DIA
MUNDIAL DO RIO - DATA PARA REFLETIR A CONDIÇÃO CAÓTICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
ARARANGUÁ
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Criar
subterfúgios para omitir a realidade dos fatos sempre foram estratégias bem-sucedidas
aplicadas por governos, entidades representativas e grupos empresariais. Até
poucos dias atrás e muita gente desconhecia o 24 de novembro como data alusiva ao
Dia Mundial do Rio. Agora é possível entender por que do uso da expressão “subterfúgio
para omitir a realidade”. Isso se deve ao fato de ter um vídeo postado nas
redes sociais, onde aparece integrantes do órgão ambiental municipal de
Araranguá, do legislativo, entre outros/as, reunidos/as com estudantes de uma escola,
realizando o plantio de mudas de árvores em um determinado ponto do rio, cujo
propósito era a recuperação da mata ciliar.
Se
a proposta do evento era sensibilizar os/as estudantes e a população da
necessidade de plantio de espécies ciliares para a regeneração da APP Ciliar, inquestionavelmente,
isso é merecedor de todos os aplausos e elogios. Entretanto, o modo como o ato
se deu e o que foi dito nos poucos segundo de exibição do vídeo, é omitido o
caos enfrentado pelo rio, bem como de toda a bacia hidrográfica composta por 21
município. A primeira inverdade já é escancarada na própria imagem ilustrativa
do ato que está na página do órgão ambiental municipal, onde aparece parte do rio,
centro de Araranguá, com uma ínfima cobertura de mata ciliar.
As
legislações em vigor determinam que no bioma mata atlântica, os rios com
largura aproximada de 100 metros, no caso de Araranguá, são necessários manter
preservada 50 metros ou mais de APP regenerativa. Se fizermos um tour pelas
duas margens o rio nos limites território de Araranguá, poderemos constatar em
loco que mais de 90% de toda a extensão não tem cinco metros de vegetação
ciliar. É claro que a inexistência integral dessa importante APP tem influencia
direta com problemas que assolam a bacia, a exemplo das enxurradas, cada vez
mais frequentes e devastadoras em toda a região.
Os
legisladores que estiveram presente no ato do dia 24 de novembro teriam por
obrigação encaminhar como ponto de pauta nas seções do legislativo a situação
da Mata Ciliar tanto do rio Araranguá como dos demais mananciais que abastecem
o município com água potável. Além do mais, é compromisso estatutário do órgão
ambiental discutir essas demandas nas comunidades e escolas dos municípios,
além de outros temas afins, como o abandono por parte do poder público dos nossos
sítios arqueológicos milenares.
Retornando
ao tema rio Araranguá e sua mata ciliar é conveniente aqui trazer à luz o que
está ocorrendo nas proximidades do novo canal de escoamento da água do rio,
aberto mais ao sul da foz. É nítido que infrações ambientais estão sendo
cometidas por particulares junto a mata ciliar, possivelmente com o aceite do
órgão ambiental municipal. Ninguém que defende os frágeis ecossistemas e o patrimônio
arqueológico se coloca contra o desenvolvimento, como insistem apregoar certos
grupos econômicas e segmentos da imprensa, tentando responsabilizar/criminalizar
quando atuam para travar projetos de infraestrutura visivelmente prejudiciais a
biótica e as comunidades tradicionais.
É
necessário ressaltar que as comunidades tradicionais de Ilhas e Morro Agudo vem
sofrendo forte pressão antrópica do qual pode comprometer seu complexo conjunto
ecossistêmico e cultural. Ações de terraplanagem e aterros estão sendo
praticados sobre a mata ciliar, cobertura vegetal que é específica daquele
bioma e imprescindível ao equilíbrio daquele frágil ecossistema.
É
necessário que todos saibam que do ponto onde será construída a ponte entre
Morro dos Conventos/Hercílio Luz até foz do rio Araranguá, todo esse trecho
integra uma Reserva Extrativista - RESEX, que foi criada por decreto municipal
em 2016. Portanto, qualquer projeto de infraestrutura autorizado, dentro e no
entorno da reserva extrativista, deveria ser levada em consideração os seus
impactos a dinâmica ambiental e social local. Outro item importante silenciado durante as
falas no rito de plantio das árvores em Araranguá é o imenso volume de lixo, plástico
em especial, trazido pelo rio e depositado na foz e em toda a orla do município.
Já
escrevi inúmeras vezes em textos postados no meu blog que o rio Araranguá é um
dos rios do estado, quiçá do Brasil, que mais lança detritos plásticos no
oceano. Não há dúvida que nossa bacia hidrográfica contribui de forma
expressiva com a formação das gigantes ilhas de lixos que se formam sobre os
oceanos. Discutir políticas de saneamento básico como
coleta seletiva, reciclagem, uso consciente dos recursos naturais, seria extremamente
salutar à saúde do rio. Também não pode ser excluído do debate acerca do rio Araranguá
outros problemas que muitos representantes de órgãos públicos insistem em se esquivar
de abordar, como os resíduos de carvão mineral e os agrotóxicos, ambos
extremamente letais à complexa vida do nosso importante rio Araranguá.
Prof.
Jairo Cesa
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