sexta-feira, 4 de março de 2016

EQUIPE DE PESQUISADORES (AS) DA UFSC E IFSC, VINCULADOS (AS) AO PROJETO VACEA – ADAPTAÇÕES E VULNERABILIDADES A EXTREMOS CLIMÁTICOS, VISITAM ARARANGUÁ.

IMAGEM DO FURACÃO CATARINA (2004)

No dia 01 de março último pela parte da manhã pesquisadores do IFSC e UFSC estiveram na comunidade de Lagoa do Caverá, município de Araranguá, com intuito de dialogar com lideranças da comunidade os problemas locais como a secagem do manancial que são resultantes entre outros fatores das mudanças climáticas globais. Com essa iniciativa o que se pretendem é facilitar a compreensão entre os grupos tradicionais e agricultores o processo de vulnerabilidade climática aos quais estão submetidos e capacitá-los para adaptação minimizando ao máximo os efeitos negativos. O projeto denominado VACEA – Adaptações e Vulnerabilidades a Extremos Climáticos nas Américas, a inclusão do Brasil ocorreu em 2006, cuja assinatura do documento/compromisso ocorreu nas dependências do Campus da UFSC Araranguá. A escolha de Araranguá não se deu de maneira aleatória, pois tem relação direta com os efeitos climáticos extremos na região como o Furacão Catarina em 2004, o primeiro do gênero já monitorado no sul do Brasil, os tornados e enxurradas.
PESQUISADORES DO IFSC E UFSC NA LAGOA DO CAVERÁ

LEVANTAMENTO DO PROBLEMAS RESULTANTES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Por motivos burocráticos o projeto no Brasil ficou alguns anos paralisados enquanto que nos demais países do continente americano os levantamentos já foram concluídos. Atualmente um grupo interdisciplinar liderado pelos professores Natan dos Santos Debortoli, do departamento de Ecologia da UFSC e Michel Nobre Zila do Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis e outros três componentes estão dando continuidade aos trabalhos, iniciados em 2011, com término previsão para 2016. É importante destacar que além do Brasil outros quatro países (Canadá – Argentina – Chile e Colômbia), também foram contemplados, entre 120 propostas avaliadas. Para a execução do projeto os recursos foram financiados pelo Conselho de Pesquisadores em Ciências Humanas do Canadá, cuja sigla é IRIACC (International Research Initiative to Climate Change). Na realidade além do projeto em execução nas américas, outros quatro estão distribuídos na África e Ásia, todos focados na problemática climática.
Antes de discorrer com mais detalhes todo o trabalho que foi desenvolvido pelos pesquisadores na região de Araranguá, com destaque ao micro ecossistema  Lagoa do Caverá, convém fazer algumas reflexões das ações já desenvolvidas em âmbito global, nacional e locais, cujos resultados convergiram para que projetos como o VACEA (extremos climáticos)  fossem executados.  Com a constatação de que uma diversidade de ecossistemas espalhados pelos quatro cantos do planeta apresentavam indicadores cada vez mais nítidos dos efeitos do aquecimento global, organizações ambientais, instituições de pesquisas e governos, iniciaram as primeiras mobilizações e encontros intergovernamentais para tratar do tema aquecimento e seus impactos no clima. Muitos dos encontros ocorridos na época com na atualidade são coordenados pela ONU, com vistas a debater e levantar proposições capazes de reverter o imenso abismo climático que compromete tanto a existência humana e as demais espécies vivas.

