sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

ENCONTRO DEBATE POSSÍVEL CRIAÇÃO DE COMITÊ COMPARTILHADO DA BACIA DO RIO MAMPITUBA ENTRE RIO GRANDE DO SUL E SANTA CATARINA


Área de abrangência da Bacia Hidrográfica do Rio Mampituba

O dia 25 de fevereiro de 2016 pode certamente entrar para o calendário do Extremo Sul do Estado de Santa Catarina como data histórica em termos de comitês hidrográficos, pelo fato de autoridades e representantes da sociedade civil do estado gaúcho e catarinense terem se reunido no parque da Guarita, Torres, para debater  assuntos relativos a integração dos dois estados a  bacia do Rio Mampituba. Nas falas proferidas pelos integrantes do comitê, lado gaúcho, a impressão que ficou foi que a não homologação da integração se deveu a irresponsabilidade do governo catarinense por não ter concluído inúmeros quesitos necessários como a conclusão do plano de bacia, iniciativa  já concluída no Rio Grande do Sul.



Na fala do presidente do Comitê Urussanga e do Fórum Catarinense de Comitês, o mesmo afirmou que a gestão da água no estado ainda é um sonho e que é necessário avançar. Quanto ao Comitê do Mampituba, disse que os técnicos de Florianópolis afirmaram que o comitê do rio Araranguá seria um braço do mampituba. O fato é que a bacia hidrográfica do mampituba abrange uma área geográfica de 1.927 km², sendo que 60% do total, 1.224 km², está situada em território catarinense. Isso já seria um dos motivos para que o comitê compartilhado fosse criado. No entanto, as discussões para sua criação vêm se arrastando há 16 anos, sem sucesso. Durante esse período, o lado gaúcho decidiu em 2013 por criar o comitê compartilhado estadual envolvendo os municípios de Torres, Cambará do Sul, Morrinhos do Sul, Mampituba, Dom Pedro de Alcântara, Três Cachoeiras e Três Forquilhas.



A questão da bacia do rio mampituba é extremamente complexa e preocupante, pelo fato da mesma aprestar elevados índices de contaminação proveniente de fatores diversos como agrotóxicos e resíduos orgânicos urbanos e industriais. No lado gaúcho várias iniciativas vêm sendo desenvolvidas como forma de minimizar a degradação do manancial, dentre eles as políticas de incentivo à agricultura orgânica e a ampliação das redes de tratamento de esgotos que já é  uma realidade no município de Torres, embora não abrangendo toda área urbana.
Para entender a questão dos comitês e sua criação tanto em rios federais como estaduais é necessário compreender o que determina a lei n. 9433/97 que trata sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos. O objetivo da lei era impor que todos os rios brasileiros fossem geridos por comitês. No entanto, o MMA (Ministério do Meio Ambiente) concluiu que o órgão federal não teria fôlego suficiente para viabilizar toda a demanda necessária.


Como medida paliativa foi emitida resolução por parte do Conselho Nacional de Recursos Hídricos autorizando a criação de comitês onde o processo de gestão fosse compartilhado, ou seja, no caso do mampituba, que tanto o lado catarinense como o do rio grande, ambos criariam seus comitês locais, cujos documentos seriam apresentados ao Ministério do Meio Ambiente para a homologação de um comitê federal, gerido pelos dois estados. O Rio Grande do Sul cumpriu com o acordo, enquanto que o estado catarinense, não.
A preocupação, portanto, do comitê foi com relação ao lado catarinense onde nenhum programa oficial semelhante ao do rio grande do sul foi ou vem sendo aplicado. Há evidências com base em estudos que o complexo Lagoa do Sombrio é um dos vetores poluidores da bacia cujos esgotos oriundos de cidades margeantes são lançados na lagoa e o destino final é o rio mampituba.[1]  
Na fala do presidente do comitê da bacia do rio Araranguá, o mesmo citou as peculiaridades da bacia do rio Araranguá, destacando a parte norte que sofre os impactos da mineração de carvão e parte sul densamente ocupada pela agricultura de irrigação. Nesse aspecto, a parte sul, rizicultura, muito se assemelha com a parte gaúcha. Citou o ambientalista Tadeu dos Santos, afirmando que quando coordenava o comitê sua preocupação era com o plano de bacia do rio Araranguá. Relatou também que há pouca disponibilidade de informações sobre as ações do mampituba, que tais dados seriam importantes para iniciar as discussões para uma possível integração dos comitês.


O professor Fernando Meireles do DRH (Departamento de Recursos Hídricos) do Rio Grande do Sul expôs as experiências existentes sobre comitês envolvendo rios nacionais e internacionais, que em 2005 a Agência Nacional de águas afirmou que o rio mampituba não estava entre as bacias prioritárias para a criação de comitês. Porém, em 2009 as discussões sobre o comitê foram restabelecidas, que o processo não avançou porque o estado de Santa Catarina não cumpriu o seu papel.


José Carlos Virtuoso, coordenador do Fórum Catarinense de Comitês de Bacias,  manteve sua posição insistindo da necessidade de um plano de gestão dos recursos hídricos no estado de Canta Catarina, como forma evitar problemas hídricos semelhantes ao que está acontecendo no estado de São Paulo, comprovadamente motivado por falta de gestão. Como um dos encaminhamentos foi decido que será realizado um seminário em data a ser marcada com objetivo de discutir os passos que resultarão na criação do comitê federal do Mampituba compartilhado pelos dois estados. No final do encontro foi criada uma comissão de integrantes do lado catarinense onde se reunirão no dia 07 de maço de 2016, quinta feira, nas dependências do salão de festas da Igreja Matriz de Sombrio, para definir ações que encaminharão no seminário conjunto.
O que preocupa quanto a iniciativas tão importantes como essa, que poderá resultar em soluções definitivas para problemas quase crônicos como a secagem da Lagoa do Caverá, é a insistente ausência nos encontros de representantes dos poderes públicos constituídos do município de Araranguá. Ausência como do dia 25 de fevereiro de 2016 em Torres, ocorreu em dezembro de 2014, no município de Sombrio, quando da realização de audiência pública coordenada pela Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, para discutir soluções para o complexo lagunar extremo sul de Santa Catarina.[2]    


Prof. Jairo Cezar



http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/2014/12/audiencia-publica-no-sombrio-revela.html


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