quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

AS CULTURAS PRÉ-INCAICAS (AMÉRICA DO SUL) ESQUECIDAS NOS CURRÍCULOS DAS ESCOLAS BRASILEIRAS

Há cerca de cinco anos tivemos a oportunidade de nos aventurar cruzando o deserto de Atacama e visitando alguns países hispânicos que preservam na arquitetura, no vestuário e na culinária, vestígios de culturas milenares que os antecederam. Salta na Argentina, São Pedro de Atacama e Iquique, no Chile; La paz, na Bolívia; Pumo e Cuzco foram às cidades que forçam os visitantes brasileiros e demais sul do continente a ressignificarem suas visões de mundo, rompendo com o paradigma europocentrico que ainda insiste em dominar o imaginário coletivo.    
Tanto os/as atuais estudantes quanto aqueles/as que já concluíram o ensino básico há anos, acredita-se que devam lembrar-se dos/as professores/as descrevendo em detalhes antigas e importantes civilizações como a mesopotâmica, fenícia, egípcia, suméria, grega, romana, maia, inca, asteca, entre outros. São nomes que “tradicionalmente” estão representadas nos livros didáticos de história distribuídos às escolas de ensino fundamental e médio brasileiras.
Se análise mais suscita forem realizadas nesses mesmos livros nomes do tipo Caral, Wari, Uru, Nazca, Chavin, Paracas, Chinchorro, Quechua, etc, em nenhum deles provavelmente haverá qualquer citação, pois são povos que floresceram na América do Sul, alguns tão ou mais antigos que as milenares sociedades européias e asiáticas. Na realidade pouco ainda se conhece acerca das culturas que antecederam os colonizadores portugueses, muito menos ainda os primeiros habitantes do altiplano andino, da costa do pacífico e floresta amazônica, que foram sucumbidos pela voracidade destrutiva do invasor espanhol. Tudo o que se aprende nas escolas e de forma resumidíssima são aspectos culturais relacionados aos Tupi guaranis, Astecas, Incas e Maias.
O que restaram dos saqueadores, predadores europeus foram poucos artefatos e ruínas de templos e construções hidráulicas, algumas ainda em bom estado de conservação mesmo tendo enfrentando violentas intempéries. Acredita-se que o motivo da barreira cultural entre os vizinhos de língua espanhola e portuguesa da América do Sul, se deve ao modelo educacional adotado, inspirado em conceitos e valores importados dos Estados Unidos e Europa. Conhecemos muito mais pelas mídias tradicionais e eletrônicas, cidades e pontos turísticos do tipo: Nova York, Londres, Paris, Torre Henfil, Coliseu de Roma, Pirâmides do Egito, etc. Muitos, no entanto, jamais ouviram falar da minúscula e pacata  São Pedro de Atacama, cidade construída no meio do deserto de Atacama, no Chile, que recebe anualmente milhares de pessoas de todo o planeta, e PUNO as margens do Titicaca, lado peruano.
Quando nos referimos a acidentes geográficos como rios que influenciaram ao florescimento de civilizações importantes como a Egípcia, a Mesopotâmica, a Indiana, rapidamente vem à mente os rios Nilo, Tigre, Eufrates, Ganges. Não é mesmo?  Mas se tratando de América do Sul, talvez poucos devam ter ouvido falar dos misteriosos povos NAZCAS, dos seus enigmáticos desenhos gigantes (gioglifos), traçados geometricamente sobre o deserto de Atacama, cujas últimas pesquisas trouxeram revelações surpreendentes. Acredita-se que as linhas e os desenhos traçados tivessem, entre outras finalidades, destacar as fontes de águas subterrâneas.  
É de se imaginar que quando fossem os/as estudantes questionados/as sobre mumificação, não titubeariam em responder que era um ritual religioso recorrente entre os povos egípcios. Certo?  Não saberiam informar que no norte do Chile, há pouco tempo foram realizadas escavações e desenterrados corpos mumificados, cujas datações oscilam entre 6 e 7 mil anos, superando em mais de 2000 mil anos as múmias do Egito. O que perturbou os pesquisadores foi quando constataram que não ocorreu qualquer processo químico na preparação dos corpos. Diferente da mumificação no Egito que teve o emprego de técnicas medicinais, como o embalsamento, para sua preservação.
Na América do Sul, o solo árido e as condições climáticas ideais se encarregaram de mantê-los conservados por milênios. O que é estarrecedor é saber que todo esse magnífico acervo descoberto está se perdendo por negligência das autoridades competentes. Muitas múmias estão sendo atacadas por fungos, por precariedade no sistema de refrigeração dos locais onde estão alocadas.  Além do mais, os reflexos do aquecimento global já estão sendo percebidos nessas regiões onde estão concentrados os monumentos e templos milenares. Áreas que por centenas de anos não caia uma gota de chuva, vem sofrendo com inundações tanto de chuvas torrenciais quanto pelo degelo dos picos nevados.
Crânios e pescoços alongados são exibidos nos livros didáticos de história como rituais egípcios ou de outras culturas africanas. Os Nazcas do altiplano andino também ritualizavam seus crânios. Alguns corpos estavam com olhos vedados com pano e excrementos humanos na boca. E por que será?  Se formos enumerar os importantes feitos e legados deixados pelos povos pré-lusitanos e pré-hispânicos, somente os que habitaram a América do Sul dariam para cobrir dezenas ou até mesmo centenas de páginas de livros e disponibilizados a todas as escolas de ambos os idiomas. Não há dúvidas de que em pouco mais de uma década estaria germinando uma nova geração na América do Sul, com o fortalecimento dos vínculos culturais e econômicos.
Prof. Jairo Cezar   

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