OS DESAFIOS E AS POSSIBILIDADES DO
PROJETO GEOPARQUE CAMINHO DOS CÂNIONS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA
REGIÃO DO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA
![]() |
Cachoeira da Cortina - Timbé do Sul |
Há
muitos anos vem se tentando na região do extremo sul de Santa Catarina
desenvolver políticas públicas para redimensionar o conceito de turismo, que
tradicionalmente é concebido como sazonal, ou seja, apenas no verão, onde prioriza
quase que exclusivamente os municípios banhados pelo oceano atlântico. É
inacreditável que parcela significativa da população dos municípios que
integram a AMESC não tem a mínima noção do extraordinário potencial turístico
oferecido por essa região. Além de belíssimas praias e lagoas, que atraem centenas
de turistas e veranistas todos os anos, há poucos quilômetros da faixa costeira
é possível se encantar e se deliciar banhando em cachoeiras com quedas d’água que
ultrapassam os cem metros de altura; caminhar por trilhas dentro de florestas e
cânions; visitar comunidades tradicionais e furnas que guardam registros
arqueológicos de grupos pré-históricos.
Entretanto,
todo esse potencial que já poderia há anos estar contribuindo para alavancar a
economia da região, continua em fase embrionária desde 2007 quando foi
homologado o projeto Geoparque Caminho dos Cânions. No Brasil, só existe um geoparque reconhecido
pela UNESCO, o de Araripe, no estado do Ceará. Somente a china possui 32. O
Caminho dos Cânions, onde haverá a inserção de quatro municípios catarinenses e
três do rio grande do sul, será o 128° geoparque existente no planeta. Embora
exista boa vontade de dezenas de pessoas envolvidas diretamente no projeto, o
que deixa dúvidas é o incipiente esforço do governo estadual e de seus
representantes na região, na convergência das energias para a execução rápida
das etapas subseqüentes que assegurem a homologação pela UNESCO.[1]
O
pouco número de geoparques criados no Brasil, embora sendo o país que possua um
dos melhores potenciais geológicos no planeta, tem relação com múltiplos
fatores, desde a falta de legislações específicas; à falta de planejamento
estratégico; degradação e falta de educação patrimonial. Parece que dessa vez, o
processo que resultará no aceite da UNESCO acerca do geoparque caminho dos
cânions tem tudo para deslanchar. A audiência pública promovida pela ALESC no
município da Praia Grande em outubro de 2017, sob a coordenação do deputado
Dirceu Dresch, serviu como termômetro para avaliar o interesse e o sentimento da
população e das autoridades da região e do estado acerca desse projeto.[2]
Durante
quase três horas de debate, o que se sucedeu foi certo mal estar sentido pelas
autoridades municipais e estaduais presentes, quando ouviram os desabafos
desferidos por integrantes da sociedade civil e cidadãos/ãs, afirmando
categoricamente que o projeto é discriminatório, pois exclui grupos sociais
históricos, como os quilombolas, que há séculos habitam a região. Se tal
comunidade não for integrada e suas necessidades básicas atendidas, como luz
elétrica e saneamento básico, o projeto tenderá a fracassar. A comunidade ainda
é carente de serviços básicos ao ponto de muitas residências ainda utilizarem patentes
de madeira. A própria representante da empresa contratada para realizar o
diagnóstico das potencialidades da região, deixou bem claro afirmando que: “O
geoparque vem para desenvolver as comunidades, com o compromisso dos gestores
públicos e a parceria dos empresários locais para trazer oportunidades de
renda, é um projeto de longo prazo que não traz restrições às atividades
econômicas”.
Parece
que, segundo o deputado coordenador da audiência, não é exatamente o que pensam
alguns gestores públicos e empresários ligados ao turismo da região, que estão
mais preocupados com o sucesso do seu negócio, que a melhoria dos demais setores
da sociedade que também poderiam se beneficiar com o turismo. O projeto
Geoparque Caminho dos Cânions é inquestionavelmente a oportunidade que terá a
população do extremo sul do estado para superar o histórico atraso sócio
econômico que estão submetidas. Se depender dos seguimentos políticos que nos
representam em vários patamares de poder, a tendência é continuarmos amargando
por longos anos o título de a região mais atrasada do estado.
