O plano de desestruturação do magistério
público previsto por Raimundo Colombo
Às
vésperas do início do ano letivo de 2015 da Rede Pública Estadual de Santa
Catarina, 03 de fevereiro, a executiva estadual do Sinte esteve reunida com o
Secretário da Educação Eduardo Deschamps, no qual o encontro se resumiu num simples
ato de repasse de informações do governo à categoria acerca das mudanças
previstas para a carreira e estrutura curricular do magistério público
catarinense. Partindo dessa realidade preocupante, conselheiros e demais
integrantes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação participaram durante os
dias 05 e 06 de fevereiro em Florianópolis de reunião onde discutiram os
impactos previstos à categoria se o projeto de reforma educacional for aprovado
na Assembleia Legislativa e as estratégias que serão dotadas para reverter o
processo e assegurar os direitos conquistados. Um das ameaças do plano do
governo e que por si só já seria motivo para os educadores não iniciarem o ano
letivo é a supressão da regência de classe, que garante aos (aos) educadores
(as) tanto das séries iniciais quanto das mais categorias 40% 25% de
remuneração.
A
proposta apresentada trata da incorporação desse percentual ao vencimento, que
dará a falsa ilusão de ganhos financeiros. Isso é só aparência, pois resultará
no congelamento dos salários da categoria durante os quatro anos de vigência do
plano. Aqueles (as) que atuam nas séries iniciais, do primeiro ao quinto ano, ambos
que antes eram contemplados com 40%, receberão agora também os 25%, a perda
será de 15%. Os mais afetados nesse plano serão os professores inativos com
formação magistério. Por não estarem em sala de aula, tais educadores não terão
direito a gratificação de 15%, que será concedido apenas àqueles que estiverem
exercendo a docência. No entanto, a casos de educadores que terão perdas
equivalentes a seiscentos reais de sua remuneração. É importante esclarecer que
a categoria não terá nenhum ganho absoluto com o novo plano. O que haverá é
nada mais nada menos que a transposição de recursos de um seguimento para outro,
como exemplo os 15% dos quarenta relativos aos inativos do nível médio.
Nesse
manejo contábil feito pelo governo na tabela, não haverá o acréscimo dos 13% de
reajuste do piso nacional do magistério. Também o governo extinguiu da tabela
oito níveis mantendo quatro, sendo eles a licenciatura plena (Nível-7);
especialização (Nível-10); mestrado (Nível-11) e doutorado (Nível-12). Com essa
estratégia, a lei do piso do magistério para o estado de santa Catarina está
com seus dias contados, pois sua criação foi para que incidisse sobre o salário
do magistério, (Nível-1). Não havendo mais essa categoria o governo poderá se
utilizar desse argumento para não mais adotá-la mantendo os antigos mecanismos
de reajustes como o INPC (Índice de Preço ao Consumidor), instrumento adotado
no ano passado, quando reajustou os salários em pouco mais de 7%, parcelando em
quatro vezes.
Observando
a tabela acima proposta pelo governo, já com a inserção apenas dos quatro
níveis se constata que o vencimento inicial, (Nível- 1) Professor Licenciatura
Plena será de 2.535,06, já incorporado os 25% de regência. Como o valor do piso
estabelecido para o magistério em 2015 foi de 1.917,00 reais, nenhum dos quatro
níveis será contemplado, pois já estão com os vencimentos elevados. Na hipótese
do próximo ano se o piso do magistério sofre majoração de 11%, dos atuais 1.917
reais passará para pouco mais de dois mil e duzentos reais. Seguindo essa
lógica, talvez em 2017 ou 2018 o piso poderá influenciar nos vencimentos dos
demais níveis.
Diante
disso numa economia instável como a nossa que já vive um processo inflacionário
e recessivo, tudo indica que até o final do plano o magistério catarinense
estará amargando um dos maiores arrochos salarial da sua história. De acordo
com o que estabelece o Fundeb, valor custo aluno, o índice de reajuste do piso
do magistério deveria ser de mais ou menos 23%, não os 13% como foi
estabelecido. O motivo pelo qual do não cumprimento desse dispositivo legal foi
o acordo fechado entre MEC e governos estaduais para que fosse considerado
outro fator de reajuste, não o padrão custo aluno. Se o reajuste real do piso
nacional do magistério foi de 23% isso se subtende que tais recursos estão
disponibilizados proporcionalmente nas contas dos municípios e dos estados. Se
o reajuste no caso de Santa Catarina será de 13%, o governo terá, portanto, uma
sobre adicional de 10%. Por que esse tipo de reflexão não é feita
.
No
plano do governo, para os professores que estão em atividade, existirão duas
tabelas, uma para 2015 e outra para 2018, quando o respectivo plano se
esgotará. Outro aspecto a ser observado nas tabelas acima é o fim da distinção de
gêneros em relação ao tempo de aposentadoria. No atual sistema as mulheres trabalham
25 anos, cuja idade limite é de 50 anos. Quanto aos homens, são 30 anos de docência
e 55 de vida. Com a nova tabela, verificando as referências de A a J que
abrangem dez anos, todos (as) deverão trabalhar 30 anos para garantir o salário
integral. No entanto, a tabela não impede das educadoras requererem sua
aposentadoria quando atingirem os 25 anos de trabalho, porém, terão perdas
significativas no salário. Acredita-se que o próprio plano de carreira
catarinense possa servir de modelo para o governo federal e os congressistas na
construção da proposta de reforma previdenciária que se projeta para os
próximos anos.
