domingo, 7 de novembro de 2021

 

NOVO ENSINO MÉDIO E O REBAIXAMENTO DO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE

O Novo Ensino Médio com previsão para começar em 2022 na realidade não tem nada de novo. É considerado por educadores e especialistas como um grande retrocesso, um modelo piorado ao implantado na década de 1970 quando vigorava a famigerada lei 5692/71. É importante destacar que não é somente o ensino médio que irá retroceder, o ensino fundamental também conforme está exposto na BNCC. Nessas mudanças como já é de praxe entrou em ação o poderoso lobby das corporações econômicas e grandes instituições financeiras, subsidiando governos entreguistas, Temer e Bolsonaro, interessados em transformar a massa de jovens brasileiros em força de trabalho barata.

Quando afirmamos que tais reformas não têm a mínima intenção de construir sujeitos críticos, conscientes e aptos a decidir seus destinos, a resposta está no novo currículo do ensino médio com a obrigatoriedade apenas das disciplinas língua portuguesa, língua estrangeira e matemática. As demais áreas do conhecimento, sociologia, filosofia, biologia, física, química, história, geografia, etc, foram fundidas em itinerários específicos: ciências humanas sociais aplicadas; ciências da natureza e formação técnica profissional. Para entender a jogada sórdida do capital sobre os currículos, no final da etapa do ensino médio o estudante poderá escolher um desses itinerários que mais se identifica.

O agravante aqui é que poucos serão os municípios brasileiros que irão ofertar todos esses itinerários, exceto, é claro, as escolas particulares. De fato pouquíssimos serão os municípios que irão garantir todos os itinerários, na sua esmagadora maioria oferecerão apenas cursos de formação profissionalizante de baixa qualidade. E por que tanta certeza nisso? Não precisamos de bola de cristal para saber. Quem vive o dia a dia de uma escola pública sabe o quão difícil é lecionar onde tudo falta de computadores a materiais de limpeza.  

Será que agora a partir da concretização dessas reformas vai ser diferente, como um passe de mágica? É óbvio que não. Não há dúvida que parcela significativa dos estudantes que concluem do ensino médio das escolas públicas não tem intenção de cursar universidade. Isso não justifica ter que mudar uma estrutura curricular eliminando qualquer possibilidade aqueles que almejam seguir os estudos. Pois é isso acontecerá. Haverá somente escolas “profissionalizantes” nos municípios menores, cujos cursos oferecidos não darão direito ao estudante de aprender química, física, biologia, história, etc. Caso não queira seguir o itinerário profissionalizante, o caminho é procurar uma escola que ofereça outros itinerários em municípios próximos ou matricular-se em unidades particulares de ensino.

Grande parte dos cursos profissionalizantes que serão ofertados nas escolas públicas de nível público não terá professores habilitados para o exercício da função. A falta de profissional bem como de infraestrutura capaz de assegurar uma formação satisfatória, não impedirá a escola de formar parcerias com instituições como SENAI, SENAC, etc, que já estão no mercado do ensino técnico há muito tempo.  A alternativa assegurada pela reforma do ensino médio é a contratação de pessoas com “notório saber”, ou seja, aqueles que apresentam algum conhecimento do assunto, sem a obrigatoriedade de ter habilitação pedagógica.  

Um exemplo que poderia ser seguido por todas as escolas públicas de ensino médio são os Institutos Federais. Os estudantes que concluem o nível secundário nessas instituições apresentam uma satisfatória formação técnica e um cabedal de conhecimentos que o capacita a disputar vagas em universidades públicas.  Basta observar a lista de estudantes de escolas públicas que ingressaram no ensino superior nos últimos anos, muitos são oriundos dessas instituições.

Embora público, os ingressantes aos institutos federais passam por exames de seleção, tamanha a procura por uma vaga. Os cursos técnicos ou tecnicismo proposto pelo Novo Ensino Médio em nada se comparará aos que são oferecidos pelas escolas técnicas federais. Além de não dar qualificação alguma ao cursando, para ter direito ao certificado de que o qualifica como um profissional técnico terá que estudar mais um ou um ano meio.

Lembro que na década de 1990 nas várias paralisações e assembleias de professores da rede publica estadual de ensino, Nilson Matos Pereira, uma das principais lideranças do SINTE já profetizava que num futuro próximo as escolas estaduais seriam tomadas por empresas ou instituições de ensino técnico como o SENAI formando parcerias com o Estado. Portanto o futuro chegou. Mais uma vez o lobby das corporações empresariais, como a FIESC, por exemplo, se mostrou muito competente nas reformas, adequando às escolas e os currículos segundo seus interesses e ideologias.

Prof. Jairo Cesa      

 

https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2021/08/novo-ensino-medio-doria-bolsonaro-escola/

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