AS ADVERSIDADES DO CLIMA E DO
MERCADO NO CULTIVO E COMÉRCIO DA PITAYA NO SUL DE SANTA CATARINA
Foto - Jairo |
O
fato de o sul de Santa Catarina participar com 90% da produção de pitaya colhida
no estado lhe credenciou pela segunda vez à sediar a abertura da colheita da
safra 2023/2024. O local escolhido foi a propriedade de um casal de produtores
no município de Turvo/SC berço da atividade da fruta no estado. No encontro, na
comunidade de Linha Contessi, estavam produtores, técnicos da EPAGRI,
representantes de cooperativas do segmento, políticos, imprensa e o presidente
nacional da associação dos produtores de pitaya. Após o cerimonial de abertura que
contou com a colheita simbólica da fruta, o público foi dividido em grupos para
participar de três curtas palestras onde foram discutidos os seguintes
assuntos: pragas no cultivo de pitaya, formas de controle, e distúrbios fisiológicos;
mercado e comercialização da pitaya e incentivo ao consumo de fruta.
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Claro
que na palestra sobre pragas e distúrbios fisiológicos, o assunto que
certamente estaria na pauta para ser abordado seria o “centro gelatinoso”, distúrbio
fisiológico no qual afeta principalmente as frutas da branca comum, variedade que
ainda predomina nos pomares da região. De acordo com pesquisadores da EPAGRI,
acredita-se que tal anomalia tenha relação direta com o fator tempo, ou seja, incidência
de altas temperaturas e umidade. Esses fatores geram algum desequilíbrio no
metabolismo das mesmas formando a massa gelatinosa.
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Já
que não há produto disponível no mercado para conter esse defeito, os técnicos
vêm pesquisando estratégias para minimizar o problema. No lugar da supressão definitiva dos pés, o
ensacamento das frutas vem trazendo bons resultados. Além da redução significativa
de frutas com tais anomalias, cobrir as frutas protege-as do ataque de insetos
principalmente da arapuá, espécie de abelha nativa que provoca grandes estragos
nos pomares da região. A substituição da variedade branca comum por outras mais
resistentes, como a viatnamess White, vem trazendo muitas vantagens,
principalmente por ser auto fértil, que dispensa a polinização manual.
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Quanto
ao mercado de pitaya as estimativas são de redução de quinze a vinte por cento o
volume colhido na atual safra, cujos fatores estão relacionados às adversidades
do tempo, como excesso de chuvas e temperaturas elevadas, consideradas acima da
média para a época. Entretanto mesmo com a redução da produção é possível que o
valor arrecadado em reais pelos produtores seja igual ou até maior que no ano
anterior motivado pela valorização do quilo da fruta. Inúmeras falas foram
proferidas sobre o que fazer para elevar os preços e a renda dos agricultores
envolvidos no cultivo de pítaya. Uma das alternativas elencadas foi incentivar
a exportação da fruta. Entretanto essa medida mostrou-se pouco otimista em
decorrência das regras fitossanitárias adotadas pelos países importadores, principalmente
a União Europeia que determina ausência que qualquer tipo de partículas tóxicas
nas frutas.
Hoje
em dia mais de 90% dos pomares de pitaya da região adotam o sistema
convencional de produção, ou seja, uso de insumos químicos bem como agrotóxicos
para o controle de pragas. Nesse sentido se o Brasil tiver interesse em acessar
os mercados consumidores da União Europeia terá obrigatoriamente que transitar
para o cultivo orgânico. Embora a região sul de Santa Catarina se destaque no
segmento agroecológico e orgânico em número de famílias integradas em
comparação às demais regiões do estado, no cultivo de pitaya a área reservada em
hectares é inexpressiva. A alegação à baixa demanda se deve ao preço pago por
quilo, similar ao cultivo convencional, bem como ao comportamento da população
que ainda desconhece os impressionantes benefícios da fruta ao sistema
imunológico, entre outros benefícios.
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Vem se discutindo há algum tempo estratégias para elevar o consumo da fruta. Maior divulgação na imprensa, redes sociais e políticas de incentivos por parte dos poderes constituídos são formas utilizadas ultimamente. Entretanto, essas iniciativas ainda se mostram tímidas, em especial ao segmento orgânico que muitas vezes nem mesmo é lembrado em eventos importantes como foi na abertura oficial da colheita da pitaya no último dia 09 de fevereiro, no município do Turvo. Na fala de um deputado estadual presente no evento em nenhum momento citou esse setor, dando total destaque ao agronegócio no qual inclui a pitaya.
Sendo produtor de pitaya há oito anos, desde o inicio procuro por todos os meios divulgar a fruta como forma de incentivar o seu consumo. Desde então é visível o aumento progressivo de pessoas consumindo-a não apenas devido ao seu surpreendente sabor, mas porque descobriram ser ela nutritiva e rica em propriedades terapêuticas. É preciso construir a cultura do consumo da fruta e nada melhor que divulgá-las nas escolas, a partir do ensino infantil. Trabalhar com professores, promovendo palestras e visitas monitoradas nos pomares de pitayas vêm se mostrando muito eficientes.
Foto - Viviane |
A
estratégia de venda direta, ou seja, colher e entregar direto ao consumidor
permite-os acessar a frutas com melhor qualidade e preços mais convidativos aos
apresentados nas gôndolas dos supermercados e fruteiras da região. Uns dos
assuntos mais debatidos no encontro em Turvo foi como combater doenças e pragas
na fruta sabendo que são poucos os produtos disponíveis no mercado destinados
exclusivamente a essa atividade. O uso de insumos sintéticos, bem como
agrotóxicos vem sendo práticas corriqueiras nos diversos pomares da região e do
estado.
Em
oposição a tais práticas convencionais está o cultivo agroecológico e orgânico
que vem se mostrando altamente eficiente e com baixíssimo custo financeiro. A execução
de técnicas alternativas de adubação, utilizando compostagem, biofertilizantes,
microorganismos eficientes, micorisas, água de vidro, etc, comprovadamente garantem
boa nutrição do solo, das plantas, ambas asseguram resistência às doenças e aos
ataques de fungos e insetos.
Foto - Viviane |
Ensacar
as frutas após a queda dos restos florais vem se notabilizando como meio
alternativo e eficiente de proteger a fruta as investidas de insetos. Além do
mais tal experiência comprovou haver baixa incidência de frutas com centro
gelatinoso, anomalia física que afeta as variedades brancas comuns.
O
fato é que pouco se sabe ainda sobre a pitaya, seu comportamento e como reagem diante
das adversidades cada vez mais frequentes e severas do tempo. Adaptações; manejos
alternativos dos pomares, consorciando-os com outras frutas e espécies florestais
nativos tendem a predominar no futuro. Quem não se adequar as tais metodologias
no manejo da fruta terá que buscar outras culturas ou até mesmo encontrar
outras formas de subsistência fora do segmento agrário.
Prof.
Jairo Cesa
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