quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018


BANCADA RURALISTA TENTA BARGANHAR VOTOS EM TROCA DA APROVAÇÃO DE PROJETOS DE INTERESSE COMO O PL 6.299/02 (PACOTE DO VENENO)

A mesma estratégia adotada pelo governo Temer no final de 2017 onde tornou legal a escravidão no campo por meio da reforma trabalhista, pretende repetir a dose dessa vez com a reforma da previdência, barganhando com parlamentares da bancada ruralista o apoio e os votos em troca do projeto de lei n. 6.299/02 batizado de Pacote do Veneno.  Esse projeto foi apresentado pelo ex-senador e agora ministro da agricultura Blário Maggio, que trata entre outras coisas de mudanças segnificativas nas regras pesquisa, classificação, registro e fiscalização de agrotóxicos. Um dos itens que o projeto pretende suprimir são os rótulos com caveiras presentes nas embalagens de venenos. Outra PL envolvida na negociata do veneno é a de n. 3.200/2015 que trata da revogação definitiva da lei n. 7.802 de 1989. Se essa manobra for bem sucedida desaparecerá dos receituários o termo agrotóxico, no lugar aparecerá a nomenclatura “defensivo fitossanitário”.[1]     
Somente um cenário muito adverso conjunturalmente poderá inviabilizar essa malfadada violência contra os brasileiros que estão se envenenando cada dia mais. A intervenção do exército na cidade do Rio de Janeiro gerando grande inquietação nacional e internacional pode ser uma dessas adversidades que inibirá ou não o sinistro acordão que colocará mais veneno na mesa dos brasileiros.  
No instante em que milhões de brasileiros estavam com suas atenções direcionadas à ação militar naquele estado, o congresso nacional poderia aproveitar-se do ensejo e votar o projeto da reforma da previdência. Entretanto, dispositivos da constituição federal veda tal prerrogativa em casos excepcionais como de uma ação militar. Ninguém duvida que a intervenção no Rio de Janeiro foi premeditada com o propósito de melhorar os níveis de popularidade do governo federal frente à opinião pública. 
O fato é que o pacote do veneno que interessa ao agronegócio e poderosos segmentos transnacionais fabricantes de agrotóxico é muito preocupante. Diversos especialistas ouvidos afirmam categoricamente que não é função do congresso nacional nem tão pouco do executivo a responsabilidade de mexer nas regras decidindo os tipos de agrotóxicos para as lavouras, e sim de técnicos e entidades como a ANVISA, IBAMA, entre outras, que atuam pelo bem estar da população.
Não é de hoje que governos, pressionados pela ganância do agronegócio, vem atuando abertamente no desmantelamento desses órgãos, que são reconhecidos pela sua credibilidade e independência. O que querem é submetê-los as ordens de quadrilheiros mal intencionados instalados nas esferas dos poderes, dentre eles o Ministério da Agricultura. Lembram dos nomes e currículos de duas personalidades, Katia Abreu, no governo Dilma, e Blario Maggi, atual governo Temer, ambos no Ministério da Agricultura? Isso mesmo, Katia Abreu e o atual Blario Mággio, principais comandantes da poderosa linha de frente da bancada ruralista, defensores do desmatamento e envenenamento do campo. Tanto um quanto ou outro são ferrenhos opositores da demarcação de terras indígenas, autores da PEC 45/2013 que propunha a venda da demarcação de terras indígenas em áreas retomadas.[2]    
Dentre as várias proposições contidas no texto do projeto, sendo que já recebeu uma infinidade de emendas está à troca do termo agrotóxico por DEFENSIVO FITOSSANITÁRIO; a não necessidade de estudos aprofundados sobre a toxidade dos venenos; a não exigência do registro de herbicidas como o 2,4D, Paraquat e Glifosato, os mais consumidos no Brasil. Afinal, o que muda em termos de composições químicas adicionadas na produção dessas substâncias com a troca do nome? Nada, apenas retira o estigma letal criado sobre os pesticidas, substituindo por outro nome, cuja sonoridade faz pensar sobre algo produzido com plantas (FITO). Pura enganação.  O pacote é mais mortífero do que se imagina.  A insistência do agronegócio na aprovação do projeto de lei é para tornar legal a comercialização no Brasil de princípios ativos banidos há décadas em várias partes do mundo.
