A HISTÓRIA DO VALE DO ARARANGUÁ CONTADA
EM DOIS VOLUMES (1605-1842 e 1842-1883) PELO PROFESSOR/HISTORIADOR WANDERLEI
SOUZA GOMES JUNIOR
PRIMEIRA PARTE
Foto - Jairo |
Quando
soube que haveria o lançamento de dois livros narrando à história do município
de Araranguá, mais precisamente o Vale do Araranguá, um entre 1605-1842 e o segundo
de 1842-1883, minha atitude foi de não dar muita atenção, pois quem ousaria escrever
sobre uma região que para mim, bem como para muitos, acreditavam que nada
existia, talvez indígenas aqui e acolá, embrenhados em florestas tomadas por animais
peçonhentos, insetos, pequenos mamíferos e mais nada.
Analisando
as obras postadas nas redes sociais convidando a população para o lançamento
comecei prestar a atenção no titulo as obras, em especial o primeiro volume cujo
título assim estava escrito: História do Vale do Araranguá – Tempos heróicos. Aproveitei
também o momento para ver se conhecia o autor desses dois trabalhos, apresentando-se
como Wanderlei Souza Gomes Júnior, nome pelo qual para mim era desconhecido.
Chegando
ao local onde haveria o rito de lançamento das obras, no auditório do Colégio
Murialdo, em Araranguá, me deparei com o professor Wanderlei, autor das obras,
cumprimentei-o, porém, lhe confessei que não o conhecia pessoalmente. Como
acontece em eventos desse gênero, ou seja, lançamentos de livros ou temas
relacionados à cultura local e regional, o auditório não estava repleto, muitos
dos quais ali presentes eram parentes, amigos, bem como os obcecados pela
historia regional, como eu. Por cerca de duas horas o professor Wanderlei
discorreu pausadamente sobre as duas obras, mantendo o público em atenção
absoluta, pois seus relatos traziam à luz algo até então inédito, um Araranguá
repleto de fatos curiosos e relevantes para a historiografia regional, estadual
e nacional.
Todos que estudaram e estuda a história de Santa Catarina nos dois ou três séculos posteriores à colonização portuguesa tem a compreensão de que tudo que estivesse ao sul de Laguna, na época Capitania de Sant’Ana, era um verdadeiro abandono, por se tratar de terras espanholas. Penso que quem estudou a história do extremo sul de Santa Catarina, ou seja, do vale do Araranguá, tem a compreensão de que tudo começou com a abertura do Caminho dos Conventos em 1729, a partir de Laguna, passando por Araranguá, subindo a serra da rocinha até os campos de cima da serra indo em direção a Curitiba e Sorocaba/São Paulo. Até ai tudo bem, pois essas informações quase todos os araranguaenses conhecem por intermédio do livro História de Araranguá, escrita pelo Padre Paulo Hobbold, uma obra um tanto romanceada e carente de fontes documentais relevantes.
Depois
de concluída a apresentação das importantes obras historiográficas e o
cerimonial de autógrafos cheguei em casa e me debrucei no primeiro volume lendo-o
com muita atenção e expectativa. Fui imediatamente dar uma vasculhada no índice
e comecei a prestar a atenção nos temas e sub temas ali escritos. Eram
conceitos novos, outros até conhecidos, porém com abordagens fragmentadas,
descontextualizadas do conjunto da historiografia até então existente. Esperava
também que fosse uma leitura truncada, desconexa e repleta de termos complexos
que somente os historiadores mais experientes conseguiriam decifrar. Já na
apresentação da obra todo o preconceito que ainda rodeava a mente de muitos
historiadores foi dissipando, transformando em encantamento avassalador pela brilhante
obra escrita.
O
modo como o historiador Wanderlei narrou os fatos, fugindo a certos estereótipos
academicistas transformou o que se imaginava de uma obra densa e chata em uma agradável
construção poética da nossa intrincada história regional. Já no primeiro volume
Tempos Heroicos 1605-1842, o pesquisador discorre sobre uma quase epopeia de
desbravadores destemidos que se embrenharam em terras desconhecidas com o objetivo,
em nome da coroa portuguesa, tomar posse de terras espanholas. Claro que haviam
mais interesses sobrepostos a esses no desbravamento das terras ao sul da província.
