RESISTÊNCIA
COMO ESTRATÉGIA À NÃO MUNICIPALIZAÇÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE SC.
As
últimas avaliações do IDEB comprovaram o quão decadente está a educação pública
brasileira. Diante de tal realidade nada animadora o que se esperava era o
engajamento das forças políticas junto com a sociedade na construção de
propostas emergentes que assegurasse maior aporte do PIB no financiamento das
estruturas físicas, pedagógicas e salariais dos trabalhadores da educação. Parece
que não é exatamente essa a intenção dos gestores públicos de estados e municípios
que vem cumprindo a risca as políticas impostas pelo grande capital que é flexibilizar
ao máximo os serviços públicos, como a entrega de escolas públicas estaduais a
grupos empresariais visando exclusivamente o lucro.
O
caso recente ocorrido no estado do Paraná onde foi criado o famigerado “parceiro
da escola”, são empresas que terceirizaram cerca de 200 unidades de ensino
públicas. Esses segmentos particulares
terão autonomia de contratar merendeiras, servidores gerais e até mesmo
ACTs. Claro que a intenção do governo é
se ver livre desse compromisso constitucional, precarizando ainda mais o já
decadente ensino público. Todos sabem que quando uma corporação adquire uma instituição
pública, saúde por meio das OSS (Organizações Sociais da Saúde); tele comunicação;
transporte, etc, o objetivo principal é o lucro, e na educação não é diferente.
O
Paraná é um exemplo revelador de como o Estado vem se utilizando de
instrumentos legais sórdidos para privatizar
escolas públicas. Lá o governo criou uma nomenclatura palatável, o “parceiro da
escola”, que nada mais é do que entregar de inicio 200 escolas para que o
parceiro mercado gerencie. Mesmo com toda a pressão da sociedade não foi
possível impedir que a assembleia legislativa paranaense, de maioria
entreguista, aprovasse o PL 345/24 que culminou na fragilização ainda maior da
escola pública.
Proposta
parecida ao do estado paranaense também aconteceu em Santa Catarina quando o
governo Jorginho Melo, bolsonarista de carteirinha, em 2023, sancionou lei
concedendo bilhões de reais dos cofres públicos para as chamadas universidades
comunitárias. O que deveria ter feio o governo, em vez de agradar esse segmento
que ajudou a sagrar-se vitorioso no pleito de 2022, era ter disponibilizado
esses mesmos recursos para melhorar a infraestrutura e o processo de ensino da
rede pública básica. Sem esquecer que o Estado tem a sua instituição de ensino
superior, a UDESC, que sofre sucateamento e falta de campis em várias regiões
do estado.
A
redução da intervenção do Estado na educação básica também se estende para
outros estados, como São Paulo, onde nos últimos dias o governo, também
bolsonarista, leiloou 33 escolas básicas para grupos empresariais, tanto para a
construção e manutenção num prazo de 25 anos. O governo do estado paulista
reiterou que o processo pedagógico continuará sob a responsabilidade do Estado,
ficando apenas a estrutura física e demais serviços de responsabilidade das
empresas. A crítica lançada tanto pelo sindicato da rede estadual paulista,
como pelos demais profissionais da educação, é que esse é o primeiro passo para
que essas e outras escolas sejam integralmente entregues ao mercado, acabando
definitivamente com concursos de acesso de docentes e planos de carreira.
No
estado de Santa Catarina, desde o final da década de 1990, o magistério público
estadual vem convivendo com o fantasma da municipalização das escolas geridas
pelo Estado. De acordo com a LDB tanto os estados como os municípios podem
compartilhar a gestão da educação fundamental. Entretanto, é de
responsabilidade dos municípios a gestão do ensino infantil, garantindo espaços
físicos ideais e profissionais capacitados no exercício das funções. Os governos estaduais que se sucederam a
partir das primeiras décadas do século XXI tentaram ininterruptamente fazer
valer seu autoritarismo, estragando muitas escolas aos gestores municipais,
sucateando-as ainda mais. Na realidade, um dos objetivos da entrega é sim livrar-se
de compromissos como contratação de professores.
