sexta-feira, 30 de outubro de 2015

PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO E DE CARREIRA SEGUE A AGENDA EMPRESARIAL TODOS PELA EDUCAÇÃO

Durante a realização do Terceiro Encontro Internacional de Educação ocorrido na sede da FIESC, Florianópolis, ficou compreensível, na fala dos palestrantes, que as futuras políticas educacionais ou reformas em curso têm como desígnioajustar o ensino e a carreira docente seguindo aemergente ordem capitalista global. A proposta Todos Pela Educação, engendrada efinanciada por organismos financeiros internacionais, dentre eles o Banco Mundial, no Brasil vem seguindo umementário empresarial que envolve setores da sociedade na tentativa de reverter o quadro vergonhoso do país em educação junto aos BRINCS, bem como entre as nações melhores avaliados do PISA. Nesse quesito, em 2014, dos 65 países avaliados, o Brasil ficou em59ª colocação.
As reformas educacionais em andamento no Brasil, já contemplamcom as demandas recomendadas pelas agencias financiadoras. A idéia, portanto, é fazer com que todo aparato educacional, financiamento, currículo e gestão, se submetam a um amplo programa de reformas estruturais consideráveis, absorvendo metodologias e estratégias,equivalentesàs adotadas pelobloco empresarial. A agenda governamental, todo pela educação tentatrabalhar a necessidade de inserir nos ambientes escolares, paradigmas organizacionais de base produtiva.
Se os meios de produção são auto reguláveiscom base nas lies do mercado, a relação oferta e procurana educação deve seguir os mesmosprincípios. Portanto, a maior ou menor disponibilidade de recursos financeiros para a educação deverá pautar-se seguindo padrões estatísticos de avaliação e cumprimento de metas de desempenho. Nessa direção, não é o Estado que decidirá qual a escola que permanecerá funcionando ou não, mas o próprio mercado regulador.
Convém salientar que o projeto empresarial educacional vem sendo aplicado no Brasil há algum tempo, cujos resultados são perceptíveis em algumas como o Plano Nacional de Educação aprovado em 2014. Na sequência das reformas previstas, o curricular será a bola da vez.O Plano Nacional de Educação, dividido em 20 metas e estratégias, apresenta no seu bojo os dispositivos de uma profunda reforma educacional, na qualseguirá à risca as recomendações dos seguimentos neoliberais.
Analisando atentamente o modo como foi debatido a educação no encontro na sede da FIESC, o que chamou atenção foi a comportamento dos convidados, como do secretario da educação do estado, que esboçava enorme satisfação de ter como parceiro o setor empresarial catarinense apoiadoàreforma educacional em curso. Antes da sua fala, o presidente da entidade anfitriã explicitou a situação de vulnerabilidade do setor produtivo,pelo fato do desalinhamento entre o seguimento empresarial e estatal. Reiterou anecessidade urgente de construção de uma agenda desenvolvimentista para o estadopara os próximos anos.
Segundo o presidente da FIESC, embora o Brasil se desponte entre as dez maiores economias do planeta, vem se posicionando entre os últimos, numa lista de 100 países, no que tange a qualidade educacional. Para reverter esse quadro negativo é necessário fortalecer a participação das famílias no processo educacional, inteirando com os filhos o cotidiano das escolas, compartilhando com as tarefas e os temas diário dos seus filhos. Além do cumprimento do currículo base, o emprego de novas tecnologias se constitui como ferramenta complementar da educação. O caminho para alavancar o desenvolvimento se dá através do investimento na formação do cidadãocomeçando na tenra idade. Quanto as novas competências no setor educacional, importante trazer para o debate institucionalexperiências inovadoras e o intercâmbio com países que avançaram obtendo excelentes índices de desenvolvimento graças aos investimentos em educação.
Ressaltou as experiências de parceria entre o setor público e privadoemescolas públicasenvolvendo jovens empreendedores. São ações arrojadas que deverão servir de modelo para outras unidades de ensino. Os jovensenvolvidos com tais ensaios foram contemplados com o título de embaixadores da educação. Afirmou que tanto os jovens como os professores deveriam ser mais ouvidos sobre as estruturas educacionais e os possíveis caminhos para superar as dificuldades. A criação das câmaras regionais nas dezessete instâncias empresariais do estado segue adiretriz educação/empresa envolvendo vários seguimentos da sociedade no debate sobre qualidade da educação. Dentro das temáticas elencadas pela federação das indústriasvisando alavancar a educação nos próximos três anos, o jovem foi escolhido para 2015,gestão das escolas para 2016e o professor para 2017.