Na
realidade a proposta do desbravador Francisco de Souza Faria era abrir um
caminho ao sul para chegar aos campos de Viamão e de lá abrir trilha por cima
da serra para levar gado às feiras de Sorocaba, em SP. Com receio do sucesso
dessa empreitada na qual pudesse concorrer economicamente com Laguna, Francisco
foi estimulado a abrir um caminho nas imediações do Rio Araranguá, projeto esse
quase impossível devido à geografia acidentada. Por alguns meses Faria concluiu
sua meta, abrindo finalmente uma trilha que foi popularizada de Rota dos Conventos.
Entretanto
essa rota ou trilha manteve-se atuante por pouco tempo, pelo fato da abertura de
nova rota, agora sim a partir de Viamão, como havia sido idealizado por
Francisco Faria. Mesmo assim, o Caminho dos Conventos e outros tantos caminhos
adjacentes tiveram importâncias relevantes no surgimento de pequenos núcleos de
povoamentos que mais tarde contribuíram para a consolidação do pujante
distrito, hoje município de Araranguá.
Esses
complexos e emaranhados caminhos, rotas, ajudaram na intercomunicação, apoio
militar contra os espanhóis e trocas comerciais entre a região das missões,
campos de vacaria, com o litoral, porto de Laguna e o nascente atracadouro da
foz da Barra Velha, considerara a primeira comunidade oficialmente constituída no
extremo sul de Santa Catarina. Mais tarde, por fatores geográficos, bem como qualidade
do solo satisfatória para a agricultura e pequena pecuária, as famílias de
Barra Velha paulatinamente foram se transferindo para onde é hoje a foz do Rio
dos Porcos. Na época esse mesmo afluente do rio Araranguá foi chamado de Cangicassu,
que em idioma tupi-guarani era conhecido por “rio grande e comprido”, margem
esquerda. Na obra escrita é destacado o nome de Cangica, que faz referência a
atual canjiquinha.
Com o passar do tempo, a partir dos acordos ou
tratados entre Portugal e Espanha sobre as terras ao sul, o território
abrangendo o RS e SC foi assumindo as características de limites como as atuais.
A região do vale do Araranguá, até 1850 já possuía uma expressiva leva de
moradores, na sua maioria, posseiros, ou seja, ocupavam as terras, porém não possuíam
registro cartorial de proprietários. Com a legislação de terras de 1850, criada
pelo governo imperial, essas áreas ou sesmarias passaram a ser adquiridas por
uma esperta elite econômica e política.
Alguns,
de imediato, adotaram a estratégia de expulsão dos posseiros, caboclos, outros,
porém, foram mais sutis, mantendo-os nas terras, condicionando-os a produzirem
e transferindo os excedentes aos “proprietários” dos pequenos latifúndios. Esse sistema deu inicio a um processo de
acumulação de capital, que por sua vez, exigia cada vez mais um regime de
ordenamento jurídico, burocrático, a favor dessas elites que irão desencadear
todo o processo de emancipação político administrativo do jovem/velho município
de Araranguá.
É
obvio que a intenção desse texto foi fazer um rápido preâmbulo da primeira obra
sobre o Vale do Araranguá, tempos
heroicos (1605-1842) escrita de forma magnífica pelo professor e
historiador araranguaense Wanderlei Souza Gomes Junior. Existem muitos outros
fatos relevantes pesquisados que devem ser lidos por todos. Não posso deixar de
recomendar, tanto essa obra como a seguinte: o rio, a terra, o povo (1842-1883) do mesmo autor, a todos/as os/as
professores/as da rede municipal, estadual e particular do município de
Araranguá, para que as leiam e reformulem os seus planos de aula de historia, especialmente
aquelas voltadas ao ensino fundamental.
Prof.
Jairo Cesa
Muito bom! Peguei os livros nesta semana. Vou ler no próximo mês :)
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