sábado, 12 de agosto de 2017

PROJETO ESCOLA SUSTENTÁVEL

VISITA AO MUNICÍPIO DE TREVISO, SUAS BELEZAS NATURAIS CONTRASTANDO COM OS ATIVOS E OS PASSIVOS AMBIENTAIS RESULTANTES DA ATIVIDADE CARBONÍFERA



Há quase dois anos que está sendo executado o projeto escola sustentável vem se consolidando como uma importante iniciativa da EEBA no que tange as práticas permanentes de sensibilização a toda comunidade educacional para a contenção dos desperdícios de energia elétrica e água no referido estabelecimento de ensino. Inúmeras ações já foram realizadas para divulgar o projeto, desde palestras com os pais, estudantes e trabalhadores da educação, feiras e viagens educativas. O envolvimento do curso de Engenharia de Energia da UFSC, representado pelo professor Luciano Alves, e da CELESC, pelo engenheiro e professor Célio Bolan, proporcionaram um impulso importante para a dinamização da proposta.



Com a substituição de lâmpadas convencionais por Led e a fixação de comunicados nas salas de aulas, banheiros, corredores, etc, alertando o público estudantil e o corpo docente sobre o uso correto dos equipamentos elétricos e da água, resultou, nos meses maio e junho de 2017, a redução de quase 50% na conta de luz do educandário. A inclusão da temática água no projeto se deu no início do ano letivo de 2017, alterando desse modo a nomenclatura da proposta original, passando agora se chamar “Projeto Escola Sustentável”.
Atrair o interesse do público jovem e dos professores ao projeto, envolvendo-os nas diferentes atividades e quem sabe até inserir ao currículo formal da escola, temas discorridos, foi decisão tomada pelos coordenadores, que estão se empenhando em convidá-los para encontros periódicos na Biblioteca da EEBA. São cerca de 30 a 40 estudantes que vem se revezando nos encontros, elencando e mediando propostas junto com seus colegas de classe. Como uma das primeiras iniciativas de trabalho para o primeiro semestre de 2017, o grupo elencou como sub-tema “os recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Araranguá, seus problemas e ações encaminhadas”.
Por ser a bacia do rio Araranguá uma das mais degradadas do estado de Santa Catarina por agrotóxico, resíduos de carvão, rejeitos orgânicos, desmatamento, extração de seixos, entre outros, nada melhor iniciativa do que conhecer em loco como tudo acontece, os responsáveis pelos crimes ambientais e as proposições para o combate e recuperação dos passivos ambientais.  O fato é que quase todos os afluentes e subafluentes da bacia do rio Araranguá tem a suas nascentes na base ou topo da serra geral.


Um ou dois km depois das nascentes, a água pura e cristalina que desce das montanhas, com um pH 7.5, de excelente qualidade, começa a receber os primeiros efluentes poluidores, carvão, esgoto, dos quais vão se diluindo com outros componentes químicos como agrotóxicos, até chegar ao seu destino final, a foz do rio Araranguá. Já em solo Araranguaense, o mesmo líquido que brotou das rochas, alcalina, seu índice de acidez atinge picos alarmantes de pH 2.0 a pH 3.0 que é extremamente alto, onde impossibilita a proliferação de qualquer espécie viva.  
Ouvir as explicações dos professores em sala de aula sobre tais questões relativas à água é uma coisa, mas ver, tocar, cheirar, sentir, tudo ao vivo é, com certeza, outra sensação que jamais se esquecerá. Das propostas de municípios sugeridas para a concretização dessa etapa do projeto, um dos coordenadores do projeto escolheu Treviso, por conhecê-lo e ter familiarização com lideranças locais ligadas as causas ambientais. O município de Treviso está situado a cerca de 70 km de Araranguá, próximo a Siderópolis, onde também está integrada a bacia carbonífera de Criciúma.
O município escolhido também poderá oferecer ao grupo, além de cenários encantadores, quase que paradisíacos, outras sensações nem tão encantadoras assim. Depois de quase duas semanas de preparação, finalmente no dia dez de agosto de 2017, o grupo composto por 28 estudantes e seis professores, se deslocaram para o respectivo município, repletos de expectativas. Ao chegar a Treviso, o grupo foi recepcionado pelo cidadão Mario Maneli, que é ambientalista, membro do comitê da bacia do rio Araranguá e integrante da associação de moradores do rio Morosini, comunidade histórica ocupada por imigrantes italianos a partir de 1891. 