Nesse contexto, o discurso do presidente da FIESC esteveestreitamente alinhado com que estabelecem os documentos, planos e políticas educacionais debatidas e aprovadas nas diferentes instâncias dos poderes em âmbito federal, estadual e municipal. Uma reforma educacional estrutural, que restringe ainda mais a participação do Estado como principaldirigente fomentador. Em contrapartida, o setor empresarial vai se consubstanciando como gestor cada vez mais presente, determinando, monitorando e classificando as instituiçõesde ensino segundo suas competências.
Pautada nessa premissa empresarial, a reforma educacional catarinense protagonizada pelo principal articulador, o Secretário da Educação Eduardo Deschamps, durante sua fala não demonstrou qualquer constrangimento em ratificar que o projeto de carreira do magistério estadual visa, sobretudo,regular a escola pública seguindo a agenda empresarial. Relatou, durante sua fala, que Santa Catarina se desponta, entre os estados da federação, como um dos melhores indicadores na área da alfabetização. Concordou que o Brasil ainda apresenta uma estrutura física e organizacional que remonta oséculo XIX, que é necessário trazê-la para o século XXI. Além de priorizar a formação e qualificação dos professores, defendeu a necessidade deuma ampla reforma do ensino médio, bem como na gestão escolar.
O secretário Deschamps seguiu o mesmo raciocínio do presidente da FIESC quando enfatizou que para 2016 o empenho será apontado para agestão das escolas, seguindo o movimento “indústria pela educação”. Outrafeição que também será privilegiadaé o investimento no currículo de base nacional comum. Certificou que os programas são ferramentas importantes no processo educacional, pois define exatamente aquilo que os jovens devem aprender. Entretanto, o resultado ou o bom desempenho pedagógico na sua aplicação depende de bons professores no âmbito das escolas. Reafirmou a necessidade de trazer a escola para o século XXI, de inseri-la no contexto das novas tecnologias, dando um salto de qualidade, para avançar mais rápido na perspectiva de um país mais justo com desenvolvimento sustentável.
Na sequência, após a fala do secretário, o professor da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Castello Branco,reafirmouque o projeto de reforma educacional brasileira deveráatender as necessidades do mercado, que o problema da educação pública está na má qualificação dos seus gestores e professores, cujo treinamento se constituirá como o caminho mais curto para o bom desempenho do ensino. Não comunga com a tese de que maior disponibilidade de recursos seja sinônimo de boa educação.
Admite que no Brasil o coeficiente custo aluno é considerado um dos maiores do mundo, porém, o problema está na má gestão dos mesmos, não sendo aplicados como deveriam, são desperdiçados. Se o problema está na má gestão, é necessário investir em treinamentos ou capacitação, tornando-os empreendedores de sucesso. Além de priorizar investimentos no ensino infantil, o professor concorda que é importante e necessária uma boa infraestrutura física, cujas turmas devam ser menores, com professores bem treinados, premiando-os conforme o desempenho.No entanto não relutou em afirmar que no Brasil os professores do ensino fundamental são mal preparados.
Ousou até em dizer que se fossemaplicadas aos professores do nível fundamental as mesmas provas destinadas aos estudantes, muitos seriam reprovados. É preciso professores melhores treinados para poderem treinar melhor as crianças, ressaltou o professor da FGV. Quando apontou a importância de investimentos no ensino infantil, seu argumento se deu pelo fato de que as crianças devem desde pequenas serem moldadas para o mundo do trabalho. Todo o trabalho lúdico não cognitivo como brincadeiras, projetos de arte, grupos, playground já deve procurar replicar o ambiente do mercado de trabalho.
