sexta-feira, 12 de novembro de 2021

 

COP-26, GLASGOW/ESCÓCIA: OS DISCURSOS HIPÓCRITAS DOS GOVERNADORES BRASILEIROS LÁ PRESENTES EM DEFESA DO CLIMA GLOBAL

Depois do forjado cenário apoteótico criado no estado para garantir sobrevida ao carvão mineral por mais tempo, sendo o “sucesso” protagonizado pelo governador do estado, noticias dão conta que o chefe do executivo catarinense embarcou para Escócia para participar da COP 26 em Glasgow. Parece piada, mas é real. O governador foi para Glasgow apresentar às autoridades internacionais metas de transição sustentável que o estado vem desenvolvendo como o programa de descarbonização e a ampliação da cobertura verde.

É importante destacar que além do governador catarinense, outros 23 chefes dos executivos estaduais também estarão presentes na conferência do clima em Glasgow. Estarem lá não significa que de repente ambas as autoridades brasileiras foram contagiados for um profundo sentimento ecológico pela defesa do planeta. Nada disso. Estar em Glasgow, tem por finalidade a assinatura de protocolos de compromisso sobre transições para uma economia verde, ou seja, atividades produtivas que não provocam impactos ambientais. Ficar de fora desse compromisso poderá trazer no futuro riscos econômicos sérios principalmente no segmento da agropecuária.  

A descarbonização, por sua vez, que são estudos ainda embrionários para a captura de CO2 liberado pelo carvão, entre outros, foi sem dúvida um das justificativas apresentadas pelo segmento carbonífero para manter o carvão mineral como matriz energética no estado. Acredita-se que os mais interessados da ida do governador ao encontro do clima foram exatamente os grandes empresários do carvão mineral. Isso porque em Glasgow um dos temas que convergirá às atenções do planeta será o fim dos combustíveis fósseis.

Apresentar propostas de descarbonização, especialmente em usinas termelétricas poderá quem sabe sensibilizar autoridades no evento, desconstruindo conceitos que mostram o carvão e o petróleo como vilões do clima.  É claro que em nenhum momento, ninguém da comitiva do governador ousará exibir o drama vivido por milhares de pessoas no sul do estado impactadas pela mineração. Também não haverá qualquer menção aos inúmeros processos já julgados pela justiça que condenaram proprietários de minas por crimes ambientais resultantes da extração de carvão.

E o que dizer dos desmatamentos e o uso indiscriminado de agrotóxico, agora incentivado por políticas que dão subsídios às empresas na comercialização de pesticidas, fungicidas, herbicidas, etc. São milhões de reais que o Estado deixa de arrecadar com tais subsídios, sendo o agronegócio o segmento mais beneficiado. Quanto aos desmatamentos, Santa Catarina sempre aparece na lista entre os que mais desmatam, sendo a Mata Atlântica o bioma mais afetado.

É fato, os responsáveis pela destruição dos biomas no estado, a mata atlântica, por exemplo, na sua maioria tem ligação com o segmento imobiliário. Suprimir florestas principalmente áreas de restinga e mangues para dar lugar a loteamentos ambientalmente impactantes. Também em Glasgow, deveria o governo catarinense informar que as audiências que estão sendo realizadas no estado para debater as mudanças no código ambiental catarinense visam beneficiar quase que exclusivamente aqueles que mais destroem o ambiente, o agronegócio.

Ouvindo a fala do representante da FIESC na audiência em Chapecó, as proposições apresentadas para inclusão no código confirmam essa certeza, que o documento tem finalidades bem explícitas, deixar “passar a boiada” em benefício de alguns segmentos econômicos. Uma das demandas propostas pela FIESC foi a prevalência do futuro código ambiental catarinense ao código florestal federal e a lei da mata atlântica.

O que isso significa? Significa que o documento modificativo ao atual código ambiental será extremamente permissivo. Atualmente a não devastação definitiva do bioma da mata atlântica especialmente na faixa costeira onde estão alguns remanescentes importantes como a restinga se deve a lei da mata atlântica, homologada em 2006. Essa lei é considerada mais restritiva à concessão de licenciamentos para loteamentos e grandes obras estruturantes no bioma da mata atlântica. Prevalecer o código ambiental em detrimento da mata atlântica, como é reivindicado pela FISEC (Federação da Indústria de Santa Catarina) representa a destruição definitiva do pouco que ainda resta desse remanescente no estado.