É
possível que 2018, ano eleitoral, algumas iniciativas mais pontuais sobre o
projeto venham a se concretizar por parte do governo do estado, quem sabe até a
disponibilização de recursos mais vultosos para fomentar tais iniciativas. Como
já é de praxe no Brasil e no estado de Santa Catarina, onde muitos projetos têm
um tempo limitado de validade, ou seja, dura o mesmo tempo de algumas gestões
públicas, não há qualquer certeza que após os trâmites eleitorais de 2018, a
nova composição política do executivo catarinense irá tratar o projeto
geopareque como prioridade. Como alternativa aos desleixos do poder público, é necessário
fazer com que a população incorpore o projeto, compreendendo como instrumento
importante para promover o seu desenvolvimento.
O
trabalho de Educação Patrimonial e Ambiental deverá se caracterizar como
prioridade das prioridades, atendendo não somente estudantes das distintas
redes de ensino, como também toda a população dos municípios integrados e não
integrados ao projeto. Se tais ações não forem estrategicamente difundidas,
corre-se o risco de a UNESCO excluir da lista a proposta de geoparque para Santa
Catarina. Essa é uma probabilidade concreta baseada em visitas e observações realizadas
em municípios inseridos ao projeto quando se constatou o elevado processo de
degradação ambiental e patrimonial.
É
fato é que atualmente expressiva parcela das pessoas que visitam os municípios
indicados para o projeto é de turistas de outros estados e até mesmo países que
buscam ambientes singulares semelhantes ao da região. Não há registros ou
fontes que comprovam haver lugar no mundo onde a distância entre a faixa
costeira banhada pelo oceano atlântico e o planalto seja tão curta. Em pouco
mais de uma hora é possível, de automóvel, sair da praia e contemplar as deslumbrantes
paisagens cênicas; caminhar por trilhas no meio da floresta e dos cânions;
banhar-se em cachoeiras com quedas d’água que ultrapassam os cem metros e
transitar por comunidades tradicionais e furnas que guardam vestígios de
civilizações passadas.[3]
No
entanto, todo esse rico potencial turístico vem paulatinamente sendo impactado por
atividades econômicas ainda nada sustentáveis. A visita realizada em três
quedas d’águas nos municípios de Morro Grande, Jacinto Machado e Timbé do Sul, mostrou
que tais cenários estão ameaçados pelos desmatamentos e queimadas.[4] A inserção de espécies exóticas como
eucaliptos e pinos vem alterando abruptamente todo o ecossistema, impactando a
dinâmica das nascentes, da flora e da fauna.
Alguns desses lugares por ser
ainda pouco conhecido e de difícil acesso, como a cachoeira do Bizungo, no
Morro Grande, não se vê forte impacto ambiental aparente no entorno, exceto a
progressiva proliferação de pinos e eucaliptos.
No município de Timbé do Sul, que possui balneários paradisíacos e
cachoeiras inigualáveis, também não mostra isenta das ações antrópicas.[5]
Tudo converge para que com a pavimentação asfáltica da rodovia Br. 285, Serra
da Rocinha (Timbé do Sul) e da Serra do Faxinal (Praia Grande), o fluxo de
pessoas que transitarão por esses cenários tenderá a aumentar substancialmente.
O
futuro melhoramento das vias de acesso aos municípios que integram ao geoparque
deve ser considerado e visto como elemento motivador dos debates para acelerar a
homologação do projeto Geoparque Caminho dos Cânions. Pode estar aí a
oportunidade da região do extremo sul do estado se deslanchar não só
economicamente como também no aspecto cultural. Entretanto, é necessário frisar
que esse tipo de “indústria” requer a concretização de algumas demandas
importantes.
![]() |
Cachoeira do Bizungo - Morro Grande |
Uma
delas é desconstruir o paradigma da população em relação a sua concepção sobre
a sustentabilidade. É claro que o público que será atraído para esses ambientes
de lazer e contemplação tende a apresentar níveis de sensibilização mais
aguçados. Formar novas gerações de cidadãos/ãs que se adéqüem a esse novo
paradigma social deverá ser compromisso das escolas. A reformulação do
currículo escolar com a inserção de temas que promovam a sensibilização e a
valorização dos aspectos paisagísticos e culturais deverá ser o primeiro
desafio.
Prof.
Jairo Cezar
[1] file:///C:/Users/Jairo/Downloads/16220-58259-1-PB.pdf
[2]
http://www.jornaldoscanyons.com.br/2017/10/alesc-promove-audiencia-publica-sobe-o-geoparque-JornaldosCanyons.html
[3] https://www.youtube.com/watch?v=ZHGqA6pfhhc
[4] https://www.youtube.com/watch?v=4tKqDZ6O6uA
Nenhum comentário:
Postar um comentário