quarta-feira, 20 de março de 2024

 

AQUECIMENTO GLOBAL E PRECARIEDADE NO SANEAMENTO BÁSICO COMO VETORES PARA O AUMENTO DOS CASOS DE DENGUE NO BRASIL

Menos de dois anos depois de a humanidade ter sido afetada por uma pandemia, a do Corona Vírus, que ceifou a vida de milhares de pessoas nos cinco continentes, o Brasil, que contabilizou mais de seiscentos mil mortos, vive agora uma epidemia provocada pelo mosquito Aeds Aegypti, transmissor do vírus da dengue. Embora a respectiva doença seja menos letal que a do COVID 19, o que espanta é a sua facilidade de contágio e proliferação, ocorrendo dessa vez em lugares antes quase inimaginável, como a região sul pelo fato de apresentar temperaturas mais amenas.

Há estudos que confiram que o aumento dos diagnósticos do vírus em todo o território nacional tem relação direta e indireta com as mudanças climáticas, cujo Brasil é um dos mais impactados pelo crescente desmatamento de suas florestas. A supressão de florestas como do bioma da mata atlântica para dar lugar a monocultura agrícola ou grandes projetos imobiliários são causas diretas da infestação do mosquito da dengue, chikungunya, nos estados do sul. Não podemos esquecer também que o fator saneamento básico deve ser considerado como um dos vetores importantes à proliferação do mosquito.

Até pouco tempo o aeds eagypti somente se reproduzia por meio de água limpa. Hoje o inseto consegue a proeza de se multiplicar em qualquer ambiente, independente se a água está limpa ou suja.  Portanto, aqui está o problema, pois são poucas as cidades brasileiras que cumprem com as políticas nacionais de saneamento básico sancionadas em 2010, na qual vai muito além de água tratada. Dados confirmam que são quase cem milhões de pessoas no Brasil não atendidas por sistema de coleta de esgotos. Se nesse quesito o número já á absurdo agora imaginemos o percentual de pessoas não contempladas com programa de tratamento de esgotos, com certeza quase 200 milhões.

Tratamento de efluentes domésticos e a coleta seletiva de resíduos sólidos ainda não é uma realidade em centenas de municípios brasileiros. Inclui-se nessa lista o estado de Santa Catarina, onde pouco mais de 150 municípios, ou seja, 50%, não têm coleta e tratamento de esgoto. Dados do Censo demográfico publicado em 2022 revelou que na região da AMREC são 11 mil domicílios sem esgotamento sanitário adequado. Se a AMREC que participa com um PIB considerável para a economia do estado sofre tais deficiências no sistema de saneamento básico, a AMESC ainda permanece embrionária nesse segmento. Portanto, o percentual de famílias atendidas com esgotamento sanitário tratado é absurdamente baixo. A mesma deficiência ocorre no recolhimento dos resíduos sólidos, tendo dois ou três municípios que programam seus planos de coleta seletiva.

O vírus em curso precisa de qualquer ambiente com a presença de água parada para depositar os seus ovos. Valetas, caixas d’água e piscinas desprotegidas, pneus, garrafas e outros recipientes abertos e espalhados em terrenos baldios são ambientes ideais à infestação do mosquito. Se Araranguá ainda não está infestada pelo Aedes Aegypti isso se deve ao fator sorte, pois ingredientes não faltam. Basta dar uma voltinha pelos bairros da cidade ou pelo interior do município e ver a quantidade de locais propícios para a reprodução do mosquito.

A implementação imediata do programa de coleta seletiva de resíduos sólidos ajudaria bastante e diminuição dos possíveis focos do transmissor da dengue. Mas isso somente não bastaria. O poder público municipal e estadual por meio de suas secretarias de educação e saúde deveria promover campanhas de sensibilização em todas as unidades de ensino do município, independente das redes que estão inseridas. O fato é que com as mudanças climáticas em curso, com chuvas cada vez mais irregulares e temperaturas escaldantes a tendência é termos a presença do mosquito no nosso cotidiano. O agravante é que quanto mais focos do mosquito detectados a tendência é do vírus vir a se tornar mais forte, mais letal.

Prof. Jairo Cesa       

   

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