O ambientalista Mario Maneli há muitos anos vem se empenhando na luta em defesa dos mananciais hídricos do município e região, especialmente os subterrâneos, densamente ameaçados pela atividade carbonífera. Do restaurante “Point 37”, de sua propriedade, o ambientalista Mario acompanhou o grupo a uma pequena comunidade ao pé da serra, onde residem cerca de 6 famílias ou 15 pessoas. No trajeto, o respectivo guia foi mostrando aos estudantes algumas companhias carboníferas instaladas às margens da rodovia e os problemas ambientais oriundos do beneficiamento do carvão mineral.


Na chegada à comunidade, o grupo se encantou com infinita beleza, o contraste dos imensos penhascos da serra com a luz do sol e a vegetação do paredão. Na pequena comunidade, um pequeno balneário foi edificado, aproveitando a geografia do local e a pureza da água que desce a cachoeira. Acredita-se que possivelmente nenhum dos integrantes do grupo presente no local já tivesse experimentado sensação igual nas suas vidas. O empreendedorismo do proprietário do balneário é de se surpreender. Para atrair turistas ou visitantes ao balneário, está construiu uma infraestrutura para assegurar melhor mobilidade e segurança às pessoas.







Uma singela igrejinha católica também foi edificada na comunidade, bem ao estilo das primeiras capelinhas, construídas pelos imigrantes italianos. Para dar mais opção ao visitante, que com certeza já se bastariam com as cachoeiras e o visual da serra, o proprietário foi mais longe, erguendo uma réplica de residência no estilo dos primeiros colonos italianos, transformando-a em museu. No interior da residência estão reunidos imagens, objetos, utensílios, etc, das primeiras famílias que ocuparam a comunidade.






Depois de quase uma hora na comunidade, o grupo retornou, fazendo algumas paradas pelo caminho para analisar em loco os problemas oriundos do carvão mineral.  A primeira parada foi diante de uma área, onde uma empresa mineradora estava depositando resíduos de carvão no solo e cobrindo-o com terra. É um processo muito comum na região, que é adotado pelas empresas que atuam na extração e beneficiamento de carvão. Entretanto, segundo o ambientalista, esse procedimento é totalmente irregular pelo fato da barreira estar situada em APP (Área de Preservação Permanente), ou seja, dentro dos limites dos 50 metros às margens do Rio Mão Luzia, que deveria ser respeitado.


Mais a frente, outra parada. Próxima estrada havia um córrego que conduzia água contaminada por resíduo de carvão, do aterro, até um motor que bombeava a água para o alto da barreira, que seria outra vez tratada e reconduzida ao rio. O que chamou atenção de todos foi que ao lado da bomba, havia um canal, cuja água contaminada, não bombeada, escorria para um canal, remetendo-a para o leito do Rio Mão Luzia. Comprovava-se ali a prática de crime ambiental.






Propôs o ambientalista Mario, que a coordenação do Projeto Escola Sustentável, encaminhe também denúncia crime junto a FATMA (Fundação Ambiental Tecnológica do Meio Ambiente), solicitando intervenção junto aos proprietários da empresa mineradora para que repare o dano ambiental causando pela empresa mineradora responsável.  Um pouco mais a frente, outra parada, onde dezenas de máquinas e operários atuavam na recuperação de uma área degrada pela empresa carbonífera Trevoso, que decretou falência há algum tempo.


No entanto, segundo opinião do Superintendente da Fundação Ambiental de Treviso que acompanhava os trabalhos no local, o mesmo informou que no momento que uma empresa mineradora quebra a responsabilidade pela recuperação do passivo ambiental fica sob a responsabilidade do Estado, sendo o Ministério Publico Estadual e o órgão ambiental estadual seus fiscalizadores. Todo o investimento para a recuperação do passivo é oriundo do próprio Estado, ou seja, de todo o povo catarinense, esclareceu o servido público de Treviso.


