terça-feira, 16 de outubro de 2018


OUTRORA SER PROFESSOR/A ERA SINÔNIMO DE ORGULHO E PRESTÍGIO, E HOJE?

Se perguntarmos aos nossos avós/avôs ou pessoas com idade superior a 60 ou 70 anos como foi sua educação escolar e como os/as professores/as eram vistos ou tratados, certamente as respostas seriam unânimes, ah os/as educadores/as eram respeitado/a e valorizado/a como se fossem a extensão da família... vistos como  um guia, líder, um sacerdote, até mesmo se igualando a um padre ou outro líder religioso da comunidade.    Hoje em dia, certamente as respostas para essa pergunta seriam completamente opostas, ou seja, são violados diariamente com perdas de direitos, sofrem todo tipo de descaso diante da profissão, que ainda não está consolidada e, pior, com risco até de extinção.
Enquanto países como França, Alemanha, entre outros, a profissão docente teve sua regulação como carreira docente pública em meados do século XIX, no Brasil o processo aconteceu recentemente, após a homologação da última LDB, lei n. 9394/96. Dessa data em diante, tanto no Brasil como Santa Catarina, em especial, foram dezenas de paralisações/greves, algumas longas, para pressionar governos que cumprissem dispositivos da legislação relativos à valorização da carreira docente. Anos após ano, o que se vê é um violento processo de fragilização, de ataque à carreira, subjugando professores/as à função de reprodutor funcional e não de sujeito construtor do conhecimento.
Na Finlândia, o acesso ao magistério exige do/a candidato/a, o preenchimento de inúmeros requisitos, principalmente competência. Isso faz com que os salários pagos aos mestres sejam iguais ou superiores até de médicos, advogados, engenheiros, etc. Aqui, muitos professores/as, mestres ou doutores/as de escolas públicas, tem vergonha de exibir seus contra cheques tamanhos falta de sensatez dos governos com o magistério. Não bastasse o descaso com os docentes, os professores/as são desafiados/as diariamente a suportar toda pressão dentro e fora dos muros da escola. O ambiente escolar é como uma antena receptora tende a captar as tensões, angústias e mazelas do mundo externo.
O professor, além de educador, tem de se transformar em babá, psicólogo, pai, mãe, etc. Na realidade, o professor vem se transformando num bode expiatório dos governos, na medida em que os investimentos para o setor vão encurtando. A resposta disso é baixa qualidade no rendimento dos estudantes, cuja culpa pelo fracasso no ensino é transferida quase que exclusivamente ao professor.
Quantos pais ou mães alguma vez saíram às ruas expressando palavras de ordem em defesa dos/as professores/as por melhores salários e condições dignas de trabalho? Nos 36 anos de carreira docente e de greves quase anuais, jamais presenciei mobilizações de pais ou da própria sociedade bloqueando entrada de escolas, ruas, ADR, etc., em protesto às péssimas condições de infraestrutura das escolas de seus filhos/as.
Em se tratando de governos e da grande imprensa elitista, os fatos comprovam que os ataques contra os movimentos dos professores foram extremamente contundentes. Buscava-se de todas as maneiras criminalizarem os/as profissionais do magistério na tentativa sempre de jogar a sociedade contra a digna luta, não mais por salário, mas por direitos adquiridos. As mobilizações da categoria jamais foram em vão, isso porque, se hoje há um plano de carreira, não como idealizávamos, foi decorrente da forte resistência desses/as guerreiros/as, que não se acovardaram diante das ameaças, fechando pontes, secretarias, sedes do governo e assembléia legislativa, com um único propósito, fazer ouvir suas vozes, bradando por uma educação pública e de qualidade.
Quantas e quantas vezes vêm se ouvindo as mesmas falas de políticos oportunistas com promessas demagógicas que jamais serão concretizadas. Não se concretizará pelo fato da educação estar inserida num modelo de produção, que requer mão de obra barata com o mínimo de reflexão crítica. É isso mesmo, escola que reproduz a mais valia do capital. Desqualificar o/a profissional do magistério com baixos salários e fraca qualificação faz parte desse perverso pacote de reformas guiadas pela elite burguesa, que se torna mais forte e poderosa, alimentada de um cenário de fragilidade e desacredito no campo educacional.
O que mais incomoda no dia dos/as professores/as são aqueles/as profissionais que quando convidados/as para alguma homenagem no seu dia se prestam a fazerem discursos alienantes, romantizados, sem mencionar a luta da categoria e daqueles que deram a vida em defesa da causa. Isso, porém, ocorre com mais frequência nos municípios menores, principalmente nas câmaras legislativas, quando vereadores convidam professores/as para serem agraciados/as, com troféus e placas condecorativas.
Sentiria-me envergonhado participar de uma homenagem desse porte numa câmara de vereadores às vésperas de votação importante, onde direitos conquistados estão sendo ameaçados, retrocedendo ainda mais uma profissão carregada de preconceitos. O pior é quando se sabe que muitos daqueles legisladores que verbalizaram discursos inflamados favoráveis aos/as professores/as, votarão pela extinção de direitos, ou pelo agravamento da precarização da educação pública no município, especialmente o ensino infantil.
Fiquemos atentos às tentações do ego que nos perturbam. Precisamos sempre nos posicionar como profissionais da educação, críticos e leitores atentos da sociedade. Em certos momentos devemos sim ficar endurecidos, porém, nunca, jamais perder a ternura com aqueles que esperam de nós um sinal, uma luz, uma saída do escuro túnel que cega milhões e milhões de brasileiros/as.
Prof. Jairo Cezar           
                      

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