segunda-feira, 16 de abril de 2018


O II SIMPÓSIO ÍBERO-AMERICANO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS (UFSC – ARARANGUÁ) MOSTROU  O ABISMO QUE SE ENCONTRA O BRASIL NESSE SEGUIMENTO



As novas tecnológicas como computadores, internet os smarts fones, dia após dia vem se transformando em ferramentas indispensáveis em todos os seguimentos da sociedade. São esses novos dispositivos fixos e móveis de comunicação e de trabalho que proporcionam agilidade e eficiência em tarefas simples e complexas, que tornaram realidade projetos  impensáveis no passado. Tornar disponível e habilitar a sociedade ao uso eficiente de toda essa maquinaria digital requerem profundas mudanças de paradigmas conceituais, que envolverá governos, universidades, centros de pesquisa e a sociedade civil.
Entretanto, para alguns países o desafio ainda é superar barreiras primárias do atraso institucional, cujas políticas para o setor são pífias, descontínuas e de fraca influência no setor produtivo. Na tentativa de reverter esse atraso quase crônico das tecnologias no campo da educação, algumas iniciativas isoladas por parte de universidades estão sendo oferecidas ao público, como o II Simpósio Ibero-Americano de Tecnologias Educacionais, promovido pela UFSC, Campus Araranguá. O encontro se caracterizou como um importante marco da instituição para a região de Araranguá, que deu os primeiros passos para a superação do atraso estrutural que permeia o cenário econômico e social regional há décadas.
Como não poderia ser diferente, os organizadores do simpósio tiveram como prerrogativa escolher temas e expositores que assegurasse ao público a compreensão geral das tecnologias educacionais e suas políticas em âmbito dos países ibero-americano.  Tanto na primeira como na segunda mesa redonda, os debatedores se deteram em abordar laboratórios tecnológicos virtuais; projetos; experiências e programas de fomentos à pesquisa para o aprimoramento da educação nos níveis básico e superior. Em se tratando de Brasil, as políticas públicas em vigor, dentre elas a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) prioriza as unidades de ensino como ambiente apropriado para estimular os estudantes a resolverem problemas complexos a partir das ferramentas tecnológicas disponíveis.
É ilusório pensar numa transformação social consistente, sustentável e duradoura sem políticas de Estado para o seguimento. O processo, portanto, precisa estar devidamente articulado com outras políticas e governos, combinando disponibilidade de recursos e formação continuada dos profissionais da educação. Sobre a experiência do uso da tecnologia nas escolas de Portugal, a palestrante Dr. Neuza Pedro fez alguns apontamentos destacando que no país europeu a transição do modelo clássico de educação para o mundo digital vem se dando de forma lenta, pois tudo se traduz como experimento.
Os próprios governos se posicionam um tanto arredios às tecnologias, justificando a fragilidade do setor à escassez de recursos para investimentos em laboratórios de experimentos. O Estado português, porém, embora inflexível quanto ao financiamento, abre as portas das universidades públicas e instituições às parcerias com setor privado, com a instalação de laboratórios no interior de seus espaços.  Todo fomento, compra e manutenção, deverá partir das parcerias público privado e do empenho dos profissionais da educação.
Outro tema apresentado no encontro foram as políticas do CNPq, (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) instituição criada no Brasil na década de 1950, cujo papel estratégico foi e é criar e financiar programas para o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro. A porta voz do órgão presente no encontro expôs os fluxos de recursos oriundos do governo e de parcerias para a pesquisa. Ressaltou que não houve cortes significativos de verbas pelo atual governo que poderiam comprometer o funcionamento do órgão.
O que causou mais apreensão, segundo a palestrante, foram os cortes de bolsas aos pesquisadores que estão desenvolvendo seus trabalhos no exterior, forçando o CNPq a fazer alguns ajustes para não comprometer projetos de pesquisa em execução. No Brasil, segundo a representante do órgão, o setor de pesquisa em tecnologia se depara com gargalos a serem superados para alcançar níveis satisfatórios de desenvolvimento. Dentre as inúmeras demandas elencadas, a precária formação de professores e a resistência à utilização de mídias se colocam como entraves de difícil solução.
Para romper tais barreiras, o CNPq defende que os governos invistam mais em programas de formação continuada de professores, que lhe garanta uma leitura crítica da aplicação das tecnologias nos ambientes de ensino. Também se deve priorizar no Brasil uma formação docente acompanhada de políticas, elaboração de projetos pedagógicos atualizados e a multidisciplinaridades das abordagens no cotidiano dos espaços escolares. 
