quinta-feira, 22 de agosto de 2024

 

IDEB (ÍNDICE DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA) ESCANCARA  O BURACO ABISSAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA

O Resultado do IDEB Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico referente a 2023 escancarou uma realidade horrenda da educação básica brasileira que vem se arrastando há décadas. Agora tentam justificar os números ridículos das avaliações das escolas os dois anos de pandemia que manteve parcela expressiva dos estudantes fora das salas de aula, tendo as aulas de forma remota. Cabe esclarecer que as mesmas adversidades tidas pelos estudantes brasileiros no período da COVID 19 foram às mesmas que tiveram milhões de alunos espalhados pelos demais continentes. Porém esse fator, certamente, não deve ter trazido resultados pífios às avaliações da Singapura, China, Coréia do Sul, Finlândia, Japão, entre outras nações, quem sempre permaneceram no topo da excelência em educação básica.

E por que será que nesses países não ocorre tais humilhações quando o assunto é educação? Uma das respostas se deve ao fato de que há entre ambos uma cultura bem solidificada nas famílias, nos governos e na própria sociedade, como um todo, de investimentos públicos e particulares invejáveis na educação. Aqui no Brasil, é possível medir o nível da educação prestando atenção naqueles que estão ocupando postos relevantes nos legislativos e executivos dos estados e municípios.  É óbvio que devemos fazer ressalvas às exceções, claro que são poucos, muito poucos os municípios e estados que se salvam, tendo nas suas câmaras, assembleias e prefeituras, pessoas com currículos ou históricos dedicados à educação, à cultura, às artes, o esporte, à defesa incondicional dos ecossistemas, etc.  

Pode-se creditar também o baixo nível instrucional do brasileiro a eleição de um presidente que durante quatro anos dedicou cada segundo do seu tempo para destruir conquistas históricas dos trabalhadores. Atacar a educação pública, às universidades, às legislações ambientais, ou seja, a tudo que daria robustez e orgulho ao povo brasileiro foi um dos seus principais legados negativos, que ficará na história e certamente serão temas das aulas de história nas escolas brasileiras.

O risco é se o Brasil não sofrer golpe de Estado, semelhante ao que os extremistas bolsonaristas tentaram executar em 08 de janeiro de 2023, porém, sem sucesso. E por que o risco? Na hipótese de golpe, a certeza é que o novo regime irá manipular os conteúdos dos livros didáticos de história, onde tentarão descrever o período Bolsonaro como sendo frutífero por defender as liberdades individuais e o combate a ameaça comunista, história semelhante à de 1964, com a ascensão do militarismo.

  Uma educação com resultados pífios nas avaliações em matemática e língua portuguesa, que muito provável tenderia ocorrer nas demais áreas do currículo escolar, como história, geografia, ciências, pode nos assegurar um prognóstico de como será o Brasil no futuro, quem estarão ocupando os cargos de comando nas duas principais instâncias de poder, o legislativo e o executivo.  Voltemos então aos resultados do IDEB onde revela um Brasil ainda colonial no que tange a educação básica.

O IDEB também escancara a farsa das elites catarinenses que por longo tempo tentaram forjar a imagem de um Estado exemplar a ser seguido em segurança, saneamento básico e até mesmo educação. É sabido que avanços como os destacados acima estão diretamente condicionados a níveis elevados em educação básica e superior. O IDEB de 2023 mostrou que o estado não alcançou a meta em nenhum dos níveis pretendidos, ou seja, no fundamental e médio.

O ensino fundamental anos iniciais, a meta era alcançar 6,5 pontos, entretanto a nota foi 6,4 pontos. No fundamental, anos finais, o resultado foi desolador, dos 6,2 pontos desejados, a média alcançada foi de 5,2 pontos, um ponto abaixo do desejado. Claro que não se deve transferir toda a responsabilidade pelos números baixos no ensino fundamental aos gestores estaduais, pois parte expressiva dos estudantes do nível fundamental está matriculada em escolas municipais, cujos gestores são os prefeitos. Portanto, a realidade mostra que parte significativa da rede do ensino médio/secundário é gerida pelos governadores estaduais, que compartilham tais atribuições com o segmento particular e o governo federal, esse último responsável pelos IFSC.   

Portanto é o ensino médio catarinense que há um longo tempo vem se mantendo em espécie de UTI em estado quase terminal. Peço desculpas pela analogia, mas de fato é exatamente essa a situação do ensino secundário catarinense, que não é exceção no conjunto dos demais estados, muitos dos quais em condições piores que Santa Catarina.  Se o estado do sul do Brasil obteve 4,2 pontos de media, dos 5,6 pretendidos, o Rio de Janeiro, ficou na penúltima posição entre as piores notas no IDEB, baixando mais ainda a pontuação em relação a 2021, de 4,6 pontos para 3,3 pontos em 2023.

