sexta-feira, 4 de agosto de 2017

ONDAS DE FRIO INTENSO, ESTIAGEM PROLONGADA, CALOR FORA DE ÉPOCA, SÃO SINAIS DO AQUECIMENTO GLOBAL?

Imagen do Furacao Catarina - 2004

Há cerca de trinta dias a população do sul do país e parte do centro oeste e sudeste do território nacional foi alertada acerca de uma forte onda de frio polar que despencaria as temperaturas a níveis a baixo de zero, com previsão até de volume expressivo de neve nos pontos mais elevados dos dois estados do sul do Brasil. Com tais previsões, a mídia brasileira se encarregou de fazer o trabalho quase que compulsivo de despertar a vontade de milhares de brasileiros de subir a serra catarinense e gaúcha na expectativa de apreciar a neve, que não veio, apenas chuvas congeladas e um intenso frio que resultou em fortes geadas com enormes prejuízos à pecuária e a agricultura.
Terminada a onda de frio, que durou aproximadamente uma semana, talvez poucos ainda tenham na lembrança aqueles dias gélidos, isso porque as semanas seguintes as temperaturas se elevaram a tal ponto, quase trinta graus todos os dias, que mais parecia verão em pleno mês de julho. O que chamou atenção do respectivo fenômeno climático foi do frenesi comportamental das pessoas de querer ver neve a todo custo, ao ponto de muitos terem de se acomodar em hospitais por não haver mais leitos disponíveis para enorme público nas cidades que tendem a ocorrer o episódio.
 Durante a semana em que resultou nas baixas temperaturas em grande extensão do território brasileiro, inúmeros telejornais e a imprensa escrita não fizeram qualquer menção ou comparação do frio extremo e da estiagem prolongada no sul do Brasil, das ondas de calor no hemisfério norte, das queimadas que devastaram áreas gigantescas de floresta na Europa e EUA, ao aquecimento global. Nos últimos três anos os dados coletados dos centros de monitoramento do clima espalhados pelo planeta constataram a elevação significativa da temperatura média, contrariando até mesmo as expectativas dos organismos internacionais pró clima, que alimentam as esperanças nos protocolos assinados nos encontros de cúpula sobre o clima, como a COP 21, realizada em Paris em dezembro de 2015, em que os países mais poluidores se comprometeram por em prática ações para reduzir as emissões de gases poluentes à atmosfera.
Paralelo ao frio extremo no sul do Brasil, a região do extremo sul do estado de Santa Catarina já estava sendo acometida por outra estiagem prolongada muito semelhante a que se abateu sobre o estado entre os anos de 2011 e 2012, com graves impactos na economia do estado. Os efeitos da escassez de chuva não foram maiores por estarmos no inverno, cuja incidência da luz solar no solo ser menor, pelo fato dos dias também serem menores. Também porque a região do extremo sul do estado nesse período esta na entre safra do arroz irrigado, não tendo ainda que disponibilizar água dos rios, que estão quase todos secos.   
  Esses episódios extremos do clima na região que já vem se tornando corriqueiros poderiam estar sendo abordados com mais ênfase pela imprensa local, regional e estadual, e é claro, nos ambientes educacionais como tema transversal em todas as disciplinas, visando a sensibilização quanto aos hábitos corretos relativos ao manuseio do solo, florestas e a água. Um exemplo para elucidar os debates poderia ser os quase 60 dias de estiagem que se abateu sobre a região, acontecimento climático jamais registrado pelas estações meteorológicas da região.
Somente o mês de julho, cuja media de precipitação de chuva nos últimos nove anos foi de 150 mm, o volume chovido no mês sete de 2017, foi de ínfimos três milímetros. Frio quase polar, calor fora do normal e estiagem prolongada devem ser considerados e interpretados como motivados pelo aquecimento global. Ou ainda há pessoas que não acreditam, desconfiam que tal acontecimento é um blefe, como argumentou o atual esquizofrênico presidente dos Estados Unidos, que rompeu com o acordo sobre o clima assinado em Paris em 2015, alegando que o aquecimento é uma invenção dos chineses para destruir a economia americana.  
Já há alguns anos é verificado que as estações do ano, verão outono, inverno e primavera, não seguem mais seus cursos meteorológicos normais, dificultando até o planejamento dos plantios e colheitas agrícolas e de outros setores como o turismo que dependem também das condições do tempo. Há poucos dias entidades que monitoram o clima global ficaram apreensivos com o rompimento na Antártida de um gigantesco bloco de gelo com cerca de 5 000 metros quadrado, equivalente ao Distrito Federal, capital de Brasília.  Mas o que isso tem a ver com as nossas vidas e de milhões de espécies da fauna que habitam o planeta? Muita coisa.
Segundo pesquisadores do clima, se outro bloco com as mesmas dimensões se desprender no lado oeste do continente gelado, e correr o risco de se deslocar para locais mais quentes e derreter, haverá a elevação média do volume do mar em 5 metros.  É um volume que de acordo com pesquisadores tende a se confirmar como catastrófico para muitas cidades próximas as áreas costeiras. Além de alterar significativamente a geografia dessas regiões, haverá impactos irreversíveis às cadeias alimentares, aumento da incidência de doenças epidêmicas, migração massiva de pessoas para certas regiões específicas.
Com respeito as macrorregiões do estado catarinense, a região do extremo sul que congrega a bacia hidrográfica do Rio Araranguá vem se notabilizando como uma das mais sensíveis e suscetíveis a fenômenos climáticos extremos, a exemplo do furacão Catarina que assolou a região em 2004. Analisando atentamente duas imagens obtidas do Google Earth, de locais e escalas distintas da bacia hidrográfica do rio Araranguá, publicadas em 2015, é perceptível, na primeira imagem, a ação destrutiva do homem sobre o ecossistema, suprimindo vasta extensão de floresta nativa para dar lugar a plantações de arroz.
Inquestionavelmente tais ações antrópicas sobre o solo podem estar contribuindo significativamente para as oscilações da dinâmica micro e macro climática planeta. O primeiro recorte de imagem abaixo possibilita a visualização de quase toda a planície do extremo sul, constituída por rios e fragmentos de mosaicos da floresta atlântica remanescente, que se mantém por força das legislações em vigor e pressão de entidades ambientais que atuam fiscalizando e denunciando crimes contra o maio ambiente.
O processo de supressão da floresta foi tão violento que não foram poupados nem mesmo os limites mínimos legais das APPs, as matas ciliares que protegem contra a erosão as margens dos afluentes e subafluentes da bacia.  Esse furor incondicional por novas áreas agrícolas para além dos limites mínimos de APP são um dos motivadores de inúmeras inundações ocorridas na bacia nas últimas décadas com profundos impactos na economia e na vida das famílias.
O fato é que com o desmatamento da floresta ciliar das margens dos rios e córregos, quando a chuva incide sobre o solo, tende a escorrer para os leitos transportando enormes volumes de sedimentos que se acumulam no fundo dos rios provocando o assoreamento. Em 2012 um novo código florestal foi sancionado para anistiar os criminosos ambientais, que dentre as resoluções aprovadas estão a recomposição da reserva lega e vegetação ciliar.