O professor José Armando Valente, da Universidade Estadual de Campinas, fez uma breve exposição da trajetória histórica dos programas governamentais voltados a impulsionar a educação através do emprego de tecnologias. Destacou algumas iniciativas importantes ainda nos governos militares, como o projeto EDUCOM, início da década de 1980, que introduziu a informática nas escolas, utilizando algumas instituições de ensino superior como laboratórios de experimentos.
A intenção era a partir desses centros de referência disseminar a cultura digital em escala nacional, desenvolvendo pesquisas e preparando multiplicadores para a disseminação  dessas inovações às escolas brasileiras. É importante ressaltar que o aporte tecnológico na educação teve, no início, um viés político-militar, ou seja, vinculado à segurança nacional. Os   protagonistas do plano corroboravam com o mesmo pensamento, acreditando que tal iniciativa  impulsionaria a aprendizagem tecnológica no Brasil a partir das escolas, dinamizando a economia com um parque industrial mais eficiente e trabalhadores qualificados.     
Outros programas posteriores receberam atenção dos governos como o PRONINFE (Programa Nacional de Informática Educativa), lançado em 1989, cujo propósito era expandir os projetos de educação digital a todos os níveis de ensino. Havia a intenção também de promover e incentivar a capacidade de recursos humanos no domínio das tecnologias.  Naquele momento, o conceito filosófico que permeava os idealizadores dos programas tecnológicos estava tracejado numa visão de que a internet por ser um bem cultural teria de estar disponível à toda a sociedade. Em 1997, o PRONINFO foi encerrado, sendo que no seu lugar foi criado o PROINFO (Programa Nacional de Tecnologia Educacional), onde se mantém até os dias atuais, com inclusão e exclusão de iniciativas, cujos resultados estão muito longe ainda de retirar o Brasil da lista dos mais atrasados no mundo nesse setor.
Embora o PROINFO tenha se dividido em duas etapas, de 1997/2006 e de 2007/2016, esse último decênio por meio do PROINFO INTEGRADO, ambos, inquestionavelmente, com inúmeras ações prometidas em termos educacionais, como a formação e capacitação de profissionais, distribuição de computadores, lep tops, tablets, banda larga, etc, o que constata nas milhares de escolas públicas básicas distribuídas por todo território é um quadro desolador. O que mais se vê nessas instituições são salas, antes chamados  laboratórios, transformados em depósitos de sucatas de equipamentos inutilizados por falta de manutenção e peças de reposição. 
O que é mais estarrecedor é que mesmo com os bilhões em investimentos nesses quarenta anos de caminhada tecnológica, estados como Santa Catarina foi aprovada lei de n. 14.363/2008 que impede o uso de celulares em sala de aula. Quanto à banda larga, são raras as escolas que não se obrigam a fazerem campanha de arrecadação de dinheiro para tornar mais eficiente à internet, pois a potência disponível pelo governo não é suficiente para suprir a demanda mínimia de obrigações nas unidades de ensino público estadual.
Não há dúvida que o Brasil, permanece ano luz de distância em eficiência tecnológica em comparação a dezenas de países espalhados nos cinco continentes, entre eles os sul-americanos Chile e Uruguai. O Uruguai é o primeiro país do globo a universalizar a tecnologia na educação, ferramenta disponível em todas as escolas públicas, com participação ativa do Estado. O que chama atenção no Uruguai é que independentemente dos governos ou partidos que se revezam em quatro em quatros anos, o projeto permanece funcionando.   
  A experiência no Uruguai é considerada tão exitosa que o país não poderia ficar excluído do simpósio. Para expor a experiência no país vizinho ao Brasil foi convidado o Professor Dr. José Miguel Garcia, que é coordenador de Educação, Ciência e Tecnologia da Faculdade Latino-Americana e Ciências Sociais (FLACSO). Antes de expor o que relatou o professor Miguel acerca da atual situação do programa no Uruguai, é conveniente fazer um breve relato histórico do plano hoje conhecido CEIBAL que foi instituido em 2007. 
A idéia, no inicio, era concentrar todos os esforços possíveis na disseminação de ferramentas tecnológicas, Leptops, em todos os centros educacionais públicos espalhados pelo território Uruguaio. Era consenso por parte dos governantes e dos setores ligados à pesquisa, que a universalização  da TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) seria possível em curto espaço tempo promover transformações significativas no país.  A criação de riquezas; a melhoria da qualidade de vida; o desenvolvimento humano e a inclusão social seriam umas das pretensões iniciais do plano.
