domingo, 10 de dezembro de 2017

ACADÊMICO DE METEOROLOGIA DA UFSC PROMOVE PALESTRA PARA ESTUDANTES DA EEF DO MORRO DOS CONVENTOS E IFSC - ARARANGUÁ


Como ocorrem todos os anos nas escolas públicas estaduais, as feiras interdisciplinares se constituem em momentos importantes, pois, paralelamente as atividades curriculares formais, estudantes são desafiados/as à investigação de temas relevantes, que são apresentados aos colegas e a comunidade. A feira interdisciplinar de 2010 na EEF Padre Antônio Luiz Dias bairro Morro dos Conventos/Araranguá poderia ter sido mais uma entre as muitas ocorridas anteriormente. Mas não foi. Sem desmerecer os demais trabalhos apresentados, o que realmente marcou o evento foi à pesquisa apresentada pelo estudante do 8° ano, Felipe do Canto, que explanou aspectos da atmosfera: formação de nuvens, temperatura e fenômenos climáticos extremos, com destaque ao Furação Catarina.




Instigados pela temática, durante todo o dia expressivo público transitou pela sala onde, com conhecimento de causa, o estudante expôs tema repleto de significados para a população do bairro. Há 13 anos, no dia 29 de abril de 2004, a região do extremo sul de Santa Catarina fora acometida por terrível furação, que resultou em prejuízos materiais e perdas humanas. A resposta que o público talvez desejasse ouvir do garoto instigado pela investigação era: havia possibilidades de ocorrer outro/os furacões na mesma intensidade destrutiva que do Catarina? É claro que seria impossível naquele momento diante das limitações humanas e estruturais, lançar resposta no mínimo confiável. Eram necessários, portanto, mais pesquisas.  Ingressar na universidade, quem sabe no mestrado ou doutorado, corroborariam com essa árdua tarefa.
 O fato é que, no Brasil, foi a primeira vez, desde que se iniciou o monitoramento da atmosfera, que ocorreu um fenômeno climático extremo dessa magnitude. Passaram-se 6 anos, o garoto, agora jovem e tendo concluído o ensino médio, tentou uma das vagas no curso de meteorologia da UFSC em 2016, no qual foi selecionado. Em março de 2017, bem no início do curso na universidade, mantive contato com agora acadêmico de meteorologia, no qual me informou que na pesquisa de TCC, irá se debruçar na investigação do clima na região sul, que visivelmente tem comportamento distinto do restante do estado. Respondeu também que estava integrado com outros pesquisadores em observações e previsões do tempo para os finais de semana em Santa Catarina.
Depois de uma pausa de oito meses sem contato, em novembro do mesmo ano, Felipe me enviou um whatssap, onde escreveu o seguinte: Bom dia Jairo, tudo certo? Então, estou iniciando minha vida de pesquisas na universidade, e criando algumas ideias na minha cabeça, meu foco será o Vale do Rio Araranguá e relacionarei variações do Rio Araranguá com as variações climáticas ocorridas na região. Porém, necessito de uma base dos acontecimentos históricos na região relacionados ao clima. Daqui a algumas semanas estarei retornando para o Morro para passar as férias em casa. E queria saber se tem como marcarmos uma conversa para que eu possa tirar algumas dúvidas que acredito que você tenha as respostas. Abraço!  Enquanto muitos acadêmicos decidem os temas dos seus TCCs, no último semestre, Felipe, na sua escrita já mostrara ter clareza do que pretendia investigar. No dia 29 de novembro, outra mensagem, agora informando que proferiria duas palestras, uma para estudantes da escola estadual onde concluiu o ensino fundamental, bairro Morro dos Conventos, na sexta feira, 01 de dezembro, e outra no IFSC/Araranguá, dia 04 de dezembro.


