sábado, 18 de fevereiro de 2023

 

QUINHENTOS ANOS DE PERMANENTE  GENOCÍCIO INDÍGENA NO BRASIL

Assumindo o presidente Lula as rédeas do governo federal, veio a público uma triste realidade que por quatro anos permaneceu ocultada pela catastrófica administração de Jair Bolsoraro. A realidade que me refiro afeta em cheio povo Yanomani, onde centenas de milhares foram resgatadas das suas comunidades em graus elevados de desnutrição. Imagens se espalharam e foram compartilhadas pelo mundo exibido corpos esqueléticos de idosos e crianças indígenas, sendo que muitos/as não resistiram vindo a falecer posteriormente. Não bastassem as milhares de vítimas fatais pelo COVID-19 que poderiam ter sido salvas se o governo anterior não tivesse negligenciado a doença, agora são o Yanomamis vitimas diretas da fúria ensandecida do capital.

Vale ressaltar que os povos Yanomanis não são os únicos que tem as suas vidas ceifadas, suas terras e rios dilapidados pelo desmatamento e o garimpo ilegal. Outros tantos grupos originários vem diariamente tendo seus espaços invadidos, crianças, mulheres e homens sendo mortos, cujos assassinos permanecendo impunes frente a corrupta justiça que impera nos rincões desse Brasil. A realidade é que esse ciclo de genocídio institucionalizado nunca cessou.  Desde a chegada dos portugueses há mais de quinhentos anos, diariamente os grupos originários não tem um segundo de paz, sempre vigilantes tentando de proteger e assegurar aquilo que ainda lhe resta, sua dignidade de verdadeiro dono das terras brasileiras.

O pau Brasil, o ouro, a prata e produtos da floresta amazônica foram os produtos visados pela coroa portuguesa na época da tomada do Brasil. Entretanto, para extrair toda a riqueza saíram à caça de trabalhadores, capturando indígenas que serviram no primeiro momento, de mão de obra escrava. Além das doenças levadas pelo homem branco, como a gripe, varíola, etc, o trabalho descomunal na extração da madeira pau-brasil e outras atividades transformaram as florestas em um grande cemitério, jazido corpos por todos os cantos.

Observando o atual cenário dos pouco mais de um milhão de indígenas brasileiros que ainda resistem, é incrível que depois de mais de quinhentos anos de ocupação ainda lutam bravamente para serem reconhecidos como cidadãos e donos de sua própria terra. A pressão do agronegócio, do garimpo ilegal tem transformado a vida desses povos em um inferno sem fim. A tragédia que assola esses povos tem se agravado ainda mais quando se sabe que governos e entidades representativas como a FUNAI estavam a serviço dos interesses de madeireiros, grileiros, empresários e políticos.

Se há invasão de terras indígenas, corte ilegal de madeiras, garimpo, grilagem e outras tantas práticas ilegais é porque alguém está ou estava dando guarida a tudo isso. Muitos ainda devem ter claro na memória a frase bombástica pronunciada pelo ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Sales, em reunião ministerial no palácio do planalto com a presença do ex-presidente Bolsonaro. Disse ele que era necessário flexibilizar as legislações ambientais e deixar passar a boiada. A expressão passar a boiada é exatamente o que está ocorrendo com os Yanomamis e outras tantas comunidades de originários. São mais de vinte mil garimpeiros ocupando suas terras, destruindo tudo o que vê pela frente, florestas, rios, igarapés, estuprando mulheres, levando doenças e cometendo tantas outras barbaridades, se há ainda barbaridades piores que essas.   

Ainda hoje é comum ouvir falas do tipo, para que tanta terra para índios se não produzem. Esse é o legado negativo que herdamos dos invasores portugueses, que trouxeram para cá toda uma gama de valores e costumes que se chocaram com os povos originários. A visão de propriedade, de lucro, de exploração, de espoliação, ambas se sobrepôs aos valores e costumes embasados no comportamento solidário, do respeito às forças cósmicas.

É incorreto afirmar que os originários ficaram passivos após o desembarque dos invasores, como insistem mostrar muitos livros didáticos adotados nas escolas brasileiras. O fato é que os invasores trouxeram consigo o que tinha de mais moderno em armamentos, enquanto que os indígenas se defendiam com arcos e flechas. A resposta disso todos nós sabemos, a chacina que permaneceu incólume por décadas, séculos depois. Foi tanta violência, tanta carnificina, que hoje em estados como Santa Catarina restaram apenas alguns pequenos remanescentes de agrupamentos, que resistem a ferro e fogo a fúria do branco que tentam tomar suas terras.

Prof. Jairo Cesa

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