VOLTA
ÀS AULAS PRESENCIAIS COLOCA EM RISCO A VIDA DE MILHARES DE TRABALHADORES/AS DA
EDUCAÇÃO EM SANTA CATARINA
Lembro
de ter encaminhado em 2013 ou 2014, como membro da coordenação do SINTE
Araranguá, ofício ao corpo de bombeiros e as vigilâncias sanitárias dos
municípios para que fosse realizada inspeção das condições de infraestrutura nas
42 escolas que integram a GERED Araranguá. Dois ou três municípios encaminharam
seus relatórios de inspeção ao sindicato, enquanto que os demais, nenhuma resposta
ou satisfação foi dada.
Na
época, a decisão do encaminhamento do ofício a tais entidades, foi pelo fato de
o Sinte ter conhecimento da triste realidade das escolas, que não ofereciam o
mínimo de condições a um ensino de qualidade. Embora os governos que sucederam
tenham realizado alguns reparos paliativos nessas unidades de ensino, o cenário
é ainda bastante delicado. Somado aos problemas físicos, as escolas também
careciam de quase tudo, falta de material de limpeza, papel higiênico a
material pedagógico.
Para
que essas unidades funcionassem com o mínimo de conforto, professores, gestores
e a comunidade escolar, promoviam campanhas, bingos, festas, etc., para a
arrecadação de recursos. Concluir o ano letivo sem tirar uma única licença para
tratamento de alguma doença resultante do esforço descomunal no cumprimento dos
afazeres pedagógicos era visto como um ato heroico do profissional da educação.
Isso
antes da Pandemia do Corona Vírus. O fechamento das escolas estaduais,
municipais e particulares em 2020 preservou a vida de milhares de profissionais
da educação. Quando se imaginava que tal medida fosse mantida em 2021, diante
do agravamento do quadro de contaminação no estado, o governo do estado lançou
decreto autorizando o retorno às aulas presenciais, seguindo alguns requisitos
mínimos. Dentre os itens obrigatórios, o distanciamento de 1,5 metros entre uma
carteira e outra é um deles.
Nas
regiões com nível gravíssimo de pandemia, somente 70% dos assentos dos
transportes escolares podem ser ocupados. Se o nível for grave ou moderado, o
decreto estabelece 100% dos assentos. Até ai tudo bem. O fato é que esses
estudantes, a sua maioria, vêm de famílias que negam as medidas para evitar a
contágio com o COVID 19. Mesmo com o número reduzido de estudantes por sala de
aula, isso não impede que o vírus se espalhe pelo recinto.
Para
ter o mínimo de segurança e conforto, todos os cômodos das escolas deverão ser
mantidos limpos a todo instante, como acontece em alguns hospitais. Isso,
portanto, elevará ainda mais o esforço dos profissionais da limpeza, que já
faziam das tripas aos corações, antes da pandemia, para manter todos os cômodos
das escolas limpos. É bem possível que esses profissionais venham sofrer
pressões ainda maiores dos gestores para manter desinfetadas as escolas. São
esses, portanto, os mais suscetíveis ao contágio do vírus. A pergunta é, haverá
material de limpeza suficiente para que cada escola possa funcionar
satisfatoriamente?
Quem
acompanha os noticiários vem percebendo que uma segunda onda do COVID já é uma
realidade no estado de Santa Catarina. Municípios do oeste catarinense, a
exemplo de Chapecó, o prefeito decretou o fechamento do comércio e escolas para
combater a rápida proliferação do vírus. Em hipótese alguma, as aulas
presenciais deveriam ser autorizadas sem a imunização de todos os profissionais
da educação. O governo brasileiro deveria seguir o mesmo protocolo do Chile,
onde os professores foram incluídos na lista de grupo prioritário de vacinação.
Sabemos
que num país onde se tem um governo que vem negando a pandemia desde o seu
início, que infringe todas as regras de contágio, que trata o professor como um
Zé ninguém, é claro que jamais será incluído como grupo prioritário. Associado
ao medo, ao excessivo estresse diário que resultará na baixa imunidade, não há
dívida que em poucos dias teremos o aumento de casos de trabalhadores da
educação contaminados com o COVID.
É
importante considerar como exemplo negativo da reabertura de escolas, o
município de Manaus. Em agosto de 2020, o prefeito decidiu pela reabertura das
aulas presenciais, depois do município ter vivido o caos da pandemia no mês de
maio daquele ano. Algumas semanas depois do início das aulas, testes foram
realizados em 1064 professores. Desse total, um terço, ou seja, 342
profissionais da educação testaram positivo para o COVID 19. Relatos dão conta
que o governo de Manaus não cumpriu com
o que determinou a OMS que é o afastamento por 14 dias do cidadão testado
positivo.
Não
há dúvida que a pressão pela volta às aulas presenciais se deve as grandes
corporações de ensino que tiveram prejuízos consideráveis devido à perda de
contingentes. O Lobby desse segmento junto aos governos fez com que lançassem
decreto liberando o retorno às aulas, num momento onde os casos de infectados e
mortes pelo COVID vêm aumentando.
É
óbvio que os níveis de segurança sanitária em unidades de ensino particulares
são melhores que nas públicas. Grande parte dos estudantes das escolas
particulares não precisam se utilizar de transportes públicos ou ônibus
escolares para se deslocarem. Muitos justificam o retorno às aulas presenciais
à abertura de outros segmentos e o aglomero de pessoas em festas.
A
verdade é que muitos daqueles que frequentam tais festas, sem o uso de máscaras
e distanciamentos, estão indo agora para as escolas. Por serem, jovens, muitos
são assintomáticos, ou seja, possuem o vírus, porém não desenvolvem sintomas.
Diferente dos que trabalham na escola, por serem mais velhos e submetidos ao
estresse, facilmente serão contaminados com grandes possibilidades de
desenvolverem sintomas mais graves colocando em risco a própria vida.
Prof.
Jairo Cesa
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