sábado, 23 de dezembro de 2017

A ÁRVORE ONDE ERAM NEGOCIADOS ESCRAVOS/AS E SEUS NOMES REBATIZADOS

ARVORE DE LEILÃO DE ESCRAVOS (CIDADE DO CABO/AFRICA DO SUL

Existe no Brasil uma vasta produção bibliográfica que retrata fragmentos da participação africana na construção da identidade cultural brasileira. Para elucidar, destacamos duas obras importantes da historiografia que aborda aspectos distintos dos africanos no Brasil. A primeira, descreve o cotidiano dos cativos no extremo sul de Santa Catarina, submetidos ao comando do proprietário da terra; a segunda, procura destacar o lado empreendedor de ex-escravos, não mais como figurante da história e sim protagonistas que se tornaram até mesmo negociantes de escravos.[1]  
Todos/as que estudaram história no ensino fundamental e médio devem ter lembrança dos professores falarem que a maioria dos escravos trazidos para o Brasil, vinham de Angola e Moçambique. Chegando ao Brasil eram negociados em grandes feiras públicas e cujos nomes rebatizados. Em viagem à África do Sul, um aspecto chamou atenção e que certamente contribuiu para pensar que o país africano direta e indiretamente teve peso no processo de colonização do Brasil e no tráfico de escravos.
Os portugueses quando se lançaram ao mar à procura de outro caminho para chegar às Índias, a África do Sul se tornaria parada obrigatória para o reabastecimento. O curioso foi a África do Sul não ter sido ocupada e se tornado uma possessão portuguesa. E por que teria motivada a não colonização? O fato é que na África do Sul a água sempre foi um recurso escasso e valorizado pelas tribos que habitavam o seu litoral. Na tentativa de roubar a água, a tripulação das embarcações que transitavam pela costa era violentamente reprimida pelos nativos. Não havendo possibilidade de colonizar o território, a coroa portuguesa designou que fosse executado o plano B, ou seja, a ocupação imediata do Brasil, que além de outros atrativos, havia água em abundância.           
Quanto ao processo de escravidão na África do Sul, os colonizadores europeus também praticavam intenso comércio de compra e venda de escravos oriundos de outras partes do continente. No centro da Praça na Cidade do Cabo, há um monumento construído que dá a ideia de como era realizado esse comércio e a procedência dos cativos.  O local onde está o monumento, no passado havia uma árvore, que sob a sua sombra eram realizadas os trâmites comerciais.


Dos cerca de 400 escravos trazidos pelos barcos para a África do Sul, morriam durante a viagem 150 a 200 por doenças ou maus tratos. Escravos da mesma família eram separados. Já que os holandeses foram os primeiros a colonizar a África do Sul por volta de 1652, o início do comércio de cativos ocorreu por volta de 1658, vindo das suas colônias na Ásia. A decisão dos holandeses de importar escravos asiáticos se deu pelo fato de os nativos africanos imporem resistência ao trabalho forçado, muitos dos quais nômades caçadores.
Além do mais as companhias holandesas tinham que cumprir certos protocolos legais instituídos pela própria metrópole, como a que proibia a escravização de nativos do país dominado. Isso foi um dos motivos que forçou a companhia a importar escravos de suas colônias. Os escravos muçulmanos que chegavam ao porto, seus nomes de batismos rapidamente eram substituídos por outros. O processo denominado “rebatismo” se processava da seguinte forma: todos ficavam em fila, o escrivão mantinha uma bíblia aberta e os batizavam com algum nome tirado do livro.


Além dos nomes bíblicos, se adotavam também outras metodologias de troca de nomes, como os dias da semana, meses e os lugares de onde eram trazidos. Outro exemplo: todos os carregamentos de escravos quando eram desembarcados no porto, se no dia do desembarque fosse sábado ou qualquer dia da semana, o sobrenome dado seria o dia da semana do descarregamento. Ex. Antônio sábado; Pedro domingo, Adão sexta, etc. 
No monumento construído no centro da Praça da Cidade do Cabo, chamou a atenção por estar escrito o sobrenome BRAZIL. A explicação pelo nome ali escrito foi que nessa época os navios portugueses que saíam de Angola ou Moçambique em direção a sua colônia no Brasil, ou do Brasil para as colônias da África, poderiam ter sido capturados por um navio holandês, por estarem navegando em águas proibidas. Acredita-se que o navio capturado poderia estar vindo do Brasil, por isso o sobrenome BRAZIL recebido pelo escravo ali  no monumento.
Prof. Jairo Cezar





[1] SPRICIGO, Antônio Cesar. Sujeitos Esquecidos, Sujeitos Lembrados: Entre fatos e números, a escravidão registrada na Freguesia do Araranguá no Século XIX. CALDEIRA, Jorge. História do Brasil com empreendedores – São Paulo: Mameluco, 2009.

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