sábado, 10 de fevereiro de 2018

OS DESAFIOS E AS POSSIBILIDADES DO PROJETO GEOPARQUE CAMINHO DOS CÂNIONS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA REGIÃO DO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA

Cachoeira da Cortina - Timbé do Sul


Há muitos anos vem se tentando na região do extremo sul de Santa Catarina desenvolver políticas públicas para redimensionar o conceito de turismo, que tradicionalmente é concebido como sazonal, ou seja, apenas no verão, onde prioriza quase que exclusivamente os municípios banhados pelo oceano atlântico. É inacreditável que parcela significativa da população dos municípios que integram a AMESC não tem a mínima noção do extraordinário potencial turístico oferecido por essa região. Além de belíssimas praias e lagoas, que atraem centenas de turistas e veranistas todos os anos, há poucos quilômetros da faixa costeira é possível se encantar e se deliciar banhando em cachoeiras com quedas d’água que ultrapassam os cem metros de altura; caminhar por trilhas dentro de florestas e cânions; visitar comunidades tradicionais e furnas que guardam registros arqueológicos de grupos pré-históricos.



Entretanto, todo esse potencial que já poderia há anos estar contribuindo para alavancar a economia da região, continua em fase embrionária desde 2007 quando foi homologado o projeto Geoparque Caminho dos Cânions.  No Brasil, só existe um geoparque reconhecido pela UNESCO, o de Araripe, no estado do Ceará. Somente a china possui 32. O Caminho dos Cânions, onde haverá a inserção de quatro municípios catarinenses e três do rio grande do sul, será o 128° geoparque existente no planeta. Embora exista boa vontade de dezenas de pessoas envolvidas diretamente no projeto, o que deixa dúvidas é o incipiente esforço do governo estadual e de seus representantes na região, na convergência das energias para a execução rápida das etapas subseqüentes que assegurem a homologação pela UNESCO.[1]  
O pouco número de geoparques criados no Brasil, embora sendo o país que possua um dos melhores potenciais geológicos no planeta, tem relação com múltiplos fatores, desde a falta de legislações específicas; à falta de planejamento estratégico; degradação e falta de educação patrimonial. Parece que dessa vez, o processo que resultará no aceite da UNESCO acerca do geoparque caminho dos cânions tem tudo para deslanchar. A audiência pública promovida pela ALESC no município da Praia Grande em outubro de 2017, sob a coordenação do deputado Dirceu Dresch, serviu como termômetro para avaliar o interesse e o sentimento da população e das autoridades da região e do estado acerca desse projeto.[2]
Durante quase três horas de debate, o que se sucedeu foi certo mal estar sentido pelas autoridades municipais e estaduais presentes, quando ouviram os desabafos desferidos por integrantes da sociedade civil e cidadãos/ãs, afirmando categoricamente que o projeto é discriminatório, pois exclui grupos sociais históricos, como os quilombolas, que há séculos habitam a região. Se tal comunidade não for integrada e suas necessidades básicas atendidas, como luz elétrica e saneamento básico, o projeto tenderá a fracassar. A comunidade ainda é carente de serviços básicos ao ponto de muitas residências ainda utilizarem patentes de madeira. A própria representante da empresa contratada para realizar o diagnóstico das potencialidades da região, deixou bem claro afirmando que: “O geoparque vem para desenvolver as comunidades, com o compromisso dos gestores públicos e a parceria dos empresários locais para trazer oportunidades de renda, é um projeto de longo prazo que não traz restrições às atividades econômicas”.
Parece que, segundo o deputado coordenador da audiência, não é exatamente o que pensam alguns gestores públicos e empresários ligados ao turismo da região, que estão mais preocupados com o sucesso do seu negócio, que a melhoria dos demais setores da sociedade que também poderiam se beneficiar com o turismo. O projeto Geoparque Caminho dos Cânions é inquestionavelmente a oportunidade que terá a população do extremo sul do estado para superar o histórico atraso sócio econômico que estão submetidas. Se depender dos seguimentos políticos que nos representam em vários patamares de poder, a tendência é continuarmos amargando por longos anos o título de a região mais atrasada do estado.
É possível que 2018, ano eleitoral, algumas iniciativas mais pontuais sobre o projeto venham a se concretizar por parte do governo do estado, quem sabe até a disponibilização de recursos mais vultosos para fomentar tais iniciativas. Como já é de praxe no Brasil e no estado de Santa Catarina, onde muitos projetos têm um tempo limitado de validade, ou seja, dura o mesmo tempo de algumas gestões públicas, não há qualquer certeza que após os trâmites eleitorais de 2018, a nova composição política do executivo catarinense irá tratar o projeto geopareque como prioridade. Como alternativa aos desleixos do poder público, é necessário fazer com que a população incorpore o projeto, compreendendo como instrumento importante para promover o seu desenvolvimento.
O trabalho de Educação Patrimonial e Ambiental deverá se caracterizar como prioridade das prioridades, atendendo não somente estudantes das distintas redes de ensino, como também toda a população dos municípios integrados e não integrados ao projeto. Se tais ações não forem estrategicamente difundidas, corre-se o risco de a UNESCO excluir da lista a proposta de geoparque para Santa Catarina. Essa é uma probabilidade concreta baseada em visitas e observações realizadas em municípios inseridos ao projeto quando se constatou o elevado processo de degradação ambiental e patrimonial.