Um dos principais pontos discutidos e que mostram interesse de ambos os seguimentos na sua inclusão no documento final do código é quanto aos licenciamentos, que tenderá ser autodeclaratório. Esse mecanismo dispensará os trâmites burocráticos necessários, bastando o interessado ele próprio contratar profissionais, fazer o licenciamento e apresentar aos órgãos competentes. Quando afirmamos que o item relativo ao licenciamento autodeclaratório passará, essa certeza se deve ao fato da existência de um projeto de lei no senado federal, a PL n. 2.159/21, apelidada de PL DA BOIADA.

A chance de que essa PL não seja aprovada no senado é quase nula. A certeza se deve ao fato de que a relatora do projeto é a senadora Kátia Abreu, ligada ao agronegócio. Em Glasgow, onde participa da COP 26, a senadora foi interpelada por um grupo de jovens que entregaram o movimento Engajamento. Disseram à senadora que a aprovação da PL como está provocará impactos negativos aos ecossistemas.

Reflitam, das dezenas de pessoas que estão em Glasgow, parte significativa integram a comitiva oficial do governo Brasileiro. Como acreditar que esse grupo atuará na COP pensando em ações que realmente venham minimizar o aquecimento global. É muita hipocrisia. O fato é que a COP 26 deverá ser um grande balcão de negócios em benefício do capital. Isso já pode ser comprovado no primeiro texto rascunho apresentado em Glasgow.

Acreditem se quiser, não foi mencionada no documento nenhuma linha referente ao fim dos combustíveis fósseis: carvão, petróleo, gás. É claro que por trás dessa decisão está o lobby das nações industrializadas e produtoras de carvão e petróleo. A não inclusão dos combustíveis fósseis no texto, a justificativa apresentada é de que não reconhecem tais matrizes energéticas como impulsionadoras da crise climática.

Era tudo o que queriam ouvir os empresários do carvão do sul de Santa Catarina e estado do rio grande do sul. Com essa postura favorável aos combustíveis fósseis, especialmente carvão, continuaremos remando contra a maré climática. O que há de verdade nisso tudo são os discursos hipócritas de autoridades e empresários, jurando de mão posta defender o meio ambiente. São discursos vazios, repletos de artimanhas favorecendo os seus pares.

Querem outro exemplo de discurso hipócrita? Um mês antes do início da COP 26 o INPE apresentou relatório confirmando aumento expressivo de desmatamento na floresta amazônica, a área chegou a 1224 km2, equivalente ao estado do Rio de Janeiro. O estado líder do desmatamento foi o Pará, com 474 km2. O que é mais insano nisso tudo é que quase todos os governadores dos estados que integram a Amazônia legal estão ou estavam em Glasgow participando da conferência em defesa do clima!!!! Acreditem????

O governador do estado do Pará também estava lá, se juntando aos demais que integram o movimento Governadores Pelo Clima. Em uma reportagem exibida pela Agencia Pará, o governador paraense narrou o seguinte sobre a importância da COP 26: “conter o desmatamento não é suficiente, temos que trabalhar para regenerar as áreas já antropizadas, e é com esse desafio que o Pará e os estados da Amazônia se somam aos demais estados do Brasil para dizer que estamos trabalhando unidos por essa causa”.

Além do Pará, os dois estados que também tiveram elevados índices de desmatamento em setembro, Amazônia e Rondônia, seus governos estavam na COP 26, prometendo que farão de tudo para alcançar o desmatamento zero até 2050. Claro que até lá o desmatamento será zerado, pois não terá mais uma árvore para ser derrubada.  

Prof. Jairo Cesa

            

https://www.youtube.com/watch?v=fdc84NcCEws 

https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?80548/Katia-Abreu-ganha-caixa-preta-na-COP26-de-jovens-do-Engajamundo

https://unfccc.int/sites/default/files/resource/Non-paper%20on%20possible%20elements.pdf

https://agenciapara.com.br/noticia/32722/

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/amazonia-desmatamento-em-setembro-de-2021-supera-mes-em-2020/

https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2021/10/08/setembro-tem-segundo-pior-indice-de-alertas-de-desmatamento-aponta-inpe.ghtml

https://news.mongabay.com/2021/10/brazil-reports-increase-in-amazon-logging/

https://www.greenpeace.org/brasil/blog/deter-registra-segundo-pior-indice-nos-alertas-para-setembro/

 

 

 

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