sábado, 19 de março de 2016

INSTITUIÇÕES SE TRANSFORMAM EM "BIG BROTHERS" DE CONTROLE SOCIAL


Indiscutivelmente o ser humano é entre os milhares de espécies de animais existentes o que apresenta algumas peculiaridades que dependendo das circunstâncias pode levar a extinção todos os ecossistemas. Não há como negar que numa pequena fração do tempo geológico, pouco mais de dois milhões de anos, conseguiu desenvolver certas habilidades cognitivas, transformando o mundo e a si mesmo. Desenvolveu também peculiaridades importantes como o poder do livre arbítrio de decidir, de escolher caminhos, transpondo barreiras para atingir a “felicidade plena”. No entanto, são esses e outros adjetivos que lhe confere a capacidade singular de se constituir como humano construtor de cultura. Não se caracteriza como ser vivo absolutamente biológico/instintivo, conferido às demais espécies de mamíferos.
Um aspecto necessário para tornar o humano humanizado é a sua natureza livre, capacidade de se auto determinar, de ajustar-se seguindo normas que limitam ou disciplinam sua mobilidade territorial e o convívio social.  Controlar passos, comportamentos espontâneos, ou seja, o próprio ritmo moral, sexual, afetivo, religioso, político, etc., tornou-se obsessão coletiva. É a força do inconsciente coletivo ditando o comportamento, moralmente aceitável, no interior dos micros espaços. Isso não é um ato espontâneo, despretensioso, segue padrões meticulosamente pensados, dando forma e ritmo aos movimentos das massas, conforme os interesses dos donos do poder.
 Nos séculos XVIII e XIX, construiu-se um arcabouço social e arquitetônico que conferia ao Estado (Big Brother) o principal agente disciplinador. No entanto, tal processo ocorria em todas as estâncias, no lar, na fábrica, na escola, no hospital, no asilo e na própria instância do Estado, conferida ao rei ou monarca, presidente, primeiro ministro, etc. Ninguém estava imune ao olhar vigilante. Porém, nesse ambiente havia o desperdício exacerbado de energia, podendo ser canalizado para elevar a produção e desejo de consumo. Era necessário, portanto, estabelecer padrões sociais, moralmente aceitáveis coletivamente, incorporando sensações de liberdade, felicidade, de expectativa de sucesso pleno.    
Esses micros mecanismos de controle social atuam de forma avassaladora no inconsciente individual e coletivo, pluralizando corpos, úteis ao processo produtivo. Em um sistema econômico perverso como o capitalismo de consumo, as frequentes crises sistêmicas aumentam a sensação de insegurança afetando a própria estrutura produtiva e o status quo social, sem se dar conta que essas instabilidades são resultados do modo como a sociedade se constitui. A consequência de tudo isso são as mobilizações sociais reivindicando maior participação do Estado em políticas de proteção. Porém, com raras exceções, tais manifestações não tem um caráter revolucionário, transformador. São massas reivindicando mais liberdade para consumir, mantendo em pleno funcionamento a engrenagem desse grande relógio chamado mercado.
Não dando conta de suprir tais demandas, como de assegurar a segurança individual e coletiva, o que deveria ser uma das prioridades, o Estado transfere essa atribuição ao seguimento privado, que vislumbra no horizonte uma extraordinária reserva de mercado com lucros bilionários. Por trás do aparente objetivo que é proteger o patrimônio e os próprios sujeitos, os novos instrumentos de controle social, os famosos Big Brothers eletrônicos, se encarregam de exercer papéis psicossociais de extraordinária relevância.
Muitas foram as obras literárias de ficção produzidas, que se transformaram em roteiros adaptados de filmes excelentes como a Lei de Truman; 1984, de Jorge Orwell, entre outros, onde deram demonstrações nítidas do modo como os humanos “livres” viveriam no futuro. E o futuro, portanto, são os “olhos eletrônicos”, câmeras espalhados por milhares de ruas, empresas e demais instituições sociais como asilos, hospitais, presídios, escolas, entre outros espaços vigiados vinte quatro horas.

Imagem - Jornal Enfoque Popular 

Quando vigiados se tem a sensação que alguém está policiando, monitorando, ou seja, “protegendo” através de grandes monitores distribuídos em um único lugar. Ao mesmo tempo em que se utiliza como justificativa da instalação desses sistemas de vigilância eletrônica a garantia de proteção, subliminarmente vai se construindo novos sujeitos, guiados por forças onipotentes e onipresentes, no qual passam a moldar atitudes, sentimentos, em conformidade com preceitos ditos como ideais do Deus mercado.
A verdade é que quando não questionados sobre os impactos desses dispositivos de controle para suas vidas individuais, a sociedade irrefletidamente aprova, acreditando que lhes dará maior segurança. A própria escola que se constitui como espaço laico, de liberdade, de ausência de vigilância para que cada indivíduo desenvolva suas habilidades cognitivas, afetivas e psicomotoras, vem se constituindo dia após dia em um ambiente de absoluto controle.
Os corredores, pátios de escolas, que historicamente se definiram como ambientes de manifestações espontâneas transformam em lugares cujo olhar eletrônico, a câmara instalada num canto qualquer, impõe padrões de comportamento. Qualquer um que se opor ao status quo estabelecido, será interceptado e sugerido que se adeque às leis, aos regimentos, aos bons costumes e ao slogan descrito na bandeira nacional que determina ordem e progresso. 

Prof. Jairo Cezar                

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