ESTIAGEM
HISTÓRICA E INCÊNDIOS CRIMINOSOS COLOCAM PARTES DO BRASIL EM SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA CLIMÁTICA EXTREMA
Há
menos de uma semana publiquei no meu blog texto discorrendo nova tragédia
climática, incêndios devastadores, que agora assolam os estados do norte,
centro oeste e sudeste brasileiro. É tanto fogo que a fumaça chegou e continua
cobrindo aos estados do sul, como Santa Catarina, onde por vários dias o céu e
a paisagem de muitas cidades ficaram tomados por uma névoa cinza. Acontece que
os incêndios continuam, porém agora, os focos são mais intensos e devastadores
na região sudeste, com destaques as estados de São Paulo e Minas Gerais, cujos
satélites já monitoraram centenas de pontos luminosos.
Como
afirmaram os meteorologistas e demais estudiosos do clima, as queimadas, que
são comuns nessa região no inverno, porém em menor proporção, vem se dando bem
antes do período normal, mês de setembro em diante. A resposta a essa
antecipação se deve a forte estiagem que vem se propagando sobre tais regiões durante
esse inverno, avaliada como uma das mais prolongadas dos últimos quarenta anos.
Se haviam dados ou informações suficientes que comprovavam estar a região
norte, centro oeste e sudeste submetido a uma forte estiagem, eram presumíveis
que as autoridades desses estados viessem a se planejar para enfrentar as
queimadas, pedindo cautela ao segmento agrário para que evitasse a limpeza das
propriedades por meio de fogo.
As
imagens divulgadas e compartilhadas pela imprensa e mídias sociais mostram um
cenário apocalíptico, algo assustador tamanha a dimensão dos incêndios. Além
dos impactos irreversíveis à biodiversidade, os incêndios vêm colapsando os sistemas
de saúde pública desses estados, com centenas de crianças e idosos diagnosticados
com algum tipo de enfermidade respiratória pela fumaça. Existiam suspeitas de
que as queimadas tivessem sido premeditadas, ou seja, criminosas. Tais
presunções se confirmaram no começo dessa semana, quando a polícia militar e a
federal promoveram várias prisões de suspeitos de terem recebido pagamento para
atear fogo no campo.
Acredita-se
que deve ter ocorrido atualmente episódio semelhante a 2019 quando fazendeiros
na Amazônia e outras regiões promoveram o fatídico “dia do fogo”, ocorrência de
queimadas sincronizadas, todas ao mesmo tempo. Foram milhares de hectares de
florestas queimadas, porém, até o momento não se tem notícia de que alguém tenha
sido preso e processado. Em entrevista concedida ao blog agencia pública, o
presidente do IBAMA afirmou que os incêndios têm elementos suficientes quem
confirmam ser criminosos.
Já
que as fiscalizações se intensificaram contra quem desmatassem as florestas, se
tornou mais barato por fogo no mato, acreditando que com essa prática livrariam
os autores da possível punição. Com as novas tecnologias a disposição, como satélites
altamente sofisticados, o IBAMA consegue monitorar os focos de incêndios por
todo o pais. Entretanto, torna-se mais difícil identificar os autores desses
delitos, diferente do desmatamento, que é possível monitorar melhor, pois se têm
exatamente as coordenadas do ponto onde foi praticada a infração.
O
Greenpeace publicou em abril último relatório, elabora pela própria ONG,
denunciando a pratica criminosa de instituições financeiras, bancos e
cooperativas de créditos, que utilizam recursos do credito rural para o
financiamento de propriedades embargadas por práticas ambientais delituosas.
Identificou número expressivo de propriedades que sofreram embargadas por ter
cometido algum crime ambiental, sendo o desmatamento o mais comum, porém, isso
não os impediu de terem seus pedidos de empréstimos bancários do Plano Safra
indeferidos. Foram mais de duas mil propriedades financiadas com sobreposição
de embargo ambiental, apresentando até 12 tipos diferentes de infração.
133
propriedades rurais que receberam financiamento e que estão com embargos por
uso ilegal do fogo localizadas na Amazônia (122) e Cerrado (11). Fonte:
Elaborado pelo Greenpeace Brasil a partir dos dados do IBGE (2022); IBAMA (2024); BACEN (2024)
Analisando
o Manual de credito rural do governo federal, o mesmo traz restrições de
empréstimos apenas para embargos por desmatamento, não negando financiamento
àqueles que praticaram queimadas. Foram contabilizadas 353 operações bancárias
irregulares, totalizando 68.276.530,51 reais, do credito rural, recurso
público, que não deveria ter sido liberado. Os biomas investigados foram o
amazonas e o serrado, sendo que o primeiro contabilizou 80% das ocorrências e o
segundo, 20%. Dos bancos envolvidos nessas transações viciadas, o Banco do
Brasil aparece na liderança com a concessão de 266 empréstimos; o banco da Amazônia
vem em seguida, com 61; o banco do nordeste, com 6; as cooperativas de
créditos, com 19 e o banco Bradesco, com 1 ocorrência.
Todo
esse problema, dos desmatamentos as queimadas intermináveis, colocam
definitivamente por terra todos os acordos climáticos, principalmente os
protagonizados pelo Brasil com o propósito de reduzir as emissões dos gases do
efeito estufa. A redução dos desmatamentos ilegais para níveis zero foi um
desses acordos assinados pela delegação brasileira nos últimas COPs, encontros
sobre o clima, a exemplo da COP 21, ocorrida em Paris em 2015, uma das mais
progressistas dentre todas as conferências que foram realizadas.
Os
inúmeros episódios climáticos extremos, as enxurradas no sul e agora as
estiagens na Amazônia, centro oeste e sudeste brasileiro, colocam o Brasil em
uma condição de alerta vermelho de emergência climática. Mais do que nunca é
preciso reverter às pressas esse processo de quase colapso sem retorno do clima
do planeta. Porém o cenário ora apresentado dá demonstrações de existir um
consenso negacionista em relação às mudanças climáticas, liderado por setores
do grande latifúndio brasileiro.
Prof.
Jairo Cesa
https://www.greenpeace.org/brasil/apoie/relatorio-bancando-a-extincao/
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cz6xypqn53vo