IMAGEM DO GOOGLE EARTH - LAGOA DO CAVERÁ

Nesse sentido, embora outros encontros sobre meio ambiente tenham ocorridos ainda na década de 1970, á década de 1980 em diante as iniciativas relacionadas ao clima foram mais frequentes. Em 1988 ocorreu o primeiro IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change) - Painel intergovernamental sobre mudanças climáticas, já com a intenção de intensificar os diálogos entre os países signatários e a elaboração de planos contendo informações confiáveis sobre alterações de ecossistemas resultantes das mudanças do clima. Nessa perspectiva de buscar cada vez mais o fortalecimento dos trabalhos coletivos, bem como o lançamento de protocolos ratificando compromissos de ambas as partes, o Rio de Janeiro sediou em 1992 da primeira conferência mundial sobre o clima, a RIO-92.  A partir da Eco-Rio, inúmeros acordos ou protocolos foram ratificados como o Protocolo de Kyoto, Japão, em 1997. Além da COP (Conferência das Partes) realizada em Kyoto, em 1997, outras 20 conferências ocorreram anualmente em países distintos, sendo que os resultados são ainda poucos expressivos no que tange a segurança climática do planeta. A última COP, a 21, teve como cidade sede Paris, encontro realizado em dezembro de 2015.[1]
Em âmbito de Brasil, no ano de 2009, foi aprovada a Política Nacional de Mudanças Climáticas, que estabeleceu planos conjuntos entre os vários atores sociais para limitar ao máximo os efeitos do aquecimento global. Essa resolução, sua elaboração, teve como documento de apoio o terceiro relatório da IPCC (2001) que propôs entre outros fins, a busca de ações mitigatórias dos efeitos climáticos. Tradicionalmente os planos de gestão de políticas que tratam de ações ambientais ou outros temas afins sempre tiveram os governos como principais articuladores, excluindo os demais atores sociais do processo. O resultado, portanto, sempre foi aquém das expectativas, muitas vezes pela própria incompreensão dos fatores motivadores dos fenômenos sociais e biológicos. Criar novas estratégias políticas com ampla participação de universidades, instituições de pesquisa, organizações não governamentais, entre outros, bem como a compreensão da dinâmica das comunidades tradicionais e rurais afetadas por problemas, tornou-se necessário, resultando no aumento de participantes comprometidos com as ações tomadas.
ÁREA ANTES OCUPADA PELA LAGOA DO CAVERÁ

VOLUME DE ÁGUA DA LAGOA DO CAVERÁ CONTINUA BAIXANDO


Políticas de governança, gestão compartilhada entre outros conceitos até então pouco conhecidos do público, passaram a fazer parte do vocabulário de organizações e de atores sociais que progressivamente vão ocupando mais espaços de participação e compartilhando decisões como dos comitês de bacias hidrográficas, função que algum tempo atrás era de exclusividade do Estado, geralmente nem o próprio estado geria de modo confiável. Convém esclarecer que não há qualquer pretensão aqui de defender a ideia de Estado Mínimo segundo a lógica neoliberal. Muito pelo contrário, a intensão é o fortalecimento ainda maior dos poderes públicos constituídos, porém, garantindo ao mesmo um caráter mais democrático, de gestão horizontalizada, envolvendo todos os seguimentos da sociedade civil e iniciativa privada.

PESQUISADORES FICARAM APREENSIVOS COM A SITUAÇÃO DA LAGOA DO CAVERÁ

Acompanhando a visita dos pesquisadores envolvidos no projeto VACEA – Adaptações a Vulnerabilidade a Extremos climáticos à comunidade de lagoa do caverá, a escolha da região como um dos objetos da pesquisa se encaixa perfeitamente com os objetivos pretendidos que é fomentar estratégias de adaptação em zonas rurais atuando em forma transversal em parceria com os outros países envolvidos no projeto.  A resposta dada pelo entrevistado sobre o manancial lagoa do caverá, que vem perdendo diariamente volume expressivo de água, disse que um dos principais vetores do impacto da lagoa foi o furacão Catarina que alterou significativamente toda a dinâmica do curso natural da lagoa.

Além do mais citou os vários movimentos e ações que foram encaminhados nos últimos anos com o envolvimento de diversos atores sócias, e que infelizmente não tiveram qualquer resultado capaz de minimizar o drama vivido pela lagoa. Disse que vários projetos sustentáveis poderiam estar sendo implantados na região aproveitando as potencialidades naturais para dinamizar a economia como a piscicultura em tanques e o turismo rural.  No entanto, nada disso é possível pelo fato da limitação progressiva do volume de água da lagoa, cujo nível médio atual pouco supera os 40 cm. Isso que há pouco mais de duas ou três décadas a profundidade máxima do manancial era de aproximadamente três metros.  Relatou também que em 2005 a região foi enquadrada no projeto Micro bacia II, uma iniciativa estadual cuja proposta era a articulação de políticas visando adaptar a população a um novo ciclo econômico em substituição a atividade do tabaco.
LAGOA DO CAVERÁ SOFREU OS EFEITOS DO FURACÃO CATARINA

NÍVEL MÉDIO DE ÁGUA DA LAGOA POUCO ULTRAPASSA OS 40 CM
    
A produção de leite, milho e mandioca se caracterizaram como atividades alternativas, porém, com o fim do projeto Microbacia, os agricultores se sentiram abandonados tendo que arcar com suas atividades sem qualquer apoio dos órgãos governamentais. O outro cidadão que acompanhava o grupo discorreu que o furacão Catarina não pode ele só ser responsabilizado pela situação caótica da região. São inúmeros os fatores impeditivos para a solução dos problemas da lagoa, pois a recuperação do manancial compromete interesses individuais, beneficiados com a atual realidade. O próprio poder público e seus inúmeros seguimentos tanto em escala local como estadual pouco empenho vem disponibilizando para o salvamento da (as) lagoa (as).