O mais grave nisso é que tais pesticidas e outros similares são altamente tóxicos e estão fazendo parte do dia a dia dos produtores rurais. A pressão pela liberação de variedades proibidas à agricultura è porque os atuais venenos comercializados não exercem a mesma eficiência necessária no combate às ditas “pragas” invasoras. No desespero, os agricultores se lançam a borrifar o dobro das dosagens recomendadas na mesma cultura, porém, sem sucesso. Como saída se lançam aos indesejáveis venenos proibidos, geralmente contrabandeados ou comercializados livremente em casas comerciais, até mesmo com a prescrição de profissionais capacitados.
 É claro que o ideal seria o banimento definitivo de todos os agrotóxicos da face da terra e a adoção de uma agricultura que fosse a mais natural possível. Entretanto, diante do gigantesco poder das corporações que controlam o setor dos agrotóxicos, de sementes e insumos, continuaremos por longa data convivendo com esse terrível mal que a cada dia está contribuindo para o aumento de doenças relacionadas aos agrotóxicos. Para comprovar tal afirmação é só visitar as unidades de saúde ou hospitais nos municípios interioranos e pesquisar os laudos laboratoriais das enfermidades mais comuns na população. Não há dúvida que metade ou mais da metade das doenças diagnosticas têm alguma relação com a longa exposição com herbicidas, fungicidas, etc., e a ingestão de alimentos, frutas, verduras e cereais contendo elevado grau de toxidade.  
Os menos céticos aos venenos admitem que se fosse cumprido rigorosamente os protocolos relacionados à manipulação dos agrotóxicos os índices de intoxicação por ingestão de alimentos contaminados poderiam ser muito menores. Não é exatamente o que acontece no dia a dia do campo. O desconhecimento, despreparo até mesmo desleixo dos produtores rurais no manuseio dos equipamentos para a aplicação dos venenos é preocupante. O pior de tudo é que não há qualquer fiscalização por parte dos órgãos competentes municipais e estaduais, no cumprimento dos protocolos pelos agricultores tanto na aplicação correta das dosagens prescrições, bem como ao período correto para a colheita das culturas, que deverá estar isenta de resquícios de veneno. 
As legislações desse seguimento atualmente em vigor no Brasil restringem sua aplicação em vias públicas.[3] Entretanto, o que mais se vê são irregularidades cujos infratores nem mesmo são advertidos pelo erro cometido. O próprio poder público que deveria ser o exemplo para a sociedade, vem corriqueiramente infringindo as legislações. Hoje em dia causa mais indignação e revolta à publicação nas redes sociais de imagens ou vídeos exibindo maus tratos em animais que quilos e quilos de venenos aplicados estradas, terrenos baldios e vias públicas para suprimir plantas. Nem mesmo a aplicação de veneno próximo a mananciais que abastecem com água à população choca a população.
Enquanto a sociedade não se indignar, superar o conformismo quase insano que o impede de reagir diante das brutalidades contra os ecossistemas, onde se tenta naturalizar tudo até mesmo o convívio com venenos, continuaremos por muito tempo reféns de políticos parasitas que se alojam no poder, criando e executando leis para o contínuo ciclo de dominação social. Como tudo é tão efêmero na política, claro, isso quando ameaça o futuro eleitoral dos que pretendem se eleger no pleito seguinte, de repente veio à notícia que o governo federal teria suspendido a tramitação e possível votação ainda nesse semestre da reforma da previdência. Paradoxalmente, os próprios parlamentares da base de apoio do governo se sentiram aliviados com a notícia. Na realidade o governo Temer buscava um pretexto plausível para a suspensão do processo, pois admitia não obter os votos necessários para a aprovação da reforma, que lhe incorreria em derrota política, como de dezenas de deputados que lhe dá guarida.
Como fica então a barganha política que estava sendo articulada entre a bancada ruralista e o governo federal acerca das PLs que alteravam dispositivos relativos ao comércio de agrotóxicos, muitos dos quais proibidos por serem causadores de doenças degenerativas? Não tardará muito e teremos notícias de novas manobras ou pressão do agronegócio para obter êxito na aprovação das PLs do veneno. 
Prof. Jairo Cezar

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