terça-feira, 9 de abril de 2024

 PROJETO ARARANGUÁ EM CORES E ARTE EM RAIZES: PRÁTICAS CULTURAIS QUE EXPRESSAM LIBERDADE E RESISTÊNCIA COLETIVA.

 

Foto - Jairo

Aproveitando a semana comemorativa aos 144 anos de emancipação político administrativa de Araranguá, entre os dias 02 a 07 de abril de 2024, aconteceu no Center Shop, Cidade Alta/Araranguá exposição de dois trabalhos artísticos desenvolvidos pelo professor Jairo Cesa, sendo eles o Projeto Araranguá em Cores e Arte em Raízes. O primeiro deles buscou dar cores às fotografias em preto e branco, captadas por fotógrafos do começo do século XX, de cenários como logradouros públicos e edificações arquitetônicas.

Foto - Jairo


O objetivo desse projeto foi desconstruir visões principalmente do público infantil de acreditar que o cotidiano do pequeno povoado na época era descolorido, ou seja, o céu, as florestas, as edificações, as vestimentas das pessoas, prevaleciam somente o preto e branco. O segundo trabalho em exposição teve como título Arte em Raiz. Foram apresentados ao público dezenas de peças, com texturas e formatos distintos de pessoas, animais e outras figuras, que foram meticulosamente esculpidas a partir de raízes de árvores recolhidas nas imediações da foz do rio Araranguá e na orla do mesmo município.

Foto - Jairo


Cada peça de arte, além da sua singularidade e particularidade estrutural, traz informações importantes sobre a geologia, a geomorfologia, bem como as mudanças climáticas em curso no planeta. Expressiva parcela das peças em exposição, os troncos dos quais as raízes foram coletadas, ambos eram provenientes das encostas da serra geral, de municípios que integram a bacia hidrográfica do rio Araranguá, a exemplo de Timbé do Sul, Jacinto Machado e Morro Grande. Dentre os municípios acima citados, um dos que mais sofre os impactados das alterações climáticas em curso é sem dúvida Timbé do Sul, que foi assolado em 1995 por uma violenta enxurrada.

Foto - Net


Foi tanta água em pouco tempo, cuja pressão arrancou das encostas da serra milhares de troncos de árvores e toneladas de pedras, episódio que causou destruição da infraestrutura e várias mortes. Por um longo período toda a orla do município de Araranguá ficou completamente coberta por troncos de árvores, todas de espécies nativas que compõem o bioma da mata atlântica. Quase trinta anos depois ainda hoje são encontrados resquícios dessa tragédia climática nos inúmeros troncos expostos ou cobertos pelas dunas às margens do rio Araranguá, próximo a foz, e na orla.

Foto - Jairo


Portanto, a exposição de pinturas em telas e peças em raízes que ocorreu nas dependências do Center Shop, ambas não se deu de forma aleatória, sem propósitos ou objetivos bem definidos. Muito pelo contrário, tudo foi bem planejado com intuito de garantir ao publico que lá esteve, além de se impressionar com a estética do material exposto, a oportunidade impar de ampliar o conhecimento em história local, geografia, arte, entre outras áreas do conhecimento.

Foto - Jairo


Durante os sete dias de exposição no Center Shop, mais de mil pessoas reservaram um pouquinho do tempo para apreciar as pinturas e as esculturas em raízes. Muitas ficaram impressionadas com as ruas em chão batido onde hoje está o calçadão e a Praça Hercílio luz. A segunda igreja matriz, arquitetura concluída em 1902, junto com a edificação da primeira prefeitura, ambas despertaram a atenção de quase todo o público visitante.

Foto - Jairo


O que se pode concluir a partir de uma exposição dessa dimensão é a forte capacidade que a mesma tem de fazer os sujeitos refletirem sobre sua condição de existência e pertencimento em um determinado espaço e tempo cronológico.  Embora tudo tende a sofrer transformações ao longo das gerações, sempre continuamos vinculados ao passado por meio da memória, sendo a afetiva a mais significativa. A fotografia, a pintura, a escultura, a oralidade, etc, são, inquestionavelmente, recursos eficientes e necessários ao fortalecimento do imaginário social, ou seja, a consolidação de uma visão de mundo plural, crítica, valorizando as artes, a cultura em seu todo.  

Quanto mais cultura um povo tiver acesso: arte, música, pintura, teatro, escultura, dança, mais se sentirá empoderado, independente, autônomo e com auto estima elevada. Mais cultura reflete diretamente nas boas escolhas dos que representação o povo nos postos de comando dos municípios, estados e no segmento federal. Mais cultura também ajudará a não se comportar como manada, que se contenta sendo comandado por um coletivo de poder. Portanto arte é sinônimo de revolução, forma de expressão que exprime liberdade e resistência a todo tipo de totalitarismo e dogmatismo social e político.

Prof. Jairo Cesa     

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