A PL 2159/21 QUE ABRIRÁ A PORTA DO INFERNO À DEVASTAÇÃO DO QUE AINDA RESTA DOS BIOMAS BRASILEIROS.
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Faltando seis meses para a 30
Conferência das Partes, COP-30, sobre o clima global, que ocorrerá em Belém,
capital do Pará, e depois da realização da 5 Conferência Nacional do Meio
Ambiente, que reunião centenas de delegados/as dos 26 estados e o distrito
federal, em Brasília, nessa quarta-feira, 21 de maio, a sociedade brasileira foi
impactada com a bombástica votação e aprovação no senado federal do PL 2159/21,
que trata sobre o Marco Legal do Licenciamento Ambiental. O que os 54 senadores
aprovaram mesmo foi suprimir todos os obstáculos possíveis à aprovação de
projetos que favoreçam grandes empreendedores, que agora poderão executar obras de
risco ambiental sem a necessidade do cumprimento de trâmites burocráticos
ambientais necessários, como vinham ocorrendo.
Durante a tramitação no sedado, me
dispus a assistir as falas dos senadores, analisando seus argumentos acerca da
proposta. Quase todos que se pronunciaram, vinculados aos partidos de
tendências conservadoras, trataram a senadora e ex-ministra da agricultura, Teresa
Cristina, relatora do projeto, como uma divindade, por ter posto na pauta o projeto
de lei 2159/21, que ira, na visão desses senadores: “cerrar o cadeado ambiental”;
“que prevalecerá o bom senso à insanidade”; “que tornará o ser humano mais importante
que formigueiros”; “que o índio será protagonista de sua história”, etc, etc.
Isso mesmo, argumentos insanos, de quem está ocupando uma vaga tão
importante, porém, defendendo explicitamente interesses dos seus pares,
pecuaristas, mineradores, empresários do segmento imobiliário e turístico, todos
esperando uma brecha para a abertura da "porteira do inferno" para passar a boiada dos seus empreendimentos.
Um dos senadores que se pronunciou, solicitando que fosse feito alguns adendos no escopo do projeto principalmente
no Art. 21, foi Fabiano Contarato, do PT do Espírito Santo. Disse ele que é um
equívoco da relatora, incluir no texto a autodeclaração de licenças ambientais
para projetos de “médio impacto” ambiental.
Na realidade o que se fez mesmo foi retirar competências do órgão
ambiental federal, o IBAMA, para muitos licenciamentos, transferindo responsabilidades
para as esferas estaduais e municipais, que como se sabe, muitos dos seus
chefes superintendentes são indicações políticas dos governadores e prefeitos.
Uma das proposições incluídas no novo
texto do PL foi o Licenciamento por Adesão e Compromisso – LAC, onde permite
que o interessado na execução de alguma obra de baixo ou médio impacto
ambiental, possa lavrar pedido com o próprio punho e encaminhar ao órgão
ambiental, informando que se comprometerá em cumprir com todas as regras
ambientais. É tolo quem acredita que fazendo a autodeclaração ou autolicenciamento
ambiental, o solicitante cumprirá à risca os requisitos obrigatórios para
evitar danos ambientais.
O que se sabe é que teremos uma
miscelânea de órgãos licenciadores, dentro do próprio estado, de um lado, o
órgão ambiental estadual e centenas de outros, teoricamente menores, nos
municípios, que poderão também conceder licenças para empreendimentos de “médio
porte”. Um exemplo para elucidar é a proposta de fixação da barra do rio
Araranguá, projeto diagnosticado pelo IBAMA, que decidiu vetar por considerar
ambientalmente inviável. Com a nova regra geral de licenciamento, a obra pode
ser classificada como de baixo impacto ambiental, tendo, portanto, o órgão
ambiental estadual ou municipal, como entidades licenciadoras.
Esse processo de flexibilização de
licenciamentos ambientais já acontece na prática em alguns estados, sendo o
Espírito Santo, o primeiro da federação a afrouxar sua legislação. Temos também a
Bahia, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul. Esse último estado, o Rio Grande do
Sul, é um bom exemplo do que acontece quando legislações ambientais são
flexibilizadas. Lembram da catástrofe climática que ocorreu em 2003, que
devastou quase todo o território gaúcho?
A legislação do estado gaúcho permite até desmatamento de mata ciliar,
que são APPs em margem de rios, lagos e encostas de morros. O fato é que não tinha mata para proteger os
rios que cortavam as cidades mais afetadas pelas enxurradas.
Em tempos de emergência climática, o Brasil vive atualmente um dos seus maiores retrocessos em termos ambientais, estamos recuando cinquenta anos na história, época do regime militar, quando tudo era possível. Todos devem se lembrar da rodovia transamazônica, obra não concluída e que devastou parcela expressiva do bioma amazônico. Tudo leva a crer que o governo Lula não vetará ou o fará sem desidratá-lo integralmente. Certamente fará alguns ajustes, mas homologará, pois muito lhe favorece, assegurando a realização de obras estruturantes, cuja legislação de licenciamento em vigor não o permitia. Um desses projetos possíveis será a exploração de petróleo na margem equatorial da Amazônia, atividade de elevado risco ambiental ao complexo ecossistema local.
Incrível é que não existe qualquer
mobilização da sociedade frente a todas essas atrocidades envolvendo o meio ambiente brasileiro. Poucos sabem que em 2024 mais de 600 agrotóxicos foram liberadas pelo atual governo, muitos dos quais banidos na
União Europeia. O povo brasileiro está se contaminando cada vez mais consumindo
alimentos e água envenenadas. Já estamos vivendo uma epidemia de doenças
degenerativas no país, e as causas podem estar relacionadas aos agrotóxicos.
Prof. Jairo Cesa
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