do Estado de Santa Catarina. Em estado, cuja mídia corporativista não se cansa de vender a imagem lá fora de um dos melhores IDH e bem estar social.  
Não há dúvida que o colapso do tradicional modelo político tem como elemento motivador as praticas sorrateiras de políticos e partidos que solapam parcela significativa do dinheiro dos contribuintes sem qualquer retorno à altura dos cargos que ocupam. Já houve várias tentativas de combater essas gastanças e privilégios, ajustando os cargos ao modelo de países como a Suécia, no entanto, sempre é barrado por grupos fisiológicos que a cada eleição se multiplicam e se entranham nas esferas do poder, resistindo, tenazmente, às tentativas de perda de privilégios.  
São os políticos corruptos que tornaram o cenário da política brasileira, terra arrasada. Conseguiram nivelar por baixo o trabalho de 580 parlamentares, cujo cargo conforme descrito na constituição é servir os interesses da sociedade e não de grupos apadrinhados. Uma sociedade com quase 80% de analfabetos estruturais é muito fácil forjar cenários, de tal modo que milhões de desatentos, como “birutas” ao vento, passem a agir consensualmente, como desejam certos veículos de comunicação de massa.
Se refletirmos um pouquinho percebermos que a população brasileira na sua trajetória histórica sempre foi forjada por falsos heróis, aqueles fabricados pelas elites, que cobriram as mazelas e falcatruas das classes dominantes. Tiradentes, Duque de Caxias, Getúlio Vargas, entre outros tantos, que receberam nomes a ruas, prédios públicos, que perpetuam no imaginário popular até hoje.
Já vivemos cenários parecidos com o que estamos presenciando hoje, porém, tudo continuou igual ou pior quando o povo, desiludido, decidiu por um salvador da pátria. Lembram do cidadão fabricado Fernando Cólor de Mello, que prometera cassar marajás com golpes de karatê? Então, foi eleito e dois anos depois foi deposto por um impeachment. O problema brasileiro, é bom que se diga, está no modelo econômico aqui instituído, controlado pelo capital, que sobrevive da exploração de milhões, que resulta fome, ódio, intolerância, violência.
Quem ousa atacar essa ferida histórica e quase crônica não tem êxito, é destituído pela via legal ou intervenção militar, a exemplo de 1964. Historicamente o povo brasileiro sempre teve expectativa de um messias, de um salvador da pátria, que solucionasse os problemas da nação. Esse sentimento é motivado pelo forte traço patriarcal que dominou e domina nossa cultura desde a ocupação pelos portugueses. Outro aspecto importante a ser ressaltado é a falsa ideia criada de povo gentil, ordeiro, solidário, tolerante, difundido pelas mídias corporativas e, até mesmo, nas letras no nacional (se o penhor dessa igualdade), ou seja, uma obrigação assumida.
Não demorou muito para que esse mito viesse à tona expondo a face nua e crua de uma nação forjada na escravidão e na cultura de um patriarcado moralista e intolerante. Bastou surgir uma figura fabricada, forjada à imagem e semelhança da nação nada solidária que veio a tona século e séculos de repressão e ódio escondidos nas profundezas do inconsciente coletivo. É claro que toda essa repressão, ódio, permaneceu sublimada por séculos, acobertados por templos que ser erguiam majestosos, frustrando o ímpeto dos demônios desejosos em se libertar e alçar vôos.
Qualquer sociedade que se sinta reprimida tende a buscar possíveis responsáveis para poder exorcizar os demônios da insatisfação que atordoam a mente de seus cidadãos. Na Alemanha foram os negros, ciganos, judeus, etc., cassados como ratos e lançados sem piedade nas fornalhas dos campos de concentrações. Na Itália, também não foi diferente. Outras tantas experiências no mundo mostram que esses processos extremos de intolerância tiveram seu início em situações semelhantes a do Brasil hoje.
Muitos vão dizer, ah mas aqui é diferente, aqui jamais acontecerá porque somos uma democracia solidificada, falamos o mesmo idioma, cultuamos o mesmo deus, etc., etc. Os últimos episódios mostram que essa democracia não existe ou nunca existiu, de fato. A crise econômica, o avanço da miséria, a precária educação estão escancarando as chagas de um Brasil violento, dividido, amaldiçoado pelo deus dinheiro, governos e políticos corruptos, que se aproveitam da ingenuidade alheia.
