RIO
ARARANGUÁ COMO DEPOSITÁRIO DE LIXO NO OCEANO ATLÂNTICO
Venho
insistindo há algum tempo na construção de textos abordando a questão do lixo
plástico que está colapsando os oceanos, comprometendo toda a complexa biótica
marinha. Insisto também em afirmar que entre as bacias hidrográficos de SC que
desaguam no oceano atlântico, vertente leste, a do Araranguá é certamente a que
mais injeta detritos no oceano, como resíduos de carvão mineral, agrotóxicos,
esgotos e rejeitos plásticos. Além do problema lixo, toda a extensão da bacia
vem sendo impactada pela agricultura mecanizada, por exemplo, a rizicultura, onde
o proprietário, querendo mais ganhos produtivos, reduz a quase zero os limites
da APP, mata ciliar.
Já
temos dados suficientes que confirmam que o sul de Santa Catarina é a região do
estado cujos efeitos do aquecimento global são mais evidenciados. Talvez a
perda significativa de cobertura vegetal para dar lugar as canchas de arroz
irrigado esteja por trás dessas anomalias climáticas locais. Continuo
enfatizando que dos 21 municípios que integram a bacia do rio Araranguá, sem
dúvida, o município de Araranguá é que vem enfrentando os maiores desafios.
Bairros e lugares baixos do município basta uma chuvarada no montante da bacia
para que inundações aconteçam, com famílias desabrigadas e perdas materiais.
Diante
dessa problemática de cunho ambiental, diversas foram as aberturas de canais
nas proximidades da foz para escoar o excedente de água durante as enxurradas.
Sempre, tais iniciativas, o município de Araranguá arcou e vem arcando com os
custos financeiros, acrescentando nos gastos a limpeza da orla. Já houve até,
há pouco mais de dez anos, tratativas para a fixação da barra do rio Araranguá,
projeto que foi embargado pelo IBAMA por apresentar inúmeras inconformidades
técnicas nos estudos. De tempo em tempo o assunto fixação da foz vem a público,
sempre, é claro, em anos eleitorais.
O
assunto fixação já não convence parte da população da bacia, que acredita que
fixar sem resolver as demandas ambientais da bacia, como a recuperação da mata
ciliar, por exemplo, não soluciona os impactos das enxurradas, que estão sendo
mais violentas e destrutivas. Em escala local, os reflexos da abertura do canal
mais ao sul, para agilizar o escoamento das cheias do rio, são notados na
comunidade tradicional de Ilhas com a obstrução definitiva da foz, se
transformando em um braço de rio quase inativo, morto.
Sem o movimento da água para empurrar os sedimentos da bacia para o interior do oceano, a expectativa é que haverá acúmulo desse material nesse braço, que resultará em menor tempo para o assoreamento, com impactos irreparáveis as comunidades próximas a foz. É importante destacar aqui uma imagem captada desse braço de rio na década de 1970, quando houve também abertura do canal auxiliar e que por pouco não levou no desaparecimento da comunidade de Ilhas pelo avanço das dunas.
Voltando
a questão do lixo, principalmente plásticos que estão formando gigantescas
ilhas artificiais nos oceanos, é preciso tratarmos urgentemente desse tema com
todos os municípios da bacia hidrográfica de Araranguá. A sensação é que os
gestores públicos da bacia, a grande maioria, não demonstra o mínimo de
interesse em abraçar a causa. Já relatei em outros textos que o problema
poderia ser minimizado com a execução das políticas de saneamento básico, como
a coleta e a destinação correta de resíduos sólidos. Se em todos os municípios
essa prática fosse aplicada, além de promover emprego e renda para centenas de
famílias, possivelmente não nos depararíamos com cenas tão impactantes nas
proximidades da foz do rio, bem como em toda a orla do município, com toneladas
de lixo espalhadas.
É
necessário mobilizar os órgãos como FAMA, MPSC, MPF, POLÍCIA AMBIENTAL, COMITE
DA BACIA DO RIO ARARANGUÁ, bem como o poder público, o executivo e o
legislativo de todos os municípios, para discutir e buscar soluções conjuntas aos
passivos ambientais da bacia. É urgente o debate sobre as emergências
climáticas, que o aquecimento global já é uma realidade na nossa região, basta
observar o que aconteceu na região de Florianópolis depois das últimas
ressacas. A realidade é que toda faixa costeira do estado catarinense, a
exemplo de Araranguá, vem sofrendo os efeitos dessas ressacas, que tem
motivações da progressiva elevação do nível dos oceanos devido ao derretimento
das calotas polares.
Claro
que se os municípios da bacia do rio Araranguá fizessem o dever de casa como a
execução das políticas de saneamento básico, isso ajudaria muito a minimizar a
crise climática global. A expectativa é que a COP 30, que acorrerá de 10 a 23
de novembro de 2025 em Belém do Pará, Brasil, temas como lixos nos oceanos, aquecimento
global e políticas de adaptação climáticas deverão estar no centro dos debates durante
as duas semanas de encontro. Acredito que essa COP deva ser entendida como a
última chance que o planeta está nos dando para salvá-lo.
Outra
mostra de que estamos próximo a um momento do não retorno climático, foi o que
ocorreu no município de Rio Bonito do Iguaçu, no estado do Paraná, quando um
tornado de categoria 3 destruiu completamente o município. Também não podemos
nos esquecer do Rio Grande do Sul, quando em 2024, três quartos do território
foi destruído por enxurradas históricas.
Prof.
Jairo Cesa
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