As
experiências mais contundentes de municipalização ocorreram durante o governo
de Raimundo Colombo, porém, medidas essas passaram a se repetir mais
frequentemente no atual governo de Jorginho Melo. Comprovadamente muitas das escolas
que se municipalizaram não obtiveram êxitos em relação à melhoria na qualidade
do ensino. Um dos agravantes é que o apadrinhamento político prevalece e irá
prevalecer ainda mais em vários municípios, principalmente no aspecto gestão
escolar, cujos diretores continuam sendo por indicação política.
Em
2023 o governo de Jorginho Melo entregou quatro escolas estaduais de ensino
fundamental aos municípios, sendo uma delas a Eufrásia Rocha, no município de
Maracajá. É claro que esse procedimento não segue princípios democráticos, como
a consulta à população se concorda ou não com o repasse da unidade de ensino ao
município. Muitos podem até querer argumentar que seria perda de tempo resistir
a imposições verticalizadas, de um lado, o estado, oferecendo-as, e do outro, o
município, recebendo-as.
Mas
não foi o que ocorreu em Araranguá, sendo duas escolas estaduais indicadas para
serem municipalizadas, uma delas, a EEF Mota Pires, situada no bairro Sanga da
Toca. Informações repassadas confirmaram que o estado ofereceu ao município outras
três ou quatro escolas, além dessas duas destacadas acima. Quando se imaginava
que seria mais uma entrega de escola sem resistência, os fatos mostraram o
oposto, a comunidade da Sanga da Toca, junto com os professores e o corpo
gestor, se ergueram e foram para o enfrentamento com o município e o Estado. Claro
que o epicentro da resistência foi corpo gestor, eleito pela comunidade, que
tomou a frente na luta pela permanência da escola à rede estadual de ensino.
Depois
de ter havido manifestação em frente à prefeitura do município, onde o prefeito
simplesmente virou as costas aos manifestantes, o corpo gestor articulou reunião
na escola, convidando a comunidade escolar, a secretária da educação municipal
e o coordenador regional ensino, representando o governo do estado. Por cerca
de uma hora todos os presentes puderam se manifestar expondo seus argumentos
favoráveis e desfavoráveis acerca da municipalização. Em relação à escola Mota
Pires, a gestora da escola foi enfática em afirmar que não havia motivo para a
entrega da mesma ao município, pelo fato de ser a unidade de ensino, referencia
no estado em inclusão de estudantes com deficiência visual. Diante disso, não
havia qualquer certeza de que o município daria continuidade a esse projeto premiado
em âmbito estadual e federal.
Alguns
dias depois da realização da reunião e que teve forte mobilização da
comunidade, a gestora da escola, gravou vídeo, expondo aos moradores do bairro
que o município de Araranguá havia desistido de municipalizar a respectiva
escola. Uma vitória da mobilização, que deve servir de exemplo para outras
escolas que estão no radar da municipalização. É preciso aqui entender a jogada
sórdida do atual governo. Há poucos dias o governo usou as principais redes de
comunicação do estado para divulgar que havia promovido um dos maiores concursos
públicos para o magistério estadual. Gastou milhões de reais com tais
publicidades.
Acontece
que milhares dos professores aprovados no concurso poderão ficar por anos sem
acessar as escolas. Como assim? Com a municipalização muitos dos professores
efetivos dessas unidades de ensino terão de ser removidas ocupando vagas
excedentes, que seriam preenchidas pelos concursados. Portanto, com a
municipalização o governo estadual irá economizar milhões de reais, é claro que
todo esse dinheiro não será revertido em melhorias das escolas do ensino médio,
nem melhorar a remuneração dos professores, parte dele é para financiar
campanhas eleitorais, como já é de praxe.
Prof.
Jairo Cesa
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