É claro que não iria, depois de seis anos, perder a oportunidade de ouvi-lo.  Agora, com certeza, dele poder dar respostas mais seguras aos questionamentos feitos em 2010 sobre fenômenos climáticos extremos. Por cerca de 2 horas, estudantes do nono ano, professores e o corpo gestor da escola acompanharam atentamente sua explanação. Discorreu sobre temas relacionados ao clima no planeta, fenômenos climáticos extremos e ações antrópicas que afetam o micro clima da região, do município e do próprio bairro Morro dos Conventos.
De início citou nomes de alguns instrumentos, dos mais de 20 existentes no interior de uma estação meteorológica, que são imprescindíveis para o monitoramento diário do tempo. Os satélites meteorológicos e os radares exercem hoje funções importantíssimas no monitoramento das manifestações do tempo. Em Santa Catarina existem atualmente, em funcionamento, dois radares, um instalado em Chapecó e outro em Lontras. O terceiro, em fase de configuração será instalado em Araranguá.  Com os três em funcionamento, ambos irão cobrir cem por cento do território catarinense.


Na palestra que proferiu no IFSC, Felipe revelou que o radar previsto para ser instalado em Araranguá, não há prazo para entrar em funcionamento, pois foi constatado falhas no sistema de configuração. Para resolver o problema, o Estado deverá encaminhar edital de licitação para contratação de empresa que realizarão os procedimentos. Também não há qualquer certeza de que o equipamento permanecerá no local estabelecido, no entorno do farol, no Morro dos Conventos. Devido aos fatores geográficos, o sinal do radar não atuará com eficiência sobre os municípios próximos ao costão da serra. Destacou também a importância do radar meteorológico localizado no Morro da Igreja, em Urubici, que por estar situado em um dos pontos mais elevados do estado, Morro da Igreja, quase se caracteriza como um satélite. Entretanto, os dados coletados no litoral, próximo ao oceano, são de baixa resolução devido à incidência de nuvens com gotículas de água.
Em relação aos satélites, o Brasil ainda depende dos Estados Unidos no envio das imagens. As diferenças entre satélites e radares são as seguintes: os radares fazem a coleta de informações a partir do solo para a atmosfera, ou seja, de baixo para cima. Outra vantagem, os radares cobrem uma fração menor do território. O tempo de distribuição das informações dos radares para os centros de monitoramentos também são menores. Esse fator garante o envio de alerta à população a tempo de se proteger de um possível fenômeno atmosférico extremo.  Esclareceu que existem em órbita dois tipos de satélites, o geoestacionário e o “órbita polar”. O primeiro, disse Felipe, está estacionado na linha do equador, enviando informações em maior tamanho às estações de 5 em 5 minutos. Já o segundo, o órbita polar, gira próximo a superfície terrestre, passando pelo mesmo local, duas vezes ao dia.[1]


Quando ocorre um fenômeno climático extremo, no caso de um furacão, dependendo do local onde está o satélite “orbita polar” naquele momento, a resolução da imagem pode ser ou não ser tão nítida. Nesse sentido, os meteorologistas recorrem ao  “geoestacionário”, que fornece imagens em escala muito maior do hemisfério sul, claro que com poucos detalhes comparados ao primeiro. Explicou que hoje em dia os computadores fazem quase todo o trabalho de interpretação dos dados recebidos das estações meteorológicas. Entretanto, os modelos numéricos ainda são muito mais confiáveis.


Os dados do modelo numérico são avaliados em curto, médio e longo prazo. As informações são oriundas de estações meteorológicas e aviões, que são transmitidos para o campo de dados de um supercomputador. Os relatórios estarão disponíveis para o mundo inteiro. O Brasil possui um supercomputador chamado Tupã. No entanto, confessou Felipe que o aparelho está para se desativado por escassez de recursos. Caso ocorra, as previsões do tempo no Brasil poderão depender exclusivamente de dados globais, fragilizando a eficiência nos monitoramentos.  
Mostrou uma imagem de um ciclone extratropical que se propagou no sul do Brasil em junho de 2017 e que foi captada pelo satélite estacionário GOES 16, da NOAA.  O mesmo fenômeno foi mostrado pelo satélite Órbita Polar. O que despertou a atenção foi o detalhamento da imagem no órbita polar, com tons roxos relativos aos raios propagados naquele momento. A cada 3 horas, o satélite Órbita Polar consegue fazer varredura completa na atmosfera do planeta terra, prevendo antecipadamente e com detalhes a possível formação de um furacão.
Noticiou Felipe que a NASA e o Centro Europeu de Meteorologia estão selando acordo para por em órbita uma “constelação” de satélites, ou seja, um número maior de equipamentos que poderão padronizar as informações da atmosfera distribuídas para os centros de controle no mundo inteiro. Em vez de passar duas vezes no mesmo ponto ao dia, serão 4 vezes, assegurando aos profissionais do tempo maior precisão nas análises. Quanto aos profissionais que atuam na investigação e monitoramento do tempo, além do especializado em nível superior, têm os técnicos de meteorologia, de nível médio, que atuam na verificação diária e dos instrumentos nas estações meteorológicas, cujos dados são emitidos para os meteorologistas.
Sobre previsão do tempo, Santa Catarina é o único estado da federação que possui um Centro Regional de Previsão do Tempo, vinculado a EPAGRI/CIRAM, possuindo também dezenas de estações meteorológicas distribuídas em toda a extensão do território. Mesmo a estatal permanecendo fechados das 24 horas às 6h da manhã, seus profissionais, em suas residências, continuam realizando o monitoramento do tempo. Outra imagem curiosa trazida pelo estudante foi de uma planilha com informações colhidas na estação meteorológica da Lagoa da Serra/Araranguá. A planilha mostra a grande amplitude térmica ocorrida em Araranguá em um único dia do mês de outubro de 2017, a temperatura oscilando de 10 a 32 graus. Essas variações abruptas de temperatura podem se um dos vetores dos elevados índices de doenças alérgicas na região.