É fato é que atualmente expressiva parcela das pessoas que visitam os municípios indicados para o projeto é de turistas de outros estados e até mesmo países que buscam ambientes singulares semelhantes ao da região. Não há registros ou fontes que comprovam haver lugar no mundo onde a distância entre a faixa costeira banhada pelo oceano atlântico e o planalto seja tão curta. Em pouco mais de uma hora é possível, de automóvel, sair da praia e contemplar as deslumbrantes paisagens cênicas; caminhar por trilhas no meio da floresta e dos cânions; banhar-se em cachoeiras com quedas d’água que ultrapassam os cem metros e transitar por comunidades tradicionais e furnas que guardam vestígios de civilizações passadas.[3]
No entanto, todo esse rico potencial turístico vem paulatinamente sendo impactado por atividades econômicas ainda nada sustentáveis. A visita realizada em três quedas d’águas nos municípios de Morro Grande, Jacinto Machado e Timbé do Sul, mostrou que tais cenários estão ameaçados pelos desmatamentos e queimadas.[4]  A inserção de espécies exóticas como eucaliptos e pinos vem alterando abruptamente todo o ecossistema, impactando a dinâmica das nascentes, da flora e da fauna. 


Alguns desses lugares por ser ainda pouco conhecido e de difícil acesso, como a cachoeira do Bizungo, no Morro Grande, não se vê forte impacto ambiental aparente no entorno, exceto a progressiva proliferação de pinos e eucaliptos.  No município de Timbé do Sul, que possui balneários paradisíacos e cachoeiras inigualáveis, também não mostra isenta das ações antrópicas.[5] Tudo converge para que com a pavimentação asfáltica da rodovia Br. 285, Serra da Rocinha (Timbé do Sul) e da Serra do Faxinal (Praia Grande), o fluxo de pessoas que transitarão por esses cenários tenderá a aumentar substancialmente.


O futuro melhoramento das vias de acesso aos municípios que integram ao geoparque deve ser considerado e visto como elemento motivador dos debates para acelerar a homologação do projeto Geoparque Caminho dos Cânions. Pode estar aí a oportunidade da região do extremo sul do estado se deslanchar não só economicamente como também no aspecto cultural. Entretanto, é necessário frisar que esse tipo de “indústria” requer a concretização de algumas demandas importantes.

Cachoeira do Bizungo  - Morro Grande

Uma delas é desconstruir o paradigma da população em relação a sua concepção sobre a sustentabilidade. É claro que o público que será atraído para esses ambientes de lazer e contemplação tende a apresentar níveis de sensibilização mais aguçados. Formar novas gerações de cidadãos/ãs que se adéqüem a esse novo paradigma social deverá ser compromisso das escolas. A reformulação do currículo escolar com a inserção de temas que promovam a sensibilização e a valorização dos aspectos paisagísticos e culturais deverá ser o primeiro desafio.
Prof. Jairo Cezar
  
           
                        





[1] file:///C:/Users/Jairo/Downloads/16220-58259-1-PB.pdf    

[2] http://www.jornaldoscanyons.com.br/2017/10/alesc-promove-audiencia-publica-sobe-o-geoparque-JornaldosCanyons.html        

[3] https://www.youtube.com/watch?v=ZHGqA6pfhhc
[4] https://www.youtube.com/watch?v=4tKqDZ6O6uA
[5] https://www.youtube.com/watch?v=uBbbO4Ivc2k


















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