São atividades simples que começam a desenvolver nas crianças habilidades como perseverança, responsabilidade, troca de ideias, pequenas experiênciasimportantes para seu futuro no mundo do trabalho. Defendeu que essas experiências não fiquem no ensino infantil, que se expanda para o ensino formal, no ensino da ciência, matemática, etc.Refletindo o que falou o professor Roberto realçando o que deve ser ensinado às crianças desde os primeiros anos de vida, a mobilização do dia 22 de outubro envolvendo as redes de ensino para discutir proposições relativas à base curricular mínima,já é o prenúncio de uma grande reforma curricular que estabelecerá parâmetros sobre o tipo de conhecimento a ser aprendido nas escolas.
As exposições de experiências educacionais inovadoras de países com elevados índices em IDH, como a Finlândia, mostraram a todos os presentes que o segredo do sucesso está na valorização e qualificação profissional do corpo docente, bem como na correta aplicação dos recursos. O sucesso da Finlândia é recente, depois da segunda guerra mundial o país se despontou como um dos mais pobres da Europa. Era preciso recuperar a estima do povo e o caminhofoi à educação que se transformou em política de Estado e não de governo.
O currículo sempre teve extraordinária importância no processo, pois desde o começo seu foco esteve centrado na flexibilidade e autonomia. No lugar das disciplinas se fala nas habilidades, na inter-relação entre as várias ciências na discussão e solução de problemas. O país apresenta a menor carga horária escolar do planeta, porém, no curto período em sala de aula os estudantes desenvolvem suas habilidades intelectuais com formidável presteza. Estendero tempo da criança em sala de aula não significa que proporcionará bons resultados. O foco está em como o tempo será utilizado, maximizando os resultados. Um dos orgulhos do povo finlandês é o professor, que adquiriu o mesmo status de profissões como médicos, engenheiros, etc. Esse é um fator preponderantedo sucesso educacional, quanto maior a autoestima do trabalhador da educação, melhor serão os resultados educacionais.
Na escola, a relação professor/estudante ocorre por mediação, ou seja, é função do professor facilitar os estudantes a trilhar os caminhos para que os leve a conquista da autonomia, da independência. Quanto mais autonomia tiver para supressão de barreiras, mais capacitado estará para enfrentar os desafios profissionais e pessoais. Na área produtiva, o ensino técnico, desde o princípio,o estudante passa ter contato com o ambiente prático da empresa, cujos objetivos da educação profissional são definidos conjuntamente com o mundo do trabalho. Todo o estudo, tanto teórico quanto prático, ocorre quase na sua totalidade no interior da empresa.Nas escolas finlandesas, todas públicas, o currículo, que inclui as ferramentas digitais, os estudantes tendem a desenvolver além de habilidades intelectuais, uma extraordinária compreensão crítica do mundo que os rodeia. O gosto, a paixão, o prazer de aprender é outro elemento intrínseco à cultura finlandesa.
PROF. JAIRO CEZAR

2 comentários:

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    1. Prof. Pedro Paulo de Miranda (Passageiro)

      Amigo, Magrão!

      A Finlândia substitui a competition (Global Educational) pela collaboration (The Finnish way), porém, não é o que se observa na corrida de formula 1, envolvendo dois Finlandeses natos, ou seja, o “duelo” hostil entre Bottas e Räikkönen. A dupla consegue bater todos os recordes, pois duas entre três corridas se envolveram em acidentes, com flagrante demonstração de uma competição selvagem entre ambos. Observe, o risco de vida na corrida de formula 1 é altíssimo, mesmo com toda a tecnologia/inovação. Talvez não exista relação entre isso e aquilo ou, a ilustração seja exceção à regra, contudo, contribui para pensarmos os modelos que consideramos ideais. Ainda, quem sabe, funciona muito bem para os seus mais de 5 milhões de habitantes, mas quando extrapola o mundo Finlandês, “o bicho pega”. Acredito que as resposta para as nossas indagações estão mais próximas que poderíamos imaginar, pois parafraseando o filósofo e cantor Paulinho da Viola, “As coisas estão no (nosso) mundo só que eu preciso aprender”. Com permissão, o grifo é meu.

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