Do mesmo modo que nos Estados Unidos do século XIX, um violento e longo conflito colocou de lados opostos sulistas e nortistas, no Brasil contemporâneo, da pseudo democracia racial, outro conflito vem se desenhando - nordestinos e sulistas. Mais uma vez se buscam bode expiatório à crise que avassala a dignidade do povo. Há, sim, um consenso burro que permeia o imaginário de parcela significativa da população que responsabiliza os irmãos nordestinos, nortistas, imigrantes, pelas mazelas dos serviços oferecidos pelo Estado.
A expectativa de vitória de um salvador da pátria já no primeiro turno frustrou milhões de brasileiros, cegos pelo ódio, no instante que o resultado final de pleito assegurar realização de segundo turno. Entretanto, isso foi à gota d’água para descambar uma onda agressões nas redes sociais, principalmente contra aqueles que se diz de esquerda, não importando se são militantes petistas ou de outras siglas oposicionistas ao candidato que se revela um salvacionista, que usa o tema Brasil Acima de Tudo e Deus acima de Todos, como grito de guerra. Na Alemanha Nazista, Hitler também se utilizava da expressão Alemanha Acima de Tudo, como propaganda eleitoral. Qual foi o resultado? Todos sabem, não é mesmo?  
Os casos mais graves de intolerância e ofensa vêm se dando contra grupos nordestinos, como se todos que lá vivessem fossem responsabilizados/as pelas investidas neoliberais. O ataque não acontece exclusivamente contra um único grupo, se espalha como uma praga atingindo mulheres, feministas, gays, negros, imigrantes, indígenas, etc. As políticas neoliberais dos governos que se sucederam contribuíram para que se chegasse a esse momento tenso e preocupante. À perda de direitos e o enfraquecimento da resistência dos/as trabalhadores/as deu fôlego para o recrudescimento da burguesia ultra liberal.
A decadência do sistema educacional público é um dos vetores na massificação de idéias completamente fora de foco como a crença insana de que nazismo nasceu mesclado com conceitos de esquerda. Foi esse o processo ocorrido na Alemanha quando grupos ultra liberais liderados por Hitler criaram o partido Nazista (Nacional Socialismo) inspirado no comunismo. Na realidade tal inspiração omitia sua verdadeira face de morte, contra todos/as que não se encaixassem ao modelo político ultraconservador, que espalhou terror por todos os cantos.  
Tanto lá quanto aqui, quando pessoas fazem tais interpretações equivocadas entre nazismo e comunismo é um sinal explícito da profunda decadência do ensino formal. Valores como solidariedade, gratidão, se perdem, abrindo brechas para um individualismo doentio. Uma sociedade com fraca instrução se torna preza fácil de seitas religiosas oportunistas, de líderes carismáticos toscos, fanáticos, que passam a controlar as mentes e corações de pessoas, como manadas de bois caminhando direto para o matadouro.
Num momento confuso como esse o que se poderia esperar seria uma forte resistência dos movimentos organizados como os sindicatos. Por que isso não vem ocorrendo? A resposta pode estar no modo como essas organizações se comportaram nos últimos anos, no lugar de fortalecer a resistência, atuaram na desmobilização.
Não há dúvida, que o projeto pensado pelo candidato do PSL é, sem dúvida, o ataque frontal às conquistas históricas dos trabalhadores. Mostra-se tão claro que um dos primeiros setores em decidir apoiá-lo foi o do agronegócio. Após sua credencial no primeiro turno, ambos promoveram verdadeira romaria à sua residência no Rio de Janeiro, para beijar-lhe os pés e felicitá-lo. E por que será? Lembram o que o candidato vem falando sobre temas como meio ambiente, terras indígenas, áreas de preservação etc? Essa é a resposta da empolgação e da romaria a cada do candidato.
A divulgação de nomes que poderão ocupar alguns ministérios, já é um sinal de que a eleição já está ganha. Dentre os listados está o polêmico Paulo Guedes, um ultra liberal, instruído pela Escola de Chicago, Estados Unidos, a mesma que lançou os fundamentos para o golpe militar no Chile, o primeiro pais do mundo a implantar o neoliberalismo. Mais uma vez é bom que se diga que o Nazismo nasceu diretamente da derrota dos trabalhadores.
