segunda-feira, 2 de maio de 2016

A PALESTINA SE TORNA CADA VEZ MAIS JUDAICA

Mesquita de AL-AQSA

Há menos de dois anos quando visitei Israel e alguns territórios palestinos ocupados, como Jericó e Belém e outras cidades importantes - a própria Jerusalém, a região ainda estava sob os efeitos nefastos da ação armada israelense sobre a Faixa de Gaza, que resultou na morte de milhares de cidadãos e cidadãs. Os territórios da Cisjordânia ocupados, por ter sido palco de fatos históricos importantes para judeus, muçulmanos e cristãos, têm a sua economia basicamente movimentada pelo turismo.
Com os ataques à Gaza, era ínfimo o número de turistas transitando pelas ruas e centros históricos importantes. Na própria Jerusalém, parte antiga, o desespero tomava conta dos comerciantes, disputando aos gritos a atenção dos transeuntes.  Atravessar as fronteiras dos territórios palestinos ocupados como da própria Jerusalém Oriental, onde está o santuário de AL-AQSA, a terceira mesquita mais importante do Islã, requereria certo grau de coragem e sorte. Pois a qualquer sinal de desconfiança, os soldados israelenses não se hesitavam em repreender ou encaminhar à prisão, sem piedade.
Embora o patrulhamento de Jerusalém, como dos demais territórios palestinos estava nas mãos das forças israelenses, a circulação de cidadãos judeus pele região das mesquitas especialmente de autoridades não era tolerada, sendo interpretado como blasfêmia, insulto religioso.  Durante o período que estive no território israelense/palestino, acompanhei através da imprensa local, uma ou duas notícias relatando episódios isolados de violência, envolvendo cidadãos palestinos e israelenses.
A forma pela qual o estado de Israel vem adotando ações cada vez mais restritivas e retaliativos à liberdade de palestinos tem relação com sua política expansionista sionista sobre o território da Cisjordânia. A forte oposição do governo israelense acerca da criação de um Estado palestino autônomo é justificada pelo receio do fortalecimento de grupos ou ações terroristas contra cidadãos israelenses, como o Hamas. Ademais há evidências de que o próprio EI(Estado Islâmico), tenha pretensões claras de expandir o Califado para o sul ameaçando, sobretudo, Israel e a Cisjordânia.
Na última edição da revista Caros Amigos, um artigo publicado pelo jornalista Arturo Hartmann, traz o novo cenário da região que é um tanto diferente daquele  do qual conheci em 2013.[1] No seu texto intitulado A Intifada do Desespero, Arturo discorre da nova geografia política do território israelense e das áreas ocupadas, onde se mostra receoso  com o crescimento da violência contra cidadãos palestinos e a frágil expectativa acerca da criação do Estado Palestino. Relatou o jornalista do extremo rigor nas fronteiras contra cidadãos palestinos especialmente em áreas de assentamentos judaicos. Tais medidas se devem ao fato de ter havido ataques com facas contra solados israelenses. Porém, enquanto os ataques resultaram na morte de 28 israelenses, o número de palestinos abatidos por armas de fogo chegou a 180.
O governo do primeiro ministro Benjamin Netanyahu, deliberou medidas enérgicas para conter ações violentas contra cidadãos judeus, levando à prisão 2.180 palestinos, sendo que 430 eram jovens menores de 16 anos. Ademais, as severas medidas não afetam apenas os suspeitos dos ataques, mas o conjunto da família, ambos sofrendo restrições até mesmo para trabalhar. O cenário um tanto discreto na Jerusalém antiga em 2013, mudou drasticamente de lá para cá. Hoje, qualquer um que circula pelas vielas da cidade ou nos territórios ocupados é vigiado pelas forças de segurança.  Na dúvida o cidadão é interceptado, interrogado, preso. Se a dúvida persistir ou o suspeito vir a fugir, os soldados são autorizados a dispararem para matar.
O grande problema na região atualmente, segundo Arturo, é o  comportamento da autoridade palestina, cada vez mais complacente com os mandos e desmandos israelenses. Há um processo contínuo de domínio cultural, modo de pensar e agir judaico, sobre os cidadãos árabes que habitam a Cisjordânia e Faixa de Gaza. A própria força de segurança palestina vem cooperando com o Estado Israelense, sabotando ataques palestinos contra cidadãos judeus nos territórios ocupados. Os interrogatórios de suspeitos palestinos, pasmem, estão sendo monitorados por soldados palestinos!!  O chefe da autoridade palestina Mahmoud Habbas, seu governo cada vez mais se distancia dos interesses palestinos, se aproximando dos Estados Unidos e de Israel. Um exemplo foi a ação militar contra o Hamas, organização que faz oposição ao chefe da autoridade palestina.
Atualmente a investida do governo israelense é contra ativistas palestinos que procuram mobilizar o povo contra as atrocidades praticadas pelo primeiro ministro israelense. Desrespeitando resoluções internacionais como a própria Convenção de Genebra dos direitos humanos, tais militantes estão sendo deportados para outros territórios palestinos, dentre eles a Faixa de Gaza. A conjuntura política nos territórios palestinos ocupados se tornou mais crítica ainda quando da decisão de Oslo, fragmentando a região em três categorias distintas: Total Controle da Autoridade Palestina; Controle Civil Palestino e de Segurança Israelense e Total Controle Israelense.
Essa decisão é extremamente excludente, pois tenta dividir e enfraquecer ainda mais as expectativas da população sob a ocupação colocando por terra qualquer possibilidade de criação de um Estado palestino Unitário e Independente. Enquanto que anterior a decisão de Oslo, quando cidadãos residentes em Belém ou Hebron, preservavam sua identidade coletiva, com o novo marco divisório, se  intensificará o processo de distanciamento e perda de unidade cultural. Uma estratégia que interessa aos israelenses.
A Cisjordânia, paulatinamente está sendo anexada ao território de Israel, sendo seus moradores convencidos como sendo cidadãos estrangeiros e submetidos a tratamentos brutais. É a continuidade do plano sionista de limpeza étnica, iniciando em 1947 e que está se intensificando com a colaboração de representantes da autoridade palestina beneficiados por benesses econômicas e status de autoridade frente aos organismos de poder internacional.
Prof. Jairo Cezar






[1] A Intifada do Desespero: Um retrato atual da situação nos territórios ocupados. Hortman, Arturo. Caros Amigos – 2016, Pg.- 12 a 14.


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