REUNIÃO PARA TRATAR AÇÕES SOBRE PROJETO MICROBACIAS II

Acredita-se, segundo respostas proferidas pelo cidadão entrevistado, que também é integrante do comitê da bacia do rio Araranguá, que o tratamento inexpressivo dado à lagoa, tem relação com a sua posição geográfica, cuja vazão vai em direção à bacia do rio mampituba. Pelo fato da bacia do rio mampituba ter o seu comitê já constituído, isto é, apenas no lado gaúcho, o complexo lagunar lagoa do caverá e do sombrio fica a mercê dos mandos e desmandos de grupos políticos profissionais do sul catarinense que se beneficiam eleitoralmente do problema.
Durante uma das assembleias do comitê da bacia do rio Araranguá foi aprovada decisão de criação de uma comissão pró-lagoa do caverá com autonomia de participação das reuniões e discussões em defesa da lagoa. Mesmo com todos os esforços, os resultados até o momento foram pouco expressivos. Porém, depois da realização do encontro do comitê do mampituba em Torres/RS, no último dia 25 de fevereiro, com a participação de integrantes do comitê Araranguá e autoridades dos municípios do lado catarinense, as impressões foram as mais otimistas, pois se acredita que com a criação de um comitê compartilhado poderão, finalmente, as lagoas do caverá e do sombrio, conquistarem suas identidades próprias e lutarem conjuntamente pela sua salvação.

REUNIÃO EM TORRES PARA TRATAR SOBRE COMITÊ MAMPITUBA COMPARTILHADO

É preciso, portanto, nessa nova dinâmica de adaptação das populações as vulnerabilidades climáticas extremas, que seja fortalecida a integração de todos os atores em ações coletivas dando-lhes sentido de pertencimento. Para isso é necessária reverter o vazio pedagógico que ainda insiste permanecer em programas e projetos, criando obstáculos, dificultando a comunicação e compreensão por parte das populações leigas, das propostas apresentadas por acadêmicos e cientistas, cujas linguagens são incompreensíveis. Não é possível avançar enquanto houver o abismo entre o saber científico e o tradicional. É com base no saber tradicional, empírico, que será possível cruzar informações, com resultados mais assertivos e oferecendo as comunidades condições ideais de governança e autonomia na condução de suas vidas.
O que talvez os pesquisadores não saberão depois de concluído os trabalhos investigativos na região, é que doze anos depois do episódio do furacão catarina, inexpressivas foram as ações ou programas governamentais que oferecessem à comunidade informações mais fidedignas sobre os efeitos das mudanças climáticas no cotidiano das populações.  Embora não tenha ocorrido nenhuma fenômeno extremo na proporção do catarina depois de 2004, outros fenômenos climáticos extremos como enxurradas, tornados e longas estiagens continuaram trazendo transtornos e preocupação. Não houveram durante esses doze anos qualquer programa de treinamento à população com intuito de capacitá-las para agir na hipótese de ocorrer outro fenômeno extremo como o furacão catarina.  
Sobre o monitoramento climático na região que sofreu os efeitos do furação, há poucos anos foram instalados, através de iniciativa do comitê da bacia do rio Araranguá, 33 estações meteorológicas com custo aproximado de cada equipamento de 30 a 40 mil reais.    No final de 2015, em assembleia do comitê realizada no CETRAR/EPAGRI – Araranguá, informações deram conta que três ou quatro estações estavam funcionando parcialmente. O que causou indignação foi que durante os dois anos de estiagem, 2011 e 2012, que assolou a região, não foram feitas coletas dos índices pluviométricos e outros dados que seriam importantes para uma compreensão mais precisa do ambiente regional.[2]

Prof. Jairo Cezar
   




[1] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/2016/01/cop-21-encontro-das-partes-sobre-oclima.html
[2] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/2015/06/municipios-que-integram-o-comite-da.html






















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