Na realidade, o papel específico dos meteorologistas é estudar os dados coletados e guardados da atmosfera em escala menor ou maior. Com base nessas observações seria possível prever com mais precisão as manifestações que ocorrem na atmosfera. Felipe deixou claro que seu objeto de pesquisa será a região do extremo sul, entender qual a área onde ocorre maior precipitação pluviométrica no qual contribui para as cheias do rio Araranguá.
Sobre as cartas sinóticas, disse que a marinha ainda as elabora manualmente, diferente do INPE, que se utiliza de computadores. Os dados obtidos manualmente são muito mais confiáveis que os de computador, pelo fato do computador desconsiderar muitos aspectos ou variáveis importantes que ocorrem na atmosfera. Os meteorologistas buscam prever o tempo analisando muitos dados ou modelos. Suas funções são interpretá-los de tal modo que se possam reduzir ao máximo os erros. Dados colocados erradamente poderão trazer problemas para o futuro, pois os profissionais poderão estar interpretando informações incorretas.



Com base em observações, os modelos prevêem chuvas entre 7 a 20 mm para terça feira, 05 de dezembro. Felipe apresentou um modelo climático de longa duração para o sul do Brasil, de janeiro a outubro de 2017. Os dados demonstraram o aquecimento do oceano atlântico e o resfriamento do pacífico. Nesse sentido, é presumível que a região esteja sobre a influência do la nina, ou seja, teoricamente, com pouca precipitação para o sul do Brasil. Devido ao aquecimento global, pode-se admitir que tais modelos climáticos não mais se justificassem. As previsões ou modelos numéricos deixam transparecer que para o Rio Grande do Sul haverá baixa precipitação durante o verão. Enquanto que para Santa Catarina e Paraná, a tendência é chover acima da média. Se o la ninã realmente se evidenciasse não haveria distinção entre chuva e seca entre os três estados do sul, justificou Felipe.
Outro tema relevante abordado e que despertou a atenção do público presente, na EEF Padre Antônio Luís Dias/Morro dos Conventos e IFSC/Araranguá, foi sobre o fenômeno climático extremo furação Catarina. Disse que furacões são fenômenos climáticos considerados de maior anomalia conhecida no mundo. Que o Catarina, por ter sido um acontecimento inédito no hemisfério sul, despertou a curiosidade de pesquisadores no mundo inteiro. Quanto aos tornados, tais episódios estão se tornando mais freqüentes no sul do Brasil, perdendo apenas para os EUA em ocorrência.



Chuvas e ciclones extratropicais no sul do Brasil dependem exclusivamente da Amazônica. Os ventos lestes com unidade vindo do oceano entram na Amazônia provocando chuvas. Com a evaporação, um corredor de vento de grande altitude e com velocidade de um furacão transporta a umidade para o sul do Brasil. Isso acontece porque os ventos com umidade se chocam na cordilheira dos Andes. Se não existisse a Amazônia e a cordilheira dos Andes, o sul do Brasil poderia se tornar um grande deserto. Explicou também Felipe que as tempestades com ventos fortes são mais comuns à noite devido a pouca turbulência na atmosfera, tornando os ventos mais velozes. Os picos de tempestades geralmente acontecem entre meia noite e nove horas da manhã. As tempestades gigantes ocorrem na madrugada.



