QUINHENTOS
ANOS DE PERMANENTE GENOCÍCIO INDÍGENA NO BRASIL
Assumindo
o presidente Lula as rédeas do governo federal, veio a público uma triste
realidade que por quatro anos permaneceu ocultada pela catastrófica
administração de Jair Bolsoraro. A realidade que me refiro afeta em cheio povo
Yanomani, onde centenas de milhares foram resgatadas das suas comunidades em
graus elevados de desnutrição. Imagens se espalharam e foram compartilhadas pelo
mundo exibido corpos esqueléticos de idosos e crianças indígenas, sendo que
muitos/as não resistiram vindo a falecer posteriormente. Não bastassem as
milhares de vítimas fatais pelo COVID-19 que poderiam ter sido salvas se o
governo anterior não tivesse negligenciado a doença, agora são o Yanomamis
vitimas diretas da fúria ensandecida do capital.
Vale
ressaltar que os povos Yanomanis não são os únicos que tem as suas vidas
ceifadas, suas terras e rios dilapidados pelo desmatamento e o garimpo ilegal.
Outros tantos grupos originários vem diariamente tendo seus espaços invadidos, crianças,
mulheres e homens sendo mortos, cujos assassinos permanecendo impunes frente a
corrupta justiça que impera nos rincões desse Brasil. A realidade é que esse
ciclo de genocídio institucionalizado nunca cessou. Desde a chegada dos portugueses há mais de
quinhentos anos, diariamente os grupos originários não tem um segundo de paz,
sempre vigilantes tentando de proteger e assegurar aquilo que ainda lhe resta,
sua dignidade de verdadeiro dono das terras brasileiras.
O
pau Brasil, o ouro, a prata e produtos da floresta amazônica foram os produtos
visados pela coroa portuguesa na época da tomada do Brasil. Entretanto, para
extrair toda a riqueza saíram à caça de trabalhadores, capturando indígenas que
serviram no primeiro momento, de mão de obra escrava. Além das doenças levadas
pelo homem branco, como a gripe, varíola, etc, o trabalho descomunal na
extração da madeira pau-brasil e outras atividades transformaram as florestas
em um grande cemitério, jazido corpos por todos os cantos.
Observando
o atual cenário dos pouco mais de um milhão de indígenas brasileiros que ainda
resistem, é incrível que depois de mais de quinhentos anos de ocupação ainda
lutam bravamente para serem reconhecidos como cidadãos e donos de sua própria
terra. A pressão do agronegócio, do garimpo ilegal tem transformado a vida
desses povos em um inferno sem fim. A tragédia que assola esses povos tem se
agravado ainda mais quando se sabe que governos e entidades representativas
como a FUNAI estavam a serviço dos interesses de madeireiros, grileiros,
empresários e políticos.
Se
há invasão de terras indígenas, corte ilegal de madeiras, garimpo, grilagem e
outras tantas práticas ilegais é porque alguém está ou estava dando guarida a
tudo isso. Muitos ainda devem ter claro na memória a frase bombástica pronunciada
pelo ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Sales, em reunião ministerial no
palácio do planalto com a presença do ex-presidente Bolsonaro. Disse ele que
era necessário flexibilizar as legislações ambientais e deixar passar a boiada.
A expressão passar a boiada é exatamente o que está ocorrendo com os Yanomamis
e outras tantas comunidades de originários. São mais de vinte mil garimpeiros
ocupando suas terras, destruindo tudo o que vê pela frente, florestas, rios,
igarapés, estuprando mulheres, levando doenças e cometendo tantas outras
barbaridades, se há ainda barbaridades piores que essas.
Ainda
hoje é comum ouvir falas do tipo, para que tanta terra para índios se não produzem.
Esse é o legado negativo que herdamos dos invasores portugueses, que trouxeram
para cá toda uma gama de valores e costumes que se chocaram com os povos
originários. A visão de propriedade, de lucro, de exploração, de espoliação,
ambas se sobrepôs aos valores e costumes embasados no comportamento solidário,
do respeito às forças cósmicas.
É
incorreto afirmar que os originários ficaram passivos após o desembarque dos
invasores, como insistem mostrar muitos livros didáticos adotados nas escolas
brasileiras. O fato é que os invasores trouxeram consigo o que tinha de mais
moderno em armamentos, enquanto que os indígenas se defendiam com arcos e
flechas. A resposta disso todos nós sabemos, a chacina que permaneceu incólume por
décadas, séculos depois. Foi tanta violência, tanta carnificina, que hoje em estados
como Santa Catarina restaram apenas alguns pequenos remanescentes de
agrupamentos, que resistem a ferro e fogo a fúria do branco que tentam tomar
suas terras.
Prof.
Jairo Cesa
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