Devo ressaltar que os 4,2 pontos do IDEB, obtido pelo estado catarinense no ensino médio, são as somatórias das notas das escolas secundárias públicas estaduais, federais e particulares. Agora quando subtraímos as escolas privadas no somatório das notas, a pontuação cai mais ainda, baixando para ridículos 3,8 pontos. Em qualquer sociedade que teve algum crescimento e melhoria da qualidade de vida de seu povo, o resultado sempre esteve condicionado à educação, aos polpudos investimentos do Estado. Claro que o ponto forte desses investimentos esteve e está na boa formação dos quadros profissionais, além, é claro, salários que estimulam a permanência e dedicação exclusiva no magistério.

Cenários bem diferentes da realidade brasileira, onde todos os anos saem profissionais menos capacitados das universidades que, ao chegarem às escolas, se deparam com ambientes hostis, sobrecarregando-os de tarefas burocráticas, repetitivas e alienantes. O problema no ensino médio não é exclusividade apenas de SC, todos os estados enfrentam demandas iguais ou até mesmo piores, haja vista que Santa Catarina se encontra na décima posição na avaliação do IDEB dos 26 que compõem a federação brasileira. Os três últimos no ranque dos piores nas avaliações foram o RJ 3,7; RN 3,7 e RR 3,5. 

Se for enumerar os fatores que contribuíram para tamanha regressão nessa etapa importante da educação dos adolescentes, seria necessário uma pagina inteira de caderno. É obvio que um dos fatores determinantes é o ridículo investimento dos governos na melhoria dos espaços de trabalho e na carreira docente. Imaginem, tem escolas no Estado, a exemplo da EEBA de Araranguá, que há mais de uma década vem passando por uma reforma, porém sem data assegurada para sua finalização.

Grande maioria dos professores das redes estaduais, aqueles que tiveram as piores avaliações, há muito tempo vem tendo seus salários congelados, não recebendo nem o piso do magistério. O sucateamento da carreira docente também deve ser posto na balança, pois parte expressiva dos egressos às escolas do ensino básico teve sua formação em instituições de ensino a distância.

Concluindo o raciocínio acerca do quadro caótico do ensino brasileiro, que seria motivo sair à rua toda a população e protestar contra tal vexame, é conveniente também realçar que das vinte metas inseridas no PNE (Plano Nacional de Educação) há dez anos para alavancar a educação, apenas duas foram cumpridas, porém ao nível de pós-graduação. O que nos resta, portanto, é esperar que no pleito eleitoral de outubro próximo, o povo eleja vereadores e prefeitos comprometidos com uma educação pública transformadora. Esse seria o primeiro round a ser vencido, porém, com o seu desfecho em 2025, quando se daria o nocaute final, elegendo os novos deputados, senadores, governadores e um presidente, ambos fazendo as grandes transformações estruturais para por um fim definitivo em décadas de subserviência ao grande capital.       

Prof. Jairo Cesa

NOTAS DO IDEB DAS ESCOLAS BASICAS ESTADUAIS E MUNICIPAIS DE ARARANGUÁ

ESCOLA

FI – 2021

FI 2023

FF 2021

FF 2023

EEF Julieta Bertoncine

 

5,2

 

 

EEF Iabel Flores Hubbe

6,7

6,2

5,5

5,7

EEF Padre A.L Dias

6,8

6,1

 

5,1

EEF Patrulheiro J. Paes.

 

 

 

4,4

EEF.  Jordão B. Rosa

6,5

7,0

5,6

 

EEB Maria G. Pessi

6,7

6,6

5,5

5,2

EEF. Dolvina Medeiros

7,0

6,3

4,9

 

EEF Mota Piris

5,9

5,4

 

5,4

EEF Eremeta Souza

6,2

6,8

 

4,9

EEF Neusa O. Cardoso

6,2

6,8

 

 

EM Nova Divineia

6,8

6,1

4,2

4,3

 EM Lagoão

 

 

 

 

EM Otávio M. Anastácio

 

6,1

5,1

 

EM Operária

6,0

5,2

 

4,2

EM Amerindo Luz

 

 

4,2

 

EM Jardim Avenidas

5,4

5,5

 

4,1

EM João Matias

 

5,5

 

4,5

EEF Otília S. Berte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     

 

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