ESTIAGEM
NO SUL DO BRASIL E ENXURRADAS NO NORDESTE E SUDESTE: OS REFLEXOS DO AQUECIMENTO
GLOBAL
Nos
últimos quatro ou cinco anos nossos biomas, o amazônico, o serrado e a mata
atlântica, foram violentamente degradados com perdas expressivas de áreas de
florestas e fauna. A pressão do agronegócio, o garimpo, a grilagem, a especulação
imobiliária, colocaram no chão milhões de árvores centenárias. A floresta
amazônica, sem dúvida, é o ecossistema mais complexo entre os demais, pois
bilhões de litros d’água são liberados pelas folhas em forma de evapotranspiração.
Todo
esse volume de umidade vira nuvens ou rios voadores, onde são empurrados pelo
vento e precipitam sobre o centro oeste, sudeste e o sul do Brasil. As
atividades agrícolas e energéticas brasileiras ambas dependem direta e
indiretamente desse ciclo da natureza, que a cada ano vem escasseando mais e
mais. Os encontros de cúpula sobre o clima, as chamadas COP ou encontros das
partes vêm insistentemente alertando os governantes de todo o planeta da
urgente necessidade de repensar suas práticas predatórias de produção.
Não
há dúvida que o calor extremo registrado no Canadá e na Sibéria em 2021; os
gigantescos incêndios nos EUA, parte da Europa e Austrália; os violentos e
mortais furacões, tufões e tornados cada vez mais frequentes em regiões consideradas
livres são episódios climáticos extremos cuja ação humana tem reflexo direto e
indireto. O Brasil país que outrora inspirava poetas a exaltar as belezas
naturais - florestas, rios, praias, etc e com a crença de ter sido escolhido
por deus como terra abençoada e livre de terremotos, furacões, tornados,
enxurradas, secas, a realidade dos fatos mostra um cenário completamente oposto.
Pode
ser até que o poeta de outrora tivesse razão, pois o Brasil era admirado por possuir
uma das maiores e mais ricas biodiversidades do planeta. A floresta amazônica símbolo
de orgulho no passado, atualmente é noticia no mundo inteiro como bioma ameaçado.
Ainda tem quem não acredita que o clima da terra não está passando por
transformações abruptas. Deslegitimar ou desconsiderar a ciência e todo o
acumulo de pesquisas e conhecimentos produzidos até hoje sobre o tema se
tornaram práticas comuns de grupos fundamentalistas e governos negacionistas.
O
perigo disso é o crescimento considerável de adeptos às idéias negacionistas, a
ponto de acreditar que a terra é plana e a existência humana e todas as
manifestações são desígnios divinos. Outro problema observado é parte de quem
nega a ciência e venera as sagradas escrituras está infiltrado em todas as
instâncias do Estado republicano. O congresso nacional é, sem dúvida, o setor
mais contagiado com tais aberrações. A bancada religiosa e do agronegócio são de
maior representatividade, atuando de modo corporativo defendendo e aprovando
temas sensíveis que lhes interessam.
Flexibilização
de leis relativas ao comércio de agrotóxicos, licenciamentos ambientais; APPs, mineração,
etc, são algumas das demandas encabeçadas pelos parlamentares do agronegócio.
Pare esse setor, o que se refere à proteção ou expansão de áreas verdes é
sinônimo de perda de lucratividade, competitividade. O código florestal
aprovado em 2012 deixou subtendido nas entrelinhas que o grande latifúndio permanecerá
ditando de forma soberana as regras do jogo produtivo depredatório no Brasil.
O
estado de Santa Catarina vem adquirindo ultimamente certo protagonismo em tudo
que se refere a retrocessos ambientais. O primeiro foi o código ambiental de 2009,
no qual serviu de modelo a elaboração do código florestal de 2012. O segundo
foi à revisão e a aprovação em toque de caixa na ALESC do código ambiental de
2014 que flexibiliza ainda mais regras ambientais, principalmente no que
concerne a proteção do bioma da mata atlântica. O terceiro e quarto ato desse
combo de retrocessos são a lei estadual 270/21 sancionada em 14 de dezembro, e
a lei federal n. 14.299/21, que estabelece políticas sobre transição energética
de baixo carbono.
A
primeira lei, a 270/21, de autoria do poder executivo institui a política
estadual de transição energética justa. Essa lei permite que o setor
carbonífero continue suas atividades durante os próximos vinte anos. O
argumento do setor defensores do carvão mineral é que essa atividade gera
anualmente mais de 6 bilhões de reais e vinte mil empregos diretos e indiretos.
No entanto, em nenhum momento, não se viu um único jornal fazer menção ao
passivo ambiental deixado por essa atividade nos cem anos de atividade.
É
perceptível que o Lobby favorável ao carvão mineral ultrapassou as fronteiras
do poder executivo e legislativo catarinense. No Congresso nacional, o deputado
federal Altair Guidi, inseriu uma emenda no projeto de Lei sobre transição
energética de baixo carbono, cuja autoria foi o senador Esperidião Amin. O
autor da emenda assegurou o prolongamento da atividade carbonífera por aproximadamente
20 anos. Enquanto o mundo todo vem abolindo o carvão de sua matriz energética,
o Brasil segue o caminho oposto.
As
respostas às insistentes atrapalhadas do governo federal e de Santa Catarina na
questão ambiental é possível de ser notada nas intensas oscilações do clima
brasileiro. Enquanto o nordeste, Bahia em especial sofre com as históricas
enxurradas, o sul do país amarga uma das maiores estiagens já registradas.
Imagens publicadas nos últimos dias mostram um cenário inimaginável, o Rio
Paraná quase seco e as cataratas do Iguaçu com alguns pequenos filetes de água.
Pode ser até que o fenômeno climático la niña esteja por trás dessas
adversidades no clima no sul do Brasil. Porém é importante considerar que mesmo
em épocas normais, sem o la niña, estiagens e enxurradas dominam o cenário trazendo
transtornos e perdas de vida.
Prof.
Jairo Cesa
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