terça-feira, 11 de janeiro de 2022

 

ESTIAGEM NO SUL DO BRASIL E ENXURRADAS NO NORDESTE E SUDESTE: OS REFLEXOS DO AQUECIMENTO GLOBAL

Nos últimos quatro ou cinco anos nossos biomas, o amazônico, o serrado e a mata atlântica, foram violentamente degradados com perdas expressivas de áreas de florestas e fauna. A pressão do agronegócio, o garimpo, a grilagem, a especulação imobiliária, colocaram no chão milhões de árvores centenárias. A floresta amazônica, sem dúvida, é o ecossistema mais complexo entre os demais, pois bilhões de litros d’água são liberados pelas folhas em forma de evapotranspiração. 

Todo esse volume de umidade vira nuvens ou rios voadores, onde são empurrados pelo vento e precipitam sobre o centro oeste, sudeste e o sul do Brasil. As atividades agrícolas e energéticas brasileiras ambas dependem direta e indiretamente desse ciclo da natureza, que a cada ano vem escasseando mais e mais. Os encontros de cúpula sobre o clima, as chamadas COP ou encontros das partes vêm insistentemente alertando os governantes de todo o planeta da urgente necessidade de repensar suas práticas predatórias de produção.

Não há dúvida que o calor extremo registrado no Canadá e na Sibéria em 2021; os gigantescos incêndios nos EUA, parte da Europa e Austrália; os violentos e mortais furacões, tufões e tornados cada vez mais frequentes em regiões consideradas livres são episódios climáticos extremos cuja ação humana tem reflexo direto e indireto. O Brasil país que outrora inspirava poetas a exaltar as belezas naturais - florestas, rios, praias, etc e com a crença de ter sido escolhido por deus como terra abençoada e livre de terremotos, furacões, tornados, enxurradas, secas, a realidade dos fatos mostra um cenário completamente oposto.

Pode ser até que o poeta de outrora tivesse razão, pois o Brasil era admirado por possuir uma das maiores e mais ricas biodiversidades do planeta. A floresta amazônica símbolo de orgulho no passado, atualmente é noticia no mundo inteiro como bioma ameaçado. Ainda tem quem não acredita que o clima da terra não está passando por transformações abruptas. Deslegitimar ou desconsiderar a ciência e todo o acumulo de pesquisas e conhecimentos produzidos até hoje sobre o tema se tornaram práticas comuns de grupos fundamentalistas e governos negacionistas.

O perigo disso é o crescimento considerável de adeptos às idéias negacionistas, a ponto de acreditar que a terra é plana e a existência humana e todas as manifestações são desígnios divinos. Outro problema observado é parte de quem nega a ciência e venera as sagradas escrituras está infiltrado em todas as instâncias do Estado republicano. O congresso nacional é, sem dúvida, o setor mais contagiado com tais aberrações. A bancada religiosa e do agronegócio são de maior representatividade, atuando de modo corporativo defendendo e aprovando temas sensíveis que lhes interessam.  

Flexibilização de leis relativas ao comércio de agrotóxicos, licenciamentos ambientais; APPs, mineração, etc, são algumas das demandas encabeçadas pelos parlamentares do agronegócio. Pare esse setor, o que se refere à proteção ou expansão de áreas verdes é sinônimo de perda de lucratividade, competitividade. O código florestal aprovado em 2012 deixou subtendido nas entrelinhas que o grande latifúndio permanecerá ditando de forma soberana as regras do jogo produtivo depredatório no Brasil.

O estado de Santa Catarina vem adquirindo ultimamente certo protagonismo em tudo que se refere a retrocessos ambientais. O primeiro foi o código ambiental de 2009, no qual serviu de modelo a elaboração do código florestal de 2012. O segundo foi à revisão e a aprovação em toque de caixa na ALESC do código ambiental de 2014 que flexibiliza ainda mais regras ambientais, principalmente no que concerne a proteção do bioma da mata atlântica. O terceiro e quarto ato desse combo de retrocessos são a lei estadual 270/21 sancionada em 14 de dezembro, e a lei federal n. 14.299/21, que estabelece políticas sobre transição energética de baixo carbono.

A primeira lei, a 270/21, de autoria do poder executivo institui a política estadual de transição energética justa. Essa lei permite que o setor carbonífero continue suas atividades durante os próximos vinte anos. O argumento do setor defensores do carvão mineral é que essa atividade gera anualmente mais de 6 bilhões de reais e vinte mil empregos diretos e indiretos. No entanto, em nenhum momento, não se viu um único jornal fazer menção ao passivo ambiental deixado por essa atividade nos cem anos de atividade.  

É perceptível que o Lobby favorável ao carvão mineral ultrapassou as fronteiras do poder executivo e legislativo catarinense. No Congresso nacional, o deputado federal Altair Guidi, inseriu uma emenda no projeto de Lei sobre transição energética de baixo carbono, cuja autoria foi o senador Esperidião Amin. O autor da emenda assegurou o prolongamento da atividade carbonífera por aproximadamente 20 anos. Enquanto o mundo todo vem abolindo o carvão de sua matriz energética, o Brasil segue o caminho oposto.

As respostas às insistentes atrapalhadas do governo federal e de Santa Catarina na questão ambiental é possível de ser notada nas intensas oscilações do clima brasileiro. Enquanto o nordeste, Bahia em especial sofre com as históricas enxurradas, o sul do país amarga uma das maiores estiagens já registradas. Imagens publicadas nos últimos dias mostram um cenário inimaginável, o Rio Paraná quase seco e as cataratas do Iguaçu com alguns pequenos filetes de água. Pode ser até que o fenômeno climático la niña esteja por trás dessas adversidades no clima no sul do Brasil. Porém é importante considerar que mesmo em épocas normais, sem o la niña, estiagens e enxurradas dominam o cenário trazendo transtornos e perdas de vida.

Prof. Jairo Cesa  

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