Tanto estudantes quanto professores teriam direito a um leptop, bem como a rede WIFI disponível internamente e no entorno das instituições de ensino. Em 2011, os estudantes das escolas infantis também foram beneficiados com a distribuição de computadores.  Conforme relatório apresentado por organizações internacionais, o Uruguai obteve melhoria no desempenho dos seus estudantes, sendo elogiado até pelo relator especial da ONU onde afirmou ser o Uruguai um grande exemplo para o mundo.
Nos quase trinta minutos de explanação, o professor Dr. Miguel demonstrou ser um grande entusiasta do projeto CEIVAL, afirmando que já é visível uma mudança cultural significativa no país. Que a proposta do governo foi inicialmente atender as escolas do interior e por fim todas as escolas públicas da capital Montevidéu. Que o sistema foi desenvolvido para atender crianças, servindo como ferramenta de apoio ao processo pedagógico. Tanto a infraestrutura, formação de professores, entre outros, são concepções que permeiam o programa, ambos estão integrados, caminham juntos e estão incorporados aos planos estratégicos de Estado, independente dos governos que assumem o comando político do país.              
No momento dos debates o público presente lançara questionamentos acerca das Políticas Públicas relativa à TIC no Brasil. O professor Valente foi enfático em afirmar que no Brasil esse seguimento caminha em passos de tartaruga, que nenhum programa tem continuidade, que morre na praia a cada mudança de governo. O processo de formação de professores é decadente, agravado ainda mais pela situação calamitosa das escolas públicas cujos laboratórios, quando existem, os aparelhos disponíveis estão desativados por falta de manutenção.
A TIC nas escolas públicas poderia desencadear um salto de qualidade tanto educacional quanto cultural, se os governos incluíssem a educação tecnológica como política estratégica de Estado. Com tais ferramentas disponíveis os estudantes poderiam se tornar autores de projetos, desempenhando sua capacidade criativa, tendo o apoio permanente dos professores, mediando os passos dos estudantes.
A última e a mais esperada das palestras foi a proferida pelo professor Alberto Cupani, no qual abordou a relação entre inteligência e tecnologia no processo de construção humana.  Afirmou que durante a sua existência o ser humano passou por diversas fases importantes, sendo elas a fase do homo fabers e homo sapiens. Foi nessa segunda etapa, que ocorreu o aprimoramento da inteligência humana, capaz de construir instrumentos mais complexos com o aprimoramento das técnicas. A linguagem, principalmente a escrita, se caracterizou como um recurso técnico importante, permitindo exteriorizar o pensamento. São as tecnologias que fazem expandir nossa mente, bem como modificar nossa inteligência.
Além da inteligência inter-humana, os avanços das técnicas vêm permitindo a criação de ferramentas mais sofisticadas ao ponto delas adquirirem quase vida própria, independente, estamos nos referindo à inteligência artificial. Está tão presente no dia a dia das pessoas, ao ponto de assumir um papel um tanto preocupante, pois, além de poder salvar vidas, diagnóstico médico, tende também a nos vigiar, nos comandar, nos substituir e nos derrotar.  
Entre técnica e tecnologia, a primeira é a mais importante, pois ela se dá a partir de um componente intelectual que acompanha o grau de consciência, onde resulta em ferramenta, que vai se aprimorando quanto mais usamos a inteligência. O que não acontece hoje é a tecnologia ou recurso tecnológico não ser uma decisão coletiva, que depende de pequeno agrupamento de pessoas ou companhias decidindo sobre uma e não outra tecnologia.
Até que ponto a tecnologia é considerada como elemento primordial ao desenvolvimento econômico e à felicidade humana. Diariamente os meios de comunicação vêm bombardeando o pensamento coletivo com publicidades afirmando que o mundo está melhor hoje por causa da tecnologia. Não produzimos apenas por necessidade, portanto, o que é produzido é determinado por uma rede de interesses diversos, que nos fazem acreditar que nos tornaremos mais incluídos, felizes, livres e evoluídos se adquirirmos tecnologias, computadores, celulares, TV, etc. Na realidade, cada vez mais o ser humano está ficando refém do que produz, escravo passivo das máquinas que ditam o ritmo de vida diária.
Não é plausível pensar que tudo pode ser respondido como um problema técnico. Alguma resposta a certos problemas como na saúde pode vir de um aconselhamento espiritual. A ciência não é a deusa do universo. Ao mesmo tempo em que deixamos de acreditar nos dogmas, como respostas às dúvidas existenciais, nos tornamos incondicionalmente confiantes na tecnologia (Google). Não seria esse um dogma da contemporaneidade humana?
Prof. Jairo Cezar

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