Imagem - Google Earth
Planície costeira, onde estão distribuídos os principais afluentes do rio Araranguá 

Cinco anos depois de sancionada a lei, observando a imagem abaixo relativa ao trecho do rio Araranguá, no município de Araranguá, publicada pelo Google Earth em dezembro de 2015, se observa a quase inexistência de floresta nativa e ciliar às margens do rio. O que preocupa é o fato de que o mínimo do mínimo de vegetação remanescente está sendo retirada, pior ainda, com o próprio consentimento dos órgãos ambientais, que deveriam propor planos de recuperação e preservação do que ainda resta junto a população e os produtores rurais. 

Imagem Google Earth
Curso do Rio Araranguá (Volta do Silveira e Volta Curta e Manhoso)

Nos últimos cinco anos a natureza vem insistindo em dar alertas de que devemos repensar nossas atitudes acerca do modo como lidamos com os recursos naturais. O mau uso desses recursos, solo, água, vegetação, etc. tende a dar as respostas de forma agressiva, como as estiagens prolongadas, cheias catastróficas e outros tantos fenômenos já presenciados na região como o furacão, tornados, etc. Entretanto, quem deveria dar exemplos de cumprimento das legislações em prol do ambiente, que seria o governo federal, vem tomando decisões que agravarão ainda mais o aquecimento global.
Prof – Jairo Cezar

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