No sul do Brasil há predominância de ciclones tropicais, subtropicais e extratropicais.  Os ciclones subtropicais geralmente se foram sobre o continente. Sua incidência é resultante da presença de água quente na superfície e ar quente em níveis médio de altitude, e ar frio em níveis elevados. Um ciclone subtropical, que se originou na região do Chaco, no Paraguai, atingiu o estado de Santa Catarina em 2008 causando destruição e mortes. Os ciclones tropicais possuem água quente na superfície. Todo ciclone é frio a partir da superfície. Tanto o ciclone tropical quanto o subtropical, ambos não possuem frente fria associada. O formato das nuvens geralmente é arredondado, diferente do extratropical que possui um desenho em espiral.


Os ciclones extratropicais normalmente passam em alto mar com ventos superiores a dos furacões. Os mesmos dificilmente atingem a costa com ventos fortes devido ao movimento do ar que ocorre de oeste para leste. Foi exatamente um ciclone extratropical o responsável pelo furacão Catarina, que se transformou em ciclone tropical. O mesmo se desprendeu da frente, tornando-se um fenômeno climático isolado, com comportamento atípico, ou seja, conseguiu sobreviver sozinho. O furacão se formou porque a atmosfera no seu entorno cessou o movimento. O que ocorreu, portanto, foi um fenômeno pouco comum na região, conhecido por bloqueio atmosférico. O furacão ficou 8 dias se organizado até atingir a costa. Segundo especialistas, o vento do Catarina quando atingiu a costa sua velocidade chegou a 170 Km/h, com rajadas de 210 Km/h.



   Outro fator influenciador do fenômeno Catarina foi a elevada temperatura da água do mar, beirando os 25 graus, 10 graus acima do normal. Devido a grande rotação, os ventos sugaram a água salgada do oceano, pois não houve tempo para evaporação. Os meteorologistas conseguiram medir a dimensão e intensidade dos ventos graças às imagens em 3D fornecida pelo satélite de orbita polar que transportava radar na sua ponta. O satélite já foi desativado pela NASA. A região do extremo sul de Santa Catarina foi a mais atingida com 40 mil residências destruídas. O que ajudou a dissipação do furacão foi a presença de ventos fortes em elevada altitude sobre a serra geral. Na ausência desses ventos poderia estender a área de abrangência e o tempo do furacão resultando em prejuízos materiais e perdas humanas.



O uso de cartas sinóticas, imagens em grade escala de uma região são importantes no monitoramento das frentes frias que ocorrem com freqüência no sul do Brasil, atingindo por sua vez, em caso extremo, a Amazônia. Explicou que o comportamento da atmosfera depende diretamente das estações do ano. No inverno a região sul sofre influência das frentes frias, muitas vezes com a predominância de forte massa de ar polar, provocando a ocorrência de friagem na Amazônia.  Em julho de 2017, os meteorologistas previam a ocorrência de neve nas áreas altas da região sul do Brasil. Porém, em decorrência da fraca predominância de umidade em níveis altos da atmosfera, inviabilizou a formação de neve. 



As manifestações extremas do clima na região do extremo sul de Santa Catarina, com chuvas abruptas ou secas prolongadas tem relação com a ação antrópica. Nas ultimas décadas vastas áreas de florestas foram suprimidas para dar lugar às plantações de arroz irrigado. Atualmente, segundo estudos, apenas 19% do solo é considerado natural, ou seja, permanece coberto por vegetação natural. Uma gigantesca área de solo todos os anos está sendo ocupada por enorme quantidade de água, transformando em combustível alimentador de tempestades severas. A tendência, segundo Felipe, é chover a mesma quantidade de chuva anualmente, porém, mal distribuída ou em forma de tempestades severas. Disse também que seria importante estudar a atividade rizicultura na região observando o quanto de água é evaporado e de que modo isso influencia no micro clima.
Prof. Jairo Cezar
                             



[1] http://www.youtube.com/whatch?v=XY5wHSTqIyU



















































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