terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

 

AS ADVERSIDADES DO CLIMA E DO MERCADO NO CULTIVO E COMÉRCIO DA PITAYA NO SUL DE SANTA CATARINA

Foto - Jairo


O fato de o sul de Santa Catarina participar com 90% da produção de pitaya colhida no estado lhe credenciou pela segunda vez à sediar a abertura da colheita da safra 2023/2024. O local escolhido foi a propriedade de um casal de produtores no município de Turvo/SC berço da atividade da fruta no estado. No encontro, na comunidade de Linha Contessi, estavam produtores, técnicos da EPAGRI, representantes de cooperativas do segmento, políticos, imprensa e o presidente nacional da associação dos produtores de pitaya. Após o cerimonial de abertura que contou com a colheita simbólica da fruta, o público foi dividido em grupos para participar de três curtas palestras onde foram discutidos os seguintes assuntos: pragas no cultivo de pitaya, formas de controle, e distúrbios fisiológicos; mercado e comercialização da pitaya e incentivo ao consumo de fruta.

Foto - Jairo


Claro que na palestra sobre pragas e distúrbios fisiológicos, o assunto que certamente estaria na pauta para ser abordado seria o “centro gelatinoso”, distúrbio fisiológico no qual afeta principalmente as frutas da branca comum, variedade que ainda predomina nos pomares da região. De acordo com pesquisadores da EPAGRI, acredita-se que tal anomalia tenha relação direta com o fator tempo, ou seja, incidência de altas temperaturas e umidade. Esses fatores geram algum desequilíbrio no metabolismo das mesmas formando a massa gelatinosa.

Foto - Jairo


Já que não há produto disponível no mercado para conter esse defeito, os técnicos vêm pesquisando estratégias para minimizar o problema.  No lugar da supressão definitiva dos pés, o ensacamento das frutas vem trazendo bons resultados. Além da redução significativa de frutas com tais anomalias, cobrir as frutas protege-as do ataque de insetos principalmente da arapuá, espécie de abelha nativa que provoca grandes estragos nos pomares da região. A substituição da variedade branca comum por outras mais resistentes, como a viatnamess White, vem trazendo muitas vantagens, principalmente por ser auto fértil, que dispensa a polinização manual.   

Foto - Jairo


Quanto ao mercado de pitaya as estimativas são de redução de quinze a vinte por cento o volume colhido na atual safra, cujos fatores estão relacionados às adversidades do tempo, como excesso de chuvas e temperaturas elevadas, consideradas acima da média para a época. Entretanto mesmo com a redução da produção é possível que o valor arrecadado em reais pelos produtores seja igual ou até maior que no ano anterior motivado pela valorização do quilo da fruta. Inúmeras falas foram proferidas sobre o que fazer para elevar os preços e a renda dos agricultores envolvidos no cultivo de pítaya. Uma das alternativas elencadas foi incentivar a exportação da fruta. Entretanto essa medida mostrou-se pouco otimista em decorrência das regras fitossanitárias adotadas pelos países importadores, principalmente a União Europeia que determina ausência que qualquer tipo de partículas tóxicas nas frutas.

Foto - Jairo


Hoje em dia mais de 90% dos pomares de pitaya da região adotam o sistema convencional de produção, ou seja, uso de insumos químicos bem como agrotóxicos para o controle de pragas. Nesse sentido se o Brasil tiver interesse em acessar os mercados consumidores da União Europeia terá obrigatoriamente que transitar para o cultivo orgânico. Embora a região sul de Santa Catarina se destaque no segmento agroecológico e orgânico em número de famílias integradas em comparação às demais regiões do estado, no cultivo de pitaya a área reservada em hectares é inexpressiva. A alegação à baixa demanda se deve ao preço pago por quilo, similar ao cultivo convencional, bem como ao comportamento da população que ainda desconhece os impressionantes benefícios da fruta ao sistema imunológico, entre outros benefícios.

Foto - Jairo


Vem se discutindo há algum tempo estratégias para elevar o consumo da fruta. Maior divulgação na imprensa, redes sociais e políticas de incentivos por parte dos poderes constituídos são formas utilizadas ultimamente. Entretanto, essas iniciativas ainda se mostram tímidas, em especial ao segmento orgânico que muitas vezes nem mesmo é lembrado em eventos importantes como foi na abertura oficial da colheita da pitaya no último dia 09 de fevereiro, no município do Turvo. Na fala de um deputado estadual presente no evento em nenhum momento citou esse setor, dando total destaque ao agronegócio no qual inclui a pitaya.

Sendo produtor de pitaya há oito anos, desde o inicio procuro por todos os meios divulgar a fruta como forma de incentivar o seu consumo. Desde então é visível o aumento progressivo de pessoas consumindo-a não apenas devido ao seu surpreendente sabor, mas porque descobriram ser ela nutritiva e rica em propriedades terapêuticas. É preciso construir a cultura do consumo da fruta e nada melhor que divulgá-las nas escolas, a partir do ensino infantil. Trabalhar com professores, promovendo palestras e visitas monitoradas nos pomares de pitayas vêm se mostrando muito eficientes.

 

Foto - Viviane

A estratégia de venda direta, ou seja, colher e entregar direto ao consumidor permite-os acessar a frutas com melhor qualidade e preços mais convidativos aos apresentados nas gôndolas dos supermercados e fruteiras da região. Uns dos assuntos mais debatidos no encontro em Turvo foi como combater doenças e pragas na fruta sabendo que são poucos os produtos disponíveis no mercado destinados exclusivamente a essa atividade. O uso de insumos sintéticos, bem como agrotóxicos vem sendo práticas corriqueiras nos diversos pomares da região e do estado.

Em oposição a tais práticas convencionais está o cultivo agroecológico e orgânico que vem se mostrando altamente eficiente e com baixíssimo custo financeiro. A execução de técnicas alternativas de adubação, utilizando compostagem, biofertilizantes, microorganismos eficientes, micorisas, água de vidro, etc, comprovadamente garantem boa nutrição do solo, das plantas, ambas asseguram resistência às doenças e aos ataques de fungos e insetos.

Foto - Viviane


Ensacar as frutas após a queda dos restos florais vem se notabilizando como meio alternativo e eficiente de proteger a fruta as investidas de insetos. Além do mais tal experiência comprovou haver baixa incidência de frutas com centro gelatinoso, anomalia física que afeta as variedades brancas comuns.

O fato é que pouco se sabe ainda sobre a pitaya, seu comportamento e como reagem diante das adversidades cada vez mais frequentes e severas do tempo. Adaptações; manejos alternativos dos pomares, consorciando-os com outras frutas e espécies florestais nativos tendem a predominar no futuro. Quem não se adequar as tais metodologias no manejo da fruta terá que buscar outras culturas ou até mesmo encontrar outras formas de subsistência fora do segmento agrário.

Prof. Jairo Cesa    

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