NOVO
ENSINO MÉDIO E O REBAIXAMENTO DO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE
O
Novo Ensino Médio com previsão para começar em 2022 na realidade não tem nada
de novo. É considerado por educadores e especialistas como um grande
retrocesso, um modelo piorado ao implantado na década de 1970 quando vigorava a
famigerada lei 5692/71. É importante destacar que não é somente o ensino médio
que irá retroceder, o ensino fundamental também conforme está exposto na BNCC. Nessas
mudanças como já é de praxe entrou em ação o poderoso lobby das corporações
econômicas e grandes instituições financeiras, subsidiando governos
entreguistas, Temer e Bolsonaro, interessados em transformar a massa de jovens
brasileiros em força de trabalho barata.
Quando
afirmamos que tais reformas não têm a mínima intenção de construir sujeitos
críticos, conscientes e aptos a decidir seus destinos, a resposta está no novo
currículo do ensino médio com a obrigatoriedade apenas das disciplinas língua portuguesa,
língua estrangeira e matemática. As demais áreas do conhecimento, sociologia,
filosofia, biologia, física, química, história, geografia, etc, foram fundidas
em itinerários específicos: ciências humanas sociais aplicadas; ciências da
natureza e formação técnica profissional. Para entender a jogada sórdida do
capital sobre os currículos, no final da etapa do ensino médio o estudante
poderá escolher um desses itinerários que mais se identifica.
O
agravante aqui é que poucos serão os municípios brasileiros que irão ofertar
todos esses itinerários, exceto, é claro, as escolas particulares. De fato
pouquíssimos serão os municípios que irão garantir todos os itinerários, na sua
esmagadora maioria oferecerão apenas cursos de formação profissionalizante de
baixa qualidade. E por que tanta certeza nisso? Não precisamos de bola de
cristal para saber. Quem vive o dia a dia de uma escola pública sabe o quão
difícil é lecionar onde tudo falta de computadores a materiais de limpeza.
Será
que agora a partir da concretização dessas reformas vai ser diferente, como um
passe de mágica? É óbvio que não. Não há dúvida que parcela significativa dos
estudantes que concluem do ensino médio das escolas públicas não tem intenção
de cursar universidade. Isso não justifica ter que mudar uma estrutura
curricular eliminando qualquer possibilidade aqueles que almejam seguir os
estudos. Pois é isso acontecerá. Haverá somente escolas “profissionalizantes”
nos municípios menores, cujos cursos oferecidos não darão direito ao estudante
de aprender química, física, biologia, história, etc. Caso não queira seguir o
itinerário profissionalizante, o caminho é procurar uma escola que ofereça
outros itinerários em municípios próximos ou matricular-se em unidades
particulares de ensino.
Grande
parte dos cursos profissionalizantes que serão ofertados nas escolas públicas
de nível público não terá professores habilitados para o exercício da função. A
falta de profissional bem como de infraestrutura capaz de assegurar uma
formação satisfatória, não impedirá a escola de formar parcerias com
instituições como SENAI, SENAC, etc, que já estão no mercado do ensino técnico há
muito tempo. A alternativa assegurada
pela reforma do ensino médio é a contratação de pessoas com “notório saber”, ou
seja, aqueles que apresentam algum conhecimento do assunto, sem a
obrigatoriedade de ter habilitação pedagógica.
Um
exemplo que poderia ser seguido por todas as escolas públicas de ensino médio
são os Institutos Federais. Os estudantes que concluem o nível secundário
nessas instituições apresentam uma satisfatória formação técnica e um cabedal
de conhecimentos que o capacita a disputar vagas em universidades
públicas. Basta observar a lista de
estudantes de escolas públicas que ingressaram no ensino superior nos últimos
anos, muitos são oriundos dessas instituições.
Embora
público, os ingressantes aos institutos federais passam por exames de seleção,
tamanha a procura por uma vaga. Os cursos técnicos ou tecnicismo proposto pelo
Novo Ensino Médio em nada se comparará aos que são oferecidos pelas escolas
técnicas federais. Além de não dar qualificação alguma ao cursando, para ter
direito ao certificado de que o qualifica como um profissional técnico terá que
estudar mais um ou um ano meio.
Lembro
que na década de 1990 nas várias paralisações e assembleias de professores da
rede publica estadual de ensino, Nilson Matos Pereira, uma das principais
lideranças do SINTE já profetizava que num futuro próximo as escolas estaduais
seriam tomadas por empresas ou instituições de ensino técnico como o SENAI
formando parcerias com o Estado. Portanto o futuro chegou. Mais uma vez o lobby
das corporações empresariais, como a FIESC, por exemplo, se mostrou muito
competente nas reformas, adequando às escolas e os currículos segundo seus interesses
e ideologias.
Prof.
Jairo Cesa
https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2021/08/novo-ensino-medio-doria-bolsonaro-escola/
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