A onda Ultra liberal no Brasil parece ser mais contundente no centro sul do Brasil. E isso não é de hoje. Os movimentos separatistas são um bom exemplo dessa tentativa de fracionar o território Brasil. Reservada as proporções, o centro sul e em especial os três estados do sul concentram leva enorme de descendentes Europeus, alemães e italianos, que ainda tem recrudescidos sentimentos nazifascistas. Como um vírus encubado, bastou um fragmento externo para que rompesse a membrana e se espalhasse, cegando todos/as que estavam desatentos/as.
Como explicar votação acachapante obtida pelo candidato Bolsonaro no estado catarinense, destacando municípios como Treze de Maio, São Martinho, Rio Fortuna, Timbó, Turvo, Criciúma, com percentuais próximos a 100%? A resposta poderia estar no discurso ultraconservador e moralista do candidato que se encaixa com o que pensam e desejam as famílias que habitam esses municípios? Quando dizemos que é um vírus encubado, que rompeu a membrana e se espalhou contaminando mentes, no passado tivemos o MOVIMENTO INTEGRALISTA semelhante a atual onde ultraconservadora.[1]
No extremo sul do estado de Santa Catarina, nas eleições municipais de 1936 em Araranguá, por uma diferença de 500 votos, o candidato liberal Caetano Lummertz derrotou o Integralista Jaime Wendhausem. No mapa eleitoral da época foi possível ver os redutos onde o candidato integralista obteve os maiores sufrágios.
O curioso é que aparecia o distrito de Turvo, o mesmo que hoje com o candidato do PSL. Dos 269 votos depositados na urna, 185 foi para o candidato integralista, uma proporção bastante grande. Na eleição de 2018, esse percentual seguiu a mesma proporção, 78,95%, o décimo entre os 295 municípios do estado com maior votação ao candidato de cunho integralista.         
O que aspecto merecedor de atenção é o modo como a onda ultra liberal vem se comportando frente ao principal símbolo brasileiro, a bandeira nacional. O que era para ser um símbolo de unificação social, como tem sido desde a sua criação, muitos ultraliberais insanos usam-na como marco de identificação, distinção dos demais. Desfraldar o manto, desfilar em carros, estender em fachadas de casas ou prédios, é se identificar com as “mudanças”, se opondo ao tradicional, velho, à continuidade, àqueles que defendem à liberdade, à diversidade de gênero, à educação transformadora, etc.
Prof. Jairo Cezar                                             



[1] Dentro de sua filosofia, a Ação integralista, brasileira, se fundamentava na concepção do universo e do homem, na imortalidade da alma, ou seja, na vigilância e defesa dos fundamentos religiosos da pátria. O integralismo estava fundido em quatro conceitos fundamentais: A FAMÍLIA, alicerce da vida nacional; a AUTORIDADE DO CHEFE DA FAMÍLIA; O CULTO DAS VIRTUDES CRISTÃS; PROTEGER A FAMÍLIA DOS COSTUMES MATERIALISTAS E PRINCIPALMENTE DO COLETIVISMO TOTALITÁRIO; NA PROPRIEDADE, que visava manter os direitos de propriedade até os limites impostos pelo bem comum. A propriedade tem um fim social, mas se torna ilegítima, se não atende aos reclames do enriquecimento da nação e a distribuição de benefícios sociais. O INTEGRALISMO é contra o LIBERALISMO, pois este promete a liberdade, mas somente garante aos mais fortes, aos detentores das riquezas; é ANTICOMUNISTA, pois este cria uma casta de exploradores do trabalho; é defensora da LIBERDADE RELIGIOSA, a COOPERAÇÃO DO ESTADO para com a RELIGIÃO pelas mudanças que melhor convir a ambas as partes. O Integralismo tem também uma atitude de REFORMISMO SOCIAL, ou seja, reestruturar as estruturas da nação, a planificação da economia pelo Estado, a socialização da indústria de base, a reforma agrária que se dever tornar um projeto necessário. Para os integralistas, o Estado tem como função a organização da nação. Portanto era preciso construir um ESTADO FORTE, com uma NOVA ELITE, com uma organização corporativa. Para o homem se realizar plenamente, deve ser levado em consideração três aspectos: HOMEM RELIGIOSO, HOMEM ECONÔMICO E HOMEM POLÍTICO. No Brasil, os integralistas formularam campanhas anticomunistas, como a rejeição ao marxismo baseado na socialização dos meios de produção, ameaça comunista compreendendo o futuro da América Latina, condenação da Revolução em Cuba e a defesa da propriedade privada.


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