Quanto
à meritocracia, sistema que tem como premissa o controle dos profissionais da
educação e que já está sendo amplamente adotado nos estados administrados por
governadores conservadores como São Paulo, no projeto apresentado por Colombo o
processo se dará primeiramente com a gratificação por produtividade, vinda mais
tarde sofrer ajustes se equiparando ao estado paulista. Mas tem um porém, somente
terão direito ao benefício os professores mensalmente ou anualmente ainda não
se sabe, que não apresentarem faltas. É
claro que essa medida terá um impacto importante na mobilização da categoria,
paralisações, greves, etc., pelo fato de não quererem perder tal bonificação.
Deixa transparecer também que essa medida nada mais é que o prenuncio da
instauração da meritocracia na rede pública estadual.
O
fim da paridade ativo e inativo também está no plano. Com a extinção das
categorias nível médio e licenciatura curta, os inativos vinculados aos dois
respectivos níveis irão compor uma nova tabela, sem garantia de qualquer
vantagem adicional, nem se sabe também qual será o critério de reajustes de
seus salários. Nesse sentido, com o fim dessas duas categorias, o piso salarial
do magistério será concedido a partir da licenciatura plena.
O
governo também extinguirá as aulas excedentes. Professores que trabalhavam
quarenta, cinqüenta ou mais aulas cheias, terão agora como exemplo o módulo
quarenta trabalharem 32 aulas, as aulas que porventura sobrarem serão assumidas
pelo professor ACT habilitado ou não, cuja remuneração será por hora-aula seguindo
os valores de referência da tabela acima. Em relação aos ACTs, o plano
promoverá uma profunda desestruturação, excluindo esse seguimento do regime
oficial de carreira do magistério público, ou seja, seus salários e demais
vantagens serão fixados anualmente, seguindo também um novo plano. No entanto
não se sabe qual o critério que será adotado para o reajuste. O que é sabido é que
os salários serão pagos por hora-aula. As provas seletivas de ingresso de ACTs que
ocorriam anualmente terão agora validade de dois anos, podendo ser prorrogadas
por mais dois anos seguindo critérios de “competência” que deverá ser observada
pelo diretor da unidade de ensino na qual está atuando. Esse critério duvidoso
e polêmico acerca da renovação de contrato dos ACTs cuja atribuição é dos diretores
abrirá precedentes para a intensificação das relações de “puxa-saquismo”, bem
como na sua intimidação no exercício de funções.
Sem esperar a aprovação do plano de reforma na
Assembléia Legislativa, o governo Colombo na última terça feira, 10 de
fevereiro, aprovou Medida Provisória aprovando parte do projeto no qual atinge
os (as) professores (as) contratados (as) em caráter temporário. Com base em
simulações feitas, os (as) professores (as) com habilitação 100 a partir da
nova tabela terão perdas que chegam a 175,24 reais/mês no salário. Então vejamos:
na tabela do novo plano, o (a) professor (a) terá direito ao piso de 1.917,78 +
273,45/regência de 12% + abono de 254,60 = 2.409,98. No plano que estava em
vigor, teria direito a 1.697,37 + 220,65/piso de 13% + 767,48/regência de 40% =
2.685,22. Já os (as) professores (as) com habilitação 300 as perdas alcançam os
258,76. Segue a simulação: 2.013,67/vencimento + 241,55/regência 12% + abono de
304,21 = 2.559,44. No plano de carreira anterior, o vencimento era de 1.814,80
+ 235,92/piso de 13% + 767,48/regência de 40% = 2.818,20.
Com
relação a progressão funcional horizontal dos profissionais do magistério
público catarinense que ocorre a cada três anos por tempo de serviço e 80 horas
de cursos, o novo plano de carreira apresentado estabelece agora 200 horas de
curso. O aspecto negativo nesse item é quanto a disposição de tempo dos
educadores para tal função. São raros os professores da rede pública estadual
que conseguem participar de congressos ou eventos vinculados a sua área de
atuação. Além de terem que pagar um professor substituto durante os dias que
estarão ausentes têm que arcar também com os custos de inscrição, deslocamento,
alimentação e estadia. Normalmente esses eventos têm duração de 20 a 40 horas.
Com a ampliação para 200 horas, aí mesmo as possibilidades e os estímulos ficam
resumidos a zero.
Outra
aberração do governo do estado é com relação a proposta de diário Online
encaminhado para todas as unidades de ensino do Estado. Se as escolas de porte
maior do estado não apresentam uma satisfatória estruturação em relação às
redes de internet, sala de informática e computadores disponíveis para os
professores imaginamos as escolas menores. Sem contar que algumas escolas estão
caindo aos pedaços trazendo riscos de morte a todos que ali transitam. Como
obrigar que essa escola adote essa tecnologia se a mesma não possui o básico
para funcionar.
Além
do diário online, no ano passado o próprio secretário da educação lançou notícia de que o governo iria, nos próximos
dias, lançar as plataformas Online dos professores e estudantes, em que os pais
poderão acessar as notas de avaliação e o histórico das escolas dos cerca de
550 mil estudantes da rede estadual. O que isso significa? Significa que os
responsáveis poderão comparar as notas do IDEB de diferentes escolas e optar
por matricular seu filho naquela cujo resultado for melhor. Nesse sentido uma
escola da rede pública municipal, cujas salas possuem quadros digitais
acoplados a potentes computadores, com sistema de internet rápida, bibliotecas
com excelente acervo bibliográfico, as possibilidades de terem melhores
resultados que as menos aquinhoadas, são maiores. Não seria um processo de
municipalização disfarçada em curso?
Prof.
Jairo Cezar
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