Vários questionamentos foram feitos ao representante da fundação ambiental de Treviso e ao responsável pela execução do reparo do passivo ambiental. A primeira questão se referiu aos crimes ambientais praticados pelas empresas a montante do rio mão Luzia, se o mesmo tinha conhecimento? Informou que não é de sua responsabilidade à fiscalização e sim da FATMA, que é o órgão encarregado pelos licenciamentos e fiscalização. Argumentou que é necessário conciliar desenvolvimento com preservação ambiental. No entanto, há situações em que é necessário ter “bom senso”, pois são centenas de empregos diretos e indiretos assegurados por tais empresas do carvão, que medidas mais restritivas poderiam comprometer o trabalho dessas pessoas.
Depois do almoço, por volta da 13h30min o grupo partiu para a comunidade histórica do Rio Morosini, onde conheceria uma pousada, cujo proprietário adotou técnicas avançadas, sustentáveis e de baixo custo para edificação dos chalés. Antes de conhecer os chalés, os estudantes e os professores subiram a pé um morro onde foram conhecer uma adutora de água, construída no alto do morro pela própria associação de moradores. Próxima a adutora, existe um lago artificial com água pura. Esse imenso buraco foi escavado no passado para extrair o carvão na superfície do solo.



Mario informou que atualmente o município de Treviso, especialmente os moradores da comunidade de Rio Marosini, entre outras, vivem o pesadelo de terem suas fontes de água comprometidas com as mineradoras que insistem em querer explorar o subsolo da região. Explicou o guia que existe no subsolo uma grande rocha cuja água escorre sobre ela, que é a mesma água que brota sobre o solo e abastece os mananciais. As mineradoras no momento que vão extrair o carvão usam explosivo, dinamite. Com a explosão, a rocha que segura à água, sofre fraturas, e o resultado é o rebaixamento dos lençóis freáticos. Isso é terrível, catastrófico para o ambiente, disse Mario. 



  
    
Retornando às cabanas, o que se constatou foi que para oferecer o máximo de conforto e o mínimo possível de impacto ambiental, os moveis e utensílios das cabanas foram construídos com madeiras recicláveis. O telhado, no lugar de telhas de barro ou outro material sintético, foram cobertas por sapatas de grama, que tornou o ambiente interno dos chalés ou cabanas, mais arejados. O que fazer com os rejeitos do esgoto do banheiro e da cozinha para não contaminar o lençol freático e as águas superficiais que escorrem por valas de cima do morro. A estratégia adotada foi construir um sistema de esgotamento totalmente sustentável para o reaproveitamento da matéria orgânica na fertilização das plantas, sem contaminar o ecossistema local. Essa técnica de reutilização da água, o próprio Mario adotou no seu restaurante, onde fez algumas demonstrações, mostrando a eficiência desse sistema aos professores.






O grupo ficou encantado quando o mesmo retirou de um tanque água quase transparente em um copo. Disse que os níveis de impureza eram quase zero. Segundo ele, para que a referida água possa ser consumida, basta somente aplicar cloro e está pronta. Nas cabanas os procedimentos em relação aos esgotos são os mesmos. Segundo Mario, nas pequenas comunidades, os proprietários poderiam adotar esse sistema de tratamento dos efluentes orgânicos, alem de ser extremamente barato, sua eficiência e extraordinária.




Enfim, todos estavam esperando para o desafio final, ou seja, o empolgante passeio pelas trilhas até as cachoeiras de um rio. Foram quase duas horas de caminhadas, ficando de fora 4 ou 5, que se recusaram em participar por já estavam bastante exaustos. Subindo por uma estrada pavimentada com pedras de cachoeira, tendo as margens recobertas com eucaliptos, floresta nativa e um bananal, o grupo chegou finalmente ao local decisivo, onde somente “os fortes conseguiriam”, a difícil descida de um morro íngreme, repleto de obstáculos e tendo abaixo um rio. Foi um trecho extremamente extenuante para alguns estudantes e professores. No entanto, todas as dificuldades vividas no trajeto foram compensadas diante de tanta beleza vista nas enormes paredes que margeavam o rio.

















Caminhar sobre as pedras no leito do rio, que continha pouca água devido a longa estiagem dos últimos meses, ter de subir uma difícil  parede de pedra lisa, foram realmente momentos desafiantes. É claro que a empreitada não teria tido sucesso, se não houvesse o emprenho de todos, que de uma forma ou de outra se mostraram camaradas, auxiliando aqueles que mostravam mais dificuldade na caminhada. Chegando a cachoeira, se notava nos semblantes de todos a satisfação de estar ali e de ter superado todos os desafios. Mesmo com todo o frio que aparentava estar a água da cachoeira, alguns estudantes, os mais ousados, não resistiram e arriscaram banhar-se num pequeno fosso esculpido pela água que caía da cachoeira.    

Prof. Jairo Cezar  

















































































































                               

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